Porquê tanta pressa em entregar o IRS? Sobretudo para antecipar o reembolso e “despachar o assunto”
Este ano, o prazo de entrega do IRS aumentou de dois para três meses. Apesar disso, nos primeiros dias houve uma corrida por parte dos contribuintes. Fomos tentar perceber porquê.
O período de entrega do IRS arrancou há pouco mais de duas semanas, mas mais de um terço dos contribuintes já apresentou as declarações de rendimentos. Esta “avalanche” não surpreende os fiscalistas, que a justificam com a pressa em receber os respetivos reembolsos. Mesmo com um prazo mais alargado este ano para entregar o IRS, o ECO foi ouvir 15 contribuintes e perceber os motivos para esta pressa.
Desde o dia 1 de abril já foram entregues mais de 1, 83 milhões de declarações de rendimentos anuais, de acordo com os dados do Ministério das Finanças, o equivalente a mais de um terço do total, dos quais mais de 805 mil declarações foram entregues através da funcionalidade IRS Automático. Mas porquê esta pressa? Mesmo com aumento do prazo de entrega de dois para três meses?
“Reembolsos” é a palavra de ordem, tanto da parte dos fiscalistas como dos contribuintes. “Aquilo que as pessoas estão a fazer é entregar a declaração mais rapidamente para receber o reembolso também mais rapidamente”, explica ao ECO Luís Leon, fiscalista da Deloitte. De acordo com os dados do Ministério das Finanças, “estão a ser realizadas 200.000 liquidações por dia, sendo que 350.000 contribuintes já terão recebido os seus reembolsos”.
Foi exatamente essa a razão apontada por vários dos contribuintes com quem o ECO falou. Carolina Santos diz que entregou “no dia 6 para receber logo o reembolso”. “Vou casar este ano. Também para não me esquecer. E porque se houver alguma coisa tenho tempo de ver e voltar a entregar a declaração de substituição”. Mas para a brand manager, de 28 anos, também ajudou a facilidade de preenchimento. Diz que vai “guardar o reembolso e tentar poupar” o dinheiro.
O mesmo defende Rafael Castro, estudante do ensino superior com 22 anos, que acredita que “quanto mais cedo entregas, mais rápido recebes [o reembolso]”. Francisco Rebelo, de 43 anos, opta sempre por entregar o IRS nas primeiras duas ou três semanas, “para despachar” e “para saber se o reembolso dá para usar nas férias”.
Os portugueses “ganharam empatia com o IRS”, porque “o IRS dá-lhes dinheiro”, afirma Manuel Faustino, ex-diretor do IRS, ao ECO. “Não me admira a avalanche a entrar, porque as pessoas têm dinheiro a receber”. No ano passado, os reembolsos do IRS totalizaram cerca de 2,6 mil milhões de euros. Este ano esse valor deverá tocar nos três mil milhões de euros, de acordo com as contas do ex-diretor do IRS, Manuel Faustino.
“Assim fico já despachada”
Não só para receber os reembolsos mais rapidamente, mas também para “despachar”. É o caso de Henrique Vasconcelos Pereira, arquiteto com 26 anos, que já entregou a declaração apenas “para não deixar para o final”. O professor Pedro Camelo, 40 anos, pensou da mesma forma e quis “arrumar com o assunto”, enquanto Maria Coelho, bancária de 53 anos, nunca deixa passar da primeira semana. “Assim fico já despachada, não perco mais tempo, até porque depois ajudo a fazer o IRS de outros familiares”, diz.
Cátia Oliveira, programadora de 26 anos, já entregou para não ter de se preocupar mais com assunto, mas também porque “tinha medo de deixar passar o prazo de entrega por esquecimento”. Mas aqui, Manuel Faustino, ex-diretor do IRS, acredita que “as pessoas já não têm as multas por atraso em mente”.
Joana Vieira, arquiteta de 28 anos, entregou a declaração a 4 de abril porque tinha de “tratar da declaração da Segurança Social para os recibos verdes”, então decidiu “tratar logo das duas coisas ao mesmo tempo”. Com o reembolso, que é cerca de 100 euros no seu caso, vai usar em algumas “despesas extraordinárias”, como compras.
“Entregar em três ou quatro cliques”
Reembolso, “despachar o assunto” e facilidade na entrega das declarações. “A maior parte das pessoas que têm salários e pensões foram ao Portal das Finanças e perceberam que era possível entregar em três ou quatros cliques e fizeram-no”, explica o fiscalista da Deloitte, ao ECO. Para Luís Leon, o IRS automático facilitou todo o processo e isso contribuiu para as pessoas agilizarem as entregas.
Jaime Moreno, técnico de laboratório com 54 anos, também é um dos que prefere tratar rapidamente do assunto e, desta vez, não foi diferente. Viu no Twitter que o portal das Finanças estava em baixo e decidiu experimentar. “Experimentei só por experimentar e, na realidade, aquilo agora faz-se em dois minutos. É só confirmar o agregado, o NIB e pronto”, diz. “A Autoridade Tributária tem simplificado muito o procedimento”.
A verdade é que a pressa para entregar o IRS foi tanta que o portal das Finanças foi abaixo pelo menos três vezes, uma delas logo no primeiro dia. E essas falhas também levaram alguns portugueses a acelerar a entrega das declarações com receio de novas falhas. Manuel de Aragão, estudante e técnico de apoio à contabilidade e gestão com 22 anos, vai entregar este fim de semana “para não deixar tudo para último, até porque os servidores [das Finanças] a dado momento congestionam e por vezes fica difícil submeter“.
Os motivos mais comuns são estes, mas também podem ser outros. Uma contabilista contactada pelo ECO, que preferiu manter o anonimato, adianta que a pressa em matricular os filhos nas escolas e em pedir créditos bancários também podem ser justificações para a corrida à entrega do IRS. Nestes dias, o mesmo escritório já submeteu cerca de 100 declarações de IRS, um número bastante superior ao verificado nos anos anteriores. Contudo, o número de declarações submetidas tem vindo a reduzir: “cada vez mais é mais fácil submeter as declarações e agora as pessoas conseguem fazer isso em casa, sem precisar de ajuda”, explicou.
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