Caixa não executou património de Berardo para evitar impacto no sistema. “Que ironia”, diz Mariana Mortágua

A Caixa não executou o património da Fundação Berardo para evitar impacto no sistema. "Mas o banco deu crédito com base nesse património. É uma ironia", notou Mariana Mortágua.

No final de 2008, quando entrou em incumprimento com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), a Fundação Berardo tinha investimentos financeiros líquidos avaliados em 1.000 milhões de euros. E porque razão não se procedeu à execução desse património nesse momento, questionou a deputada Mariana Mortágua. “Imagine o efeito que ia causar no sistema financeiro”, justificou esta terça-feira no Parlamento Francisco Bandeira, que foi administrador e vice-presidente do banco público entre 2005 e 2011.

“Mas que ironia”, notou a deputada bloquista. “Todos os administradores argumentam a aprovação dos créditos com o património, mas em nenhum momento se executou esse património que justificou a concessão dos créditos”, afirmou Mariana Mortágua durante a audição a Bandeira, que decorreu na comissão de inquérito à recapitalização da CGD e aos atos de gestão.

“Há sempre uma boa razão para não executar património. A verdade é que nunca se executou enquanto havia património para executar”, reforçou a deputada.

Entre 2006 e 2008, a Caixa concedeu três empréstimos a sociedades de Berardo para comprar ações do BCP. O primeiro financiamento foi à Metalgest no valor de 50 milhões de euros. O segundo foi concedido à Fundação Berardo através de uma conta corrente no valor de 350 milhões de euros (embora só tivessem sido utilizados cerca de 270 milhões). E o terceiro financiamento (que vem no seguimento do segundo), também à Fundação Berardo, teve o valor de 38 milhões.

De acordo com a Ernst & Young, as duas sociedades deviam mais de 300 milhões de euros ao banco público no final de 2015. Contando com as dívidas a outros dois bancos, o BCP e o Novo Banco, o endividamento das sociedades de Berardo superam os 1.000 milhões de euros. A 20 de abril, as três instituições entregaram no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa uma ação executiva para cobrar essas dívidas.

Francisco Bandeira explicou que ele próprio aprovou a primeira operação (à Metalgest) em conselho alargado de crédito já que, disse, ficou convencido com o que ouviu na altura. A resposta surgiu depois de ser confrontado pela mesma deputada com o facto de a única forma de a Metalgest honrar esse empréstimo ser através dos “dividendos do BCP ou se as ações fossem vendidas por um valor superior ao valor da compra”.

“Não necessariamente”, retorquiu o ex-administrador, que apontou para outros fatores na análise ao crédito. “A situação financeira do dono da empresa, provavelmente a experiência da capacidade que tinha de gerar resultados extraordinários na bolsa, e provavelmente coisas que não sou capaz de produzir agora. Não foi um negócio que tenha tido conhecimento factual. Dizia-se que o homem tinha dinheiro. Eu não fui lá contar o dinheiro“, acrescentou.

Já sobre a reestruturação do contrato com a Fundação Berardo, feita anos mais tarde e que envolveu os outros dois bancos, Francisco Bandeira disse que foi a melhor solução para a Caixa.

Nesse acordo, o banco público ficou com uma garantia de 40% sobre os títulos da Associação Coleção Berardo (que detém as obras de arte), e não sobre a própria coleção de arte. A Caixa foi enganada? “Eu não sou jurista. Não sequer me passou pela cabeça que quem estava a tratar disso não acautelasse essas situações”, adiantou.

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