Já há empresas têxteis a ponderar encerrar portas devido à escalada dos preços da energia

Aumento dos encargos energéticos, subida e escassez de matérias-primas poderão comprometer a retoma económica, alerta o presidente da ATP.

Já há empresas têxteis a ponderar encerrar portas devido à escalada dos preços da energia. Com os preços do gás natural cinco vezes mais caros e da eletricidade duas vezes mais elevados do que há três meses, muitas empresas deste setor já fazem contas e admitem não conseguir fazer face ao aumento dos encargos energéticos, a que acresce ainda a subida ou escassez de matérias-primas. Uma situação que poderá comprometer a retoma económica antecipada pelo Executivo, alerta Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP).

“Já tenho associados que estão a ponderar encerrar as empresas porque não estão a conseguir passar o aumento dos preços da energia para os seus clientes”, reconhece ao ECO, o presidente da ATP. Mário Jorge Machado alerta que “o problema não se vai resolver porque a fragilidade já vinha dos tempos da pandemia, por isso, há gente a ponderar encerrar”.

Já tenho associados que estão a ponderar encerrar as empresas porque não estão a conseguir passar o aumento dos preços da energia para os seus clientes.

Mário Jorge Marchado

Presidente da ATP

Os combustíveis sofreram um aumento que ronda os 50%, o que afeta sobretudo os transportes. O gás aumentou cinco vezes em três meses. O preço dos contratos futuros de gás negociados nos mercados holandeses, que servem de barómetro para a Europa, subiu 2,3% e chegaram ao máximo histórico de 100 euros por MWh a 1 de outubro. E na passada quinta-feira, 6 de outubro, o preço da eletricidade no mercado grossista ibérico bateu todos os anteriores recordes. No Mibel, o preço por MWh chegou aos 288,53 euros. Um valor que compara com os 50 euros dos países escandinavos ou com os 70 euros praticados na Alemanha.

Mário Jorge Machado frisou ao ECO que a gravidade do problema não está a ter a atenção devida, por isso vai enviar uma carta ao ministro da Economia. Ao Jornal T explicou que ia enviar uma missiva ao ministério liderado por Pedro Siza Vieira, porque os “aumentos dos custos da energia colocam em causa a viabilidade das empresas” do setor.

A situação é particularmente grave no setor têxtil, grande consumidor de energia para manter os teares em funcionamento 24 horas por dia, ou de gás natural para aquecer a água que utilizada para tingir tecidos, diz ao ECO. Isto porque esta é “uma fileira” e as empresas têxteis vão passar o aumento de preços para a confeção que, por sua vez, vai ter de passar para os respetivos clientes, afetando a competitividade desta indústria”.

“Na confeção a energia pesa 1 a 2% nos custos de produção, mas na indústria têxtil pesa 20 a 30%”, precisa o presidente da ATP, lembrando que estes valores são equiparados aos da indústria cerâmica, por exemplo.

Com esta subida dos preços da energia estamos perante “aumentos de 20 a 30% do produto final”, o que “terá um impacto muito significativo e põe em risco a retoma da economia”, sublinha Mário Jorge Machado.

Na confeção a energia pesa 1 a 2% nos custos de produção, mas na indústria têxtil pesa 20 a 30%.

Mário Jorge Marchado

Presidente da ATP

De acordo com a proposta de Orçamento do Estado para 2022, entregue na segunda-feira passada no Parlamento, o Executivo antecipa um crescimento de 4,8% da economia este ano e de 5,5% no próximo, um valor em linha com as previsões do Banco de Portugal, mas ligeiramente mais otimista do que o Fundo Monetário Internacional que “é sempre mais pessimista”, nas palavras do ministro das Finanças João Leão, na conferência do ECO de sexta-feira. O Fundo prevê uma evolução de 5,1% da economia nacional em 2022.

Para Mário Jorge Machado, “o crescimento em 2022 poderá ser mais baixo” devido aos custos da energia e das matérias-primas e “as premissas do Orçamento do Estado podem vir a ser impactadas por este tipo de riscos”. Isto porque as exportações do setor têxtil ascendem a cinco mil milhões de euros e o Valor Acrescentado Bruto é de 11%. Por comparação, o do setor automóvel é de 8% já que muitos componentes são importados e apenas montados em Portugal.

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