Da banca ao futebol, pandemia arruinou estes grandes negócios em Portugal

As negociações para o Abanca comprar o EuroBic não chegaram a bom porto. Foi mais um negócio arruinado durante pandemia de Covid-19. Mercado de M&A em Portugal cai 24% desde o início do ano.

A lista de grandes negócios que falharam em Portugal durante a pandemia de Covid-19 não pára de aumentar: são já sete, pelo menos, as operações de relevância que não chegaram a bom porto nos últimos meses, depois de os espanhóis do Abanca terem deixado cair esta semana a aquisição do EuroBic a Isabel dos Santos e outros acionistas angolanos.

O falhanço das negociações entre o Abanca e o EuroBic apenas vem acentuar uma tendência de quebra que se tem verificado no mercado português de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) em 2020: até final de maio, foram realizadas apenas 133 operações de M&A, menos 24% do que em igual período do ano passado, de acordo com os dados da Transactional Track Record.

Na Europa, os dados apontam no mesmo sentido: foram realizadas menos 1.000 operações de M&A envolvendo companhias europeias desde o início do ano, uma que representa uma descida de quase 8% face ao mesmo período do ano passado, segundo a Dealogic. Setores que registaram maiores quebras no número de negócios: petróleo e gás, restauração e alojamento, turismo e financeiro.

É um cenário expectável que o mercado vá contrair ainda mais ao longo dos próximos meses, à medida que se vão intensificando os efeitos da crise na economia em resultado do impacto do Covid-19. E isso talvez ajuda a explicar por que razão muitos negócios não chegaram a ver a luz do dia.

Algumas operações já estavam alinhadas desde o ano passado: foram os casos das ofertas públicas de aquisição (OPA) da Cofina sobre Media Capital (dona da TVI), no valor de 200 milhões de euros, ou do Benfica ao capital da própria SAD encarnada, no valor de 32 milhões de euros.

No caso da Media Capital, até houve desenvolvimentos inesperados após a Cofina ter desistido do processo. O empresário Mário Ferreira (que participou com a Cofina na OPA à Media Capital) veio a adquirir 30% da dona da TVI por cerca de dez milhões, embora o negócio ainda esteja a ser analisado pelo regulador.

Também estava previsto um investimento da alemã Lufthansa na TAP. Embora nada tivesse sido oficialmente confirmando. Mas veio a pandemia que trocou as voltas à aviação, deixando os aviões e os negócios por terra. Agora é o Estado português quem se vai chegar à frente para salvar a companhia aérea portuguesa com um empréstimo de que pode ir até 1,2 mil milhões de euros.

Entre todos os setores, talvez o da banca nacional foi que mais negócios viu falhar. Foram quatro negócios cancelados recentemente, colocando à prova a estabilidade do sistema financeiro nacional. Isto compara com os 30 negócios falhados no setor financeiro europeu.

Por cá, o grupo australiano Pepper Group desistiu do Banco Primus, um negócio avaliado em 65 milhões. Os chineses da KWG também deixaram cair a compra do BNI Europa. Mais recentemente a Caixa Geral de Depósitos (CGD) decidiu abortar o processo de venda da operação no Brasil à espera de melhores propostas — haverá novo concurso, cujo arranque ainda não tem data prevista. E esta semana foram os galegos do Abanca a saltarem fora da compra do EuroBic, onde Isabel dos Santos continua vendedora da sua posição de 42,5%.

“A Santoro Finance e a Finisantoro mantêm a sua vontade de, nos termos legais competentes, dar continuidade ao processo de alienação de tal participação social, dando de imediato início à apreciação de outras propostas de interesse que já se manifestaram”, referiu Isabel dos Santos em comunicado divulgado esta quarta-feira.

Nem tudo foram más notícias no mercado de M&A. O grupo Mello e o fundo Arcus conseguiram levar por diante a operação de venda da concessionária rodoviária Brisa. E assim, no dia 28 de abril, em pleno estado de emergência e com o tráfego nas autoestradas portuguesas em mínimos, o controlo da Brisa passou para as mãos de um consórcio formado por investidores institucionais holandeses, sul coreanos e suíços por valores a rondarem dos 2.500 milhões de euros por 81,1% da operadora rodoviária. A operação entrou diretamente para o top-10 dos maiores negócios na Europa.

Há ainda várias operações em curso. O EuroBic continua à venda, assim como os bancos da CGD no Brasil e Cabo Verde (Banco Comercial do Atlântico). Ainda no setor financeiro, o grupo árabe IIB Holdings prepara-se para comprar o Banco Efisa (à Parvalorem) e o BGP (à Fundação Oriente). E o Novo Banco acabou de colocar no mercado a operação em Espanha. Haverá nova vaga de negócios arruinados?

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