Faria de Oliveira: CGD em Espanha era “lógico”. Problema foi a crise

  • Rita Atalaia
  • 24 Janeiro 2017

O antigo presidente da CGD diz que o projeto da Caixa em Espanha era "consistente, racional e lógico". Faria de Oliveira justifica os problemas na banca com a crise imobiliária espanhola.

Fernando Faria de Oliveira volta a defender o projeto da Caixa Geral de Depósitos (CGD) em Espanha. Foi um plano “consistente, racional e lógico”, explica o agora presidente da Associação Portuguesa de Bancos, que esteve à frente do Banco Caixa Geral (BCG), em Espanha, e liderou depois a Caixa entre 2008 e 2013.

Na comissão de inquérito à gestão da CGD, Faria de Oliveira, que esteve à frente o BCG antes de ser presidente da Caixa, explica que o plano em Espanha tinha “toda a consistência, racionalidade e lógica”. A entrada no país vizinho aconteceu numa fase de internacionalização da CGD para Espanha, Brasil e Angola. Mas Faria de Oliveira explica que o mercado espanhol era diferentes dos outros projetos da CGD, por ser o mais importante para Portugal. Por isso “era estratégico ter uma presença da banca portuguesa em Espanha”.

"O projeto correu o melhor possível entre 2005 e 2007 [quando esteve à frente do Banco Caixa Geral em Espanha]. Atingiu-se o breakeven no fim do primeiro ano e o banco teve resultados positivos até ao final de 2010”

Fernando Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos

Faria de Oliveira já tinha dito que considerava haver “racionalidade” na operação da CGD em Espanha. O agora presidente da Associação Portuguesa de Bancos disse que havia um “sentido estratégico” na expansão do grupo para o país vizinho. O engenheiro refere que o “projeto correu o melhor possível entre 2005 e 2007 [quando esteve à frente do BCG]. Atingiu-se o breakeven no fim do primeiro ano e o banco teve resultados positivos até ao final de 2010″.

Então o que é que aconteceu? “Aconteceu a bolha imobiliária em Espanha, que rebentou e criou-se uma situação deliciada com a queda do PIB em Espanha. Tivemos de refrear todo o projeto de crescimento do banco no sentido de evitar que a situação se agravasse ao longo do tempo.”

Faria de Oliveira

Portanto, Faria de Oliveira defende que a grande culpada destes problemas em Espanha — e em Portugal — foi a crise económica. “O legado da crise económica e financeira que, reforço, foi a razão de ser da maior parte das dificuldades vividas pelo sistema bancário português, deixou mazelas que a banca tem ainda de acabar de resolver”, explica o ex-presidente da Caixa aos deputados.

A questão de Espanha também foi levantada aquando da comissão de inquérito onde esteve presente o antigo presidente da Caixa Carlos Santos Ferreira. O ex-presidente esteve à frente da CGD quando foram tomadas várias decisões polémicas de investimento e financiamento. Decisões que podem levar a Caixa a perder mais de 900 milhões de euros. Um desses investimentos foi feito no capital da La Seda, empresa petroquímica espanhola. O antigo presidente do banco do Estado terá questionado “alguém de responsabilidade” qual a sua finalidade.

Crise é grande responsável pela situação da banca

Faria de Oliveira relembra que o primeiro e principal responsável pela atual situação do setor bancário foi o “violento e prolongado período recessivo por que passámos desde o pedido de ajuda externa, com o PIB a cair mais de 7% só entre 2010 e 2013″. E acrescenta: “Todos sabemos que a banca reflete sempre o estado da economia”.

Uma crise que provocou um aumento acentuado da taxa de crédito malparado das empresas aos bancos, nota, que é hoje oito vezes superior à existente em 2008. E o mandato de Faria de Oliveira foi marcado por esta mesma crise. “De facto, 2008 será recordado como aquele ano em que se desenvolveu um dos mais graves períodos da crise financeira e económica à escala mundial”.

E “todo o contexto em que se exercia a atividade bancária sofreu mudanças profundas a partir desse ano, acabando por dar lugar a todo um novo paradigma em termos regulatórios, de supervisão, tecnológicos, comportamentais e de modelo de negócio”.

(Notícia atualizada às 17h00 com mais declarações de Faria de Oliveira)

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