Com vendas e crescimento acima do esperado, a falha na estratégia da EDP é a dívida
Tanto as alienações como as metas de aumento da capacidade estão em linha com o plano estratégia 2019-2022. No entanto, o objetivo é diminuir dívida e esta aumentou desde o início do ano.
A EDP tem em curso uma estratégia de crescimento que passa por vender ativos não core, diminuir dívida e aumentar lucros. Prestes a fechar o primeiro ano do plano 2019-2022, a elétrica concluiu a primeira grande venda de ativos (mais de um terço do total previsto) e já reforçou a presença nas renováveis. A dívida é o principal problema, que deverá sofrer uma amortização de dois mil milhões no próximo ano.
Em março, a elétrica liderada por António Mexia anunciava aos investidores querer distribuir três mil milhões de euros em dividendos até 2022. Cerca de dois mil milhões seriam usados para reduzir dívida e outros 12 mil milhões de euros em investimentos (dos quais 75% em renováveis). Para conseguir estes objetivos, a empresa previa libertar financiamento através da “otimização do portefólio”.
A expectativa era gerar mais de seis mil milhões de euros em receitas com vendas: quatro mil milhões de euros em rotação de ativos e dois mil milhões em alienações. Logo no mês seguinte à apresentação do plano estratégico, a EDP vendeu um portefólio de ativos eólicos em Portugal, Espanha, França e Bélgica a investidores institucionais.
Essa operação, em que a EDP encaixou cerca de 800 milhões de euros e em que continuou a prestar serviços operacionais e de manutenção, inclui-se na vertente de rotação de ativos. Ou seja, o valor é utilizado para construir novas unidades e vender.
Na apresentação de resultados do período entre janeiro e setembro, a EDP anunciava que esperava 1,1 mil milhões de euros em receitas de rotação de ativos já acordados. Esses negócios teriam avaliações “acima do pressuposto” no plano estratégico. Já sobre as alienações, dizia estar “no bom caminho” conseguir receitas acima da meta de dois mil milhões antes do final de 2020.
O negócio anunciado esta quinta-feira confirma a expectativa de António Mexia. A elétrica fechou a venda de seis barragens no Douro a um consórcio liderado pela francesa Engie e que conta também com a participação do Crédit Agricole e da Mirova (do grupo Natixis). A alienação totalizou 2,2 mil milhões de euros, ou seja, 200 milhões acima do montante apontado pelo mercado.
Após o anúncio da operação, o CEO explicou que o encaixe seria usado para fazer face ao elevado endividamento. É que Mexia quer que a dívida caia para 11,5 mil milhões de euros em 2022. Neste campo, é onde a EDP poderá ter mais dificuldades já que, entre o final do ano passado e setembro, a dívida aumentou de 13,5 mil milhões de euros para 13,8 mil milhões. Apenas no segundo semestre de 2020, quando a venda ficar fechada, o dinheiro deverá ser usado para abater à dívida, como explicou o CEO esta quinta-feira.
Mais de dois terços da meta de crescimento assegurados
António Mexia já tinha dito, em novembro, que havia facilidade em vender ativos dada a forte procura de investidores. Assim, o foco da empresa é, segundo o gestor, o crescimento. A capacidade instalada cedeu 3% entre janeiro e setembro, para 26,3 gigawatts por hora (GW/h), em comparação com igual período do ano passado. Desse total, 73% era referente a energias renováveis.
Apesar da quebra, a apresentação sobre o reposicionamento do negócio na Península Ibérica divulgada esta quinta-feira indica que a EDP já assegurou 74% da meta de crescimento, tendo assegurado mais 4,9 GW em contratos de longo prazo. O objetivo é somar 7 GW até 2022.
E no último trimestre do ano, a empresa já anunciou uma série de novos negócios, incluindo projetos de energia eólica e solar no Brasil (cerca de 1,1 GW com início das operações entre 2021 e 2024), dois parques eólicos na Colômbia (498 MW a começar a operar em 2022) ou um parque eólico flutuante na Coreia do Sul (500 MW para começar em 2030). O grupo ganhou ainda contratos para fornecer energia no estado norte-americano de Massachusetts (804 MW) e na Grécia (33 MW).
“Estamos mais além dos objetivos anuais de novos projetos. É um volante que vamos regulando em função das necessidades do lado do crescimento. A grande prova que é preciso dar ao mercado e que temos conseguido dar é se conseguimos ou não, num mercado muito competitivo, desenvolver ou não novos projetos. E temos conseguido”, sublinhou Mexia, em novembro.
Com o reforço do negócio, a EDP espera um aumento dos lucros em 7% ao ano para mais de mil milhões de euros, em 2022. Este ano não começou da melhor forma para a empresa, que viu os resultados afundarem no primeiro trimestre. Nos seis meses seguintes, os lucros da EDP recuperaram, tendo fechado o período entre janeiro e setembro com 460 milhões de euros.
O guidance da empresa antecipa que os lucros recorrentes atinjam 800 milhões de euros este ano, o que representaria um crescimento de 15% face a 2018. O EBITDA — resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações — situa-se atualmente em 2,66 mil milhões e a EDP quer fechar o ano com 3,6 mil milhões (mais 11% que em 2018).
Mas a empresa terá imparidades a pesarem nos lucros líquidos. Às provisões que anunciou em setembro, junta-se mais uma imparidade: 200 milhões de euros associados à “baixa competitividade” das centrais a carvão.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Com vendas e crescimento acima do esperado, a falha na estratégia da EDP é a dívida
{{ noCommentsLabel }}