Hug-a-Group lança app e trabalha a saúde mental em grupo
Depois do projeto-piloto no Brasil, a startup portuguesa lança a aplicação no mercado português. Criou plataforma que oferece possibilidade de grupos de apoio, com psicólogos, a 15 euros/encontro.
Pedro Trincão Marques teve o primeiro ataque de pânico aos 15 anos. “Pensei que ia cair para o lado e morrer”, conta, em conversa com o ECO. Depois do primeiro, seguiram-se vários, durante anos. Começou consultas com psicólogo e psiquiatra, medicamentos e, muita, muita informação sobre o tema. Um dia, depois de ler muito sobre os resultados obtidos a partir de grupos de apoio com moderação psicológica, percebeu que no mercado não existia nenhum produto do género. Foi nesse momento que começou a construir a Hug-a-Group, um “abraço” em forma de consultas periódicas, feitas em grupo e com um tema pré-definido. Sempre via app.
“No processo, fiz questão de falar com pessoas de todas as partes do mundo que sentiam a mesma coisa: podia criar-se um espaço de partilha mais coordenada. Comecei a idealizar a questão dos grupos de apoio/suporte moderados por psicólogos porque falar com alguém que já teve o mesmo que nós é muito diferente de contar o que nos aconteceu a pessoas sem essa experiência”, admite.
Os primeiros esboços do projeto foram desenhados em março de 2019 e, ainda que no início na equação estivesse a ideia de oferecer também a possibilidade de terapia individual, a ideia do negócio foi pivotada, ou seja, o modelo de negócio foi alterado ao longo do tempo.
Esta sábado, a startup lança a aplicação em Portugal, depois de testes com uma app semelhante, lançada em julho no Brasil, e de meses de aceleração na Casa do Impacto, primeiro como participante do programa Rise e, finalmente, como incubada residente no hub de inovação e empreendedorismo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que acaba de cumprir dois anos de atividade.
“O teste no Brasil foi uma decisão estratégica. Tínhamos um piloto que era pago por uma farmacêutica e que tinha receita. Foi juntar o útil ao agradável”, conta. No projeto-piloto, a Hug-a-Group trabalhou com mulheres desempregadas e, meses depois, lança finalmente a app em Portugal com três temas “de estreia” em cima da mesa, que vão definir os primeiros grupos. “Já existem muitas plataformas que fazem consultas individuais e, além disso, tornava o produto caro. Queremos que seja acessível a toda a gente e, com esta metodologia, conseguimos oferecer sessões a 15 euros“, explica Pedro.
Combater preconceitos
Mas, como funciona, na prática, a Hug-a-Group? O fundador da startup explica. “Quando entras na app, escolhes o teu grupo: ‘ansiedade e depressão para estudantes’, por exemplo. A escolha é sempre feita por grupo e não por psicólogo. E cada grupo já tem uma frequência e um horário que pode ser semanal, quinzenal ou mensal, dependendo da frequência a que esse grupo se reúne. Pouco tempo antes da hora, cada participante inscrito — são grupos de cinco participantes – recebe uma notificação para participar. É só entrar no grupo e fazer a sessão via app“, explica Pedro Trincão Marques.
O objetivo da empresa passa por desmistificar o preconceito de que os grupos de apoio e acompanhamento psicológico, são apenas os encontros de “AA’s” que as pessoas só conhecem dos filmes. “Os grupos de suporte/terapia de grupo são difíceis de encontrar e costumam ser associados ao tratamento de abuso de substâncias ou álcool. No entanto, são extremamente eficazes na melhoria de outras condições de saúde mental, as quais afetam cada vez mais portugueses, tais como a depressão e a ansiedade. Os benefícios inerentes à terapia de grupo são inúmeros, e contribuem para a criação de uma rede suporte que é crucial para a diminuição do sentimento de solidão, que tantas vezes nos consome”, explica o fundador.
Além disso, esta área de negócio tem tido cada vez mais o interesse de parceiros, investidores, e até de empresas, preocupadas com o bem-estar dos seus trabalhadores. “A problemática da saúde mental acaba por ser um dos temas do século XXI. Há falta de soluções: muitas a aparecer mas nenhuma disseminada. Há espaço na indústria para haver conceitos novos e esta abordagem em grupo ainda não estava escalada. A questão da pandemia veio acelerar negócios digitais. Isso aliado ao facto de que os problemas de saúde mental pioraram com a pandemia. Acaba por haver uma grande procura por este tipo de soluções. Espero que no sábado tenhamos a prova de que a nossa solução era procurada“, afirma o fundador, aproveitando o dia mundial da saúde mental para o lançamento da app em Portugal.
Com uma equipa de quatro pessoas em regime de full-time, a Hug-a-Group conta com uma pool de 23 psicólogos que são ativados conforme as necessidades dos participantes e com o objetivo de que o acompanhamento seja feito de forma contínua. Podem usar a app os utilizadores com mais de 18 anos e, para o lançamento, a startup vai oferecer 150 sessões quinzenais gratuitas.
Segundo a DECO, em Portugal o preço de uma sessão de terapia individual é, em média, de 55 euros. Na Hug-a-Group, uma sessão de terapia em grupo custa 15 euros.
Além da área de grupos de apoio moderados por um psicólogo, a app tem ainda outras duas grandes áreas: uma dedicada ao desenvolvimento pessoas, a “jornada do bem-estar”, onde os utilizadores podem encontrar exercícios para complementar a sua terapia e outra, mais direcionada para a comunidade, onde cada participante pode partilhar o seu processo de evolução através de uma partilha coletiva. Existe ainda na app uma área pessoal onde os utilizadores podem registar o que sentem num “diário”.
No futuro, Pedro Trincão Marques conta que o primeiro grande objetivo passa por crescer em Portugal. “Aqui temos um papel muito mais educativo, e ainda temos de ensinar que a terapia de grupo tem resultados muito bons”. A Hug-a-Group quer estabelecer-se como “boa alternativa às plataformas que já existem”. “Por ser um preço mais barato, acaba por ser uma alternativa boa. Temos planos de expansão para o Brasil, mais médio prazo, e para os EUA e Reino Unido. A nossa maior base de seguidores é americana”, assinala o responsável.
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