As diferenças entre Lisboa e Toronto e entre Web Summit e Collision, as alternativas à FIL e a mudança para Lisboa, em setembro. Paddy Cosgrave em entrevista ao ECO.
O Web Summit celebra em novembro a quarta edição em Lisboa mas estes foram dias de estreia em Toronto. A equipa de Paddy Cosgrave mudou-se para a capital do estado do Ontário depois de abandonar Nova Orleães para montar a Collision, conferência que contou com 25 mil participantes e uma comitiva portuguesa de peso, entre instituições, câmaras e startups.
O CEO e cofundador da Web Summit, empresa organizadora do evento com o mesmo nome, em Lisboa, do Collision — direcionado para a América do Norte — e do Rise, virado para o mercado asiático, conversou com o ECO sobre o modelo de negócio, as perspetivas de crescimento em Lisboa e a polémica entre a autarquia e a AIP, entidade gestora da FIL. E a ambição de trazer Cristiano Ronaldo no evento deste ano.
Web Summit e Collision: o mesmo modelo de negócio e um evento semelhante mas com marcas, mercados e escalas diferentes?
São eventos de dois tipos diferentes: o Web Summit é hoje um Mercedes, um BMW, Série 7 ou 8. É dos grandes. E o Collision é, por agora, como um pequeno Citroën.
Mas a ideia é que cresçam?
A ideia é que cresçam. Na verdade o Web Summit é um caso anómalo. Vindo a Toronto e tendo estado em Lisboa, percebe-se que aqui Portugal é uma pequena parte da história, com o lounge, e que o Canadá é a história. É vindo ao Collision que damos conta da quantidade de coisas que se passam no Web Summit e em Portugal. Lá, a história é sobre Portugal, e é bastante impressionante como o local importa. A junção de localização e evento tem força, é uma combinação poderosa.
Tendo essas características como base, Web Summit e Collision, por mais que cresçam nunca serão eventos iguais porque vão buscar ao ADN de cada local…
Sim, exatamente. Portugal é uma espécie de infusão com o Web Summit. É único, como um pastel de nata, e é algo que não se pode obter de outra maneira nem noutro local. O Collision é diferente, e há várias razões para ser diferente. Este foi o primeiro ano, tivemos problemas com a internet, o venue assumiu toda a responsabilidade e vão indemnizar todos os expositores. Isto é um bebé, uma criança de dois anos.
Em Lisboa, a Altice tem características únicas, tem boa wi-fi, boas instalações. O Web Summit é mais maduro, um adolescente responsável e especial. Ainda assim, com alguns anos ainda de amadurecimento pela frente.
Ficou surpreendido com as polémicas entre a FIL e o presidente da Câmara de Lisboa? Ou era algo de que já estava à espera?
Se leres jornais em qualquer país, isto é apenas… política. Confio plenamente no presidente da Câmara de Lisboa, qualquer lado do espetro político em Portugal reconhece que o Fernando Medina é um homem muito capaz e eu tenho plena confiança nele. Na política, em qualquer parte do mundo, há sempre questões. Faz parte da natureza de ser político.
Sobre a polémica entre a câmara de Lisboa e a AIP? Isto é apenas… política.
Não está preocupado?
Não. Na próxima semana, no próximo mês, haverá outras questões. A zona ribeirinha da cidade, as pontes, as árvores, as escolas. Nunca tivemos problemas no passado, e, tendo tantas opções, não há razão para estarmos preocupados.
Quais serão as principais alterações no Web Summit deste ano?
Estive no Estoril, observei a experiência de catering, e gostava muito de fazer uma coisa semelhante no Web Summit, se não for já este ano, no ano que vem. Para que qualquer executivo senior em Portugal possa ter uma experiência de startup. A comida é uma das nossas grandes ambições para este ano.
Outra é aumentar a participação de mulheres empreendedoras, vindas de todo o mundo. No Collision tivemos maior participação feminina do que em Lisboa, 45% versus 42%, ainda que os números sejam semelhantes. Queria levar ao palco do Web Summit empreendedoras de, por exemplo, todos os países africanos. Temos uma série de anúncios, mas vamos guardar as novidades para mais perto do evento.
E o Wine Summit, sempre arranca este ano?
Fomos contactados por vários produtores, tivemos convites para irmos às suas vinhas e adegas. Fui conhecer a fábrica da Delta e a adega, não tenho a certeza que haja muitas empresas como aquela pelo mundo. Numa terra pequena o impacto ao nível do emprego, é incrível. Fazem várias coisas, a família está envolvida.
Estamos a planear um evento dois dias antes do Web Summit para trazer 500 empreendedores dos mais interessantes em early stage. O que percebemos nos últimos anos foi que muitas das maiores empresas do mundo foram percebendo o quanto podem aprender das mais pequenas e mais rápidas. Se és uma empresa com 50 anos, o maior desafio é a velocidade. No caso da Siemens, por exemplo, enviam 100 dos seus managers de todo o mundo para o Web Summit. Porquê? Literalmente porque querem que eles experimentem essa energia com que estas pequenas empresas estão a trabalhar. Claro que muitas vêm apresentar e demonstrar produtos mas grande parte delas quer mostrar aos seus líderes emergentes e levá-los a aprender, a experimentar, a conhecer pessoas. Para nós, isso significa dar mais visibilidade às empresas em early stage porque é aí que toda a energia está.
E talvez ter o Cristiano Ronaldo no Web Summit… essa é a minha ambição. É um jogador que está nos seus anos mais maduros, é um homem de causas, acho que poderia ser um convidado de peso. Já passaram três anos desde que estamos em Lisboa, é o momento.
"Muitas das maiores empresas do mundo foram percebendo o quanto podem aprender das mais pequenas e mais rápidas. Se és uma empresa com 50 anos, o maior desafio é a velocidade.”
Vai mudar-se para Lisboa em setembro…
Não posso fazê-lo em julho ou agosto, desculpa…
Porquê?
Eu adoro Portugal mas é demasiado quente nessa altura do ano. Se vivesse na costa, perfeito. Mas quero estar em Lisboa, então… Arrendei um espaço perto do escritório.
A mudança seria uma boa oportunidade para mudar a sede do Web Summit para Lisboa?
É uma boa pergunta. Estamos a alargar a equipa e acredito que a cidade é ótima para fazer crescer a equipa. Temos vários portugueses em Dublin e até um fenómeno português: às 14 horas, basicamente os portugueses não bebem o café irlandês e, em vez disso, pegam nos copos pequenos e vão à máquina da Delta. É como uma religião. Temos um “Portugal Pequenino” dentro do escritório, em Dublin, e vamos continuar a crescer. Pela primeira vez temos essa segurança de poder planear o evento a 10 anos, e poder pensar realmente como queremos estruturá-lo a longo prazo. Temos milhares de ideias, e vários anúncios para fazer.
Mas mudar a sede…
Acho que poderia ter dupla localização, em Lisboa e em Toronto também. As empresas são remotas, há estruturas que não têm escritórios, e são globais. Vivemos num mundo em que o trabalho está a mudar, há pessoas a trabalhar remotamente a toda a hora, de qualquer parte do mundo, em espaços de cowork. Temos uma política de flexibilidade muito aberta e não queremos saber de onde as pessoas trabalham, desde que o trabalho apareça feito. O mundo está mudado, toda a gente está no Slack. Se amanhã vier um trabalhador do Web Summit dizer-me que quer trabalhar de Sagres no próximo mês, por mim é ok. Não me importo, desde que o trabalho fique feito. Posso estar errado mas acho que esse será o caminho.
Escreveu no Twitter que acompanhou a visita a Lisboa do maior construtor de espaços de conferências do mundo. Com que objetivo?
Independentemente de se o venue for expandido ou construído de raiz, provavelmente quereremos envolver os melhores do mundo para fazê-lo. Lisboa tem um potencial de expansão grande ainda. Na verdade, por questões históricas a cidade, a câmara ainda tem muita terra na cidade, deve ser um caso único na Europa o que, para uma cidade, cria muitas oportunidades, não apenas para um centro de congressos mas para outras coisas. Acho que estamos a desenvolver muitos projetos na frente ribeirinha, e isso seria um pesadelo noutras cidades que não tivessem a posse de muitos desses terrenos. Temos muita sorte mas qualquer que seja o outcome, as opções são todas vantajosas. Não estou preocupado.
Durante 20 anos houve planos para construir algo maior e, durante esse período, muitas cidades mais pequenas construíram espaços cinco ou seis vezes maiores dos que os que tem Lisboa e, muitos deles com aeroportos regionais. Lisboa é provavelmente a cidade maior da Europa com o espaço mais pequeno, e isso significa vários eventos grandes que, ao longo dos anos, não consideraram a capital portuguesa como possibilidade.
"A escala do Web Summit até ao alargamento da FIL vai ser a mesma, talvez durante dois ou três anos.”
Uma das grandes questões para muitas cidades europeias que têm muitos turistas é: fazemos crescer o número de turistas ou o tipo de turistas que mais têm impacto na economia? Podendo escolher, preferiria turistas que gastam 30 euros por dia ou os que gastem 800 euros por dia? Se olhares para os participantes em conferências eles gastam, em média, cinco vezes mais por dia do que um turista, porque um turista está com o seu orçamento pessoal, pode estar em família. Em eventos profissionais a perspetiva é diferente porque estão a tentar impressionar clientes e parceiros. Por isso é que cidades como Valência investiram tanto, porque os restaurantes, os motoristas de táxis e outros transportes, hotéis, todos ganham.
O impacto económico do Web Summit em Lisboa está a crescer?
A minha previsão é que sim, está a crescer, mas a escala do Web Summit até ao alargamento da FIL vai ser a mesma, talvez durante dois ou três anos. O que para nós é uma oportunidade de respirar e fazer uma série de melhoramentos. Se o evento fica maior, obviamente que o impacto cresce, mas isso dependerá do venue. Não há maneira de agora o fazer maior.
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Paddy Cosgrave: “Web Summit é caso anómalo de crescimento. Este ano queremos trazer o Cristiano Ronaldo”
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