Imparidades, sabe o que são? BCP com prejuízos de 251,1 milhões

Imparidades continuam a penalizar as contas do BCP que fechou os primeiros três trimestres do ano com um prejuízo de 251,1 milhões de euros. Margem financeira subiu, mas o produto bancário caiu.

O Banco Comercial Português (BCP) fechou os primeiros nove meses do ano com um prejuízo de 251,1 milhões de euros. Um desempenho que compara com o lucro de 264,5 milhões de euros no mesmo período de 2015. E quais são as razões para este prejuízo? No comunicado, que o banco liderado por Nuno Amado enviou à CMVM, é explicado que o resultado é “impactado pelo reforço não habitual para imparidades”. Em causa estão imparidades e provisões constituídas nos primeiros nove meses do ano que passaram de 730,7 milhões de euros em 2015 para os 1.113 milhões de euros em 2016.

Mas a situação que mais penaliza os resultados do banco são as imparidades de crédito. No período em análise, o BCP registou como imparidades de crédito 870,2 milhões de euros, um agravamento de 41,8% em relação ao período homólogo (613,6 milhões). Só no terceiro trimestre foram contabilizados cerca de 100 milhões, potenciando a cobertura de crédito vencido.

O BCP adianta, no mesmo comunicado, que 2016 foi um “ano muito condicionado por dotações não habituais para imparidades relacionadas com a carteira legacy, com o objetivo de reforçar as coberturas para crédito”. A rubrica outras imparidades e provisões mais do que duplicou, atingindo os 242,8 milhões de euros contra os 117 milhões de euros registados nos primeiros nove meses de 2015 devido ao impacto da desvalorização de fundos de reestruturação empresarial.

Ora, como a constituição da maior parte das imparidades é em Portugal, o resultado líquido da atividade doméstica corresponde a um prejuízo de 394,3 milhões de euros. Já na atividade internacional, liderada pela Polónia, o BCP registou um lucro de 134,8 milhões de euros, o que representa uma quebra homóloga de 9,7%.

Custos operacionais e comissões caem

Os custos operacionais caíram cerca de 5% para os 722,4 milhões de euros, mais graças à atividade internacional do que à doméstica. Mas este desempenho pode inverter-se nos próximos trimestres se o BCP antecipar o fim dos cortes salários temporários dos trabalhadores, tal como Nuno Amado sugeriu na conferência de imprensa de apresentação de resultados.

A reposição está prevista para janeiro de 2018, mas “se possível” a instituição quer antecipá-la. As regras ditam que o BCP tem de repor os salários no início do ano seguinte ao da liquidação da ajuda estatal de que o BCP ainda beneficia (cerca de 750 milhões de euros). No limite, a liquidação deste valor tem de ser concluída até 30 de junho de 2017, mas Nuno Amado já chegou a admitir o desejo de devolver toda a ajuda estatal este ano, o que permitiria antecipar em um ano o fim dos cortes salariais.

A margem financeira (indicador que representa a diferença entre juros cobrados em créditos e juros pagos em depósitos) melhorou 3,5% para 907 milhões de euros, algo possível graças ao baixo custo dos depósitos. Mas o produto bancário (que junta a margem financeira com outros proveitos operacionais como as comissões) caiu 15,3% para os 1.571,9 milhões de euros. As comissões recuaram 3,4% para 481,1 milhões de euros, sobretudo devido à área internacional. E os resultados de operações financeiras recuaram 58%, isto porque não foram registadas mais-valias com a venda de dívida pública como em 2015, uma operação que nesse ano ajudou e muito o resultado dos bancos.

Já o rácio de transformação do crédito sobre recursos de balanço está agora em 100%, ou seja, o BCP dá tanto de crédito quanto tem de depósitos. Isto traduz uma descida de 5% indo ao encontro das recomendações do Banco de Portugal que aconselha a que esta fasquia não ultrapasse os 110%.

 

Menos crédito e menos depósitos

Mas, nos primeiros nove meses do ano, o banco liderado por Nuno Amado captou menos recursos de clientes. Houve uma descida de 0,6% para 63,4 mil milhões de euros. A quebra dos depósitos é de 0,5% para 48,9 mil milhões.

A análise da carteira de crédito da instituição permite concluir que também houve uma quebra no crédito concedido tanto a particulares — a redução foi de 2,9% –, como às empresas (4,6%). O crédito a clientes bruto fixou-se em 52,6 mil milhões de euros, uma quebra homóloga, revela o banco.

Por outro lado, a cobertura de crédito vencido há mais de 90 dias por imparidades aumentou para 100,9%, face aos 85,6% do ano anterior. Mas, no final de setembro, a percentagem do crédito em risco aumentou apenas 0,5 pontos percentuais em termos homólogos, tendo-se fixado em 11,4%.

Ligeira foi também a deterioração do rácio de capital do banco. O rácio de Common Equity Tier 1 (CET1) phased é no final de setembro de 12,2%, que compara com os 13,2 % registado em setembro de 2015. Já o CET1 fully era em setembro de 9,5%, que compara com os 10% registado no período homólogo de 2015.

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