A Advocatus foi conhecer nove advogados de diferentes firmas que começam a assumir-se no mercado. Uma nova geração com uma visão distinta e que serão parte do futuro da advocacia.
A advocacia que se pratica em 2020 não é a mesma que a exercida há 10, 20 ou 30 anos. O setor modernizou-se, ficou mais tecnológico e com esta evolução também novas gerações de advogados começam a dar cartas no mercado da advocacia de negócios.
A Advocatus foi conhecer nove histórias de advogados que estão a começar a ter protagonismo nas principais firmas de advogados do país.
Um ponto é unânime: nenhum está arrependido de ter seguido direito e se voltassem atrás no tempo manteriam a decisão de ingressar na carreira de advogado. “Desde muito cedo que as minhas brincadeiras de criança giravam em torno do mundo do direito. Consistentemente, ou era juiz, ou procurador, ou advogado. Exercer advocacia não foi uma escolha imediata, mas foi consciente e da qual não me arrependo“, contou Diogo Castanheira Pereira, associado da CMS Rui Pena & Arnaut.
"Com a existência de concorrência feroz, qualquer negócio, e quer se goste quer não, temos um negócio em mãos, tem de se adaptar e ter novas formas de atuar, o que pode implicar repensar aspetos do modelo de negócio. ”
Por outro lado, Mafalda Rodrigues Branco, associada da SRS Advogados, começou por entrar no curso de Comunicação Social, mas na véspera das inscrições mudou de ideias e inscreveu-se em direito. “Faria tudo de novo”, garantiu.
“Apesar de não estar arrependido, repetir a área e o curso parece um desperdício do dom de viver duas vezes. Voltando atrás no tempo, seguiria talvez os sonhos da arqueologia e paleontologia, resquícios de uma infância carburada a Indiana Jones e Jurassic Park. Falhando isso, o jornalismo. Seriam outras desilusões, mas sempre se variava”, contou Pedro Fontes, associado da Vieira de Almeida (VdA).
Também Rita Nunes dos Santos, advogada sénior da Morais Leitão, mantinha a sua decisão de seguir direito, uma vez que esta área permite “constantes explorações por outras áreas, tornando o trabalho do dia-a-dia muito variado”.
Alexandra Martins integra a Serra Lopes, Cortes Martins & Associados desde 2007, centrando a sua atividade nas áreas de direito comercial e societário, fusões e aquisições, direito dos contratos e assessoria corporativa. Para a advogada a experiência na firma não poderia ter sido melhor.
“É uma sociedade extremamente humana, em que as pessoas se preocupam muito umas com as outras e tentam ser melhores todos os dias. Foi a sociedade que me permitiu crescer profissionalmente, que me orientou deontologicamente e que cedo me pôs em contacto com muitos temas e transações que acabaram por transformar a minha experiência enquanto advogada, a que recorro todos os dias no exercício da profissão”, referiu Alexandra Martins.
Sem dedicar muito tempo a pensar no que tem enfrentado ao longo da carreira, Alexandra Martins garante que a advocacia obriga os profissionais a enfrentar diariamente desafios. “Esse desafio constante é parte do que nos faz seguir nesta procura contínua por melhorar o que fazemos”, acrescentou.
"Vivemos um momento de enorme incerteza, que naturalmente trará muitas dificuldades a muitas pessoas e nenhuma área, pessoa ou entidade está inteiramente resguardada dessa incerteza. ”
Sobre o momento vivido atualmente no mundo, acredita que é necessário fazer um esforço para não olhar “só para nós”. “Vivemos um momento de enorme incerteza, que naturalmente trará muitas dificuldades a muitas pessoas e nenhuma área, pessoa ou entidade está inteiramente resguardada dessa incerteza. Mas prefiro olhar para o futuro com a convicção de que o podemos (e vamos) enfrentar coletivamente”, assegurou a advogada.
Alexandra Martins não vê a questão da carreira como uma condição inevitável na profissão de advogado e por isso é difícil perspetivar como estará a sua vida profissional daqui a dez anos. Ainda assim, quer crescer profissionalmente, mas quando olha para o futuro o objetivo é “continuar a tentar servir os interesses dos meus clientes o melhor possível, mantendo-me fiel aos princípios que regem a nossa profissão”.
Associada sénior da área de público da PLMJ desde 2017, Carla Machado perspetiva que daqui a dez anos esteja na mesma firma e na mesma área, mas que haja um crescimento enquanto profissional.
“Espero que os próximos dez anos me permitam continuar a crescer como advogada e como profissional, assumindo novos desafios e desenvolvendo novas capacidades, tendo em vista continuar a construir a minha carreira e contribuir com o meu trabalho e o meu conhecimento para continuar a promover a cultura de excelência da PLMJ e fazer, à escala do que se pede da assessoria jurídica, prosperar o país”, referiu.
Na PLMJ há mais de 12 anos, Carla Machado afirma que a experiência tem sido “fantástica” e considera já a sociedade como a sua casa. “Aqui tenho aprendido com os melhores a ser advogada, aqui cresço enquanto profissional, aqui tenho contacto com assuntos complexos e exigentes, que reforçaram o meu gosto e interesse pelo direito, bem como me desafiam a colocar-me perante os clientes numa perspetiva de parceiros na solução de problemas que impactam o seu negócio e vida das instituições”, notou.
"Espero que os próximos dez anos me permitam continuar a crescer como advogada e como profissional, assumindo novos desafios e desenvolvendo novas capacidades.”
A associada sénior da PLMJ acredita também que nesta profissão todos os dias são diferentes e por isso todos os dias existem novos desafios. Em concreto sobre a pandemia Covid-19, um desafio que assola todos os setores e profissões, refere que o momento que o mundo está a atravessar assusta-a.
“Esta pandemia impacta diretamente no exercício de diversas profissões, quanto mais não seja pela necessidade de readaptar formas de trabalho neste novo contexto. Felizmente, julgo que temos a enorme mais-valia de podermos acompanhar todos os nossos clientes e assuntos à distância“, garantiu.
Centrando a sua atividade nas áreas de direito civil, processual civil e arbitragem, Diogo Castanheira Pereira caracteriza a experiência na CMS Rui Pena & Arnaut como “positiva” e “enriquecedora”.
“Tenho também a sorte de acompanhar o percurso e a evolução da sociedade nos últimos dez anos, com todas as suas vicissitudes e nas suas diversas etapas. Tive também a privilégio de conhecer e trabalhar de perto com o Dr. Rui Pena e de ainda fazer parte de um projeto coletivo e com grande enfoque pessoal na gestão dos advogados e na relação com cada cliente”, contou o associado.
Com um percurso de cerca de dez anos, à Advocatus contou que existiram dois principais desafios que enfrentou no seu percurso: a “escolha entre a advocacia e a magistratura” e a “conciliação e o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal”.
"Tive também a privilégio de conhecer e trabalhar de perto com o Dr. Rui Pena e de ainda fazer parte de um projeto coletivo e com grande enfoque pessoal na gestão dos advogados e na relação com cada cliente.”
Sem medo que a pandemia possa vir a prejudicar a sua carreira, o associado da CMS afirmou que devemos encarar o momento como uma “nova oportunidade para repensar a forma de trabalho, de relação com os clientes e de presença em novos mercados”.
Daqui a dez anos vê-se a continuar a crescer com a CMS e em equipa. “Tratando-se de uma sociedade internacional, oferece uma visão estratégica única e sem precedentes, quer ao nível de projetos quer ao nível de ferramentas tecnologicamente avançadas, processos e método de trabalho, permitindo assim, assegurar um percurso de consolidação profissional ímpar e extrair as potencialidades de cada elemento da equipa”, acrescentou.
Mafalda Rodrigues Branco integra o departamento de contencioso da SRS Advogados desde 2013 e admite que a firma tem um dos “melhores ambientes” que conhece, pois cada um tem o seu “espaço e reconhece e respeita o espaço do outro”.
“Sinto que me deram desde o início toda a liberdade e responsabilidade para gerir os casos em que trabalhei e de crescer enquanto advogada. E acima de tudo, sinto que a SRS premeia a dedicação ao projeto”, assegurou a associada.
Sem nunca ter feito outra coisa da vida, Mafalda Rodrigues Branco afirma que a advocacia é uma das profissões mais intensas e na qual se prescinde mais da vida pessoal. “Na advocacia, há um compromisso com a profissão e com os clientes que não consigo explicar”, acrescentou.
"O principal desafio que enfrento diariamente é o de estar disponível e responder com qualidade às necessidades e expectativas do cliente.”
“O principal desafio que enfrento diariamente é o de estar disponível e responder com qualidade às necessidades e expectativas do cliente e, quando possível, desligar o pensamento de todas essas responsabilidades. O equilíbrio é certamente o mais difícil nesta profissão”, notou a associada.
Sobre a nova rotina que a pandemia provocou, assegura que foi “muito duro” trabalhar em teletrabalho como se estivesse no escritório. “Tenho duas filhas, uma com quatro anos e outra com menos de dois anos, e mais não é preciso dizer”, disse.
A associada da SRS, que recentemente foi promovida a managing associate, perspetiva que daqui a dez anos continue dentro de uma sociedade de advogados, devido ao facto de gostar de litigar em tribunal e debater estratégias jurídicas para aumentar as probabilidades de sucesso dos clientes.
Na Sérvulo & Associados desde 2013, Miguel Santos Almeida afirma que estes sete anos têm um significado de realização pessoal. “Pelos valores que compõem a matriz identitária da sociedade, pela intransigência na qualidade dos serviços prestados e pelo elevado valor (profissional e humano) das pessoas que a integram”, referiu.
O advogado, que integra a equipa de contencioso, arbitragem e exerce ainda nas áreas de penal e contraordenações e direito do desporto, garante que o setor é dotado de uma flexibilidade que lhe permite adaptar-se aos contextos macroeconómicos mais exigentes, como a pandemia.
"Tenho tido a sorte de poder trabalhar em casos que vão marcando a minha carreira e que, cada um à sua maneira, me fazem convicto de que vale a pena lutar pelas causas dos nossos clientes.”
“Em situações de crise, a função do advogado torna-se ainda mais relevante, multiplicando-se as situações em que o apoio de um advogado se revela necessário. Certas áreas são tipicamente chamadas com maior intensidade, podendo adivinhar-se para os próximos tempos um aumento de protagonismo de áreas como o laboral, o direito financeiro, as insolvências e a recuperação de empresas e também algum contencioso mais associado a disputas contratuais e regulatórias”, explicou Miguel Santos Almeida.
O facto de integrar em diversas áreas na sociedade, o advogado acredita que tem feito um percurso “rico em desafios e experiências profissionais diversificadas”. “Tenho tido a sorte de poder trabalhar em casos que vão marcando a minha carreira e que, cada um à sua maneira, me fazem convicto de que vale a pena lutar pelas causas dos nossos clientes”, acrescentou.
Daqui a dez anos, Miguel Santos Almeida quer continuar a exercer advocacia como tem exercido até ao momento: “livre” e “empenhado” na defesa das causas dos clientes.
“Muito satisfatória”. Foi assim que Pedro Fontes, associado coordenador da área de saúde da Vieira de Almeida (VdA) caracterizou a experiência na firma liderada por João Vieira de Almeida.
O advogado afirmou à Advocatus rever-se em três traços mais distintivos da cultura “forte” da VdA: na ideia de que a “solução jurídica é uma obra coletiva, produzida por uma equipa que colabora, faz escola e transmite tradições“; na “crença de que essa equipa não deve ser monolítica nem uniforme, mas antes valorizada pela heterogeneidade e expressão individual de cada membro“; e na “convicção de que o serviço jurídico não é apenas um produto, mas um dever para com a comunidade, contraído pelo simples privilégio de o poder contrair”.
No que concerne ao principal desafio que enfrentou na sua carreira, Pedro Fontes aponta dois: o de ingressar na área da saúde e o passo de se responsabilizar pela formação de novos estagiários e associados.
" A tragédia está lá fora, junto daqueles que não têm rede ou a possibilidade de se adaptar, nos que não têm acesso à oportunidade da mudança e por isso se tornam vítimas dela.”
Perante o momento que se está a viver no mundo e o facto de lhe poder prejudicar a carreira, o associado da VdA afirma que não, pois pode ser sempre “paleontólogo”, e reconhece que a pandemia já lhe “cortou os dedos”, relembrando uma provocação de Mel Brooks (“tragédia é quando eu corto o meu dedo numa folha de papel. Comédia é quando tu cais num esgoto aberto e morres”).
“Mas a tragédia não está propriamente em grandes escritórios de advogados, com acesso a operações marcantes, onde o risco é mutualizado por uma grande equipa em inovação permanente e por um prestígio conquistado por advogados extraordinários. A tragédia está lá fora, junto daqueles que não têm rede ou a possibilidade de se adaptar, nos que não têm acesso à oportunidade da mudança e por isso se tornam vítimas dela“, referiu.
Para Pedro Fontes, os advogados não devem “enclausurar-se”, devendo antes “emprenhar os seus talentos numa recuperação disciplinada, justa e solidária, e devem fazê-lo com a generosidade possível, que será também a devida”. No futuro planeia continuar a servir os clientes, ajudar ao crescimento da VdA, ensinar os “miúdos” e “disseminar a convicção de que o direito, bem feito, é a única garantia de Justiça, e a Justiça é uma coisa que devemos à comunidade”.
Rita Nunes dos Santos é advogada sénior na Morais Leitão, centrando a sua atividade nas áreas de contencioso e arbitragem. Feliz com a experiência que tem tido desde 2008 na firma, a advogada afirmou rever-se nos “valores” e “pessoas”.
“O desafio constante é procurar manter a qualidade jurídica equilibrando com outras preocupações que já não são tanto do núcleo duro do direito mas que são essenciais para um advogado hoje em dia, como estar mais alerta para vertentes mais empresarias da profissão, como o client care ou a promoção interna e externa”, considerou.
Para a advogada da Morais Leitão, o equilíbrio entra a vida profissional e pessoal é ainda um desafio, até porque as exigências “tendem a ir aumentando”.
"Esta crise tem potencial de vir a gerar novas situações de litígio no futuro, com contratos que chegam ao fim, alegações de alterações das circunstâncias, etc.. ”
“Vivemos uma situação inédita e que há alguns meses atrás parecia impensável, pura ficção científica, que abalou as nossas estruturas e aquilo que tínhamos como certo de uma forma muito visceral, trazendo uma grande incerteza e indefinição para o futuro”, assegurou sobre a pandemia.
Rita Nunes dos Santos sentiu que o volume de trabalho se manteve relativamente estável mesmo durante o período mais crítico do confinamento. “Esta crise tem potencial de vir a gerar novas situações de litígio no futuro, com contratos que chegam ao fim, alegações de alterações das circunstâncias, etc.. Em todo o caso, surpreendeu-me a forma como facilmente nós, os clientes e até os tribunais nos adaptámos a estas mudanças“, acrescentou.
A advogada sénior perspetiva que daqui a dez anos haja um “modelo de carreira mais flexível, menos fechado no modelo tradicional, muito verticalizado no registo da subida do estagiário até sócio de indústria, com mais espaço para modelos de carreira alternativa”.
“Encaro o momento que se está a viver no mundo como uma oportunidade para os advogados se adaptarem a outras formas de trabalhar, as quais ainda que apresentem os seus desafios, permitem também uma maior flexibilidade na organização do trabalho e na gestão da vida familiar”. É assim que Sara Soares, associada sénior da Abreu Advogados, vê o momento que o mundo se encontra a atravessar.
Na firma desde 2008 e com foco nas áreas de contencioso e consultoria fiscal, Sara Soares admite que tem sido um “caminho muito feliz”. “Tenho o privilégio de trabalhar com uma equipa na verdadeira aceção da palavra, com colegas que estão, na sua maioria, há já alguns anos na Abreu, o que garante uma estabilidade que permite que a qualidade do trabalho saia reforçada”, acrescentou.
"Encaro o momento que se está a viver no mundo como uma oportunidade para os advogados se adaptarem a outras formas de trabalhar.”
Na sua carreira a gestão do tempo é o principal desafio que enfrenta, tanto da simultaneidade de alguns projeto, como da gestão do tempo pessoal e profissional.
“É uma aprendizagem que me parece ser transversal a diversas áreas profissionais, mas que diria que é um tópico com o qual os advogados, especialmente os que lidam com prazos judiciais, terão necessariamente de lidar na sua carreira”, referiu a associada sénior.
Sara Soares contou à Advocatus uma ambição para o futuro: “assegurar que outras funções que, com o passar do tempo e a evolução na carreira, naturalmente se vão somando àquela de ser apenas advogada, coexistem com, e não suplantam, esta”.
Tereza Garcia André é associada da Miranda & Associados e conta com mais de cinco anos de experiência, tendo sido responsável pelo escritório da firma em Timor-Leste entre 2016 e 2017, o seu maior desafio profissional.
“Tinha 27 anos quando abracei este desafio. Foi uma experiência imensamente enriquecedora a nível profissional e pessoal. Para além de ter sido possível conhecer um país cheio de potencial, inserido num contexto geopolítico e cultural diferente, o trabalho é interessante e desafiante, havendo vários aspetos, para além dos técnicos, que devem ser ponderados na sua execução”, contou.
A advogada garante que a sua experiência na sociedade tem sido “enriquecedora” e “progressiva”, após oito anos e meio. “Por ser uma sociedade estruturada e multidisciplinar, dá espaço aos seus associados para desenvolverem os seus interesses e mais-valias, bem como trabalharem nas suas áreas de preferência”, notou.
"Há que arranjar mecanismos pessoais para ultrapassar as ansiedades e, a nível profissional, ver as oportunidades que podem surgir.”
Tereza Garcia André referiu ainda que o facto de o escritório estar presente em 19 jurisdições, com clientes espalhados por todo o mundo, “permite o contacto com realidades e formas de trabalhar diversas”.
Apreensiva com o futuro devido à Covid-19, a associada garantiu contudo esta não é a primeira, e não será a última, crise que vamos atravessar. “Há que arranjar mecanismos pessoais para ultrapassar as ansiedades e, a nível profissional, ver as oportunidades que podem surgir. A Humanidade tem tido sempre forma de se reinventar e convém acompanhar esta atividade de inovação ou de ponderação de opções feitas até aqui“, acrescentou.
“Ainda se planeia a 10 anos? Bem, diria que a perspetiva é continuar numa organização com uma estrutura consolidada, cuja atividade reflete os valores e princípios que adotou, com consciência social, com forte interesse no desenvolvimento dos seus colaboradores e com uma verdadeira projeção internacional”, perspetivou Tereza Garcia André.
Uma advocacia com desafios urgentes
Com a mediatização dos advogados, os entrevistados mostram-se divididos sobre se é um ponto a favor ou contra a profissão, mas consideram que continua a ser de prestígio.
“É manifesto que a profissão de advogado já teve mais prestígio do que tem atualmente. Será talvez um sinal dos tempos, resultado de uma profissão cada vez mais massificada e de uma sociedade cada vez mais mediatizada. Essa excessiva mediatização, não apenas dos advogados, mas dos processos e de tudo o que diga respeito à Justiça, não será seguramente um aspeto positivo dos nossos tempos”, considerou Miguel Santos Almeida, da Sérvulo.
"As profissões jurídicas, por falta de incentivo ou interesse, nunca souberam comunicar ao grande público.”
Já Sara Soares, da Abreu Advogados, reflete que a profissão já contou com significativamente menos profissionais em momentos mais delicados e de crise. “A mediatização dos advogados pode também ser perspetivada como uma possibilidade de tornar esta profissão que se alicerça em procedimentos e linguagem tão técnicos, mais próxima de todos aqueles que acedem aos meios de comunicação social”, acrescentou.
Com pontos a favor e contra, Carla Machado exemplificou certos aspetos. “Em termos positivos, julgo que a mediatização contribui, não raras vezes, para promover a transparência de processos e de procedimentos e permite à comunidade em geral ter conhecimento daquilo que caracteriza o exercício da profissão de advogado. Todavia, como em todas as áreas, a mediatização quando levada a um ponto sem crivos e sem freios, pode impactar negativamente na classe, muitas vezes sem qualquer fundamento válido“, explicou.
Numa era cada vez mais dinâmica e globalizada, vários são os desafios que atingem o setor da advocacia. À Advocatus, os advogados indicaram alguns como a proteção do segredo profissional, a reinvenção da advocacia, as novas tecnologias, os comportamentos internos da classe, assegurar a mesma qualidade e rigor, apatia e o choque geracional e a vontade de regenerar as firmas internamente.
“Talvez o maior desafio seja o de conseguir assegurar a mesma qualidade e rigor nos serviços que prestamos, tendo em conta os tempos de resposta e timings exigidos pelos clientes e pelo mercado nos dias de hoje”, indicou a advogada Alexandra Martins.
"É manifesto que a profissão de advogado já teve mais prestígio do que tem atualmente.”
Pedro Fontes reflete que a apatia é o maior desafio que a advocacia enfrenta atualmente. “As profissões jurídicas, por falta de incentivo ou interesse, nunca souberam comunicar ao grande público. O universo do direito obedece a uma lógica de nicho, com códigos e rituais privativos, que desencorajam a intervenção cívica e a participação da sociedade civil. O resultado é uma população desatenta, que raramente repara na realização da Justiça, mas frequentemente se depara com o seu deturpamento. Uma população que crê – porque as aparências lhe dão motivo para crer – que a Justiça ainda serve interesses particulares e ideologias políticas”, explicou.
Numa era demarcada pela inteligência artificial e por um desenvolvimento acentuado das novas tecnologias e das estratégias de marketing, Tereza Garcia André considera que é necessário os advogados adaptarem-se.
“Com a existência de concorrência feroz, qualquer negócio, e quer se goste quer não, temos um negócio em mãos, tem de se adaptar e ter novas formas de atuar, o que pode implicar repensar aspetos do modelo de negócio. Este pode ser um novo fator de diferenciação dos serviços prestados. Não só pela adoção ou não da tecnologia, o que só por si pode ser diferenciador, como pelo filtro que ela própria pode criar em termos de uma carreira na advocacia”, referiu a associada da Miranda & Associados.
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