“Há empresas com vontade de ir para bolsa”. Mas há poucos bancos a ajudar
O CEO da Euronext Paris e head of listing do grupo, Anthony Attia, considera que o ano passado foi "único" devido às desistências de IPO e que a tendência será de retoma, incluindo em Portugal.
Cancelamentos e adiamentos de entradas em bolsa por toda a Europa foram eventos de exceção no ano passado, mas não marcam a tendência, segundo o global head of listing da Euronext. Em Lisboa para o evento TechShare, Anthony Attia garantiu que a gestora de índices bolsistas está “entusiasmada” com o mercado português, onde vê vontade de nascerem novas cotadas. No entanto, os parceiros no mercado financeiro não ajudam.
“No ano passado, tivemos um primeiro semestre muito movimentado em Portugal. Houve uma oferta pública inicial [IPO, na sigla em inglês] e projetos de outros dois que eram muito bons e muito importantes”, afirmou Attia. “Acreditamos que Portugal está agora numa posição em que há um ambiente bastante positivo para empresas tecnológicas e startups. Há empreendedores e investidores, mas há um enfraquecimento nos players financeiros. Não há bancos suficientes a trabalharem nisso [colocações em bolsa]”.
A fintech Raize pôs fim, em julho do ano passado, a dois anos em que as únicas movimentações na bolsa de Lisboa foram de saída. A Sonae MC (negócio de retalho do grupo Sonae) e a startup de brinquedos didáticos Science4you tentaram fazer o mesmo, mas foram obrigadas a cancelar as operações porque não conseguiram investidores para a oferta inicial. Ainda no final do ano, a sociedade de investimento para o fomento da economia Flexdeal também entrou no mercado português, mas através de colocação privada.
“Temos de ser pacientes com os IPO porque temos de esperar que o ciclo volte a subir. A Euronext está muito positiva e entusiasta em relação ao mercado português”, sublinhou o global head of listings do grupo, que acumula funções como CEO da Euronext Paris.
Apesar da concorrência, private equity é rampa para a bolsa
Attia lembrou que estes falhanços aconteceram por toda a Europa. Ao todo foram 65 IPO adiados ou cancelados: “Nunca tínhamos visto nada assim”, admite. Por um lado, considera que esteve relacionado com uma maior cautela por parte dos investidores, mas por outro também com o elevado volume de private equity no mercado. “Há muito dinheiro a ser posto no mercado, mas estes investidores têm de ter uma estratégia de saída… É um ciclo e por isso é que o TechShare é tão importante. Construímos o longo prazo”, afirmou.
O programa pan-europeu da Euronext é direcionado para empresas tecnológicas que tenham interesse em conhecer mais sobre a bolsa. Decorre ao longo de seis meses, em que os participantes têm encontros nacionais com parceiros — bancos de investimento, consultoras financeiras, sociedades de advogados e agências de comunicações — e internacionais.
O último encontro da quarta edição, que aconteceu em Portugal, contou com 135 empresas de oito países: Portugal, Bélgica, França e Holanda (cujas bolsas são geridas pela Euronext), bem como Alemanha, Espanha, Itália e Suíça (TechHubs).
“Há muito trabalho a fazer antes de um IPO e a maior parte destas empresas ainda nem tem dinheiro. Mas tem de se preparar o mercado e as empresas. O TechShare não serve para convencer ninguém a abrir o capital, mas sim para que tenham sucesso caso o decidam fazer”, afirmou Attia, acrescendo que, apesar disso, houve quatro empresas (todas estrangeiras) que fizeram IPO depois o curso.
Tecnológicas europeias nos EUA? “Há investidores suficientes cá”
Quanto ao foco em tecnológicas de pequena dimensão, o gestor explicou que há interesse neste segmento e que existia espaço aqui para ser explorado. “O que vemos na Euronext é que nos tornámos muito atrativos para pequenas empresas, o que é bom porque serão as grandes do futuro. E o que as tecnológicas procuram são investidores internacionais e especializados, o que não encontram nos mercados locais“.
A Euronext tem como bandeira a poll de liquidez pan-europeia que abre a porta a maior número de investidores e gera interesse em empresas até de países onde a Euronext não está, como é o caso de Espanha ou Itália. No entanto, a concorrência do mercado norte-americano é forte, sendo disso exemplo a luso-britânica Farfetch, que entrou em bolsa, no ano passado, mas no índice nova-iorquino Nasdaq. Attia vê, no entanto, este exemplo como a exceção que confirma a regra.
“Dizem-me a toda a hora que as tecnológicas querem é ser cotadas nos EUA. Não é verdade e não acredito que haja verdadeiramente competição”, acrescentou. “As empresas aprenderam da pior forma que, nos EUA, há uma poll de empresas muito maior. Quando se é muito pequeno e a competição é muito grande, perde-se visibilidade. Além disso, a gestão tem de estar sempre na estrada. É uma decisão difícil e penso que só faz sentido ir para os EUA para quem tiver negócios lá. Temos investidores suficientes cá“.
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