“Vacina parece encorajadora”, mas “recuperação da economia será instável”, alerta Lagarde
No Fórum BCE, a presidente garantiu que a instituição prepara novo reforço de estímulos à economia centrados na compra de dívida e nas operações de financiamento de longo prazo a baixos custos.
Os avanços nos desenvolvimentos de uma vacina contra a Covid-19 são positivos para travar a crise pandémica e, consequentemente, a económica. No entanto, não dá garantias de que a recuperação da economia será rápida ou linear, como alerta a presidente do Banco Central Europeu (BCE). Na abertura do Fórum BCE (este ano completamente online), Christine Lagarde repetiu que a instituição financeira irá reforçar os estímulos para apoiar a retoma.
“Infelizmente, a recuperação da economia da emergência pandémica poderá ser turbulenta. Estamos a ver um forte ressurgimento do vírus e isto introduziu uma nova dinâmica”, começou por dizer Lagarde. Explicou que o BCE vai receber, até à próxima reunião do Conselho de Governadores a 10 de dezembro, dados sobre o impacto das novas medidas que estão a ser implementadas na Europa para responder à segunda vaga e, só nessa altura, irá ajustar os instrumentos de política monetária.
“Apesar de as últimas notícias sobre a vacina parecerem encorajadoras, podemos ainda enfrentar recorrentes ciclos de aceleração da transmissão do vírus e reforço das restrições até que seja alcançada a imunidade generalizada. Por isso, a recuperação poderá não ser linear, mas sim instável, num pára-arranca dependente do desenvolvimento da vacina”, avisa. “É claro que os riscos negativos para a economia aumentaram. É agora provável que o impacto da pandemia continue a pesar na atividade económica em 2021”.
As atuais projeções do staff do BCE apontam para uma recessão de 8% na Zona Euro este ano, antes de a economia começar a recuperar, com um crescimento de 5% em 2021 e 3,2% no ano seguinte, mas estas poderão já estar desatualizadas.
A recessão causada pelo confinamento para travar a Covid-19 provocou uma recessão “invulgar” já que afetou especialmente setores menos sensíveis ao ciclo económico. Normalmente são a indústria e a construção a serem mais afetados do que os serviços, mas nesta crise aconteceu o contrário.
Em consequência, a retoma é mais lenta, o impacto é mais alargado em termos de mercado de trabalho e o efeito é mais irregular em termos de grupos sociais. “A perda de trabalho para pessoas com rendimentos mais baixos apresenta uma ameaça particular”, sublinha Lagarde. “Esta recessão fora do comum representa riscos excecionalmente elevados. E é por isso que são necessárias respostas de política excecionais”.
O BCE já o está a fazer, com um programa de compras de emergência pandémica (PEPP) no valor de 1,35 biliões de euros, que se veio juntar ao programa que já decorria com a compra de 20 mil milhões de euros em dívida por mês e que foi reforçado com um envelope adicional de 120 mil milhões a ser usado até ao final do ano. Em simultâneo, o BCE lançou também novas linhas de financiamento de longo prazo a baixos custos para os bancos, as Targeted Longer-Term Refinancing Operations (TLTRO).
Estes dois continuarão a ser os principais instrumentos do BCE. “Embora todas as opções estejam em cima da mesa, o PEPP e as TLTRO mostraram ser eficazes no atual ambiente e podem ser ajustados de forma dinâmica para reagir à evolução da pandemia. É provável que continuem a ser as principais ferramentas no ajustamento da nossa política monetária”, afirmou Lagarde.
A francesa seguiu, assim, as pisadas do antecessor Mario Draghi, ao usar ao Fórum BCE para falar aos mercados, tendo acalmar as preocupações e dar certezas de que o banco central não irá tirar o tapete à economia. O encontro anual decorre até quinta-feira de forma complemente remota após cinco anos consecutivos a realizar-se em Portugal. Lagarde terminou o discurso de abertura dizendo que “esperemos que no próximo ano seja em Sintra”.
(Notícia atualizada às 14h05)
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