Principais parceiros comerciais ainda vão ter recessão pior que Portugal. Alemanha é exceção
Portugal vai ter a 4.ª maior recessão da Zona Euro em 2020. A outra má notícia é que os três países com recessões piores são dos principais parceiros comerciais, prejudicando as exportações nacionais.
As exportações foram o motor da recuperação económica durante e após a troika, mas tal não deverá repetir-se na recuperação da crise pandémica. Em 2020, as exportações deverão cair 20%, principalmente por causa da quebra do turismo. Apesar de a Comissão Europeia apontar para uma recuperação de 9,7% em 2021, o desempenho das exportações portuguesas deverá continuar a ser condicionado pela evolução económica dos seus principais clientes.
Esta hipótese já tem sido antecipada pelo próprio Governo quando admite vir a reforçar os apoios às empresas nos próximos meses. “Se tivermos alguns dos nossos principais mercados de exportação — como a Alemanha, França ou Espanha — em situações de mais restrições de atividade, isso não vai ter um impacto positivo [na economia portuguesa]. Por isso é que temos de ser mais ambiciosos nos apoios que vamos dar ao emprego e às empresas“, disse o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, a 30 de outubro.
O principal parceiro comercial de Portugal, a Espanha, vai ser o país da União Europeia com a recessão mais profunda, segundo as previsões de outono da Comissão Europeia divulgadas esta quinta-feira. Com a economia espanhola a perder 12,4% do seu tamanho num só ano, a procura por bens e serviços portugueses vai ressentir-se, o que já deverá estar refletido na previsão de que o PIB nacional vá cair 9,3% em 2020.
Como as importações de uns são as exportações de outros, é de notar que as importações espanholas vão afundar 18,9% em 2020, subindo 9,4% em 2021. A queda das compras ao exterior deve-se principalmente à redução do investimento, a componente do PIB que têm um conteúdo importado maior.
O alerta de que os países europeus não vão poder contar com as exportações para a recuperação económica veio do próprio comissário europeu para a economia, Paolo Gentiloni, na apresentação das previsões. “Nos próximos dois anos haverá um impacto nulo das exportações líquidas [no PIB]”, antecipou, com base nos números dos técnicos de Bruxelas. O resultado é que o grau de abertura da União Europeia como um todo, em termos comerciais, vá ficar bem abaixo dos níveis pré-crise.
No relatório, a Comissão Europeia escreve que a recuperação das exportações será “gradual e incompleta” nos próximos dois anos: “Como se espera que as importações reflitam maioritariamente a evolução das exportações, a contribuição das exportações líquidas [exportações menos as importações] para o crescimento na União Europeia e na Zona Euro é expectável que seja relativamente modesta nos próximos dois anos, depois de ser negativa este ano”, lê-se no relatório.
Com a pandemia a afetar várias cadeias de valor e as trocas comerciais a nível mundial, assim como o facto de a pandemia atingir praticamente todas as economias avançadas, nem a procura externa à UE deverá ajudar a exportar mais nos próximos anos: a procura externa por bens e serviços da Zona Euro deverá recuperar “apenas parcialmente”, crescendo 5,75% em 2021 e 4,25% em 2022. “A recuperação não estará completa nos próximos dois anos, atrasada pelas réplicas duradouras e globais da crise [pandémica]”, escreve a Comissão Europeia.
No caso de Portugal junta-se o efeito do setor do turismo cuja recuperação será lenta mesmo que a pandemia seja resolvida rapidamente — através de uma vacina ou de um tratamento eficaz — e a “normalidade” da circulação seja reposta em 2021. “A queda nas exportações afetou alguns países mais do que outros, o que é principalmente o reflexo da especialização setorial de cada país, em particular a exposição a serviços como o turismo”, notam os técnicos de Bruxelas, referindo que houve um “colapso de proporções históricas” nas atividades turísticas.
Se Espanha é, de longe, o maior parceiro comercial de Portugal, as más notícias não se esgotam na economia espanhola. Os outros países europeus que estão no top 10 de clientes de bens e serviços portugueses também estão entre os mais afetados. A começar pelo Reino Unido cuja economia e relação comercial, além de afetada pela pandemia, poderá ter um choque a 1 de janeiro de 2021 se o período de transição do Brexit acabar sem um acordo comercial, entrando em vigor das regras gerais da Organização Mundial do Comércio (OMC). A economia britânica vai afundar 10,3% em 2020 e as importações vão encolher 14% e, ao contrário dos outros países, não vão recuperar, mantendo a queda (-1,5%) em 2021.
Seguem-se Itália e França. A economia italiana vai cair 9,9% e as importações vão diminuir em 14,1%, recuperando com uma subida de 9,9% em 2021. Já a economia francesa irá sofrer uma queda de 9,4% e as importações vão descer 11,6%, seguindo-se uma subida de 6,3% em 2021. Em média, na Zona Euro, o PIB afunda 7,8% em 2020, acompanhado de uma redução das importações de 10,1%. A expectativa da Comissão Europeia é que as economias não recuperem dos níveis pré-crise antes de 2022, ainda que haja diferenças significativas entre países.
A exceção a este cenário negro para as exportações portuguesas é a Alemanha. A economia alemã deverá contrair 5,6% em 2020, recuperação com um crescimento de 3,5% em 2021, enquanto as importações encolhem apenas 6,8% em 2020, subindo 5,5% em 2021.
Os números da maior economia europeia poderão dar algum ânimo aos exportadores nacionais, mas a Comissão Europeia avisa que a recuperação será principalmente feita através dos bens e não dos serviços. “Estes últimos serão afetados pela lenta normalização nos serviços de alojamento e transportes, dado que tanto as restrições às viagens como a perda de rendimento nos países de origem vão deixar marcas”, antecipa.
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