Estar no presente? A melhor forma de manter o foco para liderar

A meditação é cada vez mais procurada por líderes e gestores como forma de manter o foco e promover o bem-estar, de dentro para fora. Com a pandemia, ainda mais.

“Começas a ver as coisas de forma mais clara e a estar mais no presente. A tua mente acalma, e vês uma expansão tremenda no momento. Vês muito mais do que podias ver antes”. As três frases foram ditas por Steve Jobs e não se referiam a nenhuma novidade da Apple, gigante de tecnologia que o norte-americano criou a partir da sua garagem. Descrevem sim a prática de meditação, que o gestor usava recorrentemente e que lhe reduzia a ansiedade, aumentava a sua capacidade de pensar criativamente e o tornava mais empático com os outros.

Os mesmos benefícios são apontados por Eduardo Saldanha, sobre a prática da meditação na mudança desenvolvida pela DeRose Meditation através de um workshop, que ganha dimensão em tempos de pandemia. Desenvolvido a partir dos princípios que regem o DeRose Method, que procura o desenvolvimento pessoal através de programas direcionados e de práticas como a ioga e a meditação, os programas têm assistido a um aumento de procura por parte de gestores e líderes de topo, à procura de ferramentas para gerirem um dia a dia repleto de incertezas, stress e expectativas próprias e de outros. Através de um teste de concentração, os alunos percebem em que nível de mindfullness estão, de entre os 9 possíveis. E, à medida que o tempo passa, vão sentindo a evolução.

“Não há resistência, somos contactados por toda a gente. Os gestores de topo vivem, geralmente, num dilema de gestão de tempo, entre a gestão da vida profissional e pessoal, mas a meditação pode ser útil exatamente aí. Porque o facto de eu chegar a casa e sentir falta de paciência para os outros, por exemplo, acontece por estar sem paciência e sem tempo para mim”, explica o professor.

Eduardo Saldanha, 42 anos, estudou Finanças mas começou a procurar, fruto das mudanças de vida, um trabalho que o preenchesse mais e que o fizesse mais feliz. A meditação surgiu nessa busca e, atualmente, ajuda outras pessoas a fazerem o mesmo. “Procurava algo muito prático. Comecei a aprofundar a meditação que, não sendo banal, na altura ainda não era reconhecida como é hoje”, conta à Pessoas.

De acordo com neurocientistas de Harvard, a meditação mindfullness funciona como um antídoto para o ego e, por isso, é descrita pelos especialistas como uma “experiência auto-transcendente”. Num artigo publicado na Harvard Business Review, a revista assegura que os teóricos apontam estas técnicas como com grandes benefícios para os líderes, uma vez que “permitem que eles olhem para as coisas com uma maior objetividade e consigam construir relações mais profundas”.

Meditar (n)a mudança

“Uma lufada de ar fresco”. Era assim que os participantes, estudantes de Medicina da Faculdade de Lisboa, descreviam as sessões semanais com Eduardo no centro de estudos empíricos, no pré-pandemia. De acordo com o especialista, a meditação pode ser usada como método para manter a resiliência emocional e proatividade. E é cada vez mais procurada por gestores e líderes para, através dela, melhorarem as suas capacidades de foco e de liderança. Equipas em empresas ou pessoas individuais procuram os cursos e a prática como forma de melhorarem competências. Com uma oferta fundamentalmente online, as aulas de meditação têm vários horários: os alunos entram quando podem mas as práticas também ficam gravadas para poderem acompanhá-las mais tarde, explica Eduardo.

Tempos de pandemia, necessidade de meditação

Se a pandemia trouxe questões relacionadas com a saúde pública, sobretudo face às pessoas mais expostas, é normal que, mentalmente, a nossa cabeça também se ressinta devido às alterações que o confinamento trouxe às nossas vidas. Cientificamente, estas alterações estão relacionadas com a busca de sobrevivência por parte do nosso cérebro – “sobretudo na amígdala”, explica a HBR. Esta parte cerebral reage assim que percebe uma ameaça, e essa reação tem efeitos imediatos na nossa capacidade de foco porque, ao mesmo tempo que a cabeça conduz a um pensamento de pessimismo ou, ao contrário, nega a ameaça, a nossa mente passa a ter menos acesso à parte criativa do cérebro, e isso reflete-se tanto na nossa capacidade de empatizar e de ouvir, como no nosso relacionamento com os outros.

É aqui, também, que entra a meditação, esclarece Eduardo. “Tal como num lago com águas tranquilas, que reflete o ambiente à volta muito claramente, quando as águas estão instáveis, não é possível ver o que se passa em redor. Se o corpo está cheio de tensões, se um empresário chega à noite cheio de stress, é difícil ver claramente o que se passa. E, também aí, é muito difícil meditar”, explica, sublinhando que a meditação e o mindfullness são “dois degraus de uma mesma escada”. “Quando falamos em fazer meditação, significa tanto o processo de meditar como o caminho para lá chegar. É como no karaté que, até à faixa negra, é sempre apenas um praticante”, detalha.

Com a meditação, o processo é semelhante. Mas Eduardo assegura que, meditando, os líderes trabalham a sua capacidade de gestão emocional, através da estabilização dos pensamentos.

“A nossa vida é completamente parametrizada para fugir à dor”, assinala. “Mas, se pensamos numa lista coisas que nos fazem sofrer e, depois, noutra com as coisas que nos dão prazer, esta última é mais difícil de enumerar mas muito mais importante”. Por isso, segundo o especialista, é tão importante estabelecer um “playbook” com todos os ativadores – segundo os valores de cada líder – como saber que ferramentas os ativam. “Muitas vezes, conhecemos pessoas que pensam tão rápido e nem se apercebem que, nessa velocidade, perdem informação e qualidade de vida (…) Um abraço, por exemplo, liberta oxitocina. Pode ser uma boa ferramenta para nos sentirmos melhor”.

5 dicas para começar a meditar

  • Nunca pratique sozinho: procure uma contextualização, informação sobre respiração e técnicas de estabilização emocional.
  • Sempre que medita, sorria. A testa deve estar descontraída.
  • Não esqueça o professor: a meditação não é inócua, funciona para bem e para o mal e, usada de forma incorreta, pode ter efeitos negativos.
  • Escolha o objeto sobre o qual meditar: cada pessoa tem de encontrar os seus.
  • Não pratique meditação se tiver problemas psicológicos ou neurológicos, já que esta prática usa o sistema nervoso central.

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