Residentes das freguesias em estado de calamidade usam mais os transportes públicos
Os residentes das freguesias que ainda estão em estado de calamidade usam mais os transportes públicos do que os demais portugueses que vivem em Lisboa. Governo diz que surtos não estão ligados.
O país está a viver o desconfinamento a várias velocidades. Enquanto na generalidade do país o estado é de alerta, a Área Metropolitana de Lisboa (AML) vigora o estado de contingência e em 19 freguesias dessa região mantém-se mesmo o estado de calamidade. No dia em que o ministro das Infraestruturas desvaloriza a ligação entre o uso dos transportes públicos e a propagação do novo coronavírus, o Instituto Nacional de Estatístico (INE) publica um “olhar aprofundado” sobre o território lisboeta mais afetado pela pandemia e destaca: além de mais população, nessas freguesias o uso dos transportes é mais significativo.
“A expressão da pandemia no território nacional continua a ser caracterizada por uma elevada heterogeneidade, situação que conduziu à declaração de medidas de política pública territorialmente diferenciadas. A manutenção do estado de calamidade num conjunto de 19 freguesias contíguas da Área Metropolitana de Lisboa motivou um olhar aprofundado sobre este território“, explica o INE, na nota divulgado esta sexta-feira.
Mas, afinal, o que distingue essas freguesias lisboetas das restantes? O INE enumera três pontos essenciais.
Em primeiro lugar, as 19 freguesias em causas concentram mais de um quarto (25,9%) do total dos residentes da Área Metropolitana de Lisboa. Contas feitas, a densidade populacional (habitantes por quilómetro quadrado) desse território é sete vezes maior do que na restante região lisboeta e “a proporção de edifícios com sete ou mais alojamentos também é mais elevada (30,6% contra 13,9%).
Por outro lado, nas 19 freguesias em questão o “mercado da habitação está menos valorizado”, o que significa que as rendas dos alojamentos familiares tende a ser menor: 7,5 euros por metro quadrado contra 8,4 euros por metro quadrado no restante território da AML.
Além disso, “os residentes no território em estado de calamidade utilizam mais o transporte público”. ” A proporção de deslocações da população residente com utilização do transporte público é maior no território em estado de calamidade que na restante AML (17,5% contra 13,4%)“, detalha o INE. E 14% das deslocações feitas por este meio são para fora do município, mais do dobro do observado na restante AML (6,7%).
O INE vai mais longe e sugere “uma associação forte e positiva entre a proporção de deslocações da população residente em transporte público com o número de casos confirmados por 10 mil habitantes, sendo esta relação apenas moderada com o número de novos casos confirmados (últimos 14 dias) por 10 mil habitantes.
Estes dados são conhecidos no dia em que o ministro das Infraestruturas e da Habitação admite acabar com as limitações à lotação dos transportes públicos impostas face à pandemia de coronavírus. À TSF e ao Dinheiro Vivo, Pedro Nuno Santos justifica essa posição com a ausência de uma ligação entre o uso de comboios, autocarros ou metro e os surtos de Covid-19. Os “estudos internacionais vão-nos mostrando que não é esse o problema” na disseminação do vírus, diz o governante.
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