Pode a indústria têxtil ser inovadora e sustentável? We Sustain diz que sim
Nascida e criada em 2020, a We Sustain ajuda as empresas nacionais a definir estratégias para tornar as suas produções têxteis mais responsáveis e amigas do ambiente.
O caminho de transição para a sustentabilidade é inegável e faz parte da missão da We Sustain. A empresa nasceu este ano, no Norte, com o propósito de ajudar as empresas no desenvolvimento sustentável e na implementação de boas práticas, atuando maioritariamente no setor de têxtil e vestuário.
O projeto é liderado por uma nova geração da indústria têxtil: Ana Tavares de 32 anos e Daniel Pinto de 30 anos. Ana é especializada em sustentabilidade têxtil e nos últimos cinco anos liderou o departamento de sustentabilidade da Tintex. Daniel Pinto está ligado ao desenvolvimento sustentável no setor têxtil e é diretor de estratégia da Scoop, empresa portuguesa de confeção especializada em vestuário técnico.
Com um background partilhado, ambos perceberem que podia fazer sentido criar uma empresa que pudesse dar apoio à indústria neste âmbito de desenvolvimento responsável. “Existe uma lacuna quando nos referimos a recursos humanos qualificados que tenham a experiência na parte têxtil combinada com a sustentabilidade. A maioria das empresas nesta área são PME, o que não permite à própria estrutura da empresa despender recursos financeiros a contratar recursos humanos que sejam efetivamente qualificados nessa área. Decidimos prestar um serviço dentro da indústria que pudesse colmatar essa lacuna“, explica Ana Tavares. A We Sustain oferece serviços especializados de consultoria, educação e formação, gestão de cadeias de valor e projetos de Investigação e Desenvolvimento (I&D).
Esta é a hora de aliar a inovação à sustentabilidade têxtil
Devido à pandemia global de Covid-19, o consumo têxtil está em forte quebra, as fábricas estiveram vários meses fechadas, os níveis de exportações caíram brutalmente. Todo este cenário sublinhou a forte dependência da indústria portuguesa pensar face aos mercados externos, principalmente dos asiáticos.
“Com o avançar dos meses, vemos que todas as indicações vindas da União Europeia para os próximos quadros de financiamentos serão sempre com base na economia circular, na sustentabilidade, nas boas práticas. Isto vai ter que ser, quase, uma obrigatoriedade. A questão do Green Deal veio dar ainda mais foco a estas questões”, explica a fundadora da We Sustain.
A pandemia veio acelerar mais essa urgência. Até agora andávamos a dizer “temos que nos reinventar”, “temos que inovar”, nós agora vamos deixar de dizer que “temos de” e vamos fazer, destaca Ana Tavares.
Portugal tem sido identificado como ponta de lança nesta questão da inovação aliada à sustentabilidade. Nós estamos um passo à frente daquilo que pode ser os nossos competidores.
“Não podemos basear-nos apenas em trabalhar para marcas ou para grupos que pensem apenas na produção em massa. Porque nós já percebemos que não temos vantagem competitiva em termos de preço para conseguirmos manter-nos como principais fornecedores no caso de uma pandemia como esta. Nunca vamos ser a primeira escolha pelo preço, isso faz-nos pensar que temos de trabalhar para acrescentar valor aquilo que fazemos e apostar na questão da inovação, na personalização e na sustentabilidade”, refere a fundadora da We Sustain.
Para a fundadora, Portugal está bem posicionado e pode até ser encarado com um exemplo nesta questão da inovação sustentável. “Portugal tem sido identificado como ponta de lança nesta questão da inovada aliada à sustentabilidade. Em relação ao resto do mundo temos alguma vantagem competitiva no sentido que nós conseguimos aliar a nossa rapidez de entrega, a nossa versatilidade na produção. Nós estamos um passo à frente daquilo que pode ser os nossos competidores”, conclui Ana Tavares.
Smartex, um exemplo nacional de inovação dentro do têxtil
“O nosso foco é aliar a questão da inovação à sustentabilidade. As empresas portuguesas e principalmente na indústria têxtil têm sido destacadas pela inovação e reconhecidas por isso”. Para Ana Tavares, a Smartex, startup de Barcelos criada pelos empreendedores portugueses António Rocha, Gilberto Loureiro e Paulo Ribeiro, é um exemplo de como se pode aliar a inovação à sustentabilidade. “Para mim é um dos projetos mais inovadores que tenho visto até ao momento”, destaca Ana Tavares.
“Eles desenvolveram um sistema que permite detetar defeitos na produção de malhas circulares, logo na tricotagem. Desta forma conseguem evitar o desperdício que de outra forma não seria possível”, conta a fundadora da empresa.
A Smartex é uma empresa nacional que utiliza a Inteligência Artificial para solucionar um dos principais problemas da indústria têxtil: a produção de defeitos em têxteis. A tecnologia consiste num sistema de deteção de defeitos que pode ser facilmente conectado a teares circulares, recolhendo imagens da malha, que são então analisadas por algoritmos através de Computer Vision. Através deste sistema, se for detetado um defeito, a produção é imediatamente parada e reduzir os resíduos têxteis defeituosos para perto de 0%.
Além de ser uma das indústrias mais poluentes do mundo, 30% da produção têxtil total é desperdiçada, sobretudo devido a produção defeituosa. Cerca de 33 mil milhões de dólares são desperdiçados todos os anos devido a defeitos têxteis invisíveis ao olho humano, que acabam por seguir para a cadeia de valor. Por isso, para a Smartex, “não se trata de reciclar ou reutilizar, mas sim evitar o desperdício de têxteis”. Ou seja, como os defeitos são detetados logo no início do processo, não há sequer necessidade de gastar matéria-prima, água (50.432 litros economizados), energia (gás natural para gerar calor e eletricidade, que emitem 684 kg de CO2 por cada rolo têxtil) e tempo no acabamento dos materiais têxteis.
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