Novo Banco abandona Espanha após 450 milhões de prejuízos

Ronaldo chegou a dar cara pelo BES em Espanha, ainda no tempo de Salgado. O Novo Banco pôs agora a sucursal espanhola à venda, depois de prejuízos de 450 milhões nos últimos seis anos.

“Donde voy a estar dentro de 3 años?” Em 2009, Cristiano Ronaldo chegou a dar cara pelo antigo BES Espanha. A estrela do futebol português simbolizava na perfeição a ambição de Ricardo Salgado para o mercado vizinho. Com a resolução do banco em 2014 tudo mudou. O Novo Banco está agora de saída depois dos prejuízos de mais de 450 milhões de euros nos últimos seis anos.

António Ramalho já anunciou aos 200 trabalhadores da sucursal espanhola e também aos sindicatos que a operação foi colocada à venda. Já foram feitos os primeiros contactos com bancos de investimento para procurarem um comprador. Se tudo correr como planeado, a saída do Novo Banco de Espanha deverá arrancar nas próximas semanas.

A venda do negócio espanhol não estava nos planos. Aliás, 2019 tinha sido um ano de “profunda transformação” para a sucursal com o objetivo de criar “condições objetivas para um crescimento sustentável”, segundo o relatório e contas do ano passado. Mas não vai acontecer.

O Novo Banco já deixou várias geografias (Cabo Verde, Ásia, França e Caimão), num redimensionamento provocado pelo plano de reestruturação de Bruxelas. Em relação a Espanha, a ideia era manter a operação para tornar o Novo Banco numa instituição de vocação ibérica. Porque foi colocado à venda? O El Confidencial diz que se trata de uma espécie de contrapartida pelas injeções de capital que o Estado português tem feito.

Este anúncio surge num momento de grande turbulência à volta do Novo Banco, com as críticas atingirem também a própria administração por causa dos bónus e dos aumentos salariais. Os prejuízos do banco têm obrigado a injeções milionárias com recurso a empréstimos dos contribuintes. Os partidos políticos querem explicações sobre tudo isto.

Em Espanha, os prejuízos foram avolumando-se à medida que a partir de Lisboa se procedia à reestruturação e limpeza de todo o banco. Só no ano passado as perdas na sucursal espanhola superaram os 100 milhões de euros.

Além da redução do negócio bancário — em cinco anos as receitas com juros e comissões caíram mais de 65% para 55 milhões de euros no ano passado –, contribuiu ainda para este mau desempenho a venda de uma carteira de malparado e de imóveis (o Projeto Albatros) de 300 milhões de euros. Gerou uma perda de mais de 30 milhões (acima das imparidades que já tinham sido constituídas).

Prejuízos em Espanha superam os 450 milhões

Fonte: Relatório e contas do Novo Banco

O Novo Banco Espanha fechou 2019 com ativos líquidos de dois mil milhões de euros, 198 funcionários e 11 balcões.

Além do banco, também o negócio de gestão de ativos (Novo Activos Financieros España), com mais de 800 milhões de euros entre fundos de investimento, fundos de pensões e SICAVs, foi vendido no final do ano passado à gestora espanhola Trea Asset Management. O closing do negócio deverá concretizar-se durante este segundo trimestre.

Fraude em Santander

Nos últimos meses, o negócio em Espanha foi abalado por um escândalo no balcão de Santander (entretanto encerrado). Um ex-gestor do Novo Banco em Espanha terá burlado 76 clientes daquela região em dezenas de milhões de euros, através de um esquema de pirâmide que terá durado mais de uma década.

A polémica levou António Ramalho e o administrador Vítor Fernandes a Madrid para lidarem diretamente com o dossiê, como revelou o ECO em primeira mão. Não se sabe qual é a dimensão da fraude, nem o impacto nas contas do banco. Mas o próprio presidente já admitiu que vai ter custos: “Aquilo que seremos chamados é menos do que se anuncia e sempre muito mais do que devia ser”.

Segundo a imprensa espanhola, 15 dos 76 clientes afetados investiram mais de um milhão de euros. Dez clientes são sociedades e outros 66 são clientes particulares que agora procuram ser ressarcidos.

Do lado do banco, estão em curso várias diligências para apurar as responsabilidades e perceber a extensão da fraude. Foi enviada uma equipa de Lisboa que está neste momento a realizar uma auditoria interna. Também está em curso uma auditoria externa forense para detetar a existência de indícios de eventuais práticas ilícitas. Não se sabe, ao certo, quando é que o esquema terá começado, nem a extensão da fraude.

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