EUA: Factos económicos alternativos? Trump representa perigo
Os perigos dos factos alternativos podem vir a alastrar-se aos dados económicos que as agências governamentais divulgam. É esse o receio de vários peritos em estatísticas.
Os especialistas norte-americanos em estatísticas estão preocupados com a recente vaga de “factos alternativos” da administração Trump. Questionados pela Bloomberg, dizem haver o risco de essa realidade invadir as estatísticas económicas divulgadas por gabinetes públicos, o que colocaria em causa a credibilidade dos números da economia norte-americana.
Trump apelida-as de “fake news” (notícias falsas). Já a expressão “factos alternativos” foi usada pela sua responsável pela comunicação da campanha e atual conselheira, Kellyanne Conway. Em causa estão dados tão concretos como o número de pessoas presentes na tomada de posse de Donald Trump, mas também o recente caso da Suécia justificado pelo que a FOX News emite ou a mais recente conferência de imprensa onde o Presidente dos EUA disse ter o maior número de votos no Colégio Eleitoral desde Ronald Reagan… o que não é verdade, como explica aqui o The New York Times.
Mas o perigo atual é que este tipo de realidades alternativas construído pela narrativa da administração Trump invada os dados económicos que são divulgados por agências estatais. A Bloomberg ressalva que existem diretivas governamentais que previnem isto de acontecer, mas temem que o desdém de Trump perante os economistas em geral e os seus comentários sobre estatísticas económicas possam dificultar a comunicação desses números. Existem regras para proteger as estatísticas de serem manipuladas diretamente, mas ainda assim a independência está em causa.
"Não acreditem nesses números falsos.”
Foi esse o alerta dado por Brent Moulton, recém reformado, que esteve durante 32 anos no Gabinete de Estatísticas Económicas. Num texto, citado pela Bloomberg, Moulton alertava que alguém da Casa Branca poderia ordenar as agências estatais a não fazerem uma certa estatísticas ou então a mudar a metodologia de forma a serem mais convenientes à atual administração.
Um mês após ter tomado posse como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump ainda não nomeou ninguém para o grupo de conselheiros económicos que ajudam o Presidente dos EUA a ter análises objetivas da economia. Um fonte anónima próxima deste conselho revelou à Bloomberg que a Casa Branca tem dado pouca atenção aos relatórios regulares que o gabinete produz.
O medo não está só na manipulação pura dos dados, mas também na forma como estes são comunicados à população. Se recordarmos um discurso de Donald Trump no início de 2016, o atual Presidente dos EUA questionava a taxa de desemprego de então: “Não acreditem nesses números falsos”, disse a quem assistia. “O número provavelmente é 28 ou 29, tão alto como 35%. Na realidade, eu até ouvi recentemente que era 42%“, atirou. Este tipo de discurso não só já foi usado por Trump, mas também pelo seu porta-voz, Sean Spicer, e outros membros da atual administração.
O discurso económico tem sido um dos principais temas de Donald Trump. Entre o défice comercial, as taxas aduaneiras e a política fiscal, a nova administração prometeu fazer muitas mudanças no atual panorama de regulação norte-americana. Em causa está, por exemplo, uma balança comercial que, ainda que melhor do que 2006, continua a ser negativa para os EUA. Para lá chegar, Trump quer mudar os acordos comerciais e já ‘obrigou’ multinacionais a voltar a ter fábricas em solo norte-americano para criar postos de trabalho.
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