Quanto paga(va) o Minsheng pelo Novo Banco?
O China Minsheng, o favorito ao Novo Banco, não fez ainda prova dos fundos para uma operação que vale 750 milhões de euros. Venda poderá derrapar para janeiro.
O principal candidato à compra do Novo Banco, o China Minsheng Financial, ainda não fez prova dos fundos necessários para a realização da oferta que fez pelo Novo Banco. Mas, o que está, afinal, em causa? Um investimento de 750 milhões de euros, através de um aumento de capital, para controlar 55% do banco hoje liderado por António Ramalho.
O Minsheng foi um dos três candidatos que chegou à short-list final para a compra do Novo Banco, e até chegou mais tarde do que outros, o que motivou reações negativas dos concorrentes. Os outros dois são o fundo Lone Star e o Apollo, que já tem em Portugal investimentos nas áreas da saúde e dos seguros. Os chineses, aliás, não se apresentaram para o mesmo concurso. Existem na verdade dois concursos paralelos: o primeiro, no qual estão os outros dois candidatos, passa pela compra da totalidade do capital do Novo Banco ao Fundo de Resolução. O outro, no qual entrou o Minsheng, não implica a compra de ações, mas um aumento de capital.
Do que se sabe, oficiosamente, é que a oferta mais relevante é (ou era) mesmo a do China Minsheng. Os chineses, com operação em Hong-Kong, assinaram um memorando de entendimento que prevê um aumento de capital a dois tempos, primeiro de 600 milhões de euros e, depois, de 150 milhões. E, a prazo, a possibilidade de comprar uma parte da participação do Fundo de Resolução, com um teto de investimento de 150 milhões de euros.
O problema é que, depois de assinarem o acordo com o Banco de Portugal e a equipa liderada por Sérgio Monteiro, tinham uma semana para apresentarem a prova de fundos e não o fizeram. Mais, de acordo com informações reveladas ao ECO, o China Minsheng terá mesmo entregado uma carta em que o board do fundo, em Hong Kong, assumia formalmente que não faria a operação nos termos anteriormente acordados.
As negociações continuam a decorrer, mas o problema não é apenas burocrático. O China Minsheng terá apenas 150 milhões de euros em caixa e é com base nesta disponibilidade de fundos que está em condições de fazer o negócio. Na verdade, um novo acordo.
O prazo de venda do Novo Banco foi sempre indicativo, para salvaguardar a posição negocial do Estado, e tem sido sucessivamente adiado desde agosto. Mas há um calendário conhecido, e que foi aliás anunciado pelo próprio ministro das Finanças, Mário Centeno: Agosto de 2017, sob pena de estar em causa a liquidação do banco por imposição da Autoridade de Resolução Europeia.
O Novo Banco, recorde-se, é um banco de transição, que resultou da resolução do BES e, à data da sua criação, recebeu 4,9 mil milhões de euros de capital do Fundo de Resolução que, por sua vez, pediu 3,9 mil milhões emprestados ao Estado para o fazer.
O ECO sabe que no final da semana passada, depois de discussões difíceis, o China Minsheng ganhou mais uma semana para apresentar as referidas provas, leia-se a declaração legal de que tem a capacidade financeira para realizar o aumento de capital. E esse novo prazo, indicativo, termina hoje, sexta-feira.
A possibilidade de a venda do Novo Banco deslizar para janeiro começa a ganhar força. O China Minsheng estará, neste momento, a tentar encontrar outros financiamentos internacionais, incluindo na China, para garantir os fundos necessários, mas quem conhece o grupo e a operação refere ao ECO que essa solução será de difícil concretização.
Oficialmente, ninguém fala, mas oficiosamente várias fontes continuam a garantir que o negócio não está em risco, apesar deste contratempo inesperado. Lembram que o prazo para a entrega de referida prova de fundos não acabou, pode passar para o início de janeiro e que há mais candidatos.
Neste quadro, o Banco de Portugal e Sérgio Monteiro têm de voltar-se para o Lone Star e para o Apollo, mas a partir de uma posição mais difícil, porque os dois candidatos sabem que as opções de venda estão agora mais limitadas.
O fundo Lone Star terá apresentado uma proposta de 350 milhões de euros pelo Novo Banco a pagar ao Fundo de Resolução, e a disponibilidade para realizar um aumento de capital a avaliar em função das necessidades identificadas em acordo com o Banco de Portugal. Mas há um ‘mas’: o Lone Star tem um interesse particular, o chamado ‘side bank’, que tem o imobiliário e outros ativos não-core do Novo Banco, avaliado em cerca de oito mil milhões de euros. Só que exige uma garantia de Estado, uma condição considerada inaceitável do ponto de vista económico, financeiro e até político, por isso, torna a proposta inviável.
De acordo com outras fontes, não oficiais, o Apollo, em parceria com a Centerbridge, estava claramente atrás nesta short-list de candidatos, mas terá feito um esforço na 25ª hora e, na proposta, apesar de ter uma oferta financeira inferior à do Lone Star, admitirá manter o Fundo de Resolução como acionista do Novo Banco.
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