Uber Eats suspende serviço em três cidades e culpa Governo
A Uber Eats vai suspender o serviço em Águeda, Vila Real de Santo António e Guia, apurou o ECO. A plataforma diz que a decisão é uma consequência do limite às comissões imposto pelo Governo.
A Uber Eats vai “suspender temporariamente” o serviço de entrega de refeições ao domicílio em três cidades portuguesas, sabe o ECO. A plataforma já está a comunicar a decisão aos estabelecimentos parceiros em Águeda, Vila Real de Santo António e Guia, com efeito a partir desta quinta-feira, 18 de fevereiro.
“Vamos deixar de operar a partir de quinta-feira, dia 18 de fevereiro, à hora de fecho. Sabendo o impacto que esta decisão terá no seu negócio, esperamos brevemente conseguir reverter esta situação”, escreveu a empresa num email enviado aos parceiros, ao qual o ECO teve acesso. A mensagem refere que a decisão é consequência de uma medida do Governo de António Costa.
A 12 de janeiro, o decreto de estado de emergência do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, previa que o Governo pudesse definir limites nas comissões e taxas de entrega das plataformas de delivery, como a Uber Eats. O primeiro-ministro, António Costa, decidiu, assim, impor um limite de 20% nas comissões que as plataformas podem cobrar aos restaurantes, travando ainda eventuais aumentos das taxas de entrega enquanto durar o estado de emergência.
Na mensagem enviada aos parceiros, a Uber Eats é clara na responsabilização do Executivo pela decisão de deixar de operar naquelas três localidades: “No passado dia 15 de janeiro, o Governo decretou limitações ao nosso modelo de negócio, que têm vindo a ser estendidas e que têm impactos diretos na nossa operação e sustentabilidade”, começa por referir a empresa.
“Esta decisão limita a nossa capacidade de cobrir os nossos custos operacionais, nomeadamente os custos de entrega, pelo que tivemos que rever temporariamente as áreas onde estamos a operar. Infelizmente, isto significa que iremos suspender temporariamente o nosso serviço”, remata a Uber Eats, referindo-se às cidades de Águeda (Aveiro), Vila Real de Santo António (Algarve) e Guia (Albufeira). “Esperamos poder voltar a apoiá-lo em breve”, conclui a nota.
Contactada pelo ECO, a Uber Eats confirmou a informação: “As restrições impostas no último mês às plataformas de entrega ao domicílio obrigaram-nos a reduzir a cobertura do nosso serviço. A partir do dia 18 de fevereiro o Uber Eats vai deixar de operar em Águeda, na Guia e em Vila Real de Santo António”, disse fonte oficial da empresa.
Plataformas de entregas pressionam Governo
As aplicações de entregas são como catálogos digitais onde os restaurantes e outros estabelecimentos podem promover os seus produtos e serviços. No caso da plataforma da Uber, a empresa cobrava uma comissão aos parceiros que podia ir até aos 30% do valor da encomenda, que abrangia a visibilidade na app, a gestão do cliente e outros serviços associados, como o acesso à rede de estafetas para os estabelecimentos que não disponham de uma.
A empresa aplica ainda uma taxa por cima do valor da encomenda, que é cobrada ao cliente e constitui o preço da entrega da refeição ou outros produtos no destino solicitado pelo cliente. O valor reverte para o estafeta ao serviço da aplicação, que são, geralmente, trabalhadores independentes da chamada “economia da partilha”.
Numa medida altamente contestada pelas plataformas, o Governo decidiu limitar a subida das taxas de entrega e impedir a cobrança de comissões aos restaurantes acima de 20%. A decisão foi justificada pelo Executivo com o facto de o setor da restauração poder funcionar apenas em regime de entregas ao domicílio ou take-away, por causa da pandemia da Covid-19, o que tornou estas apps num dos principais canais geradores de negócio para o setor.
Assim, na mesma resposta ao ECO, a Uber Eats vai mais longe: “À medida que estas restrições se prolongam, é inevitável que o serviço que as plataformas de entrega ao domicílio prestam seja cada vez mais afetado. Acreditamos por isso que estas restrições acabam por prejudicar quem mais precisamos de apoiar — restaurantes, utilizadores e parceiros de entrega”, reforça a empresa.
A Uber tem sido uma das plataformas mais vocais na oposição à medida do primeiro-ministro, o que culminou agora na decisão de encerramento temporário de três mercados em Portugal continental. A concorrente Glovo também está a tentar reverter a limitação imposta pelo Governo no estado de emergência, tendo proposto ao Ministério da Economia uma alternativa: taxas de entrega reduzidas e parcialmente subsidiadas pelas próprias empresas, noticiou o Jornal de Negócios na semana passada.
No final de 2020, a Uber Eats estava disponível em 68 localidades portuguesas e cobria 60% da população, segundo números da própria plataforma. Esta é a primeira vez que a empresa decide deixar um determinado mercado em Portugal, ainda que a medida tenha caráter temporário. A empresa planeia chegar a 75% da população até ao final deste ano.
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