Associação Mutualista obrigada a comprar 70% da emissão de dívida do Montepio
Depois de falhar a emissão no final do ano, o banco liderado por Dulce Mota voltou ao mercado. Desta vez emitiu 100 milhões para reforçar rácios, mas só com a ajuda da AMMG.
Não conseguiu à primeira, conseguiu à segunda (mas com ajuda). Depois de falhar a emissão de 150 milhões de euros em dívida de elevada subordinação no final do ano passado, o Banco Montepio conseguiu obter 100 milhões com títulos que lhe permitem reforçar os rácios de capital. Mas só teve sucesso porque uma boa parte deste valor, cerca de 70 milhões de euros, foi investido pela Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG).
Depois de realizar, nas últimas semanas, um roadshow para sondar o apetite do mercado, o banco avançou com a operação, tendo até registado uma procura acima do montante pretendido. As ordens colocadas no sistema ascenderam, apurou o ECO, a 120 milhões de euros, garantindo o sucesso desta emissão de títulos que caso o rácio de capital do banco desça abaixo de determinado nível são convertidos em capital do banco ou totalmente destinados a repor eventuais perdas.
Esta procura acima da oferta só foi, contudo, possível graças à participação de “partes relacionadas” com o Banco Montepio. Essas “partes relacionadas” colocaram ordens num montante de 80 milhões de euros, tendo sido totalmente satisfeitas. Entre elas está a AMMG que investiu “mais de 70 milhões de euros” nesta emissão de títulos Tier 2, revelou fonte próxima do processo, que pediu para não ser identificada. Ou seja, garantiu mais de 70% da emissão. Contactado o banco, não foi possível obter resposta.
A AMMG, detém 100% do Banco Montepio, voltou, assim, a acorrer à instituição financeira agora liderada por Dulce Mota, à semelhança do que já tinha feito no final do ano passado. Perante o fracasso na emissão em mercado de 150 milhões de euros em títulos de dívida tier 2, a AMMG teve de subscrever um empréstimo obrigacionista subordinado do Banco Montepio no valor de 50 milhões de euros que lhe permitiu cumprir o rácio de capital exigido pelo supervisor português para 2019 (13,625%).
Taxa de 10,5% gera imparidade
Mesmo com a procura a superar a oferta, o Banco Montepio acabou por pagar uma taxa elevada para garantir a colocação destes 100 milhões de euros. A taxa indicativa na altura da abertura dos cadernos para a receção das ordens era de 10,5%, tendo acabado por ser esse o juro na conclusão da operação. A título de exemplo, há um ano o Novo Banco realizou uma emissão de 400 milhões de euros em títulos tier 2 com uma taxa de 8,5%.
Estes 10,5% são um juro também mais elevado do que o pago na operação realizada no final do ano, em que a AMMG injetou 50 milhões de euros. Essa taxa rondou, sabe o ECO, os 8% — o Montepio descartou esse juro, mas nunca esclareceu qual a taxa efetiva associada a esse financiamento.
Com este novo investimento da AMMG na dívida do Montepio, a associação liderada por Tomás Correia vai acabar por registar uma imparidade à luz das condições nesta emissão de títulos tier 2. A compra dos títulos a um valor inferior — daí resultando uma taxa mais elevada — levará a AMMG a reconhecer uma perda em torno dos seis milhões de euros já que existe uma desvalorização da dívida anteriormente adquirida.
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