De prejuízo em prejuízo, TAP está há uma década em falência técnica
A TAP continua a perder dinheiro. Teve prejuízos de 111 milhões até setembro, podendo agravar as contas até ao final do ano. Em pouco mais de uma década, prejuízos podem ficar perto dos mil milhões.
Não é de agora que a TAP dá prejuízos. Na última década, apenas num ano conseguiu apresentar resultados positivos, mas rapidamente derrapou novamente para perdas. E avultadas, embora também num contexto de investimentos.
Entre 2008 e 2018, a companhia aérea acumulou prejuízos de 822 milhões de euros, já deduzindo os lucros de 21,2 milhões de euros registados em 2017, graças a um reforço das receitas associado à retoma da economia. Após essa recuperação, o presidente executivo da TAP, Antonoaldo Neves, dizia querer “multiplicar por, pelo menos, sete vezes” os “bons resultados”, mas não é isso que está a acontecer.
A TAP apresentou prejuízos de 118 milhões no ano seguinte, o resultado negativo mais elevado desde 2008. “Foi um ano difícil para a TAP, quer em termos operacionais quer em termos económicos e financeiros”, reconheceu então Miguel Frasquilho, chairman da TAP nomeado pelo Estado.
A deterioração das contas foi atribuída aos atrasos e as consequentes indemnizações a pagar aos passageiros, com o impacto da subida do petróleo e a valorização do kwanza e do real ao longo de 2018, influenciando alguns dos mercados mais relevantes para a TAP. Este ano, a situação do grupo (cujo mercado mais importante é o brasileiro) parece repetir-se, deixando antever mais um ano de prejuízos.
2008 foi o pior ano da última década
Fonte: Relatórios e Contas da TAP
A TAP encerrou os nove primeiros meses deste ano com prejuízos, que ascenderam a 111 milhões, com a companhia aérea liderada por Antonoaldo Neves a justificar esse desempenho com “variações cambiais”. As fortes receitas levaram a um desagravamento dos prejuízos face aos 120 milhões acumulados até junho, mas será difícil que o grupo alcance “território” positivo no acumulado do ano.
Ainda que o administrador não executivo da TAP Diogo Lacerda Machado desdramatize, dizendo que “nos últimos 45 anos a TAP teve dois anos de resultados positivos”. Garantiu que a companhia aérea “deverá, nos próximos tempos, começar a ganhar sustentadamente dinheiro”, mas Marques Mendes aponta para uma continuação dos prejuízos, potencialmente mais expressivos.
É provável, segundo o comentador, que a companhia apresente prejuízos de 140 a 150 milhões no total do ano. “Isto é uma calamidade“, disse, Marques Mendes na SIC, alertando que a situação na companhia aérea é insustentável e avisou que há o risco de esta “bomba” poder “rebentar no bolso dos contribuintes”.
Uma TAP em falência há uma década
Como os prejuízos a aumentarem, a dívida tem crescido ao mesmo tempo que o valor dos ativos encolhe (passou de 2.240,8 milhões de euros, em 2008, para 1.628 milhões, em 2018). E os capitais próprios da empresa têm sofrido. Estão desde 2008, pelo menos, sempre em “terreno” negativo, tendo atingido o maior buraco da década no final de 2018, com -618 milhões de euros. Ou seja, a empresa está há dez anos em situação de falência técnica.
Não sendo nova, a situação financeira da TAP tem ganho maior destaque desde que, após a privatização feita pelo Governo de Pedro Passos Coelho em 2015, o Estado recuperou o controlo acionista. Atualmente, o Estado detém 50% do capital, enquanto o consórcio Atlantic Gateway tem 45% e os trabalhadores outros 5%. Na prática, o país perdeu direitos económicos, mas é obrigado a assumir responsabilidades financeiras, daí que Marques Mendes alerte para o possível impacto no bolso dos contribuintes.
E isto num contexto de conflito entre acionistas. Tem sido a grave situação financeira da companhia, expressa nos resultados negativos, a gerar mal-estar entre o Executivo e a administração da TAP. Governo e David Neeleman estarão a procurar interessados para entrarem no capital da companhia, não sendo, contudo, certo que o dono da Azul abandone totalmente a empresa — continuando a afirmar que está “comprometido com o crescimento” da TAP. Lufthansa, a British Airways, a Air France e a United surgem entre os interessados na companhia portuguesa.
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