Governo isolou Pardal Henriques. E agora?

Os motoristas de matérias perigosas, que estiveram sozinhos na greve de abril, voltam a estar isolados depois do Sindicato de Mercadorias ter aceite levantar a greve para negociar.

Pedro Pardal Henriques, o principal rosto do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), entra no quinto dia de greve cada vez mais isolado. Depois de ter enfrentado a imposição de serviços mínimos que quase esvaziaram os efeitos da greve, de ter que lidar com uma requisição civil e com a presença dos militares ao volante dos camiões que transportam matérias perigosas, o advogado e porta-voz do SNMMP perde o seu principal aliado.

Esta quinta-feira o Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) aceitou levantar a greve iniciada na segunda-feira pelas duas estruturas sindicais. Em troca, a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) regressa à mesa das negociações e até já marcou para 12 de setembro uma primeira reunião.

Isto significa que pelo menos 150 motoristas voltam esta sexta-feira à estrada, o que deverá minimizar ainda mais os efeitos da paralisação que esta semana não chegaram a atingir os níveis de perturbação de abril.

O regresso do sindicato de mercadorias às negociações é a concretização de uma rutura preanunciada. A 5 de agosto, tanto o SIMM como o SNMMP haviam estado no ministério das Infraestruturas, mas em encontros separados com o ministro Pedro Nuno Santos e ontem Anacleto Rodrigues não escondeu o descontentamento por Pardal Henriques e Francisco São Bento, presidente do sindicato, terem estado no ministério do Trabalho e Segurança Social sem se fazerem acompanhar pelo SIMM, parceiros de contestação. “Entrámos na greve em conjunto, seria de esperar que as iniciativas para sairmos da greve seriam também conjuntas”, afirmou o dirigente do SIMM.

Ao mesmo tempo, Antram e Governo faziam o seu caminho para chamar o SIMM de novo às negociações. Aproveitando o bom momento conseguido na noite de quarta-feira com o acordo assinado entre a Fectrans e os patrões, que prevê aumentos mínimos de 140 euros para motoristas indiferenciados e 266 euros para motoristas de matérias perigosas, já a partir de janeiro, patrões e Executivo procuraram chamar a si os motoristas de mercadorias, o que conseguiram já ao início da noite de ontem.

SIMM e Antram chegaram ao Ministério das Infraestruturas separados por cerca de uma hora e terão estado reunidos com Pedro Nuno Santos em salas separadas. Só quando os motoristas aceitaram desconvocar a greve, e assinar um documento que o confirmava, terá o Executivo juntado as partes na mesma sala para um aperto de mão.

Enquanto isto, Antram e Governo continuam a insistir para que o SNMMP suspenda a greve e regresse à mesa das negociações. Depois de Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, também António Costa, primeiro-ministro, que à primeira hora saudou o acordo alcançado pelos patrões e motoristas de mercadorias, veio pedir aos motoristas afetos ao SNMMP para que não fiquem isolados.

Esta quinta-feira, o SNMMP chegou a pedir a mediação do Executivo, conforme havia sido proposto pelo ministro das Infraestruturas há cerca de uma semana. O Governo, pela voz de Miguel Cabrita, secretário de Estado do Emprego, começou por anunciar que iria nomear um mediador para tentar terminar o conflito, mas, apenas quatro horas depois, anunciou o fim do processo de mediação, justificando que o mesmo não era viável perante a intransigência dos patrões em aceitar negociar com a greve em cima da mesa.

“Para nós é claro, talvez sem surpresa, dadas as posições dos últimos dias, que não é viável iniciar o processo de mediação com possibilidade de viabilidade e condições de êxito”, pelo que “o processo de mediação termina, dado que não há condições de viabilidade”, afirmou o secretário de Estado do Emprego.

É por isso que André Matias, porta-voz da Antram, continuou quinta-feira a pedir ao SNMMP que desconvoque a greve e volte às negociações. Um pedido que Pardal Henriques parece pouco disponível para aceitar. Na quinta-feira à noite, quando já se sabia que SIMM e Antram estavam no ministério das Infraestruturas, o advogado e porta-voz dos motoristas de matérias perigosas assegurava que a paralisação dos motoristas de matérias perigosas é para continuar. “A greve vai continuar, as pessoas vão continuar a exercer o seu direito, vamos continuar aqui” em Aveiras, disse, citado pelo Público. E apesar da “nega” des quinta-feira, o representante do SNMMP continua a apontar que quer “resolver este processo, como a Antram e o Governo”.

O SNMMP e Pedro Pardal Henriques prometeram para a manhã desta sexta-feira novos esclarecimentos. Dentro do momentos ficaremos a saber como irão os motoristas de matérias perigosas lidar com o isolamento.

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