Empresas puseram de lado 435,7 milhões para precaver impacto do vírus
Cotadas da bolsa de Lisboa e bancos fizeram provisões devido ao risco da pandemia. Os primeiros efeitos já se fazem sentir nas contas, com os resultados a afundarem no primeiro trimestre.
Confrontadas com uma pandemia inesperada, as empresas apressaram-se a acautelar o impacto que vai ter nas contas. A anteciparem que os fornecedores poderão falhar ou que os clientes vão deixar de pagar, as cotadas da bolsa e os bancos em Portugal guardaram 435,7 milhões de euros no primeiro trimestre. A pandemia e a estratégia já se estão a refletir numa forte quebra nos resultados.
“Por razões de prudência num tempo de grande incerteza, foram registados 44 milhões de euros de provisões para stocks no trimestre“. Foi esta a justificação, para o montante posto de lado para proteger o negócio, dada pela Sonae. A retalhista foi uma das empresas que o recorreu às provisões, que são retiradas aos resultados e, por isso, penalizam os lucros.
A dona da cadeia de supermercados Continente registou um prejuízo de 59 milhões de euros nos primeiros três meses do ano devido aos efeitos da pandemia. Estes resultados comparam com um lucro de 18 milhões de euros registado nos três primeiros meses de 2019. O mesmo aconteceu com a Nos.
A telecom registou prejuízos de 10,4 milhões de euros no primeiro trimestre do ano (contra lucros de 42,5 milhões de euros registados no mesmo período do ano anterior) devido ao “aumento de custos não recorrentes, nomeadamente o aumento de provisões para fazer face ao aumento de dívidas incobráveis”. Pôs de lado 42,4 milhões, sendo a “maior parte” devido ao vírus.
Grande maioria das provisões foi feita pela banca
Retalho, telecomunicações, mas também imobiliário — a nova cotada da bolsa Merlin Properties fez provisões de 3,3 milhões para eventuais perdas com rendas — são setores em que as empresas tentaram acautelar o risco. Mas onde a tendência mais se verificou foi na banca, um dos setores mais expostos ao impacto da recessão.
A maioria dos bancos reportou provisões para risco de crédito mais elevadas no primeiro trimestre deste ano face ao mesmo período de 2019 — numa altura em que arranca o período de apresentação de contas do segundo trimestre. Esta defesa pretende proteger o negócio do impacto que a forte contração do PIB e riscos de desemprego terá na rentabilidade e na qualidade dos ativos dos bancos.
Os cinco maiores bancos a operar em Portugal — Caixa Geral de Depósitos, BCP, Santander Totta, Novo Banco e BPI –, bem como o Banco Montepio e o Crédito Agrícola registaram provisões de 314 milhões de euros. Ou seja, 72% do total de 435,7 milhões de euros reportadas pelas empresas ao mercado vieram dos bancos.
Bancos e cotadas registaram provisões nas contas
Fonte: Relatórios das empresas
Lucros das cotadas do PSI-20 afundaram 65%
Devido ao caráter inesperado da pandemia, as cotadas tiveram mais tempo para aprovar as contas de 2019 e para acrescentar dos relatórios a estimativa de impacto da pandemia. Além das provisões, houve quem cortasse custos, adiasse investimentos ou suspendesse dividendos. Ainda assim, o vírus já se está a fazer sentir nos resultados.
Entre as 16 cotadas do PSI-20 que já apresentaram contas referentes ao primeiro trimestre do ano (Mota-Engil e Pharol ainda não o fizeram), apenas uma — a Corticeira Amorim — aumentou os lucros. Quatro passaram de resultados positivos a negativos ou agravaram os prejuízos.
Entre janeiro e março, as empresas do principal índice português lucraram 307 milhões de euros. O montante representa uma quebra de quase 65% em relação aos 864,15 milhões de euros que as mesmas cotadas tinham lucrado no mesmo período de 2019.
A quebra refletiu-se nas cotações, com o PSI-20 a afundar 22% no primeiro trimestre do ano. Tendo em conta que este período incluí apenas quinze dias de confinamento e que a maior parte do impacto diz respeito ao segundo trimestre do ano, a expetativa é que os resultados venham a cair ainda mais. Mas os investidores parecem já estar a incorporar esse efeito já que o índice ganhou 8% entre abril e junho.
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