Dono da Prebuild: “Não fui eu que peguei num problema de larápios, mudei o rei e mandei o problema para os contribuintes”
"Não fui eu que peguei num problema de larápios, mudei o rei e mandei o problema para os contribuintes". Gama Leão assume dívida de 300 milhões, mas rejeitou culpa na queda da Prebuild.
João Gama Leão deixou uma dívida de mais de 300 milhões de euros ao Novo Banco através da Prebuild, um dos grandes devedores do banco. O empresário assumiu a responsabilidade pelos créditos em incumprimento, fez um mea culpa por “ter andado demasiado depressa” com o crescimento do grupo. Mas descartou culpas na sua queda. “O facto de o grupo estar na saúde dos portugueses não é culpa minha. Não fui eu que peguei num assalto do BES e transformei num problema público“, atirou Gama Leão na comissão de inquérito ao Novo Banco.
“Vou ser direto: a dívida ao Novo Banco é da minha responsabilidade. A queda do meu grupo aí é que já desconfio da minha responsabilidade”, completou o empresário que disse ter pouco jeito para o papel de vítima, embora tenha considerado ser uma “vítima do BES e do Novo Banco”.
Gama Leão deixou várias críticas à resolução do BES, em 2014, quando começaram os problemas do grupo que levaram à falência e à dívida de 300 milhões em incumprimento ao Novo Banco. “Não fui eu que peguei num problema de larápios, mudei o rei e mandei o problema para os contribuintes”, disse.
"O facto de o grupo estar na saúde dos portugueses não é culpa minha. Não fui eu que peguei num assalto do BES e transformei num problema público.”
“Se calhar andei rápido de mais. Essa culpa é minha”
Hoje a viver em Madrid e a trabalhar com um investidor americano, o Gama Leão explicou não tinha “nenhuma dívida pendurada” aquando da criação do Novo Banco. Contou que tentou por várias vezes falar com o banco para “estudar soluções” para o grupo, mas com pouco sucesso.
“O grupo estava com falta de ar e o que o Novo Banco me diz então é: vai para casa porque não precisas de medicação. As empresas atrevidas como eram as do meu grupo não têm grande capacidade para brincadeira, e quando corre mal, corre mal. Fiquei sem liquidez e isso foi ficar sem ar”, prosseguiu.
Questionado se andou depressa demais com o crescimento do grupo, Gama Leão fez um mea culpa. “Será que andei depressa demais? Há seis anos que me pergunto isso. Quem não nasceu com apelidos fortes para ter a vida facilitada tem de andar com a vida. Se calhar andei rápido de mais. Essa culpa é minha, não a comparto com ninguém. Essa estratégia do grupo era absolutamente minha”.
Depois veio o Processo Especial de Revitalização da Prebuild em 2015, mas que foi aprovado pelo Novo Banco com a condição de Gama Leão “devolver as Cerâmicas” ao banco. O empresário contou uma reunião em que o administrador Vítor Fernandes se mostrou “agressivo” e foi “mal-educado”. “Aprovamos o PER se nos derem as Cerâmicas”, terá dito Vítor Fernandes a João Gama Leão, que acabou por ceder naquilo que considerou ser “uma novela triste”.
Novo Banco “liquidou-me”
Logo a seguir, nova fatalidade. Pouco tempo depois, o Novo Banco pediu a insolvência pessoal do empresário, o que considerou ter sido um “ato de má-fé” da parte do banco.
“Quem aprova um PER está a pensar na recuperação de uma empresa. Mas o que acontece a seguir? Pede a minha insolvência pessoal. O meu grupo era um grupo jovem, que dependia de mim. Foi um dos erros da minha gestão ter o grupo muito centrado em mim”, disse.
“A intenção [com a insolvência pessoal] foi liquidar-me. Se foi liquidar porque eu era amigo dos Espírito Santo, não faço ideia. O que é facto é que me liquidaram”.
(Notícia atualizada às 13h07)
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