Dono da Prebuild: “Não fui eu que peguei num problema de larápios, mudei o rei e mandei o problema para os contribuintes”

"Não fui eu que peguei num problema de larápios, mudei o rei e mandei o problema para os contribuintes". Gama Leão assume dívida de 300 milhões, mas rejeitou culpa na queda da Prebuild.

O presidente do Conselho de Administração da Prebuild, João Gama Leão, durante a sua audição perante a Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, na Assembleia da República, em Lisboa, 06 de maio de 2021. ANTÓNIO COTRIM/LUSAANTÓNIO COTRIM/LUSA

João Gama Leão deixou uma dívida de mais de 300 milhões de euros ao Novo Banco através da Prebuild, um dos grandes devedores do banco. O empresário assumiu a responsabilidade pelos créditos em incumprimento, fez um mea culpa por “ter andado demasiado depressa” com o crescimento do grupo. Mas descartou culpas na sua queda. “O facto de o grupo estar na saúde dos portugueses não é culpa minha. Não fui eu que peguei num assalto do BES e transformei num problema público“, atirou Gama Leão na comissão de inquérito ao Novo Banco.

“Vou ser direto: a dívida ao Novo Banco é da minha responsabilidade. A queda do meu grupo aí é que já desconfio da minha responsabilidade”, completou o empresário que disse ter pouco jeito para o papel de vítima, embora tenha considerado ser uma “vítima do BES e do Novo Banco”.

Gama Leão deixou várias críticas à resolução do BES, em 2014, quando começaram os problemas do grupo que levaram à falência e à dívida de 300 milhões em incumprimento ao Novo Banco. “Não fui eu que peguei num problema de larápios, mudei o rei e mandei o problema para os contribuintes”, disse.

"O facto de o grupo estar na saúde dos portugueses não é culpa minha. Não fui eu que peguei num assalto do BES e transformei num problema público.”

João Gama Leão

Prebuild

“Se calhar andei rápido de mais. Essa culpa é minha”

Hoje a viver em Madrid e a trabalhar com um investidor americano, o Gama Leão explicou não tinha “nenhuma dívida pendurada” aquando da criação do Novo Banco. Contou que tentou por várias vezes falar com o banco para “estudar soluções” para o grupo, mas com pouco sucesso.

“O grupo estava com falta de ar e o que o Novo Banco me diz então é: vai para casa porque não precisas de medicação. As empresas atrevidas como eram as do meu grupo não têm grande capacidade para brincadeira, e quando corre mal, corre mal. Fiquei sem liquidez e isso foi ficar sem ar”, prosseguiu.

Questionado se andou depressa demais com o crescimento do grupo, Gama Leão fez um mea culpa. “Será que andei depressa demais? Há seis anos que me pergunto isso. Quem não nasceu com apelidos fortes para ter a vida facilitada tem de andar com a vida. Se calhar andei rápido de mais. Essa culpa é minha, não a comparto com ninguém. Essa estratégia do grupo era absolutamente minha”.

Depois veio o Processo Especial de Revitalização da Prebuild em 2015, mas que foi aprovado pelo Novo Banco com a condição de Gama Leão “devolver as Cerâmicas” ao banco. O empresário contou uma reunião em que o administrador Vítor Fernandes se mostrou “agressivo” e foi “mal-educado”. “Aprovamos o PER se nos derem as Cerâmicas”, terá dito Vítor Fernandes a João Gama Leão, que acabou por ceder naquilo que considerou ser “uma novela triste”.

Novo Banco “liquidou-me”

Logo a seguir, nova fatalidade. Pouco tempo depois, o Novo Banco pediu a insolvência pessoal do empresário, o que considerou ter sido um “ato de má-fé” da parte do banco.

“Quem aprova um PER está a pensar na recuperação de uma empresa. Mas o que acontece a seguir? Pede a minha insolvência pessoal. O meu grupo era um grupo jovem, que dependia de mim. Foi um dos erros da minha gestão ter o grupo muito centrado em mim”, disse.

“A intenção [com a insolvência pessoal] foi liquidar-me. Se foi liquidar porque eu era amigo dos Espírito Santo, não faço ideia. O que é facto é que me liquidaram”.

(Notícia atualizada às 13h07)

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