Entre juros em mínimos e pressão externa, rating português vai hoje a exame pela Moody’s
A apenas dois meses das eleições legislativas, Moody's poderá preferir esperar para ver, apesar de ser a agência de notação financeira que atribui, atualmente, pior rating a Portugal.
O brilharete dos juros da dívida portuguesa não deverá passar despercebido às agências de notação financeira, mas as incertezas sobre a economia global também não. Com fatores positivos e negativos a pesarem na balança, não há certezas sobre o que irá a Moody’s fazer esta sexta-feira à noite quando avaliar o rating de Portugal.
“Até é difícil de justificar uma decisão de não subir tendo em conta os desenvolvimentos positivos. Desde a última revisão em que a Moody’s se pronunciou, os juros caíram a pique e estão em mínimos históricos“, afirmou Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros, que espera uma revisão em alta do rating.
A Moody’s avalia atualmente Portugal no primeiro nível do grau de investimento (Baa3) com perspetiva estável. Uma revisão em alta poderia levar o rating para Baa2, ou seja, o segundo degrau do patamar de investimento de qualidade, onde as pares Standard and Poor’s, Fitch e DBRS veem o país, sendo que as duas últimas têm também perspetiva positiva (que sinaliza a possibilidade de nova subida nos seis a 12 meses seguintes).
Na última avaliação da Moody’s, em fevereiro, decidiu não se pronunciar sobre o país. Assim, a última vez em que o fez foi em outubro, quando tirou o rating do “lixo”. Na altura, a yield das obrigações do Tesouro a dez anos negociava em torno de 2%. Desde então, afundou para próxima de 0,2%, tendo chegado mesmo a tocar o mínimo histórico de 0,15% esta semana.
“Há o fator positivo que são as taxas de juro, mas há maior receio no mercado sobre a desaceleração da economia global e a guerra comercial”, sublinhou Mário Carvalho Fernandes, diretor de Investimentos do Banco Carregosa, acrescentando que “para já, esperaria que o rating se mantivesse inalterado”.
Yield da dívida a dez anos negoceia próxima de 0,20%
Fonte: Reuters
Eleições legislativas aumentam incerteza
O rating é “sempre um balanço de riscos”, como diz Garcia e nos pratos da balança Portugal tem, além dos juros da dívida, outros fatores positivos. A contínua melhoria nas contas públicas deverá ser novamente apontada como ponto positivo até porque o Governo espera um défice de apenas 0,2% este ano e excedente orçamental no próximo, enquanto a recente mudança metodológica que engordou o rácio da dívida pública face ao PIB deverá ser ignorada já que o valor absoluto não se altera.
E Mario Draghi dá uma ajuda de peso. Tem sido a política monetária expansionista a reduzir os custos de financiamento dos países e o Banco Central Europeu (BCE) já anunciou que está a preparar um novo pacote de estímulos para depois do verão. Mas se a rede de segurança do BCE ajuda à manutenção de baixas taxas de juro para Portugal, a razão para Draghi relançar os estímulos prejudica.
Do outro lado da balança está a economia global. O fim do ciclo de crescimento está a ser pressionado pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, levando instituições como a Comissão Europeia ou o Fundo Monetário Internacional a mostrarem-se mais pessimistas para este ano. Com o exacerbar das tensões entre as duas maiores potenciais do mundo, aumentam os receios sobre o impacto da guerra comercial e a possibilidade de recessão.
"As perspetivas futuras poderão justificar alguma cautela.”
No meio estão as eleições. Esta é a última avaliação da Moody’s antes das legislativas de outubro. Apesar de as sondagens indicarem que o PS se mantenha na governação do país, o economista da IMF considera que “as eleições são a principal razão para a agência de rating se mostrar cautelosa porque às vezes há surpresas”.
Tal como outras agências de notação já fizeram, a Moody’s poderá alertar para o risco de propostas eleitorais (como progressões salariais na Função Pública, aumentos dos salários mínimos ou diminuição de impostos) levarem a uma derrapagem nas contas públicas. A dúvida prende-se com o peso que a agência norte-americana irá a atribuir a cada fator nos pratos da balança.
Carvalho Fernandes, do Carregosa, reconhece que “a evolução de Portugal tem sido positiva, nomeadamente no crescimento económico e na diminuição do malparado” e lembra que “estas revisões de rating têm em conta fatores internos e externos”. Ainda assim, lembra que Portugal é uma economia aberta e, por isso, mais suscetível a riscos internacionais. “As perspetivas futuras poderão justificar alguma cautela”, acrescentou.
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