Catarina Martins diz que socialistas cederam à extrema-direita na Europa
A coordenadora do BE acusou os socialistas europeus, incluindo o PS, de terem cedido à extrema-direita e critica a pasta atribuída à nova comissária portuguesa, Elisa Ferreira.
Catarina Martins, coordenadora do BE, acusa o PS e outros partidos do centro europeus de terem falhado na luta contra a extrema-direita e considera que há “um sinal económico grave” na pasta atribuída a Elisa Ferreira na futura Comissão Europeia.
“O Partido Socialista em Portugal e outros partidos ditos de centro em outros países da Europa prometeram construir uma aliança que não permitisse à extrema-direita conduzir os destinos da Europa e, de facto, falharam em toda a linha e acabaram por ceder”, afirma Catarina Martins em entrevista à agência Lusa.
A líder do Bloco usa palavra fortes e culpa os socialistas por “uma completa cedência à extrema-direita na Comissão Europeia” que vê as suas posições reforçadas.
Catarina Martins cita o facto de ter sido atribuído o nome de “modo de vida europeu” a uma pasta sobre migrações: “Isto não é só uma cedência a uma semântica da extrema-direita, até porque, como sabem, não existe um modo de vida europeu (…) modos de vida há muitos na União Europeia”.
A coordenadora do Bloco acrescenta: “aquilo de que estamos a falar é da ideia de alimentar uma retórica xenófoba que é muito prejudicial e que não tem nada a ver com aquilo que consideramos que deve ser um espaço europeu, que deve ser um espaço de respeito pelos direitos humanos”.
Outro exemplo citado foi o da pasta do alargamento atribuído à Hungria, com um regime “autoritário” e “traços protofascistas” de quem o Partido Popular Europeu se demarcou antes das eleições, “para fazer de conta”, segundo diz.
Relativamente à pasta atribuída a Elisa Ferreira, Catarina Martins manifesta uma preocupação “mais vasta”: “chama-se coesão e reformas”. Para a dirigente bloquista, há um entendimento muito diferente na Europa relativamente ao conceito de reformas: “em europês digamos assim, reformas têm sido tudo aquilo que corta nos custos de trabalho e no Estado social”.
“É por causa das reformas que nós fomos ameaçados quando tentámos subir o salário mínimo nacional, porque não era o tipo de reforma que a União Europeia quisesse, ou descongelar pensões porque queriam, pelo contrário, baixar os custos de trabalho em Portugal, cortar em salários e em pensões”, afirma.
Segundo Catarina Martins, isto quer dizer que ao dar-se o nome de “Coesão e Reformas” à pasta de Elisa Ferreira, “o que nos estão a dizer é que querem fazer depender os fundos de coesão, o investimento público do que precisamos, de aceitarmos imposições sobre o que queremos fazer com as nossas pensões, os nossos salários, os nossos serviços públicos – e isso é muito grave”.
"Em europês, digamos assim, reformas têm sido tudo aquilo que corta nos custos de trabalho e no Estado social.”
“Nós fizemos um caminho diferente em Portugal e desse ponto de vista esteve em contra ciclo com os países europeus e, portanto, precisamos de compreender que quando os 27 estão a falar de coesão e reformas, não estão a falar do mesmo que Portugal. Porque nós estivemos em contra ciclo e ainda bem”, reforça.
Neste sentido, para a líder do Bloco, Portugal “cedeu a uma ideia de uma Comissão Europeia que assume um discurso muito próximo da xenofobia da extrema-direita, por um lado, e por outro lado, assume uma visão neoliberal para a economia e isso é muito grave do nosso ponto de vista”. “Estamos a andar para trás, estamos a retroceder, estamos a aceitar mais condicionalismos”, reforça.
Catarina Martins refere-se ainda ao Brexit, que considera ser um desastre: “É preciso um acordo”, apela a dirigente bloquista, para quem todo o processo foi “um dossiê muito mal gerido, em que, aliás, a irresponsabilidade e oportunismo político mostram os danos que podem causar”.
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