Building the Future: A tecnologia pode salvar o futuro dos media?
Representantes da RTP, Rádio Comercial, Sport TV e Impresa estiveram no "Building the Future" a pensar sobre o futuro do jornalismo e dos meios de comunicação na era tecnológica.
Ricardo Costa, diretor de informação do grupo Impresa, Pedro Ribeiro, diretor de programação da Rádio Comercial, Gonçalo Reis, presidente da RTP e Nuno Ferreira Pires, CEO da Sport TV, juntaram-se no painel “Media of Power and Power of Media”, no evento Building the Future, que decorreu esta semana, em Lisboa.
A fragilidade financeira do setor, a gestão, a regulação, os conteúdos pagos e gratuitos, a fuga de leitores, a multiplicação das fontes, as fake news. Estes e outros temas conduziram o debate e a reflexão sobre a forma como a tecnologia influencia e continuará a ditar o futuro dos media. Para os participantes há convicções comuns: a falta de estratégia concertada no setor dos media, em Portugal mas, ao mesmo tempo, um olhar de esperança para o futuro.
Os media a falar a língua dos consumidores
“A palavra-chave é a tecnologia, porque a tecnologia transforma qualquer setor da sociedade e qualquer setor económico, e a comunicação social é um setor económico”, frisou Ricardo Costa, diretor de informação da RTP. Para o responsável, só é possível pensar o futuro do jornalismo com a tecnologia. Na rádio, representada por Pedro Ribeiro, os desafios do setor não se dissociam da tecnologia. “Foi o meio que mais rapidamente percebeu que a internet não era um inimigo. As tecnologias são, mais do que nunca, um aliado”, começou por frisar o radialista Pedro Ribeiro. 2019 foi o ano que registou o maior consumo de rádio, cerca de 5 milhões de ouvintes por dia.
Para garantir uma evolução sustentada do setor, a par com a tecnologia, é preciso conhecer os novos públicos, os novos interlocutores e criar novas marcas, novas linguagens, integrando as plataformas digitais. “São formas de nos reinventarmos, de nos transformarmos e de as pessoas nos verem de outra maneira. Temos de ter muita noção de que as ameaças do digital estão cá, e só vão acelerar. Temos de colocar a nossa atuação no centro, não da estratégia mas da nossa oferta”, defende o diretor da RTP.
"Temos de estar muito mais alerta e com um mix entre ser gestor de conteúdos e gestor de tecnologias. O jogo muda e cada um dos operadores tem de ter muito mais competências que antes não tinha. Temos de investir em tecnologia, em analytics, em data.”
Gonçalo Reis enumera os projetos que têm sido criados na RTP, para integrar os conteúdos digitais e chegar aos consumidores, dentro e fora do país. A transição dos arquivos RTP para o online, o RTP Lab, a série online Casa do Cais, a RTP Arena, dedicada ao eSports, RTP Ensina, e o lançamento futuro da RTP Palco, um produto dedicado exclusivamente às artes performativas. “A maneira de uma empresa incumbente ser forte no mundo atual, é deixar de ser o operador tradicional, abraçar as novas plataformas, ter a noção de que cada um destes mercados conta”, acrescentou.
Conteúdos pagos. A valorização do consumo (e para o consumidor)
“Quando se percebeu o que era a internet, multiplicação de audiências, houve um fascínio dentro de muitas redações e administrações”, sublinhou Ricardo Costa, que acredita que alguns problemas começaram a surgir com o acesso a conteúdos jornalísticos gratuitos. É “difícil voltar atrás”, assinala, acrescentando, no entanto, que acredita que para garantir uma sustentabilidade financeira, deve conseguir ultrapassar-se a meta dos 30 mil assinantes, em qualquer meio de acesso pago.
"O setor, para o cidadão, nunca esteve tão bem. Por outro lado, mesmo para nós, independentemente das disrupções em termos económicos, nós hoje temos muitas possibilidades. Podemos transmitir muito mais conteúdos, oferecer muito mais experiências.”
“Os modelos que têm funcionado são modelos de assinatura e de conversão de assinantes”, defende Ricardo Costa. No Expresso nunca houve dúvida sobre uma coisa: os conteúdos tinham de ser pagos. Nunca acreditámos que, se não fossem pagos, iria haver sucesso económico, e essa foi a grande divergência histórica com o Público, e principalmente com o Observador, quando foi lançado”, explicou.
“Para fazer face aos desafios tem de haver uma frente comum no setor que não existe. A lógica da concorrência, sobrepõe-se a uma lógica de estratégia a longo prazo”, acredita o presidente da RTP. “A estratégia para vencer os desafios do futuro deve ser “comum” e o caminho deve passar por uma maior “agregação” dos meios de comunicação.
No desporto, Nuno Ferreira Pires, CEO da Sport TV, acredita num “binómio” entre a liberdade e a responsabilidade, pois os desafios são outros: a “pirataria” de conteúdos em algumas plataformas, a legislação, a segurança e a distribuição, e o consumo do conteúdo desportivo, em particular do futebol. “Não nos enganemos a achar que as pessoas o fazem por incapacidade financeira ou para o ter gratuito. Já não há, praticamente, pirataria gratuita em conteúdo desporto e futebolístico”, afirma.
Não nos enganemos a achar que as pessoas o fazem por incapacidade financeira ou para o ter gratuito. Já não há, praticamente, pirataria gratuita em conteúdo desporto e futebolístico.
“Existe setor e provas — em Portugal –, de que é possível operar a mudança. É preciso parar de fazer diagnóstico, e fazer alguma coisa para agir”, acrescenta o CEO da Sport TV.
O futuro do jornalismo é tecnológico
O debate terminou com um tom positivo de previsões para o futuro, apesar das instabilidades do setor. E a salvação pode ser a tecnologia. “Temos de estar muito mais alerta e com um mixentre ser gestor de conteúdos e gestor de tecnologias. O jogo muda e cada um dos operadores tem de ter muito mais competências que antes não tinha. Temos de investir em tecnologia, em analytics, em data”, frisa Gonçalo Reis. “O setor, para o cidadão, nunca esteve tão bem.Por outro lado, mesmo para nós, independentemente das disrupções em termos económicos, hoje temos muitas possibilidades. Podemos transmitir muito mais conteúdos, oferecer muito mais experiências”, acrescenta Gonçalo Reis.
“O setor está no bom caminho naquilo que é o seu core business, que é garantir entusiasmo dos nossos consumidores finais em aderir e adotar os nossos conteúdos”, sublinha Nuno Ferreira Pires, CEO da Sport TV.
"A palavra-chave é a tecnologia, porque a tecnologia transforma qualquer setor da sociedade e qualquer setor económico, e a comunicação social é um setor económico.”
Além dos avanços da tecnologia, o diretor da Impresa acredita que o futuro pode depender do que acontecer “na frente política, regulatória e fiscal”, de eventos como o Brexit e até das eleições norte-americanas, em novembro de 2020.
“Estou muito otimista. A oferta nunca foi tão grande e tão boa. A excelência de conteúdos é que vai determinar sempre que os modelos de consumos são eficazes ou não, porque estou convencido de que as pessoas pagarão, sim, para ter os melhores conteúdos”, remata Pedro Ribeiro, da Rádio Comercial.
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