65% das pessoas aceitariam redução salarial de 5% para trabalhar à distância
Sacrificavam o salário, os dias de férias, a Netflix, as redes sociais, a Amazon ou mesmo o direito ao voto. Os sinais são claros: os profissionais querem continuar a trabalhar à distância.
O que faria para poder (continuar a) trabalhar remotamente? Aceitaria uma redução salarial? Para 65% das pessoas, a possibilidade de trabalhar à distância seria um motivo mais que válido para sofrer uma quebra de 5% no seu salário. Pelo menos, nos Estados Unidos, onde um número significativo de profissionais admite até mudar de emprego caso não lhes seja dada a opção de modelos de trabalho mais flexíveis.
Nos Estados Unidos os profissionais estão desejosos de ter a opção de trabalhar num modelo 100% remoto. A maioria estaria disposta a sofrer um corte salarial de 5% e há mesmo quem aceitasse uma redução superior: 15% diz que poderia aceitar uma redução salarial de 25% para ser um trabalhador remoto, conclui um novo inquérito da Breeze.
O que estaria disposto a sacrificar?
Mas o ordenado não seria o único sacrificado. Quase metade dos inquiridos (46%) afirmam que abdicariam de um quarto dos seus dias de férias e 15% admite que abdicaria da totalidade dos dias de férias pagos para poder trabalhar a partir de casa, revela o estudo publicado pela Bloomberg (acesso condicionado, conteúdo em inglês).
A Breeze perguntou ainda o que é que os inquiridos estariam dispostos a desistir por esta opção de trabalhar à distância, não necessariamente numa esfera profissional. Mais de metade disse que desistiria da Netflix, das redes sociais ou da Amazon durante um ano; um terço admitiu mesmo que abdicaria do direito de voto em todas as futuras eleições nacionais e locais.
“Os sinais são claros, as pessoas querem a liberdade de trabalhar a partir de onde quiserem, de onde se sentem mais produtivas. E, para a maioria das pessoas, esse lugar não é o escritório”, escreve Gonçalo Hall, cofundador da Remote Europe e criador da Digital Nomad Village, na Ponta do Sol, Madeira, numa publicação no LinkedIn sobre os resultados deste inquérito.
Um estudo recente da Accenture, “The Future Of Work: Productive Anywhere”, dá conta disso mesmo, com 83% das pessoas a afirmam que um “modelo de trabalho híbrido é o ideal, com a possibilidade de trabalhar remotamente de qualquer lugar entre 25% e 75% do tempo”.
Com algumas empresas a optarem já por fazer a chamada de regresso ao escritório, “estamos a começar a assistir a uma mudança massiva de pessoas que abandonam as suas empresas e vão à procura de oportunidades remotas”, continua Gonçalo Hall.
Na edição de Pessoas de julho/agosto, o mentor da vila para nómadas digitais na Madeira já confirmava que esta tendência também se começava a verificar-se em Portugal. “Muitos dos profissionais na ilha já estão a fazer entrevistas com outras empresas após o anúncio do seu empregador que têm de regressar à base no outono.”
As empresas precisam de educar os seus gestores e colaboradores para esta nova forma de trabalhar e, ao mesmo tempo, ajustar e adaptar os seus processos. “Já não é uma escolha, é pura estratégia de sobrevivência”, refere Gonçalo Hall, salientando que, sobretudo, na área tecnológica, já é “impossível” contratar qualquer perfil informático sem a possibilidade de trabalhar remotamente.
Modelo híbrido começa a ganhar expressão
Em Portugal, depois de muitos meses com as equipas em trabalho remoto, findo a obrigatoriedade do teletrabalho em todo o País, as empresas preparam-se para em setembro fazer regressar o pessoal à empresa. Mas muitos dos contactados pela Pessoas admitem que estão a equacionar modelos híbridos, tendência mais vincada nas companhias do setor tecnológico. Na Feedzai esse modelo deverá vigorar no regresso ao escritório e na Talkdesk, tal como adiantou Laura Butler, chief HR officer da unicórnio, é um modelo que está a ser estudado. E os motivos são claros: é fator de atração de talento, num setor onde há falta de profissionais.
“Estamos a desenvolver a nossa estratégia de regresso ao local físico do trabalho, a acompanhar a variante Delta e teremos, muito provavelmente, um modelo híbrido de trabalho. Detetamos uma grande mudança quando fizemos um inquérito junto dos colaboradores há uns meses sobre se queriam estar no escritório ou preferiam um modelo flexível. Verificamos uma mudança de dois dígitos. Inicialmente queriam regressar ao escritório, agora mudou bastante. Para mantermos uma vantagem competitiva junto do talento, ter um modelo de trabalho mais flexível vai funcionar melhor para nós. Mas ainda estamos na fase inicial, ainda não tomamos uma decisão”, disse Laura Butler, à Pessoas.
O hub tecnológico da VW em Portugal, o VW Digital Solutions, está igualmente a olhar para este modelo misto com interesse. Estão à procura de um novo espaço para acolher o crescimento previsto, querem até 2023 duplicar equipa para 450 pessoas, mas trabalhar em casa ou a partir do novo hub deverá ser a regra no futuro.
O inquérito encomendado pela Breeze e conduzido pela empresa de sondagens Pollfish inquiriu mil pessoas, entre 20 a 21 de julho, nos Estados Unidos. Todas elas disseram que estavam “empregadas” ou “à procura de um novo trabalho que possa ser realizado de forma 100% remota”.
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