Das caminhadas aos horários bloqueados para reuniões. Estes são os novos hábitos dos gestores de pessoas
Depois de gerir as pessoas à distância e terem implementado novos modelos de trabalho no regresso, os DRH adotaram novos hábitos. Caminhar, fazer mais pausas e ter horários flexíveis são alguns deles.
Depois de quase dois anos em teletrabalho, a gerir pessoas à distância e a desenhar novas formas de trabalhar, que hábitos adotaram os diretores de recursos humanos? Quais os que funcionaram melhor e que querem levar para o futuro? E o que deixou de fazer sentido na forma como gerem pessoas? Caminhadas, bloquear horas no calendário para trabalho mais focado, horários mais flexíveis e horas do dia livres de reuniões são alguns hábitos que (para muitos) vieram para ficar.
No caso de Rita Monteiro foram as caminhadas. Com a pandemia da Covid-19, a diretora de recursos humanos da Ibéria, Sonae Arauco, começou a caminhar à hora de almoço. Agora, sozinha ou acompanhada, esse hábito é para manter, mesmo nos dias em que está a trabalhar presencialmente no escritório.
“Um dos hábitos que a pandemia me trouxe e que vou querer manter são as caminhadas, que faço à hora de almoço, sozinha ou acompanhada pelos meus dois filhos. Essa pausa a meio do dia é muito importante para o meu bem-estar físico e psicológico. Ajuda-me a gerir o stress e aumenta a minha produtividade”, conta a gestora em conversa com a Pessoas.
Para ajudá-la a cumprir este novo hábito, a líder trocou os sapatos pelas sapatilhas, “quer nos dias em que estou em
trabalho remoto (dois dias por semana, no nosso novo modelo), quer nos dias em que estiver no escritório”. “No campus da Sonae Arauco, na Maia, temos um espaço com ótimas condições também para andar a pé. Somos uns privilegiados”, afirma.
Um dos hábitos que a pandemia me trouxe e que vou querer manter são as caminhadas, que faço à hora de almoço, sozinha ou acompanhada pelos meus dois filhos. Essa pausa a meio do dia é muito importante para o meu bem-estar físico e psicológico. Ajuda-me a gerir o stress e aumenta a minha produtividade.
Já Catarina Graça, diretora de recursos humanos da Claranet, começou a definir semanalmente espaço na agenda para o trabalho que exige maior foco e concentração. Uma forma de organizar melhor os seus dias de trabalho, sobretudo tendo em conta o “aumento de reuniões por Zoom/Teams e de chamadas telefónicas”, diz. Em contraposição, espera deixar de lado as reuniões de equipa por videochamada. A sua expectativa é “idealmente, voltar a ter a reunião semanal de equipa de forma presencial.”
Os modelos de trabalho híbrido — que têm sido os mais adotados no regresso ao escritório — exigem também um maior planeamento e organização. À semelhança de Catarina Graça, Pedro Estrela, human resources manager da SGS Portugal, começou a estruturar o dia de outra forma.
O líder de pessoas passou a incluir nesse planeamento o “pensar em quais as funções que podemos fazer melhor em trabalho remoto (pensar na estratégia, escrever, participar em reuniões virtuais, realizar e-learnings...) e quais as que faz mais sentido estarmos presentes no local de trabalho (reuniões mais colaborativas, brainstorming, teambuiding...)”, conta, acrescentando que, à medida que as empresas chamam os colaboradores de volta ao escritório, esta reflexão será cada vez mais um “aspeto fundamental” e regular no planeamento dos dias laborais.
O líder de pessoas da SGS Portugal, que começou trabalhar remotamente em 2017, muito antes da Covid-19, considera que a pandemia trouxe também, não tanto um hábito, mas uma certeza: “O teletrabalho veio permitir sermos simultaneamente mais produtivos e ter uma maior satisfação no nosso trabalho.”
A tecnologia revelou ser amiga do bem-estar (por vezes)
A maioria dos diretores de RH e gestores de topo com quem a Pessoas falou considera, no entanto, que o principal hábito que vai manter, sobretudo num momento em que muitas empresas estão a regressar ao escritório, apostando em modelos híbridos, está relacionado com o uso de tecnologia e comunicação assíncrona, que, em alguns casos, permitiu equilibrar a vida pessoal e profissional, aumentando o bem-estar das pessoas, colaboradores e gestores de topo.
“Esta flexibilidade de rotinas, necessária quando trabalhávamos exclusivamente de forma remota, é algo que faz todo o sentido manter”, começa por dizer Margarida Madeira, diretora de people & culture da Nhood Portugal. Na empresa de soluções imobiliárias foi implementado um regime de trabalho híbrido e de horário flexível, em que as pessoas podem trabalhar no escritório ou noutro local, bem como entrar até às 10h00 e sair a partir das 17h00.
A flexibilidade de horário permite-me, por exemplo, deixar os meus filhos na escola e seguir depois para o escritório, sem ser num horário de maior tráfego, ou até mesmo ficar a trabalhar remotamente a partir de um outro local, que não o escritório.
“No meu caso, esta flexibilidade de horário permite-me, por exemplo, deixar os meus filhos na escola e seguir depois para o escritório, sem ser num horário de maior tráfego, ou até mesmo ficar a trabalhar remotamente a partir de um outro local, que não o escritório”, conta a líder de pessoas e cultura da companhia.
Também Susana Rodrigues, head of human resources da Vanguard Properties, quer manter essa atenção ao bem-estar das pessoas como linha orientadora da sua liderança. “Parece um contrassenso, mas o trabalho remoto permitiu-nos estar mais ‘próximos’ e atentos ao bem-estar psicológico das nossas equipas, sendo este um hábito garantidamente a manter”, diz.
“A proximidade e a preocupação, com as pessoas tornou-se ainda mais indispensável no sentido de identificar e prevenir potenciais situações delicadas ou mais complexas”, acrescenta Susana Rodrigues, que assumiu, no mês passado, a área de recursos humanos do investidor imobiliário em Portugal.
No regresso ao escritório, “vamos manter é a comunicação assíncrona”, salienta Ricardo Monteiro, COO do Mercadão. “O trabalho remoto forçou-nos a reconsiderar como nos encontramos e colaboramos. A comunicação assíncrona permitiu a muitos colegas uma melhor colaboração e articulação do trabalho com as dinâmicas familiares que cada um tem”, afirma.
Este hábito vai ser particularmente útil no Mercadão, tendo em conta o processo de internacionalização: “Teremos operações em vários fusos horários e o trabalho não acontece ao mesmo tempo para todos”, detalha.
Para assegurar que a comunicação assíncrona e que os modelos híbridos funcionam, investir em tecnologia é fundamental. No caso da Prossegur, se há hábito que se vai manter é precisamente esse. “Passei a fazer um maior investimento e a ter uma maior preocupação com o desenvolvimento e a atualização na utilização de plataformas digitais“, diz José Lourenço, diretor de recursos humanos da Prosegur Portugal, acrescentando que passou também a ter uma maior preocupação com as skills digitais e de gestão de equipas à distância, quer em novas contratações, quer no desenvolvimento atuais equipas.
Mas o uso de tecnologia e o próprio trabalho remoto pode apresentar também algumas ameaças, a que é preciso estar atento. “Apesar do trabalho remoto ter claras vantagens, temos de ter em conta que também apresenta ameaças para o bem-estar dos colaboradores. Entre estas destaco a chamada ‘fadiga digital’, em que somos sobrecarregados com reuniões virtuais e emails, acusando a pressão que sentimos para estarmos sempre ‘ligados'”, diz o human resources manager da SGS Portugal.
Por isso mesmo, um dos hábitos que Pedro Estrela vai deixar é o “de ter reuniões virtuais back-to-back durante todo o período de trabalho”. “É muito importante termos pequenos intervalos entre as reuniões virtuais bem como definir claras fronteiras entre o tempo para a nossa vida profissional e o tempo para a nossa vida pessoal. Estou perfeitamente convicto que estamos a assistir a uma das mais relevantes mudanças nas formas de trabalho dos últimos anos e que o trabalho remoto veio claramente para ficar. Tenderemos para modelos híbridos que permitirão maior produtividade para as organizações e maior flexibilidade e satisfação para as pessoas”, defende.
É muito importante termos pequenos intervalos entre as reuniões virtuais bem como definir claras fronteiras entre o tempo para a nossa vida profissional e o tempo para a nossa vida pessoal.
Margarida Madeira não podia estar mais de acordo: “Um hábito que vou deixar são as marcações de reuniões/calls em horários seguidos, sem pausa entre as mesmas”, garante. Na Nhood Portugal foi, inclusive, adotada uma nova política de gestão do trabalho que estabelece que as sextas-feiras são dias sem reuniões e que nos restantes dias só é permitido agendar reuniões entre as 10h00 e as 17h00.
Precisamente sobre gestão do trabalho, Manuela Pinto, diretora de pessoas e organização da Repsol, diz que passou a olhar para o tempo como “um bem precioso e que deve ser usado da melhor forma possível”. “Em algumas reuniões onde o número de participantes é elevado, e em que o valor acrescentado seria mais diminuto, prefiro utilizar esse tempo para atividades e tarefas que tragam, efetivamente, um valor acrescentado à função e, por inerência, às pessoas, que são a força motriz de qualquer organização”, refere, a título de exemplo.
Dos 5 dias no escritório aos cafés matinais. Adeus, hábitos antigos
Se a pandemia serviu, por um lado, para construir novos hábitos e rotinas, por outro lado, foi o incentivo para deixar outros tanto de lado, começando desde logo pela ida ao escritório de segunda a sexta-feira. “Já tínhamos uma política de gestão horária que, sem prejuízo das tarefas e/ou projetos, permitia às nossas equipas gerirem os respetivos horários de forma muito flexível. Agora, levamos o modelo um pouco mais longe e permitimos às equipas gerirem também de forma flexível onde trabalham”, adianta o COO do Mercadão.
Relacionado com o trabalho remoto, e justamente para facilitá-lo, José Lourenço, da Prosegur Portugal, diz que passou a ter “uma menor dependência do papel“. “Larguei a ideia de que apenas no escritório e com a presença de todos se podem realizar reuniões”, confessa.
Já a rotina matinal de Rita Monteiro, da Sonae Arauco, também mudou um bocadinho. “Com o trabalho remoto deixei de beber café de manhã. Era uma rotina que tinha no escritório e que, percebi durante a pandemia, estava associado ao momento de convívio com os colegas no escritório.”
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