Pegar no carro para ir ao shopping polui entre 3 e 6 vezes mais do que comprar online

  • Capital Verde
  • 17 Maio 2021

"Comprar uma peça de roupa numa loja física produz, em média, 2,9 vezes mais emissões poluentes do que quando a compra é realizada a partir de casa", revela o estudo da consultora Oliver Wyman.

Qual é a diferença entre sair de casa, pegar no carro e conduzir até uma loja física para comprar uma peça de roupa, por exemplo, ou em alternativa ligar o computador e encomendar o mesmo produto online? Na Europa, a emissão de CO2 equivalente por se ir de carro até uma loja é de 4.100 gramas, enquanto se o pedido for realizado online a emissão é de 900 gramas de CO2 equivalente, revela o mais recente estudo “Será o e-commerce bom para a Europa?”, elaborado pela Oliver Wyman, em parceria com o Institute of Supply Chain Management da Universidade de St. Gallen (Suíça) e encomendado pela Amazon.

Olhando mais em pormenor para a Península Ibérica, o e-commerce tem um impacto nesta região do sul da Europa de 871 gramas de CO2 equivalente por compra, enquanto a deslocação de carro até uma loja gera emissões poluentes de 3.600 gramas por compra. “Os números mostram que os países do sul da Europa (Espanha, Itália e França) são os que apresentam um rácio diferencial inferior devido às distâncias percorridas de carro, que são menores por causa da elevada densidade populacional”, explica a Oliver Wyman em comunicado.

O estudo conclui assim que as compras online (que aceleraram durante a pandemia, por força dos vários confinamentos) têm um impacto ambiental menor do que o comércio físico — com emissões entre 3 a 6 vezes inferiores –, além de reduzirem o tráfico nas zonas urbanas e de fazerem um menor uso do terreno.

O relatório da Oliver Wyman estudou a evolução do comércio eletrónico de produtos não alimentares, durante a última década em oito países europeus (Espanha, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Suécia, Holanda e Polónia). A consultora norte-americana analisou os dados do comércio offline a partir de duas perspetivas diferentes: desde realizar uma compra física, sem incidentes associados; até à média de compras realizadas, incluindo ocorrências, como devoluções, por exemplo.

Nestes casos (em que há lugar a devoluções), de entre os oito países analisados, Espanha revela um dos impactos ambientais mais altos: emite 2,1 mais emissões no comércio tradicional do que no online, só ultrapassada pela Alemanha com um rácio de 2,9 mais emissões.

“Os dados dos países estudados no relatório mostram uma grande disparidade nos valores das emissões, que se explicam pelas diferenças no mix energético de cada mercado”, explica a consultora no mesmo comunicado.

Ir a pé comprar roupa polui o dobro do que mandar vir pela net

O estudo da consultora Oliver Wyman também identifica diferenças nas emissões entre os tipos produtos comprados. Isto explica-se pela eficiência dos edifícios, pelo transporte na fase final de entrega e pela embalagem.

“Comprar uma peça de roupa numa loja física produz, em média, 2,9 vezes mais emissões do que quando a compra é realizada a partir de casa e, ainda que se vá a pé até ao estabelecimento, continua a provocar o dobro das emissões do que se a compra tivesse sido feita online. Esta diferença deve-se fundamentalmente ao consumo energético dos próprios edifícios”, explica o estudo.

Por outro lado, garante, a emissão de CO2 equivalente na compra de um livro ou de um produto eletrónico é semelhante na compra online e na loja física a que se vá a pé (700 gramas de CO2e em cada caso).

Quanto à distância, faz muita diferença no comércio online. Os dados da Oliver Wyman indicam que o envio de um produto por via aérea diretamente de um centro de distribuição na Ásia provoca 25 vezes mais emissões do que se este fosse enviado a partir de um grande armazém situado na União Europeia, que recebe os produtos por via marítima antes de os enviar por estrada ao consumidor.

Compras online tiram consumidores das estradas e dos shoppings

De acordo com o mesmo estudo, há uma diferença de mais de 10% entre o tráfego rodoviário gerado pelo comércio online (0,5%) e pelo comércio físico (11%) nas zonas urbanas. Ao todo, o facto de as encomendas feitas pela internet evitarem que o consumidor vá às lojas faz com que haja ente 4 e 9 vezes menos tráfego.

Apesar do comércio online também exigir transporte urbano para as encomendas chegarem aos consumidores, a verdade é que, mesmo assim, os números presentes no relatório da Oliver Wyman continuam a ser mais positivos nesta opção.

Os distribuidores de e-commerce repartem uma média de 100 encomendas por turno e percorrem 80 quilómetros nas entregas. Já um consumidor que compre em lojas física recorre ao automóvel em 56% das vezes, percorre uma média de 8 quilómetros e não adquire muito mais do que três produtos por viagem. São cerca de 1,4 km percorridos por artigo comprado. Isto significa que, comparativamente à primeira opção, tem de fazer muito mais viagens para comprar o mesmo número de produtos, o que se traduz em mais consumo e mais emissões de CO2.

Desta forma, o transporte representa 45% das emissões das compras online, com um impacto de 760 gramas de CO2 equivalente por produto. Por sua vez, o transporte é a causa de 39% das emissões totais das compras offline, ascendendo a 1.100 gramas de CO2 equivalente por cada artigo.

Além disso, o comércio eletrónico ocupa menos de 0,3% do solo urbanizado na Europa, enquanto o comércio tradicional faz um uso total do solo superior se for tido em conta o espaço para a logística, a venda e o estacionamento.

Uma das formas apontadas pelo relatório para reduzir diretamente o impacto das emissões poluentes é transferir os centros logísticos (armazéns e centros de entrega) para mais perto do centro das cidades, de modo a reduzir as distâncias do transporte. No entanto, também é realçado que a pressão imobiliária, as economias de escala e as políticas de uso dos terrenos urbanos são, muitas vezes, fatores que impedem que tal aconteça.

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