Ficar na UE é única “solução positiva”? As reações ao chumbo do acordo do Brexit
O Parlamento britânico deixou cair o acordo negociado entre Londres e Bruxelas para o Brexit. O ECO reuniu as principais reações ao chumbo que significou a maior derrota parlamentar do século.
Os deputados britânicos disseram “não” ao acordo negociado entre Londres e Bruxelas para a saída do Reino Unido da União Europeia, dando início a uma tempestade política. Depois da derrota parlamentar do século, Theresa May também está na linha de fogo, estando em curso uma moção de censura contra o seu Governo.
O chumbo do acordo e a fragilidade do Executivo conservador fizeram, de resto, a incerteza tomar conta de todo este processo, estando agora em cima da mesa muitas possibilidades, ainda que seja pouco o tempo — cerca de dez semanas — para experimentar as alternativas.
Entre as opções que podem ser tomadas agora pelos britânicos, está o hard Brexit (a saída sem acordo tem, contudo, colhido duras críticas), a negociação de um novo acordo para um soft Brexit (embora o tempo comece a escassear, já que os novos termos teriam de passar, novamente, pelo Parlamento britânico), a convocação de um segundo referendo (uma alternativa a que têm apelado figuras de relevo como Tony Blair) ou mesmo a suspensão do artigo 50.º, deixando-se o divórcio de lado.
Quanto ao futuro do Governo britânico, se a moção de censura for aprovada (será votada esta tarde), deverão seguir-se eleições. Caso seja rejeitada, Theresa May continuará com as rédeas executivas do país.
Mas enquanto se aguarda tais desfechos, o ECO reuniu as principais reações à rejeição do acordo do Brexit, do primeiro-ministro português ao presidente do Conselho Europeu.
Ficar na UE é única “solução positiva”?
Foi no Twitter que o presidente do Conselho Europeu se manifestou sobre o chumbo do acordo sobre o divórcio mais polémico dos últimos anos, deixando um recado aos britânicos.
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“Se o acordo é impossível e ninguém quer sair sem acordo, então quem irá finalmente ter a coragem para apresentar a única solução positiva”, escrever Donald Tusk, apelando indiretamente à continuação do Reino Unido na União Europeia.
Bruxelas pede explicações a Reino Unido
Por sua vez, o presidente da Comissão Europeia disse que recebeu a notícia do chumbo em causa “com pesar” e garantiu que o processo, pelo menos do lado da UE, continua. “Temos mostrado criatividade e flexibilidade em todo o processo”, defendeu, em comunicado, Jean-Claude Juncker, apelando ao Reino Unido que clarifique as suas intenções “o mais rápido possível”.
“O risco de uma saída desordenada aumentou com a votação desta noite. Embora não queiramos que tal aconteça, a Comissão Europeia vai continuar o seu trabalho de contingência para assegurar que a União Europeia está completamente preparada”.
Risco de no deal é “elevado”
O negociador-chefe da União Europeia para o Brexit escolheu, por outro lado, sublinhar o agravamento do risco de no deal trazido por este chumbo.
“No momento em que vos falo nenhum cenário pode ser excluído, isso é sobretudo verdade em relação ao cenário que sempre quisemos evitar, o de um não acordo. Hoje é 16 de janeiro, estamos a apenas dez semanas do fim do mês de março, ou seja, do momento escolhido pelo Governo britânico para se tornar um país terceiro. E hoje, a dez semanas, nunca o risco de um não acordo pareceu tão elevado”, frisou Michel Barnier.
Mais tempo para concretizar Brexit?
A propósito do prazo mencionado pelo negociador-chefe, o ministro da Economia alemão disse que a União Europeia deveria dar mais tempo ao Reino Unido para fazer a saída de forma organizada e ponderada.
“A União Europeia deveria permitir um tempo adicional para [o Reino Unido] alcançar uma posição clara do Parlamento e do povo britânico“, sublinhou Peter Altmaier, em declarações à BBC.
Chumbo do acordo do Brexit é “má notícia”
De volta ao Twitter, o presidente do Parlamento Europeu usou a plataforma para reagira à decisão dos deputados britânicos, considerando-a negativa.
“O resultado da votação do Brexit é uma má notícia. O nosso primeiro pensamento está com os 3,6 milhões de cidadãos europeus que residem no Reino Unido e de britânicos que vivem na UE. Nós [Parlamento Europeu] vamos sempre lutar por eles”, escreveu o político.
Derrota parlamentar de May era “óbvia”
Óbvio. Foi esse o adjetivo usado pela primeira-ministra escocesa para descrever a derrota parlamentar de May. Nicola Sturgeon voltou a defender a convocação de um segundo referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (o original aconteceu em junho de 2016).
“Derrota história da primeira-ministra [Theresa May] e que há meses era óbvio que aconteceria. É hora de parar o relógio do Artigo 50.º e levar o assunto de volta ao eleitorado. A Escócia votou para ficar na União Europeia e nós não devemos ser arrastados contra a nossa vontade“, escreveu a líder do Executivo escocesa no Twitter.
Saída não ordenada à vista?
Pela Península Ibérica, o primeiro-ministro espanhol considerou a rejeição do acordo do Brexit uma decisão “negativa”, arriscando-se um divórcio não ordenado, o que, diz, seria catastrófico.
“O Governo lamenta o resultado negativo do Parlamento britânico. O acordo é o melhor possível, e uma saída não ordenada seria negativa para a UE e catastrófica para o Reino Unido. A Espanha está a trabalhar em medidas de contingência e vai dar prioridade aos direitos dos cidadãos e residentes”, salientou o político hispânico, também no Twitter.
Saída “descontrolada” seria muito má
“É fundamental que se compreenda que seria muito mau para todos se houvesse uma saída descontrolada”, reforçou, por sua vez, o primeiro-ministro português. António Costa disse ainda que seria “impensável” um divórcio desordenado, considerando o chumbo em causa “preocupante”.
“A verdade é que esta rejeição resulta da congregação de votos negativos com diferentes motivações: quem não quer o Brexit vota contra qualquer acordo, quem quer um Brexit radical vota contra este acordo porque não é radical, a oposição que quer eleições vota contra, a oposição ou os conservadores que querem um segundo referendo também votam contra”, sublinhou ainda o líder do Executivo luso.
No deal teria “consequências catastróficas”
O ministro dos Negócios Estrangeiros “lamenta o resultado”, considerando que está criado um “impasse” e esperando “consequências catastróficas” caso se confirme o cenário de nodeal.
Sobre a saída sem “nenhum espécie de cautela”, Santos Silva antecipa: “Camiões parados na fronteira, dificuldades à circulação das pessoas, dificuldades nos fluxos turísticos, dificuldades de abastecimento mesmo de alimentos, designadamente para o mercado interno britânico, aviões em terra e tudo isso é de evitar”.
“Evidentemente, esperamos que o Governo britânico diga quais são as suas intenções o mais brevemente possível, porque cria-se assim um impasse e compete ao Governo britânico dizer aos seus parceiros europeus o que tenciona fazer a seguir”, assinalou ainda o governante.
Soluções alternativas no horizonte?
Menos pessimista mostrou-se o Presidente da República luso. Perante o chumbo do acordo do Brexit, Marcelo Rebelo de Sousa disse esperar que o Reino Unido possa encontrar “soluções para uma saída em acordo”, não mencionando o risco de que esse divórcio seja feito de forma apressada e desordenada.
“O Presidente da República dirige-se aos compatriotas portugueses residentes no Reino Unido e aos cidadãos britânicos residentes em Portugal, para lhes garantir que, no que dele e das autoridades portuguesas depender, tudo será feito para que os seus direitos e expectativas sejam salvaguardados em ambos os países“, reforçou.
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