Governo perdeu a paciência na TAP. “Deveriam demitir-se”

A TAP apresentou prejuízos de 120 milhões de euros no primeiro semestre, depois de prejuízos históricos em 2018. "Deveriam demitir-se", diz fonte do Governo ao ECO sobre a equipa executiva.

A TAP apresentou prejuízos históricos em 2018, mas a gestão executiva da companhia nomeada por David Neeleman prometeu outros voos em 2019. Só que, no final do primeiro semestre, os resultados foram ainda piores, atingindo os 120 milhões de euros. Foi a gota de água na relação, já deteriorada, entre o Governo e o acionista brasileiro David Neeleman que controla o consórcio privado Atlantic Gateway, com 45% da companhia. “Deveriam demitir-se”, diz ao ECO uma fonte do Governo, referindo-se a Antonoaldo Neves, o presidente executivo da TAP.

A companhia antecipou para sexta-feira à tarde a divulgação de resultados do primeiro semestre — depois de aprovados em conselho de administração — quando percebeu que o Expresso iria noticiar o descalabro das contas, o que veio a suceder este sábado. Assim, de surpresa, a TAP enviou um comunicado às redações com os números de janeiro a julho, que o ECO também noticiou no final da tarde de sexta-feira. “As perdas da companhia aérea portuguesa chegaram quase aos 120 milhões de euros: 110,7 milhões referentes ao primeiro trimestre e nove milhões relativos ao segundo trimestre. Os valores comparam com os 26,4 milhões de euros de prejuízos que a empresa registou no período homólogo”, escreveu o ECO.

Oficialmente, ninguém faz comentários, o tema é sensível porque há eleições a 6 de outubro e foi António Costa, há quatro anos, a decidir que o Estado deveria voltar a ter 50% da companhia, o que, à data, para ser efetivado, levou o Estado a assumir a responsabilidade final por toda a dívida da TAP, coisa de que já se tinha livrado. O Governo, queira ou não, sabe que passou a ser corresponsável pelos resultados da TAP, há comités dentro da companhia que são liderados por membros indicados pelo Estado, e os incentivos criados quando foi renegociada a posição do Estado também contribuíram para a “rédea solta” de David Neeleman na companhia.

Por isso, agora, não há só desconforto ou incómodo, o tema TAP passou a ser prioridade deste Governo no dia seguinte às eleições, se o PS ganhar as eleições, como antecipam as sondagens. O objetivo do Governo não é apenas mudar a equipa de gestão, liderada por Antonoaldo Neves. Já depois das eleições, é a demissão da equipa executiva que estará em cima da mesa, mas o Estado não tem poderes formais para o fazer, no quadro do acordo parassocial que assinou com o consórcio privado. O Estado tem seis elementos no conselho de administração, um deles Diogo Lacerda Machado, nomeia o presidente, Miguel Frasquilho, mas a equipa executiva é da responsabilidade exclusiva dos privados e, dentre eles, de David Neeleman.

O objetivo estrutural é mesmo mudar de acionista, forçando a saída de David Neeleman. Há uma semana, o ECO Insider — newsletter do ECO exclusiva para assinantes — revelou que o Governo já fez contactos com a companhia aérea alemã Lufthansa para substituir Neeleman, mas defende a manutenção do empresário português Humberto Pedrosa, o outro acionista privado da TAP. Este sábado, o Expresso confirma a informação e acrescenta outro candidato: a United.

Se os resultados de 2018 foram apresentados como uma “anormalidade” que seria ultrapassada em 2019, a TAP já sabe, e o Governo também, que os prejuízos vão repetir-se este ano. E acabaram-se as desculpas. No comunicado, a TAP esforça-se por mostrar que o segundo trimestre correu menos mal do que o primeiro e, segundo informações apuradas pelo ECO, o verão ultrapassou os números de 2018. Só que há um “pormaior”. Quando os resultados do primeiro trimestre se verificaram, a gestão executiva decidiu dar um “salto em frente” e apostou na estratégia de encher os aviões com preços de arromba, a baixo custo, para garantir receita. Logo, perante a oportunidade, já está vendida uma parte significativa da oferta para o segundo semestre e já não será possível mudar esses preços mesmo que o mercado apresente uma melhoria significativa. A narrativa da equipa executiva da TAP, agora, é outra: ee os resultados serão negativos, os resultados operacionais vão ser melhores do que em 2018.

Agora, em privado, o bode expiatório da gestão liderada por Antonoaldo Neves e pelo goês com nacionalidade portuguesa Elton D’Souza, que até ao fim de julho esteve à frente da gestão de receitas da TAP, era o chief revenue officer, e passou a liderar a NetJets Europa, uma companhia especializada em aviação para executivos. Mas as desculpas da equipa executiva da TAP já não servem para o Governo, que perdeu a confiança com o episódio dos prémios atribuídos a alguns quadros em cima de prejuízos históricos.

Por lapso, foi referido erradamente que Elton D’Souza era brasileiro. Na verdade, o responsável é goês com nacionalidade portuguesa. Ao visado pedimos as nossas desculpas.

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