Vistos gold “procuram alternativas” à habitação. Viram-se para as lojas
O CEO da Century 21 nota que, no ano passado, os investidores que procuraram conseguir vistos gold o fizeram através de imóveis comerciais, não tanto de habitações.
O Parlamento aprovou o travão aos vistos gold nas duas principais cidades do país, por considerar que têm vindo a provocar um aumento dos preços das casas, tal como referiu o ministro da Habitação. As imobiliárias, entre elas a Century 21 (C21), discordam. Dizem que “não são, de todo” a causa do aumento dos preços na habitação. Aliás, Ricardo Sousa, CEO da C21, diz que os investidores até estão a mostrar mais interesse em investir no imobiliário comercial do que no residencial.
No ano passado, 18% de todas as transações feitas pela C21 foram com investidores internacionais, um peso que se manteve praticamente estável face ao ano anterior. Embora a imobiliária não tenha tido muitos clientes interessados em investir para obter um visto gold, Ricardo Sousa admite que, quanto aos que investiram, se observou uma “mudança de paradigma”: “inicialmente a procura estava associada à aquisição de habitações, mas em 2019 se verificou uma maior preferência por lojas e escritórios”, refere a imobiliária, em comunicado.
Ao ECO, Ricardo Sousa explica que “tendo em conta a oferta mais limitada no residencial, muitos investidores olharam para outras tipologias que permitem igualmente obter um visto gold e fazer um investimento com uma rentabilidade bastante interessante, sobretudo nos mercados mais prime“.
Na zona de Lisboa, por exemplo, o responsável admite que o foco continua a ser o mercado residencial mas, a nível nacional, os interesses dos investidores estão desviados para outros mercados, como a logística, que “tem tido uma dinâmica bastante interessante”. “Foi uma mudança importante no que era o comportamento deste tipo de clientes”, sublinha.
Neste sentido, o CEO da C21 defende que “os vistos gold têm uma representação muito pequena nas transações [imobiliárias] em Portugal e que não são, de todo” a causa da subida dos preços da habitação no país. Assim, acredita que a suspensão destes golden visa nas cidades do litoral do país não foi uma boa opção. “Mais do que limitar a atribuição, é fundamental incentivar a promoção de outras regiões turísticas”, diz, ao ECO, acrescentando que “os benefícios serão sempre inferiores aos danos que esta medida poderá causar na dinâmica do mercado”.
Defendendo ser necessária uma “análise mais detalhada” desta ferramenta, Ricardo Sousa afirma que “a conclusão foi precipitada”. Isto porque, explica, “o mercado está a corrigir” e o país deve “utilizar esse fluxo de entrada de potenciais investidores e apresentar opções”.
Os dados divulgados pela C21 referentes a 2019 mostram que os franceses e os brasileiros são as nacionalidades que mais investem no imobiliário nacional, de um modo geral, mas cada cidade tem o seu próprio “público”. O Porto é procurado essencialmente por franceses, brasileiros, israelitas e chineses, mas também por turcos e iranianos. Estes compram “quase em exclusivo” apartamentos T2 entre os 100.000 e os 200.000 euros.
Lisboa, por sua vez, atrai maioritariamente nacionalidades europeias como franceses, italianos, espanhóis e luxemburgueses. Mas também desperta o interesse de brasileiros e chineses. Já o Algarve tem recebido investimento essencialmente de franceses, alemães, britânicos, russos, italianos e norte-americanos, que compram apartamentos T2 e moradias V3 até 500.000 euros.
Lisboa domina, mas preço em Viseu disparou 32%
A C21 nota que, no ano passado, quem comprou casa procurou, sobretudo, apartamentos T2 ou T3. Foram realizadas 13.291 transações, maioritariamente por portugueses (82%), com um valor médio de 147.700 euros, uma subida de 5% face ao ano anterior (140.000 euros). Houve apenas três cidades que superaram este valor: Lisboa, Faro e Açores.
Tal como tem sido habitual, Lisboa continua a liderar, seja em valores de venda, seja em valores de renda. Das 13.291 transações feitas pela C21 no ano passado, foi na capital que se venderam as casas mais caras, com uma média de 200.257 euros, uma subida de 6,39% face ao ano anterior. Atrás aparece Faro, com uma média a superar os 185.000 euros. Já o Porto aparece como a sexta cidade com as casas mais caras, com um preço médio de 136.065 euros, uma subida de 9,6% face a 2018.
Os dados mostram que, em termos de evolução dos preços, as subidas foram mais moderadas nas metrópoles — exemplo de Porto (9,6%) e Lisboa (6,39%) –, enquanto distritos mais pequenos observaram acentuados aumentos. A maior evolução aconteceu em Viseu, onde o preço das casas vendidas disparou para uma média de 32%, à frente dos Açores (25,4%) e de Faro (20%). Por outro lado, Santarém e Braga viram os preços caírem cerca de 10% face a 2018, uma evolução influenciada pelo “aumento da oferta”.
Para Ricardo Sousa, citado em comunicado, estas evoluções mais moderadas dos preços em distritos como Lisboa e no Porto mostram que “a capacidade financeira das famílias portuguesas já não consegue acompanhar a subida de preços da habitação”, enquanto já “é evidente a descentralização da procura para zonas periféricas do centro das duas principais cidades nacionais”.
Rendas subiram mais em Évora, Açores e Coimbra
Enquanto as operações de venda subiram apenas 6%, as operações de arrendamento da C21 aumentaram 19% para 2.539, contrariando a tendência observada em 2018, ano em que se notou a “escassez de oferta de imóveis para aquisição ajustados ao poder de compra dos portugueses”, refere a imobiliária. Em termos de valor médio de arrendamento, este fixou-se nos 807 euros, uma “descida irrelevante” de 1%.
Contudo, apesar desta descida, o valor médio nacional foi superado em três distritos: Lisboa, Porto e Faro. Na capital, o preço das rendas fixou-se nos 1.014 euros, enquanto na Invicta ficou pelos 868 euros e em Faro nos 811 euros. Para a C21, estes valores mostram que “apenas os consumidores do segmento médio, e médio alto, conseguiram aceder às soluções de arrendamento que estão em oferta no mercado”.
Em termos de crescimento, as zonas onde este indicador mais subiu foram Évora, Açores e Coimbra. O Porto, por sua vez, registou a quarta maior subida do valor das rendas (25%), à frente de Lisboa (19,2%). Em sentido inverso, Setúbal, Madeira e Braga viram os preços caírem 32%, 16% e 5%, respetivamente.
C21 encerra 2019 com faturação de 47 milhões de euros
A imobiliária liderada por Ricardo Sousa encerrou o ano passado com uma faturação de 46,9 milhões de euros, uma subida de 14% face ao ano anterior (41 milhões de euros), refere o comunicado. O volume de negócios mediado diretamente pela C21 e em partilha com outros operadores aumentou 16% para os 1,97 mil milhões de euros, um número que reflete “a tendência crescente de cooperação e profissionalização do setor, onde um agente imobiliário representa o proprietário e outro, de outra empresa, representa o comprador”.
2019 foi também marcado por uma “forte expansão” da rede imobiliária, que abriu 20 novas lojas, contratou 669 novos funcionários e conta agora com 150 agências num total de 3.150 colaboradores em todo o país.
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