Regime de trabalho misto pode ser o futuro dos escritórios de advogados

De trabalho presencial, ao teletrabalho e por fim a um modelo misto, o regime laboral dos advogados está a alterar-se e os novos hábitos vieram para ficar no setor.

Com a pandemia, o regime do teletrabalho foi adotado pelas firmas, tendo os advogados passado a usar o espaço pessoal como local de trabalho. Desde março de 2020, que algumas sociedades já adotaram um modelo misto, em regime de rotatividade entre trabalho presencial e remoto.

A partir de agosto deste ano, o Governo colocou um ponto final à obrigatoriedade do teletrabalho passando o mesmo a ser apenas recomendado. Assim, as empresas já podem abrir portas dos escritórios aos seus trabalhadores.

No momento em que foram entrevistas pela Advocatus, antes do fim do teletrabalho obrigatório, as sociedades de advogados encontravam-se em regime de teletrabalho e, em alguns casos, regime misto.

“No atual momento a sociedade encontra-se num regime misto ou híbrido, mas que exige o presencialismo apenas em situações pontuais e necessárias e não como regra. Existe, pois, hoje, ainda uma clara tendência e predominância para o teletrabalho sendo certo que, naturalmente, existem áreas de prática ou departamentos que exigem uma maior presença física no escritório quando comparadas com outras”, explicou Pedro da Quitéria Faria, sócio da Antas da Cunha Ecija.

Pedro da Quitéria Faria, sócio da Antas da Cunha ECIJA

Na firma liderada por Fernando Antas da Cunha, as áreas de suporte, como os departamentos administrativos, financeiros, de comunicação e de marketing também se encontram num regime presencial.

Por outro lado, na Uría Menéndez-Proença de Carvalho está em prática um regime geral de voluntariado no que toca à opção entre regressar ao escritório ou teletrabalho. “A decisão de regressar ou não ao escritório, de continuar ou não em regime de teletrabalho e de combinar uma coisa com outra é essencialmente livre, sem prejuízo dos serviços mínimos presenciais de segurança, limpeza, manutenção e apoio administrativo”, asseguraram Bernardo Ayala e Antonio Villacampa, managing partners.

Em regime de teletrabalho, na Morais Leitão foram constituídas equipas para apoiar os advogados que necessitam de se deslocar ao escritório, com um número reduzido de colaboradores, que trabalham no escritório de forma rotativa.

Também com uma equipa pontualmente no escritório para dar suporte presencial, na Linklaters as deslocações dos advogados e colaboradores acontecem maioritariamente em virtude da solicitação de clientes, nomeadamente para executar tarefas que tenham de ser realizadas de forma presencial.

António Soares, managing partner da Linklaters

“Para que tal seja possível, reorganizámos a nossa operação de modo a mitigar possíveis situações de risco ou contágio, assegurando ocupações individuais de gabinetes, procedendo a múltiplas desinfeções diárias de espaços individuais e comuns, garantindo o distanciamento necessário e mantendo um registo interno de todas as presenças no escritório. Este cenário tem sido avaliado e reajustado regularmente em função das regras específicas de controlo da pandemia que têm vindo a ser determinadas pelo governo, tendo sempre como objetivos prioritários a salvaguarda da saúde das nossas pessoas e não prejudicar a qualidade dos serviços que prestamos aos nossos clientes”, notou António Soares, managing partner.

À Advocatus, João Vieira de Almeida, managing partner da Vieira de Almeida, sublinhou que a adaptação dos hábitos em nada alterou o modelo de trabalho do escritório.

“O teletrabalho desfez aquilo que, para algumas organizações, era um mito, pois provou que o teletrabalho funciona. Mas a proximidade é muito importante quando uma equipa funciona verdadeiramente como tal, com partilha constante de conhecimento tácito e experiência adquirida, pelo que uma solução de equilíbrio poderá ser o melhor caminho no futuro”, acrescentou.

João Vieira de Almeida, managing partner da VdAHugo Amaral/ECO

O futuro é incerto no que diz respeito ao desenvolvimento da pandemia e, consequentemente, às medidas de combate a vigorar. Mas uma coisa é certa, o trabalho remoto deixou de ser uma percentagem ínfima nas sociedades e pode passar a ser um novo modelo de trabalho que os advogados podem adotar.

Na Abreu Advogados, por exemplo, encontra-se em fase final de aprovação uma política de flexibilidade que contempla a implementação de um regime híbrido.

“A pandemia forçou as organizações a repensar o regime de trabalho, a SRS não é exceção. Ainda em análise, provavelmente adotaremos o regime de trabalho misto”, garantiu Mafalda Castelo Branco, diretora de Recursos Humanos da SRS Advogados.

Também na Morais Leitão, um modelo híbrido está a ser equacionado, mas existem desafios que surgem com a adoção deste modelo. Trata-se de uma realidade complexa, que coloca desafios, por exemplo ao nível da formação dos mais novos, e que propicia uma reflexão sobre aspetos associados como a ocupação do espaço”, explicou Joana Almeida, diretora de Recursos Humanos & Formação da Morais Leitão.

Com um modelo híbrido no horizonte da Linklaters, António Soares, managing partner, notou que a pandemia evidenciou que pode haver vantagens em trabalhar de forma mais flexível.

“Por este motivo, e em linha com a política global da Linklaters nesta matéria, no futuro iremos possibilitar que as nossas equipas possam trabalhar alguns dias por semana a partir de casa, com exceção daquelas cujas funções são incompatíveis com formas de trabalho por via remota, como é o caso das funções de rececionista, por exemplo. Estas medidas já foram comunicadas internamente, e o feedback recebido tem sido muito positivo. Claro que tal é apenas possível na medida em que asseguramos que esta flexibilidade não tem qualquer impacto negativo no contacto com os nossos clientes nem na execução e na qualidade do nosso trabalho”, assegurou.

No momento em que a Advocatus contactou a Uría Menéndez-Proença de Carvalho, os managing partners referiram que em setembro, e desde que a lei o permitisse, terminaria o regime excecional de teletrabalho e os advogados voltariam para o escritório. “Voltaremos ao escritório a trabalhar de modo eminentemente presencial, o que consideramos fundamental do ponto de vista da coesão das equipas e da formação contínua dos advogados, especialmente os mais jovens, ainda que sob um novo regime, mais flexível, que admite várias combinações de teletrabalho”, explicaram Bernardo Ayala e Antonio Villacampa.

Antonio Villacampa (à esquerda) e Bernardo Ayala (à direita), sócios da Uría Menéndez-Proença de Carvalho

Já na Antas da Cunha Ecija, desde 2019 que estavam implementadas medidas relativas à alteração do modelo de trabalho, podendo qualquer advogado da firma escolher um dia para trabalhar remotamente. Entre essas medidas adotadas de “alteração do paradigma clássico e dogmático do presencialismo”, o escritório implementou também a sugestão de às sextas-feiras todos laborarem das 9 horas às 15 horas, oferecendo um mini brunch aos colaboradores.

“Eram medidas que tiveram um impacto impressionante na felicidade das pessoas. No atual contexto e no curto prazo, apontamos claramente para a manutenção de um regime de trabalho híbrido ou misto. Aliás, ainda assim, esta mesma questão será alvo de um “survey” interno onde todos terão a oportunidade de opinar sobre este tema e sobre o qual incidiremos especial atenção”, assegurou Pedro da Quitéria Faria.

Pessoas são o foco

Dispositivos de distanciamento, desinfeções dos espaços, disponibilização de máscaras, álcool-gel e viseiras, colocação de acrílicos, disponibilização de aparelhos de medição de temperatura corporal foram algumas das medidas de segurança adotadas nas firmas.

À Advocatus, todas garantem que a implementação destas medidas está a correr como o previsto e sem qualquer sobressalto. “Em casa ou no escritório, o nosso foco é a segurança de todos, e por isso todos encaramos essas medidas com responsabilidade”, sublinhou Joana Almeida, diretora de Recursos Humanos & Formação da Morais Leitão.

Joana Almeida, diretora de recursos humanos e formação da Morais Leitão

Na Linklaters foi criado um grupo de trabalho dedicado especificamente à gestão dos assuntos relacionados com a pandemia. “Investimos tempo e recursos na monitorização regular da situação pandémica e fomos ajustando as medidas em função das variações do risco epidemiológico e das necessidades das nossas equipas. Até agora tem corrido muito bem e esperamos que assim continue”, garantiu António Soares.

Para Jessica Pereira, diretora de Recursos Humanos da Abreu Advogados, as pessoas são o maior ativo e, por isso, são o alvo maior da preocupação e cuidado do escritório. “Temos feito testagens semanais à covid-19 no escritório, que funcionam de forma aleatória para incluir os elementos em regime de serviços mínimos, e através deste método temos conseguido monitorizar e mitigar o risco de um possível contágio”, explicou.

Jéssica Pereira, diretora de Recursos
Humanos da Abreu Advogados
D.R./Abreu Advogados

Na Uría Menéndez-Proença de Carvalho a realização regular de testes PCR e de antigénio a todas as pessoas que trabalham presencialmente no escritório é uma das medidas mais relevantes adotadas.

“Essa medida tem sido essencial na boa gestão do impacto da pandemia na nossa equipa e, na nossa opinião, tem sido igualmente uma medida útil de proteção da comunidade. O escritório cobre integralmente o custo correspondente”, concluíram os managing partners.

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