Rui Vilar de saída da Caixa. “É altura de virar a página”, diz o gestor
Mandato termina este ano e Rui Vilar não está disponível para continuar. "É altura de virar a página, de renovar a equipa da CGD para lançar e cumprir" novo plano estratégico, diz o histórico gestor.
O mandato da atual administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) termina no final deste ano e já há uma mudança que o acionista Estado terá de operar. Com 81 anos, o chairman Rui Vilar informou que não está disponível para continuar no banco público. “Não se verificam nenhumas circunstâncias de exceção e de especial interesse público que, na minha idade, pudessem novamente inculcar a eventual ponderação da minha continuidade (…). É altura de virar a página, de renovar e reforçar a equipa da CGD para lançar e cumprir um novo e desafiante plano estratégico 2021-2024”, explica o gestor numa tomada de posição a que o ECO teve acesso e que já foi partilhada com os trabalhadores ao final desta sexta-feira.
Rui Vilar ocupa o cargo de presidente do conselho de administração desde fevereiro de 2017 em regime pro bono, tendo assumido essas funções depois da curta passagem de António Domingues como CEO do banco público em 2016, num mandato conturbado por causa daquilo a que o ministro das Finanças da altura, Mário Centeno, veio a apelidar de “erro de perceção mútuo” quando se colocou a questão de isenção da declaração de rendimento e património no Tribunal Constitucional.
Este episódio é recordado pelo gestor como um dos principais “méritos” da sua passagem pelo banco público que se preparava então para dar início a um exigente plano de reestruturação no âmbito da recapitalização de 4.000 milhões. “Se a minha presença outro mérito não tivesse, acabou por ser útil ao assegurar o normal funcionamento do banco até surgir uma nova equipa” de Paulo Macedo.
Esse plano termina agora, no final do ano, e Rui Vilar assume-o como missão cumprida, mesmo com a pandemia a pressionar a economia e o setor bancário. “Apesar dos reflexos negativos da conjuntura atual, decorrente da pandemia de Covid-19, tudo indica que a CGD o cumprirá no atual e último exercício do plano”, diz.
Não se verificam nenhumas circunstâncias de exceção e de especial interesse público que, na minha idade, pudessem novamente inculcar a eventual ponderação da minha continuidade (…). É altura de virar a página, de renovar e reforçar a equipa da CGD para lançar e cumprir um novo e desafiante plano estratégico 2021-2024.
Rui Vilar, que conta com um longo currículo em cargos de topo de várias empresas, Governo e outras instituições, não se esquece ainda do trabalho adicional (para lá do plano estratégico) que teve durante o seu mandato: a auditoria independente aos atos de gestão 2000-2015 e três comissões de inquérito no Parlamento. “Tudo obrigando a afetar tempo e recursos não negligenciáveis, para além dos reflexos negativos no campo reputacional”.
A Caixa superou as adversidades e voltou aos lucros depois de vários anos de prejuízos, uma das razões pelas quais Vilar aceitou o desafio de servir o banco público. Paulo Macedo revelou recentemente que o banco se prepara para apagar este ano os prejuízos de 1.860 milhões de euros que registou em 2016, fazendo mira a lucros acima dos 500 milhões em 2020. “Para tanto, muito contribuiu o trabalho de uma equipa executiva competente e profissional, liderada por Paulo Macedo, e a ação empenhada e atenta dos administradores não executivos”, assinala Rui Vilar.
Agora de saída, diz que o banco está hoje em melhor posição a vários níveis: “Sólida base de capital, abundante liquidez, baixo nível de NPL (crédito malparado) e bom rácio cost to income, comparando favoravelmente com os seus pares portugueses e a média europeia”.
A Caixa registou lucros de 249 milhões de euros na primeira metade do ano, uma queda de 40% face ao mesmo período do ano passado devido ao impacto da pandemia. O mandato da atual equipa de gestão termina a 31 de dezembro, devendo os novos membros serem nomeados em assembleia geral a realizar no próximo ano.
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