O líder da Abreu Advogados defende que em 2021 a atividade de M&A continuará relevante e que as empresas que possibilitem a eficiência e a redução da intensidade energética sairão vencedoras.
O ano de 2020 está a chegar ao fim e para Duarte de Athayde, managing partner da Abreu Advogados, este ano foi “extremamente desafiante”. Destacando o papel da tecnologia na sociedade e na economia, o advogado considera que temos assistido a “uma acelerada diversificação de modelos de negócio e de consumo”.
Sobre os efeitos da pandemia, Duarte de Athayde acredita que teve um forte impacto na digitalização dos processos e que as empresas que em 2021 possibilitem a eficiência e a redução da intensidade energética sairão vencedoras. À Advocatus, o managing partner antecipou que no próximo ano a atividade de M&A continuará relevante.
Que setores, tendo em conta o contexto atual, podem ter mais movimento em 2021?
O ano de 2020 foi extremamente desafiante para todos os setores de atividade. Contudo, a crise pandémica ajudou a evidenciar o papel crucial da tecnologia na sociedade e na economia, tanto na gestão da resposta à pandemia, como no apoio às empresas que se mantiveram produtivas em períodos de confinamento.
"As empresas que em 2021 possibilitem a eficiência e a redução da intensidade energética sairão naturalmente vencedoras.”
Nesse sentido, temos vindo a assistir a uma acelerada diversificação de modelos de negócio e de consumo. O Comércio Eletrónico cresceu significativamente e vai ter um peso ainda maior nos próximos anos. A Educação sofreu um impacto evidente e sofreu uma significativa aceleração dos modelos digitais. A Saúde deu passos decisivos para uma progressiva digitalização e o teletrabalho introduziu indiscutivelmente novas formas de organização das empresas, introduzindo novos formatos de trabalho e novas formas de fazer negócio, com vantagens económicas inerentes.
A pandemia teve um impacto significativo na digitalização dos processos, mas também evidenciou a necessidade de aceleração da transição para uma economia mais sustentável e de baixo carbono. As empresas que em 2021 possibilitem a eficiência e a redução da intensidade energética sairão naturalmente vencedoras.
Contudo, existem alguns setores e áreas de atividade em que o crescimento será expectável e que certamente vão desempenhar um papel de relevância na retoma da economia, nomeadamente a Economia Digital, o Retalho, a Tecnologia, a Saúde, as Fintech, as Infraestruturas, os Transportes, a Energia e o Ambiente.
Nestes períodos de crise, é tentador ser pessimista. No entanto, essa tendência ao pessimismo e ao recuo também acarreta sempre os seus riscos, é importante recordarmos que durante os períodos de crise existe sempre uma pequena parte das empresas em todos os setores de atividade que normalmente aumentam as suas receitas e margens. Esta situação não acontece por mera sorte, é sobretudo fruto da capacidade das empresas serem resilientes, capazes de ver para além da crise e explorar as suas idiossincrasias para impulsionar um crescimento diferenciado em novas áreas.
Apesar da análise macroeconómica ser importante, os gestores não devem menosprezar a importância de analisar, interpretar e explorar novas oportunidades dos seus próprios setores e mercados para que sejam capazes de investir e rejuvenescer.
Que tipo de operações podem vir a acontecer?
As grandes mudanças provocadas pela pandemia forçaram as empresas a adaptar-se e colocaram grandes desafios no cumprimento de alguns dos objetivos. Como tal, as operações de fusão e aquisição ou de consolidação poderão vir a ser uma resposta.
Em 2021, podemos antecipar que a atividade de M&A continuará relevante, ainda que aquém dos tempos pré-pandemia. A nível estratégico, as fusões e aquisições podem ao mesmo tempo permitir um rápido reposicionamento, com vista ao crescimento, ou permitir desacelerar investimento em empresas que pretendam focar-se no seu core business.
"É vital que o país invista no talento, na educação, reforce o apoio à tecnologia, à inovação e ao desenvolvimento de um enquadramento tributário favorável ao investimento.”
Ainda de um ponto de vista estratégico, as operações de consolidação serão essenciais para empresas robustas, como forma de enfrentar a crise, mas serão sobretudo importantes para empresas dos setores mais impactados pela crise, como o Turismo, o Imobiliário, a Hotelaria e a Restauração. A pressão de liquidez sobre as empresas e acionistas é expectável, o que precipitará diversas entidades a procurar capital em novos investidores, nomeadamente em private equities que estão mais bem preparadas para a recessão.
Independentemente das operações, os próprios processos terão que se readaptar aos novos tempos reforçando as due diligences e as avaliações. No universo do M&A, a utilização de ferramentas digitais será privilegiada, não só no acompanhamento dos processos de negociação, mas também em todas as etapas que permitem concretizar o encerramento da operação. Neste contexto, os assessores jurídicos das empresas e dos negócios serão ainda mais fundamentais para garantir o sucesso das operações.
Portugal continua a ser apetecível para os investidores?
Apesar do contexto da atual crise pandémica, Portugal continua a ser um país muito atrativo ao investimento estrangeiro. A sua localização, a rede de infraestruturas de transporte e de telecomunicações, a mão-de-obra qualificada, o ambiente inovador e os recursos naturais na área das renováveis continuarão a ser importantes catalisadores e fatores de captação de investimento.
A captação desse interesse nos investidores poderá inclusive ser um elemento-chave da retoma económica e do crescimento futuro de Portugal.
"A pressão de liquidez sobre as empresas e acionistas é expectável, o que precipitará diversas entidades a procurar capital em novos investidores.”
No entanto, é vital que o país invista no talento, na educação, reforce o apoio à tecnologia, à inovação e ao desenvolvimento de um enquadramento tributário favorável ao investimento.
Esse contexto aliado à perceção que os investidores tinham da atratividade de Portugal no período pré-pandemia, é a receita para continuar a receber investimento e oferecer a resiliência necessária para lidarmos com a incerteza.
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Duarte de Athayde: “Operações de fusões e aquisições poderão vir a ser resposta” para a crise
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