“Impacto absolutamente devastador”. Agências de viagens com quebras de 90%

A pandemia deixou aviões em terra um por todo o mundo. Presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo diz que é preciso dar confiança para viajar e pede a retoma do lay-off.

O impacto económico da pandemia é transversal a vários setores, mas o turismo é um dos setores mais castigados pela Covid-19. Primeiro, o confinamento, depois as restrições de circulação, deixaram aviões em terra um pouco por todo o mundo, provocando um “impacto absolutamente devastador” nas agências de viagens.

Em conversa com o ECO para a rubrica “Dar a volta ao turismo”, o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), Pedro Costa Ferreira, faz o balanço da crise vivida no setor por causa da pandemia, mas também as perspetivas para o futuro próximo, que não são animadoras. O início de uma recuperação só começará a ser sentido a partir da Páscoa, diz. Por isso, pede mais medidas ao Governo.

“É a maior crise das nossas vidas”

Se no início de abril as agências de viagens se deram conta de que iriam “ter um problema para o verão”, agora estão a ver os resultados desse problema. O “impacto é absolutamente devastador”. Quem o diz é Pedro Costa Ferreira, suportando-se nos números.

Em abril 95% das empresas do setor tiveram uma quebra do volume de negócios superior a 90%. Mas se o Instituto Nacional de Estatística (INE) observou que o mês de junho foi o “motor” de arranque para o setor turístico no pós-pandemia, a verdade é que as agências de viagens ainda não sentem os efeitos. “Em julho, 76% das nossas empresas ainda têm uma quebra superior a 90%”, afirma o presidente da APAVT.

Para fazer face a este impacto, o Executivo lançou um conjunto de medidas com o intuito de assegurar liquidez às empresas e para proteger o emprego, como é o caso do lay-off simplificado, que, a partir de agosto foi substituído pelo apoio à retoma progressiva. Em termos gerais, Pedro Costa Ferreira manifesta-se “globalmente positivo” com as medidas tomadas, mas avisa que “a partir de agora” está “globalmente apreensivo”.

Na sequência da alteração dos apoios ao emprego, o presidente da APAVT defende que o lay-off simplificado deve voltar “pelo menos até ao final do ano”. A posição é justificada pelo “êxito tremendo” da medida que “evitou despedimentos” e pelo facto de as dificuldades das empresas se terem mantido ou até agravado.

Quanto às medidas que “aliviam” as empresas, Pedro Costa Ferreira aproveita para deixar uma sugestão ao Executivo para prorrogar as moratórias fiscais e de reembolso de financiamento “para o segundo semestre de 2021”, criticando ainda o facto de as verbas a fundo perdido ainda não estarem disponíveis.

Confiança para viajar é um dos principais obstáculos

Para o presidente da APAVT este é um setor bastante “competitivo” e que foi fulcral na recuperação económica da crise anterior, pelo que o Estado deve apoiar as empresas do setor. Nesse sentido, Pedro Costa Ferreira antecipa que a recuperação vai depender “da resolução do problema de saúde pública”, que, deverá ser “lenta” e “assimétrica”. Mas tal como o presidente da Associação do Alojamento Local, considera que deverá começar a ser sentida na Páscoa.

Assim, enquanto o problema de saúde pública não está resolvido, um dos principais obstáculos que o setor enfrenta tem a ver com a confiança para viajar. Segundo o responsável, a “enorme desarmonia” e “falta de sincronização” de medidas entre países para travar o contágio da Covid-19, como “a circulação nos aeroportos, acessos aos destinos, protocolos de máscaras ou de testes à Covid-19” são alguns dos grandes entraves às viagens, pelo que Pedro Costa Ferreira pede uma ação coordenada a nível mundial.

Turismo de longo-curso “está reduzido a escombros”

Perante o contexto de pandemia, os “portugueses estão confinados a fazer turismo interno”. Apesar de o Algarve e a Madeira continuarem a ser os destinos prediletos dos lusitanos, houve “um encontro” do consumidor português com várias regiões do país, como o “Alentejo, o interior e o Norte”. Na visão do presidente da APAVT este “boom” deu-se em grande parte pela “criatividade e capacidade de atração e criatividade dos operadores turísticos”.

Relativamente ao turismo internacional, o presidente da APAVT salienta que se nos últimos anos o mercado norte-americano, canadiano, brasileiro, sul-coreano e chinês tiveram um forte peso no turismo em Portugal, agora “está reduzido a escombros”. Por enquanto, apenas espanhóis, franceses, alemães e britânicos se deslocam a Portugal. Ainda assim, “há muito menos turistas” destes mercados, nota Pedro Costa Ferreira.

Quanto ao turismo proveniente do Reino Unido, Pedro Costa Ferreira admite que “há um aumento muito grande de reservas”, em consequência de o governo britânico ter incluído Portugal na lista de corredores aéreos. Contudo, o presidente da APAVT alerta que as reservas falhadas não vão conseguir ser recuperadas. “Nunca há recuperação de uma cama não vendida. Neste caso foi uma região toda que não foi vendida para um determinado destino “, atira.

Além disso, dando como exemplos o que aconteceu em Espanha e na Croácia, adverte que a medida pode ser revertida. “Portugal precisa de garantir a consistência desta medida, a sua manutenção. Se conseguiremos é uma medida muito bem-vinda”, conclui.

O ECO arrancou em julho com uma rubrica nova chamada “Dar a Volta ao Turismo“, em que entrevista empresários e governantes do setor para perceber os impactos que a pandemia trouxe para o turismo e de que maneira se poderá dar a volta por cima.

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