Contestação social é fruto da mensagem do Governo de “que a situação é excelente”, diz Bagão Félix
Perante a conflitualidade social, o ex-ministro afirma que o Governo está a ser vítima da sua própria mensagem, ao dizer que a situação é excelente. "É melhor, mas não é excelente", diz Bagão Félix.
António Costa não tem sido poupado no que toca a greves ou protestos. É a Comboios Portugal (CP), são os estivadores de Setúbal, os professores, os enfermeiros, os polícias… A lista alonga-se e, perante a contestação social, o ex-ministro Bagão Félix considera que o que está a acontecer é que o Governo está a sofrer as consequências da sua própria mensagem.
“As forças sindicais, os próprios trabalhadores e a função pública estão a tentar obter algum ganho que resulte daquilo que o Governo tem dito que está bastante melhor”, diz em entrevista ao ECO 24, uma parceria entre o ECO e a TVI24.
“Quando os Governos, em abstrato, e agora este [Governo], dizem que a situação é excelente, as pessoas entendem isso como uma maior disponibilidade política e uma maior necessidade social-familiar de receber dividendos de uma conjuntura que dizem que é muito melhor”, diz Bagão.
"As forças sindicais, os próprios trabalhadores e a função pública estão a tentar obter algum ganho que resulte daquilo que o Governo tem dito que está bastante melhor.”
Se, por um lado, o Executivo determina a situação do país como ótima, por outro, o economista diz “a situação é melhor, mas não é excelente”. Tanto a dívida pública como a debilidade do investimento público, por exemplo, justificam-no. “Não se pode dizer que estamos perante uma situação estrutural sustentadamente adequada”, afirmou.
Na sequência da onda contestatória, para Bagão Félix, os partidos à esquerda é que estão a procurar tirar partido da situação, sobretudo o Partido Comunista Português (PCP), que tem grande representação sindical e laboral.
Bagão Félix entende a contestação, depois de anos de marcados por uma profunda crise. No entanto, defende que o foco das preocupações tanto de trabalhadores como de empregadores devia, antes, ter como alvo o aumento da qualificação das pessoas.
“O aumento da qualificação das pessoas é muito propagandeado, mas, se repararmos, a produtividade aparente no trabalho tem vindo a diminuir. Esta é a questão preocupante”, remata.
Centeno surpreendeu… Pela positiva
É verdade que o Governo não tem tido vida fácil, enfrentando várias e sucessivas greves. E que o país não está assim tão bem como Costa defende, mas Bagão Félix admite que Mário Centeno está a ser uma surpresa pela positiva do ponto de vista político e de gestão política.
“Ele [Centeno] tem sido um bom ministro das Finanças, de um modo geral. E tem sido bastante hábil, do ponto de vista político, o que eu não esperava”, confessou.
O facto de Portugal ter um ministro das Finanças que é, simultaneamente, presidente do Eurogrupo, é, para o economista, um fator favorável. “Permite-nos ter uma almofada de segurança”. “Ele não pode — ou não deve — contradizer-se em cada uma das situações”, diz.
"Centeno tem sido um bom ministro das Finanças, de um modo geral. E tem sido bastante hábil, do ponto de vista político, o que eu não esperava.”
No entanto, situações de contradição acontecem. Ainda esta semana o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, pediu ao ministro das Finanças português, Mário Centeno, medidas adicionais para cumprir o Pacto de Estabilidade.
A menos de um ano das próximas eleições legislativas, Bagão Félix lembra que o desempenho do próximo Governo depende muito de fatores externos: desde a questão do Brexit, às dificuldades políticas e institucionais relacionadas com Itália e culminando nas tensões na guerra comercial entre a China e os Estados Unidos da América (EUA).
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