Confinamento de 2021 provocou quebra “menos severa” da atividade com empresas a mostrarem-se “mais resilientes”, diz BdP

Os dados já disponíveis indicam que o segundo confinamento terá tido um efeito mais reduzido na economia portuguesa, provocando uma quebra "menos severa da atividade", diz BdP.

O confinamento que marcou o arranque do ano de 2021 terá provocado uma quebra “menos severa” da atividade do que a vivido por Portugal na primavera de 2020, sublinha o Banco de Portugal (BdP). No Boletim Económico apresentado esta sexta-feira, adianta-se que a “capacidade de adaptação e aprendizagem dos agentes económicos“, bem como “o enquadramento internacional mais favorável” ajudam a explicar o efeito menor do segundo confinamento na economia portuguesa.

Depois do alívio das restrições por ocasião da quadra natalícia, a pandemia agravou-se, tendo o Governo optado por voltar a fechar o país. Portugal ficou, assim, dois meses em confinamento.

Ainda assim, e de acordo com o Banco de Portugal, entre 15 de janeiro e 14 de março de 2021 (primeiro e último dias do segundo confinamento, respetivamente), o indicador diário para a atividade económica em Portugal (DEI) registou uma quebra correspondente a cerca de 40% da redução registada no primeiro estado de emergência.

Como se explica o menor efeito? A capacidade de adaptação e aprendizagem dos agentes económico, bem como o enquadramento internacional mais favorável (o dinamismo das economias asiáticas e americana e a menor sincronização das situação pandémica entre os países europeus) justificam essa diferenciação, diz o BdP. Além disso, registou-se uma evolução positiva da procura externa dirigida à economia portuguesa, o que resultou num impacto também mais diminuto do segundo confinamento nas exportações de bens.

O banco central salienta, contudo, que o impacto do confinamento não foi uniforme no conjunto das atividades económicas. No consumo privado e no turismo, o impacto foi mais significativo, já que as restrições impostas para conter a propagação do vírus pandémico afetaram principalmente estas áreas. Ainda assim, a quebra dos valores movimentados com cartões nacionais em caixas automáticos e terminais de pagamento, por exemplo, foi menor do que no primeiro confinamento (20% contra 38%).

Na mesma linha, embora no conjunto da economia, na primeira quinzena de fevereiro, apenas 2% das empresas tivessem suspendido temporariamente a sua atividade, contra 8% em abril de 2020, se olharmos especificamente para o alojamento e restauração encontramos 30% das empresas suspensas, nesse período. No primeiro confinamento, 55% das empresas desses setores tinham suspendido temporariamente a sua atividade, o que significa que também entre os setores mais castigados pela crise sanitária o primeiro confinamento provocou efeitos mais severos.

O Banco de Portugal destaca, além disso, que os dados apontam para uma “quebra de 18% no volume de negócios na primeira quinzena de fevereiro, face à situação sem pandemia, cerca de metade da variação reportada em abril”, salientando que “esta redução foi superior nos setores dos serviços que envolvem contatos pessoais”. Por exemplo, o alojamento e restauração registaram uma quebra de 68% nas vendas, valor “quase idêntico ao observado durante o primeiro confinamento”.

“Na comparação com o anterior confinamento, os transportes e armazenagem e a indústria e energia destacam-se por terem quedas muito menores no volume de negócios”, salienta-se no Boletim Económico. Em causa estão quebras, respetivamente, de 29% (face a 62% em abril de 2020) e 12% (face a 34% em abril de 2020).

No que diz respeito ao mercado de trabalho, na primeira quinzena de fevereiro, as empresas registaram uma quebra de 10% do pessoal efetivamente a trabalhar, face ao nível pré-pandemia, “cerca de um terço do impacto do primeiro confinamento”. O BdP explica: “Esta menor redução está alinhada com a quebra inferior no volume de negócios e consequentemente com um recurso em menor escala às medidas de apoio, como o lay-off simplificado e o apoio à retoma progressiva”, medidas que permitem reduzir os tempos de trabalho.

Tudo somado, as empresas mostraram-se “mais resilientes”, neste segundo confinamento, enfatiza o BdP, com 89% delas a reportarem, no início de fevereiro, conseguir permanecer em atividade por um período superior a seis meses, “nas circunstâncias atuais e ausência de novas medidas de apoio”. Ainda assim, no alojamento e restauração, apenas 45% das empresas referiram conseguir permanecer em atividade por mais de seis meses.

O banco central sublinha também que a economia portuguesa tem “reagido de forma muito rápida”, isto é, tem registado quebras significativas face ao agravamento da pandemia e ao endurecimento das restrições e mostrado “capacidade de adaptação ao longo dos períodos de confinamento e em especial quando se inicia a reabertura gradual das atividades económicas”.

O BdP remata com um aviso: “Depois de várias semanas do confinamento atual, o DEI voltou a apresentar uma trajetória descendente na primeira quinzena de março. Esta evolução sinaliza riscos sobre a capacidade de recuperação da economia face à extensão temporal das medidas restritivas”.

No Boletim Económico divulgado, esta sexta-feira, o Banco de Portugal mantém a sua previsão relativamente à evolução do Produto Interno Bruto em 2021, que vê a crescer 3,9%. Já em 2022, projeta que a economia portuguesa engordará 5,2%, mais 0,7 pontos percentuais do que anteriormente estimado. O BdP também reviu as projeções para a taxa de desemprego, prevendo uma subida desse indicador menos acentuada em 2021 do que a anteriormente estimada.

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