O Complexo do Carregado, do Banco de Portugal, entreabriu as portas para uma visita à Valora, a fábrica das notas. Agora, o ECO explica-lhe como é todo o processo de imprimir notas.
Cerca de 41 quilómetros separam as instalações do Banco de Portugal, em Lisboa, do Complexo do Carregado, em Alenquer, onde se encontra a fábrica de notas Valora. O ECO fez esse mesmo percurso para saber onde e como é que se imprimem as notas em Portugal, no mesmo dia em que foram apresentadas as novas notas de 100 e 200 euros da segunda série do Euro, intitulada série “Europa”.
Entre várias portas e torniquetes, códigos de segurança e alarmes, câmaras de vigilância e raio-X, o ECO entrou no Complexo do Carregado e visitou a Valora, a impressora de notas detida a 100% pelo Banco de Portugal (BdP) e que ocupa aproximadamente um terço da área coberta do Complexo do Carregado.
As regras de segurança são rígidas e, pelo caminho, máquinas fotográficas, telemóveis e carteiras vão ficando nos cacifos. Nada disto entra nas salas de impressão de notas.
Ora, é aqui que tudo começa, mais precisamente com a fase da pré-impressão, onde se recebem os ficheiros em formato digital que, posteriormente, são trabalhados, “não manipulados”, reforça o técnico deste departamento. Trata-se de uma espécie de layout que, depois, dá origem a chapas que demoram cerca de uma hora ou uma hora e meia a fazer e exigem uma série de equipamentos. Estas chapas são um molde para as folhas de papel — onde vão ser impressas as notas — e cada chapa contém várias notas, consoante o tamanho. No caso das notas de cinco euros, por exemplo, cada chapa tem inscrito um total de 60 notas, o equivalente a 300 euros.
A fase da pré-impressão termina por aqui, mas, mais umas portas e uns corredores e chegamos, finalmente, à sala da impressão, onde os tetos altos acolhem as várias máquinas que tornam este espaço bastante ruidoso. Mas calma, porque aqui ainda não há notas, há apenas folhas impressas.
De folhas de “papel” em branco até às notas
A impressão tem várias fases. E imprimir notas começa, tal como imprimir qualquer outra coisa, com uma folha de “papel” em branco. Mas este papel de algodão não é fabricado em Portugal. É entregue na Valora para que o processo possa começar.
As primeiras três fases são de impressão: impressão offset, impressão serigráfica e impressão em talhe-doce (em alto relevo). Cada máquina tem uma função e vai gravar no papel os diferentes símbolos e elementos de segurança da nota. Depois da última impressão é preciso deixar a folha de papel secar por, aproximadamente, sete dias. E, sete dias depois, a folha volta à mesma sala para ser numerada e envernizada.
Esta é, portanto, a quarta fase deste processo de impressão. O verniz, em particular, é o que vai proporcionar o toque acetinado ao papel e, depois de mais dois dias de repouso, o processo continua, agora noutra sala, “onde o material entra em folha e sai em nota”, explica o responsável por esta fase do processo.
"Todo este processo tem uma intervenção manual mínima”
Mais calma e menos ruidosa, nesta sala os trabalhadores, vestidos com uma bata branca que faz lembrar os cientistas em laboratórios, procedem ao corte e inspeção. Tudo isto, claro, feito com recurso às máquinas. Aliás, já deve ter percebido que “todo este processo tem uma intervenção manual mínima”, refere Eugénio Gaspar, administrador executivo da Valora.
Ao fundo da sala, um robô está encarregue de fazer os maços de notas — cada um composto por mil notas — e, depois, de empacotá-los.
Mas é preciso salientar que todas as fases deste processo estão sujeitas a controlos de qualidade quase passo-a-passo e, na verdade, são estes controlos que facilitam o trabalho do laboratório de controlo de qualidade, que é onde são validados os lotes de dinheiro, constituindo a última etapa deste processo.
Notas à prova de verniz, máquina de lavar ou altas temperaturas
Imagine todas as situações do dia-a-dia pelas quais as notas podem passar. Irem para a máquina de lavar roupa esquecidas nos bolsos das calças, serem sujeitas a temperaturas elevadas ou, mesmo, entornar-se um frasco de verniz mesmo em cima do dinheiro.
Neste laboratório, as notas são postas à prova em situações como estas e mais algumas. Quase como se de um crash test, daqueles que se fazem na indústria automóvel, se tratasse.
“As notas têm de passar em todos esses testes, só podendo ficar danificadas até certo ponto”, explica a responsável pelo laboratório. Só passando com distinção é que saem, finalmente, da fábrica, rumando aos bancos. E, por último, para a carteira dos portugueses.
Quanto custa produzir notas? Cêntimos
Com os testes no laboratório de controlo de qualidade, o processo fica finalizado. Mas vamos agora a contas: afinal, quanto custa produzir uma nota? De acordo com Eugénio Gaspar, “uma nota tem um custo de produção entre cinco e dez cêntimos”.
Uma nota tem um custo de produção entre cinco e dez cêntimos
Por dia, a capacidade da fábrica ultrapassa 1.500.000 de notas por dia e, só este ano, a impressora do Banco de Portugal conta produzir 250 milhões de notas, dos quais 190 milhões são notas de 20 e cinco euros. Desde a sua criação, em 1999, a Valora já produziu um total de 4.050 milhões de notas, das quais 3.530 milhões de notas de euro e 520 milhões de notas para exportação.
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É aqui que se fazem as notas. Há impressoras, um robô e até uma máquina de lavar
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