Carlos Tavares indisponível para novo mandato no Banco Montepio
Carlos Tavares já comunicou à administração que não vai continuar. Tem duas missões até final: aconselhar na escolha da nova equipa e concretizar transferência de ativos tóxicos para veículo externo.
Carlos Tavares mostrou-se indisponível para continuar no Banco Montepio e já comunicou ao conselho de administração do banco a intenção de deixar as funções de chairman após o final do mandato, que termina no final do ano (como do resto da equipa), segundo as informações recolhidas pelo ECO.
Tavares fez questão de transmitir a sua decisão na reunião do conselho de administração da semana passada, deixando claro que deixará o cargo por sua iniciativa e que não está disponível para integrar a nova equipa do banco, independentemente do resultado das eleições no acionista, a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), que decorrem esta semana. “Não serei candidato à minha própria sucessão”, terão sido estas as palavras de Carlos Tavares junto dos outros membros da administração na reunião de quarta-feira.
Contactados pelo ECO, nem o banco nem o próprio quiserem fazer qualquer comentário sobre o assunto.
O mandato da atual equipa do Banco Montepio termina em dezembro, mas Carlos Tavares vai manter-se em exercício até à entrada da nova equipa, que terá de ser escolhida pela mutualista, eleita em assembleia geral de acionistas (que se realiza geralmente entre abril e maio), e cujo início de funções também depende da autorização do Banco de Portugal.
Duas missões até ao fim
O ex-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) tem sobretudo duas missões nestes poucos meses que lhe restam à frente do Banco Montepio. Uma delas passa exatamente por ajudar o acionista a escolher a nova administração do banco, o que pode não ser uma tarefa tão simples quanto isso, tendo em conta os meses em que o próprio Carlos Tavares teve de desempenhar duplas funções de CEO e de chairman, face à dificuldade de encontrar nomes para liderar o banco. Os candidatos à presidência da AMMG têm destacado a necessidade de promover alguma renovação e também de reduzir o número de membros da administração, atualmente de 16 – que equipa com a Caixa Geral de Depósitos, por exemplo.
Além disso, Carlos Tavares tem outro objetivo: concretizar aquilo que chama de “estrutura empresarial de gestão de ativos”, isto é, concretizar a transferência de uma carteira de mais de mil milhões de euros em ativos improdutivos do banco (malparado e imóveis) para um veículo externo para responder às exigências do Banco de Portugal e às necessidades de capitalização do Banco Montepio.
Esta operação é vista como fundamental para recapitalizar o banco, como sublinhou o presidente da AMMG, Virgílio Lima, em entrevista ao ECO a propósito das eleições na mutualista. “A libertação de ativos deste tipo que não estão a gerar rendibilidade e estão a consumir capital tem sempre efeitos positivos na libertação de capital. (…) Há aqui uma recapitalização implícita do banco”, disse.
Estão em curso contactos com investidores internacionais para avançar com esta operação de carve-out, o mercado tem mostrado interesse, segundo Virgílio Lima. Existe expectativa de fique concluída nos próximos meses e o ECO sabe que a transação tem de ser neutra do ponto de visto do impacto nos rácios desde o momento zero, para nunca por em desequilíbrio a posição do banco.
O Banco Montepio chegou a setembro com um rácio NPE (non performing exposures) de 9,3%, um dos mais elevados do sistema nacional, onde o nível médio do malparado se encontra abaixo dos 5%. Por causa disso tem sido alvo de reparos da parte das agências de rating.
Ainda na semana passada, o banco anunciou uma operação de venda de 40 mil contratos de crédito ao consumo performing no valor bruto de 360 milhões de euros, através de uma operação de titularização de créditos colocada junto de investidores internacionais. Esta operação, que envolveu a participada Montepio Crédito, permitirá reduzir o volume de ativos ponderados pelo risco em cerca de 265 milhões de euros e reforçar os rácios de capital.
Além disso, a instituição tem em curso um processo de venda de uma carteira de malparado no valor de 260 milhões de euros. Entre os investidores que estão na corrida encontram-se o fundo de pensões do Canadá, a Arrow e a Tilden, como avançou o ECO na semana passada.
Legado de Tavares em risco
A passagem de Carlos Tavares pelo banco foi tudo menos tranquila, desde logo perante as dificuldades que a AMMG teve para encontrar um nome para o cargo de CEO, obrigando o chairman a acumular as funções de CEO durante cerca de um ano. Por outro lado, também foram relatadas algumas divergências no seio do conselho de administração, nomeadamente com Pedro Leitão.
A gestão de Carlos Tavares fica marcada, sobretudo, pela criação do Banco Montepio Empresas (BEM), lançado em 2019 com o objetivo de servir as empresas do “middle market” no acesso a soluções de financiamento através do mercado de capitais. E em contracorrente com as decisões de integração destas unidades nos outros bancos nacionais. Mas as eleições para a associação mutualista — que decorrem esta semana — também poderão conduzir ao fim prematuro do BEM.
Dois anos depois do seu lançamento, os candidatos à mutualista admitem acabar com o projeto de Carlos Tavares. Pedro Alves (Lista D) disse ao ECO que “vale a pena repensar” o banco. “Há necessidade de termos um banco específico para empresas ou um serviço robusto, específico e autónomo dentro da própria estrutura do banco?”, questionou. “Sem prejuízo de se manter sempre o know how de todas as áreas, o grupo pode encarar soluções de simplificação”, admitiu Virgílio Lima, da Lista A.
Também Pedro Corte Real (Lista B) admite o fim do banco, se ficar provado que não acrescenta valor. E Eugénio Rosa (Lista C) tem outra ideia: passar a carteira de ativos tóxicos na ordem dos 1,2 mil milhões do Banco Montepio para o BEM para depois vendê-lo. “Não se justifica uma Associação Mutualista ter dois bancos, um concorrente do outro”.
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