Bancos centrais querem travar impacto do coronavírus na economia. O que podem fazer?
Promessas dos bancos centrais e das organizações internacionais levaram a uma recuperação do sentimento dos investidores, mas ainda nada aconteceu e o efeito de novas ações poderá ser limitado.
A doença causada pelo vírus covid-19 passou rapidamente das pessoas às bolsas e ameaça contagiar, a prazo, a economia global. Depois de terem começado por tentar acalmar o pânico, bancos centrais e organizações internacionais já passaram à fase em que garantem que irão agir para mitigar o efeito do surto. A expectativa gerada com as promessas dos EUA à Zona Euro levou a uma recuperação nas ações globais, mas para já só a China agiu. E os restantes poderão ter pouca margem de manobra.
O Banco Central Europeu (BCE) juntou-se esta segunda-feira às instituições que já sinalizaram que poderão agir para mitigar o potencial impacto económico do surto de coronavírus. A epidemia já infetou mais de 89.500 pessoas e matou mais de 3.000 pessoas. Presente em 67 países, o vírus chegou esta segunda-feira a Portugal.
“O coronavírus criou uma nova camada de incerteza à perspetivas de crescimento global e da Zona Euro“, alertou o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, num discurso em Londres. Afirmou que o banco central “continua vigilante” e a “monitorizar de perto os dados que vão sendo recebidos”.
“Em qualquer caso, o Conselho de Governadores está pronto a ajustar todos os seus instrumentos”, acrescentou. Entre os instrumentos do BCE estão as taxas de juro e a compra de ativos. Ambos foram relançados em setembro do ano passado — com os juros em mínimos históricos e a taxa aplicada aos depósitos mesmo negativa (-0,5%) e aquisições de 20 mil milhões de euros por mês –, o que limita o espaço.
"O coronavírus criou uma nova camada de incerteza à perspetivas de crescimento global e da Zona Euro. (…) O Conselho de Governadores está pronto a ajustar todos os seus instrumentos.”
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que está mais pessista quanto ao crescimento da economia global, alertou exatamente que os bancos centrais podem ajudar a aliviar a pressão do surto, mas que os efeitos serão “modestos” devido ao ponto de partida. “Perante um prolongado período de taxas baixas e de juros negativos, o impacto de medidas de política monetária adicionais, tanto na procura como na inflação, poderá ser apenas modesto“, afirmou a organização num relatório divulgado esta segunda-feira.
Além do BCE, também o Banco do Japão tem juros negativos. O governador banco central do país, Haruhiko Kuroda, garantiu igualmente estar a “monitorizar de perto” futuros desenvolvimentos para perceber a necessidade de “aumentar a liquidez no mercado e assegurar a estabilidade financeira”.
Mark Carney, do Banco de Inglaterra, disse estar a trabalhar com o regulador e com o ministério das Finanças britânico, bem como com parceiros internacionais, para tomarem “todos os passos necessários” para proteger a estabilidade financeira.
Mas a maior expetativa prende-se com o que fará a Reserva Federal norte-americana. O presidente Jerome Powell considera que o coronavírus representa “um risco para a atividade económica”, apesar de a economia norte-americana “continuar robusta”. Assim, a Fed irá “usar todas ferramentas e agir de forma apropriada para apoiar a economia”, segundo garantiu o norte-americano.
Se a epidemia agravar, a Fed poderá cortar juros a 18 de março, data da próxima reunião do banco central. Após três cortes nas taxas ao longo do ano passado, o intervalo de juros está atualmente entre 1,5% e 1,75%. No entanto, a posição da OCDE não é única e os analistas estão céticos quanto à capacidade de cortes nos juros de estimularem a despesa de famílias e empresas.
"Só por si, cortes de juros da Fed não vão resolver o problema. O que a Fed pode fazer é ajudar a facilitar o acesso a financiamento a famílias, negócios e governos locais que poderão ter problemas de cash flow devido ao vírus.”
“Só por si, cortes de juros da Fed não vão resolver o problema”, disse John Lonski, economista chefe da unidade de Capital Markets Research da Moody’s, numa nota de research. “O que a Fed pode fazer é ajudar a facilitar o acesso a financiamento a famílias, negócios e governos locais que poderão ter problemas de cash flow devido ao vírus”.
Certo é que, para já, o único banco central que agiu foi o da China, país onde começou a epidemia. O Banco Central da China cortou os juros de referência a 20 de fevereiro, enquanto Pequim anunciou injeções de capital na economia. Mas, com o país praticamente paralisado, a reação após o fim do surto será determinante para limitar o impacto na segunda maior economia no mundo.
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