Huawei, ou no way?
Bruxelas vai permitir que a Huawei participe nas novas redes 5G, com limitações. Mas se a empresa é inofensiva, porquê as restrições? E se é tão perigosa, porque não foi banida de todo?
A Comissão Europeia publicou recomendações sobre o 5G que vão servir de linhas orientadoras para os 27 Estados-membros. Sem mencionar marcas, Bruxelas seguiu um caminho semelhante ao do Reino Unido, permitindo que os chamados fabricantes de “alto risco” participem nas novas redes, mas com limitações.
Em traços gerais, a Comissão Europeia quer que os países permitam que os operadores utilizem equipamento dessas fabricantes na construção das partes menos importantes das novas redes, mas que, sobretudo, travem o uso de tecnologia “arriscada” nos pontos cruciais da infraestrutura do 5G.
Ponto um, que vale a pena deixar claro: as fabricantes de “alto risco” são, sobretudo, a Huawei e a ZTE, tantas vezes acusadas de serem porta de entrada para a espionagem chinesa na Europa. Estes nomes só não aparecem nos documentos porque Bruxelas tem medo de ferir suscetibilidades. Nomeadamente, de alienar um “parceiro” que tem conquistado enorme relevância na economia global.
Ponto dois: propositadamente, a decisão não agrada “nem gregos nem a troianos”. Ao permitir a participação da Huawei no 5G europeu, mas com restrições, a Comissão Europeia pisca o olho à Casa Branca (que exigia que a Huawei fosse banida), e abraça também a empresa chinesa de tecnologia, que se apressou a cantar vitória.
Esta tentativa de alcançar um win-win rapidamente se traduz num lose-lose. Se a Huawei é inofensiva, porquê criar restrições? Logicamente, se é tão perigosa, porque não a banir de todo?
O ponto três prende-se com o caso concreto de Portugal. E, sobre isso, continuamos às escuras. Em plena “guerra” dos timings, operadoras e Anacom ofuscam uma outra discussão bem mais importante: que 5G queremos no país.
Há muito que o Governo prometeu divulgar a chamada “estratégia nacional para o 5G”. Primeiro, empurrou-a para a nova legislatura. Há semanas, disse estar “por dias”. E continuamos à espera.
Não é expectável que Portugal barre a Huawei no 5G (a empresa já tem muito peso por cá, com parcerias fechadas com a Meo e a Nos). Falta saber se o Governo vai aplicar limitações e seguir as recomendações da Comissão Europeia. E, caso o faça, o que vai ser dos contratos já assinados pela Huawei com operadoras portuguesas, presumivelmente com equipamentos já pagos e entregues?
Sobre tudo isto, vamos ter de esperar para ver, porque há mais dúvidas do que certezas. Mas, talvez, a pressa não faça assim tanto sentido: ainda esta semana, o líder da Apple veio dizer que é “muito cedo” para falar de 5G.
PS: O Politico Europe, de onde adaptei o título acima, preparou um trabalho muito completo que explica o que significa o plano de Bruxelas para o 5G revelado esta semana. Vale a pena consultar.
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