“90% das emissões de CO2 vêm da cadeia logística”, afirma diretor da SAP
O General Manager da SAP Procurement Solutions para a região sul da EMEA defende que as empresas usem o poder do seu volume de compras para imporem práticas mais sustentáveis aos fornecedores.
A sustentabilidade está na agenda dos conselhos de administração, mas nem sempre a cadeia logística entra na equação. Um erro, já que é daí que vem a larga maioria das emissões de gases com efeito de estufa, aponta Carlos Mercuriali, vice-presidente e General Manager da SAP Procurement Solutions para a região sul da EMEA.
“Se for uma empresa mineira ou petrolífera é diferente, mas segundo um relatório da consultora McKinsey, em média, 90% da pegada de carbono vem da cadeia de abastecimento”, afirma Carlos Mercuriali, que salienta também a importância deste tema para as estratégias comerciais. “80% dos consumidores dizem que estão disponíveis para pagar mais por produtos de empresas que têm cadeias de abastecimento sustentáveis”, sublinha o responsável, que chegou à alemã SAP em 2012, como COO para a América Latina.
Sem referir o nome, por questões de confidencialidade, Carlos Mercuriali refere o caso de uma grande empresa, com 30 mil fornecedores, que tem um departamento que verifica regularmente o grau de cumprimento de toda a cadeia. “Há uma equipa que todos os dias verifica se eles são verdes, amarelos ou vermelhos. Se são amarelos ou vermelhos enviam uma carta a dizer que têm de ter certificação, melhorar isto ou aquilo”, relata.
"A empresa usa proactivamente o poder do volume de compras, de 200 mil milhões, para forçar mudanças na cadeia de abastecimento.”
“A empresa usa proactivamente o poder do volume de compras, de 200 mil milhões, para forçar mudanças na cadeia de abastecimento”, sublinha. “Olha para todos os fornecedores e diz: queres fazer negócio comigo, tens de ser bom na sustentabilidade”.
O responsável da SAP recorre a ainda a outro exemplo. “Há um fabricante de ténis, que se tornou muito famoso no último ano. Eles estão sedeados em França, fabricam os ténis no Brasil e todos os elementos do ténis têm uma origem sustentável. Além disso, contratam nas comunidades locais. Não estão apenas a ajudar o ambiente, o que é o principal, mas construíram uma marca que tem um propósito. Falamos disso, compras com propósito”.
Para ter cadeias logísticas sustentáveis, é preciso que a empresa seja capaz de “monitorizar os fornecedores, os fornecedores dos fornecedores, o impacto do transporte marítimo ou por avião”. É aqui que entra a digitalização.
"Não é uma discussão de backoffice, é uma discussão de ponta a ponta sobre como entrego os meus produtos, na hora certa, no sítio certo, ao preço certo.”
Carlos Mercuriali refere que digitalizar os processos internos é uma vantagem competitiva, mas é necessário fazer o mesmo com o mundo exterior. “É preciso estar ligado com o consumidor, mas também com os fornecedores e com os parceiros de negócio”, sublinha. “Não é uma discussão de backoffice, é uma discussão de ponta a ponta sobre como entrego os meus produtos, na hora certa, no sítio certo, ao preço certo”, acrescenta.
A transformação digital acelerou “de forma exponencial” e as cadeias logísticas já usam inteligência artificial e machine learning. “Uma máquina numa mina ou num campo petrolífero avaria. O trabalhador tira uma fotografia da peça que está estragada e através da inteligência artificial ela é identificada num catálogo e a ordem de encomenda segue automaticamente”, exemplifica o responsável da SAP.
“Os clientes mais avançados, os vencedores, estão a criar os seus próprios bots, que automatizam as tarefas de que precisam”, revolucionando as cadeias logísticas. Uma tendência que será ainda mais acelerada pelas redes 5G e a internet das coisas.
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