5 coisas que vão marcar o dia

  • ECO
  • 19 Março 2025

O INE e o Eurostat divulgam diversos dados económicos. Nos EUA, Fed vai decidir o rumo das taxas de juro e, em Bruxelas, vão ser anunciadas as linhas gerais da União das Poupanças e Investimentos.

A Reserva Federal (Fed) vai decidir o rumo das taxas de juro. Em Bruxelas vão ser anunciadas as linhas gerais estratégicas para a concretização da União das Poupanças e Investimentos. A Comissão Europeia vai também apresentar o Livro Branco sobre o Futuro da Defesa Europeia. A marcar o dia estão ainda os resultados de 2024 da Jerónimo Martins.

Jerónimo Martins apresenta resultados

O grupo que detém o Pingo Doce divulga hoje os resultados de 2024. Segundo dados preliminares já publicados pela empresa, as vendas da Jerónimo Martins cresceram 9,3% no ano passado, atingindo 33,5 mil milhões de euros. O grande motor de crescimento da Jerónimo Martins continua a ser a Biedronka. A insígnia polaca faturou o equivalente a 23,6 mil milhões de euros no ano passado, uma subida de 9,6% em termos homólogos, passando a pesar 70,4% no volume de negócios global da companhia.

Fed decide futuro das taxas de juro

A Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos vai decidir o rumo das taxas de juro. A reunião de dois dias dos responsáveis da Fed começou na terça-feira e as expectativas são de que o banco central não altere os juros diretores. A decisão surge num contexto marcado por forte volatilidade nas bolsas, devido às políticas económicas de Trump e do crescente risco de guerra comercial.

Bruxelas apresenta União das Poupanças e Investimentos

Bruxelas vai anunciar esta quarta-feira as linhas gerais estratégicas para a concretização da União das Poupanças e Investimentos, uma das iniciativas da “Bússola para a Competitividade” e que está sob a “alçada” da comissária europeia portuguesa, Maria Luís Albuquerque. Esta estratégia prevê um foco na inovação, descarbonização e segurança, prioridades que vão orientar estes cinco anos do segundo mandato de Ursula von der Leyen à frente da instituição

Comissão Europeia apresenta Livro Branco sobre Defesa

A Comissão Europeia vai apresentar o Livro Branco sobre o Futuro da Defesa Europeia. Bruxelas vai propor que os países da União Europeia (UE) peçam até abril o alívio das regras do défice para investimentos em defesa, colaboração para contratos públicos e um futuro mercado único dedicado ao setor. Estima-se que a UE tenha de gastar 250 mil milhões de euros por ano, o equivalente a 3,5% do seu Produto Interno Bruto (PIB), para a sua segurança num contexto de tensões geopolíticas como a guerra da Ucrânia causada pela invasão russa.

Eurostat e INE publicam dados económicos

O Instituto Nacional de Estatísticas (INE) vai divulgar os dados relativos a fevereiro dos índices de preços na produção industrial e as taxas de juro implícitas no crédito à habitação. Já o Eurostat confirma a inflação na Zona Euro em fevereiro. No início do mês, a estimativa rápida do Eurostat indicou que a inflação na Zona Euro desacelerou para 2,4%, face ao período homólogo, em relação aos 2,5% registados em janeiro. Portugal deverá ter registado uma inflação em linha com a média da Zona Euro, com o índice de preços a situar-se em 2,4%, em fevereiro.

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IA é “revolucionária” para as empresas, mas mau uso pode gerar “prejuízos”

Boa parte dos riscos da inteligência artificial (IA) não são intuitivos, alerta Adolfo Mesquita Nunes, sócio da Pérez-Llorca e especialista em regulamentação desta tecnologia.

A inteligência artificial (IA) constitui uma oportunidade para as empresas, mas os conselhos de administração devem estar atentos aos riscos associados, que podem materializar-se em “prejuízos”, alerta Adolfo Mesquita Nunes, sócio da Pérez-Llorca, especializado nas questões legais e regulatórias relacionadas com IA.

Poucas coisas são tão revolucionárias como a IA para a vida de uma empresa, num setor aberto à concorrência. A maior parte das empresas está a ser confrontada com a possibilidade de os seus modelos de negócio serem completamente disrompidos por uma tecnologia. É um enorme desafio e oportunidade”, considera o advogado, assumindo que o desafio se coloca por se verificar uma evolução na tecnologia a “uma enorme velocidade”.

Adolfo Mesquita Nunes vai debruçar-se sobre o tema “O que devem os CEO e boards ter em conta na hora de adotar a IA”, num painel integrado no Congresso de Supply Chain da GS1 Portugal esta quarta-feira, e que tem como mote as “Cadeias de valor 5.0 – novo paradigma da competitividade: transições climática, energética e tecnológica em perspetiva”.

Se não forem tidas em conta as boas práticas, [o uso de IA] pode levar a más decisões e prejuízos“, afirma Adolfo Mesquita Nunes em declarações ao ECO/Capital Verde. A título de exemplo, se for usada IA para avaliar o desempenho dos trabalhadores e se perceber, anos depois, que o sistema está a discriminar mulheres, “já criou prejuízo”. Ou se é usada em processos de decisão, mas acaba por se tomar uma decisão errada porque a qualidade dos dados era fraca, “geram-se prejuízos”. Se infraestruturas críticas colapsarem na sequência do uso de tecnologia, “criam-se prejuízos”.

“Boa parte dos riscos não são intuitivos”, alerta o especialista em regulamentação da IA. Vai depender da área e atividade da empresa. No entanto, um risco comum a ter em conta é que “as ferramentas de inteligência artificial podem levar a decisões enviesadas ou erradas“, defende, olhando por exemplo a problemas relacionados com o histórico ou qualidade dos dados usados.

Em segundo lugar, existem desafios no que diz respeito à transparência a explicabilidade dos dados. “As empresas não podem correr o risco de desconhecerem porque é que certas decisões são tomadas”, no sentido de não estarem por dentro de como funcionam os processos com recurso a inteligência artificial que as suportam. Dando um exemplo prático, Mesquita Nunes questiona se é admissível que um banco recuse acesso a crédito com explicando que assim o é porque o sistema o determinou, “ou queremos uma explicação?”. Por fim, há que ter em conta o risco de a IA poder ameaçar infraestruturas críticas, impondo-se um desafio de resiliência e cibersegurança, enumera.

“Isto não significa que as empresas não devam aderir em força à IA. Essa adoção deve ser feita mapeando e mitigando os riscos. O que não pode acontecer é acharem que IA é um assunto de IT [da equipa tecnológica] sobre o qual não têm muito a dizer“, ressalva. É da responsabilidade dos conselhos de administração trazer conhecimento e capacidades para a empresa, de forma a garantir que as decisões tomadas nesta área são informadas, e que a estratégia delineada tem as exigências legais como base. “É aconselhável que o conselho de administração e a comissão executiva tenham a inteligência artificial (IA) como um dos pontos recorrentes da sua agenda”, remata.

O incumprimento do regulamento europeu que está em vigor pode levar a multas de até 7% do volume de negócios global anual da empresa, sublinha o sócio da Pérez Llorca.

Em suma, aconselha Mesquita Nunes, os conselhos de administração devem participar no processo e procurar saber quais os usos atuais e planeados para a inteligência artificial na organização, as funções que a IA pode assumir no setor em questão e nos respetivos clientes e, finalmente, conhecer todos os riscos e oportunidades associados.

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Mais de um milhão de famílias doaram 37,4 milhões de euros de receita de IRS a entidades solidárias

Em média, cada instituição recebeu, no ano passado, cerca de 7.500 euros dos contribuintes. Até 31 de março, já é possível escolher a organização que quer ajudar, de entre uma lista de 5.273.

Mais de um milhão de famílias doaram, no ano passado, 37,4 milhões de euros de receita de IRS, que iriam entregar ao Estado, a cerca de cinco mil instituições solidárias, desportivas, religiosas e culturais. Isto significa que, em média, cada entidade recebeu cerca de 7.500 euros, segundo dados enviados por fonte oficial do Ministério das Finanças ao ECO.

Este ano, a lista das entidades beneficiárias conta com mais 236 entradas, totalizando 5.273. E o limite máximo a consignar duplicou, de 0,5% para 1%, mas as associações juvenis e de estudantes ficaram fora deste bónus, como o ECO já noticiou. Até 31 de março, os contribuintes já podem escolher a instituição que querem ajudar, no portal das Finanças. Ou então podem fazê-lo depois, durante o preenchimento da declaração de IRS, entre 1 de abril e 30 de junho.

Em concreto, na declaração de IRS do ano passado, 1.015.864 agregados familiares consignaram 37.400.468,43 euros de receita de IRS a 5.022 instituições. Os montantes doados, o número de contribuintes e de entidades têm vindo a subir consecutivamente durante a última década, com exceção de 2015, ano pós-troika e em que se verificou uma ligeira quebra na receita do imposto entregue pelas famílias, que recuou de 14,2 milhões de euros para 13,7 milhões de euros, assim como uma diminuição na quantidade agregados que decidiram consignar o IRS, que baixou de 413,9 mil para 401,6 mil, de acordo com as estatísticas disponibilizadas pelo Ministério de Joaquim Miranda Sarmento (ver gráficos em baixo).

Esta pequena descida no valor consignado, entre 2014 e 2015, poderá estar relacionada com o impacto do resgate financeiro a que Portugal foi submetido, entre 2011 e 2014.

Em comparação com as declarações de 2023, relativas aos rendimentos de 2022, a consignação de IRS, no ano passado, subiu 4,2 milhões ou 12,7%, passando de 33,2 milhões de euros para 37,4 milhões de euros. Recuando no tempo até 2013, verifica-se que o valor doado triplicou numa década, face aos 12,5 milhões de euros que foram entregues pelos contribuintes a instituições solidárias, religiosas, ambientais, juvenis e culturais.

O ECO pediu ao Ministério das Finanças o ranking das 10 instituições que mais beneficiaram da consignação do IRS, no ano passado, mas a tutela recusou divulgar essa lista.

Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

Antes do arranque oficial da campanha do IRS, a 1 de abril, a “Autoridade Tributária e Aduaneira disponibiliza previamente ao prazo de entrega da declaração de rendimentos, ou do IRS Automático, a lista das entidades relativamente às quais” o contribuinte “pode vir a efetuar a consignação em sede de IRS/IVA”, segundo nota do portal as Finanças.

Fonte: portal das Finanças

Assim, os contribuintes podem “indicar até 31 de março, previamente ao prazo de entrega da declaração de rendimentos modelo 3 e do IRS Automático, a entidade à qual pretende consignar o IRS ou o IRS e o IVA”, indica a AT.

Para isso, deve procurar no motor de busca do portal das Finanças: “Comunicar Entidade a Consignar IRS/IVA”. Depois, deve selecionar o botão de “pesquisa” junto ao campo NIF (número de identificação fiscal) e selecionar a instituição que pretende dentro da lista de entidades elegíveis. A seguir, só tem de clicar em “submeter”.

Se não escolher uma entidade a quem entregar o IRS até 31 de março, pode sempre fazê-lo durante o preenchimento da declaração, entre 1 de abril e 30 de junho. De salientar que a consignação do IRS permite doar, a uma instituição, uma parte do imposto que iria reverter a favor do Estado, não tendo qualquer custo para o contribuinte. Isto é, se tiver direito a um reembolso, o valor que irá receber será exatamente o mesmo.

Por exemplo, o IRS liquidado é de 15 mil euros e tem direito a um reembolso de dois mil euros. Se decidir consignar 1% do imposto, essa entidade vai receber 150 euros. Já o Estado arrecadará a diferença entre o IRS liquidado (15 mil euros) e a consignação de 1% do IRS (150 euros), ficando apenas com 14.850 euros. Caso opte por não consignar 1% do seu IRS liquidado, o Estado ficará a ganhar. Ou seja, receberá a totalidade do seu imposto liquidado (15 mil euros euros). Em qualquer dos cenários, o reembolso de dois mil euros não é afetado.

Também pode oferecer, à mesma instituição, parte do valor do IVA suportado pela exigência de fatura. Trata-se de uma dedução que permite recuperar 15% do imposto pago em despesas com oficinas de automóveis e motociclos, restaurantes, alojamentos, salões de estética, veterinários e ginásios, entre outras. Este instrumento também permite abater ao IRS 100% do IVA pago em faturas de passes de transportes coletivos públicos.

Mas, neste caso, a consignação do IVA implica um custo, porque o contribuinte deixa de poder deduzir aquele valor ao seu IRS, o que se traduz num reembolso menor ou mesmo no pagamento de imposto adicional.

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Travão da dívida na Alemanha foi “enterrado vivo”. Vêm aí mudanças na política orçamental europeia?

Parlamento alemão aprovou alteração histórica ao travão constitucional da dívida, em vigor desde a crise das dívidas soberanas, o que irá permitir aumentar a despesa em defesa.

O travão da dívida alemã foi sempre mais rigoroso do que as regras orçamentais europeias. Com a decisão de hoje, o travão não está oficialmente morto, mas enterrado vivo“. A frase é de Carsten Brzeski, economista chefe do ING, e espelha aquela que é já considerada uma espécie de revolução na política orçamental alemã, cujas ramificações podem chegar ao debate europeu.

O Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, aprovou na terça-feira o plano delineado pelo líder dos conservadores alemães, Friedrich Merz, para flexibilizar as regras de modo a aumentar o investimento em defesa. Desde a crise das dívidas soberanas que, por iniciativa da antiga chanceler Angela Merkel, a Constituição alemã tem inscrita uma norma que limita o endividamento do país, impedindo o défice orçamental estrutural de exceder 0,35% do Produto Interno Bruto (PIB).

O travão constitucional alterado na segunda-feira com os votos da CDU/CSU, do SPD e dos Verdes sinaliza não apenas um virar de página na política orçamental austera da Alemanha, como pode desencadear uma troca de pontos de vista para medir a elasticidade da discussão sobre as regras, numa altura em que a despesa líquida dos países se tornou um indicador fundamental no âmbito dos programas orçamentais nacionais estruturais.

A Alemanha desistiu de liderar o grupo de frugais orçamentais na Europa em prol de impulsionar a economia. Se o novo Governo não apresentar reformas estruturais adicionais e medidas de austeridade de longo prazo, como mudanças no sistema de pensões e na idade da reforma, a Alemanha terá dificuldade em convencer o resto da Europa a apertar o cinto“, argumenta Carsten Brzeski, numa nota de research divulgada ao mercado.

“A Alemanha desistiu de liderar o grupo de frugais orçamentais na Europa em prol de impulsionar a economia. Se o novo Governo não apresentar reformas estruturais adicionais e medidas de austeridade de longo prazo (…) a Alemanha terá dificuldade em convencer o resto da Europa a apertar o cinto”.

Carsten Brzeski

Economista do banco ING

A alteração aprovada irá permitir criar espaço orçamental de quatro formas: primeiro permite que a despesa com defesa acima de 1% do PIB fique isenta de qualquer teto constitucional, permitindo ao país contrair mais empréstimos.

Depois, a Alemanha fica autorizada a criar um fundo de investimento de 500 mil milhões de euros para investimentos adicionais em infraestruturas e os 16 estados federais podem ter défices de até 0,35% do PIB, deixando cair a obrigação de orçamentos equilibrados. De acordo com uma nota do economista Holger Schmieding, da Berenberg, esta medida vale cerca de 16 mil milhões de euros por ano.

O Parlamento alemão deu também ‘luz verde’ a uma definição mais ampla do que é considerada despesa com defesa, o que permitirá que o governo federal transfira 17 mil milhões de euros por ano nesta categoria. “Isto cria espaço para aumentar despesa não relacionada com defesa no orçamento regular, que continua sujeito ao travão da dívida”, explica o economista.

Parlamento alemão. EPA/CHRISTOPHER NEUNDORFEPA/CHRISTOPHER NEUNDORF

Neil Shearing, economista chefe do Capital Economics, considera que a alteração é “histórica”, porque “reflete uma mudança de atitude dentro da maior economia da Europa, afastando-se de uma adesão rígida à retidão orçamental que prevaleceu desde a crise financeira global“, e positiva, porque “alarga as camisas de força orçamentais que contribuíram para o fraco crescimento tanto na Alemanha quanto na economia europeia nos últimos anos”.

No entanto, na nota de research divulgada ao mercado, adverte que embora a mudança da Alemanha possa gerar uma atitude mais permissiva em relação à política orçamental na Europa, a realidade é que “a maioria dos países tem espaço limitado para aumentar os empréstimos”.

“A adoção de uma política orçamental menos restritiva na Alemanha pode agravar os desafios enfrentados pelos países com restrições orçamentais no resto da Zona Euro, uma vez que o aumento nos rendimentos dos bunds provavelmente aumentará os custos dos empréstimos, mas sem os benefícios concomitantes de maior crescimento económico”, alerta.

Alteração é “histórica” porque “reflete uma mudança de atitude dentro da maior economia da Europa, afastando-se de uma adesão rígida à retidão orçamental que prevaleceu desde a crise financeira global”, diz Neil Shearing, do Capital Economics.

No entanto, a alteração ao travão constitucional da dívida pode ter peso no debate que decorre em Bruxelas sobre o financiamento do investimento em defesa. Numa altura em que a Comissão Europeia desafiou os Estados-Membros a aumentarem o investimento em defesa de modo a mobilizarem 650 mil milhões de euros para investimento, há quem nas instâncias europeias, segundo informações recolhidas pelo ECO, não ficasse surpreendido se a Alemanha estivesse disponível para um debate mais profundo sobre a flexibilização das regras orçamentais europeias.

Os líderes europeus já deram aval à proposta da Comissão Europeia para suspensão da cláusula geral de escape nacional, de modo a permitir que a despesa com defesa não conte para o limite de 3% do défice que leva à abertura de um Procedimento por Défice Excessivo (embora continue a ir à dívida), mas ainda não acordaram os detalhes. Matéria que deverá ser debatida no Conselho Europeu marcado para quinta e sexta-feira.

Por outro lado, a flexibilização da política orçamental alemã para investir mais em defesa, “torna ainda menos provável que a Alemanha concorde com um grande programa da UE financiado por dívida comum”, assinala Neil Shearing, argumentando que a centro-direita alemã acharia “ainda mais difícil violar outra linha vermelha e subscrever muitos Eurobonds”.

Líderes europeus voltam a reunir-se em Bruxelas na quinta e sexta-feira, com o investimento em defesa novamente na agenda, após a reunião extraordinária de 6 de março.

Carsten Brzeski alerta, contudo, que apenas flexibilizar o travão da dívida não conduz automaticamente a um maior crescimento, argumentando que a cláusula de escape chegou a ser ativada nos últimos anos, o que não impediu a economia germânica de cair na estagnação que vive.

A diferença entre um travão da dívida mais relaxado devido à cláusula de escape e a decisão de hoje [terça-feira] é o fundo de infraestrutura de 500 mil milhões de euros. Implementado da forma certa, o investimento em infraestrutura deve levar a pelo menos uma recuperação cíclica. A ressalva, no entanto, continua de que essas medidas sozinhas – por mais impressionantes que sejam – farão muito pouco para melhorar a competitividade da economia”, argumenta.

Ainda assim, a Fitch sublinha que “a Alemanha tem margem orçamental substancial para acomodar a grande mudança planeada para as despesas militares e de infraestruturas muito maiores”. Num comentário divulgado na terça-feira (e que não constitui uma ação de rating), a agência norte-americana assinala ter a expectativa de que “o projeto de lei seja aprovado amplamente conforme previsto” e que “o tribunal constitucional já rejeitou as contestações ao processo parlamentar para a reforma, mas mais contestações estão pendentes”.

Com a alteração constitucional, a Alemanha está a regressar ao mainstream europeu após um período de restrições rígidas aos empréstimos.

Holger Schmieding

Economista do banco Berenberg

Já a DBRS, num comentário divulgado no início do mês quando foram conhecidas as propostas, realçou que o plano daria “ao Governo o espaço orçamental muito necessário para aumentar os gastos com defesa numa altura de maiores tensões geopolíticas”. Ademais, recordou que, apesar do aumento esperado do endividamento, o país beneficia de “um nível moderado de dívida, um baixo encargo com juros e do status da Alemanha como um porto seguro”.

A alteração na política económica alemã, que se tem pautado por regras rígidas quanto ao limite do endividamento, tendo apenas suspendido o travão constitucional ao aumento da dívida durante a pandemia, será ainda votada na sexta-feira pelo Bundesrat, a Câmara Alta do Parlamento, que representa os 16 governos estaduais do país.

Com a alteração constitucional, a Alemanha está a regressar ao mainstream europeu após um período de restrições rígidas aos empréstimos“, resume Holger Schmieding, do banco Berenberg.

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Novo relatório Porter? Mais do que estudos, empresas querem medidas concretas

O antigo ministro da Indústria de Cavaco Silva, que encomendou o relatório Porter há trinta anos, defende que o documento seja atualizado. Já os empresários defendem que se passe à ação.

Pedro Nuno Santos defendeu que se prepare um “novo relatório Porter” para definir setores estratégicos da economia, repetindo o trabalho encomendado em 1994 pelo então ministro da Indústria de Cavaco Silva, o engenheiro Luís Mira Amaral. Uma proposta bem recebida pelo impulsionador deste projeto. O antigo governante lembra que o relatório original foi preparado há 30 anos e está na altura de “voltar a fazer um novo exercício para centrar [atenções] na microeconomia e nas empresas“. Já as associações empresariais defendem que mais do que relatórios é preciso implementar medidas para estimular a competitividade.

Está na hora de voltar a discutir a microeconomia e a economia real”, defende Mira Amaral (na foto), em declarações ao ECO. A comentar a proposta apresentada pelo líder socialista, o antigo ministro diz que “seria muito interessante voltarmos a visitar um tema destes, com atualizações. O relatório Porter foi feito há 30 anos”. Mira Amaral acredita que, num momento em que o país apresenta um equilíbrio macroeconómico, sem défices e com um ligeiro superavit e com níveis de desemprego baixos, este seria um bom momento para “voltar a fazer um novo exercício para centrar [atenções] na microeconomia e nas empresas”.

Está na hora de voltar a discutir a microeconomia e a economia real. Seria muito interessante voltarmos a visitar um tema destes, com atualizações. O relatório Porter foi feito há 30 anos

Luís Mira Amaral

Ex-ministro da Indústria de Cavaco Silva

Pedro Nuno Santos disse, esta segunda-feira, que quer um novo relatório Porter para saber em que setores da economia apostar. O líder da oposição realça que uma das suas prioridades é “um novo relatório Porter que identifique os setores e as áreas onde já temos competências instaladas, mas onde devemos apostar para transformar a economia e qualificarmo-nos”. Uma proposta que está a gerar opiniões divergentes.

Mira Amaral refere que, a fazer-se um novo diagnóstico da economia, se deveria “convidar um distinto professor com conhecimento empresarial a nível mundial e depois criar um comité com portugueses para acompanhar esse trabalho e a discussão”, tal como fez há três décadas. A AEP foi uma das entidades que integrou a task force formada pelo governo de Cavaco. Ainda que o presidente do conselho de administração da AEP, Luís Miguel Ribeiro, reconheça que “a realização de estudos é sempre um exercício importante, por constituir um instrumento de reflexão com vista a uma atuação estratégica fundamentada“, a associação empresarial identifica outras prioridades.

Mais do que novos relatórios, é necessário implementar, de forma célere, políticas que promovam a melhoria da competitividade das empresas, nestes e noutros setores de atividade, com incentivos a investimentos que proporcionem acréscimos significativos de produtividade

Luís Miguel Ribeiro

Presidente da AEP

Mais do que novos relatórios, é necessário implementar, de forma célere, políticas que promovam a melhoria da competitividade das empresas, nestes e noutros setores de atividade, com incentivos a investimentos que proporcionem acréscimos significativos de produtividade”, atira. “As agendas mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) são um bom exemplo”, acrescenta.

O presidente do conselho de administração da AEP recorda que “o estudo de Michael Porter sobre a competitividade da economia portuguesa, em que a AEP teve a oportunidade de integrar uma das chamadas task force, colocou a tónica de uma aposta clara nos clusters/setores ditos tradicionais, conclusões que na altura foram recebidas com alguma surpresa”. Três décadas passadas, tais setores continuam a ter uma elevada representatividade na economia portuguesa, tendo incorporado inovação a diversos níveis, o que lhes permitiu subir na cadeia de valor, e convivem com o reconhecimento de outros clusters de competitividade com impacto nacional”, acrescenta o responsável.

Segundo o presidente da AEP, há hoje 17 clusters, que visam “incentivar a mobilização dos atores económicos para a partilha colaborativa de conhecimento, centrada em ações de eficiência coletiva nos domínios da I&ID, da capacitação, da internacionalização e na sustentabilidade dos recursos”, de acordo com o Despacho que procedeu ao seu reconhecimento para o ciclo 2024-2030.

O diagnóstico está feito“, concorda Rafael Campos Pereira, Vice-Presidente Executivo da AIMMAP — Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal, o setor mais exportador da economia nacional, que exporta mais de 24 mil milhões de euros. O responsável concorda que o investimento não deve ser “acrítico”, mas argumenta que estes setores estratégicos do país estão identificados: “os setores mais tradicionais, desde logo a metalomecânica, pela importância que tem, a agroindústria, calçado e têxtil e as tecnologias da informação e indústria farmacêutica“.

Todos concordam que são aqueles que criam mais reputação e mais valor para a economia portuguesa“, aponta, argumentando que se deve, por isso, passar para a fase seguinte, promovendo a competitividade da economia.

Setores estratégicos vs deixar economia decidir

A ideia de identificar setores estratégicos não é nova e já foi defendida pelo líder do PS nas últimas legislativas. Pedro Nuno Santos apresentou um plano para mudar a especialização da economia portuguesa, assente em “setores de baixa complexidade tecnológica, de menor valor acrescentado” e “em baixos salários”, como se podia ler na moção de estratégia com que concorreu às diretas do partido.

O líder socialista defendia elevar o nível de sofisticação da economia, através da aposta do Estado em setores estratégicos. “O setor privado pode e deve investir onde bem entender, como em qualquer economia de mercado, mas o Estado tem a obrigação de fazer escolhas quanto aos setores e tecnologias a apoiar“, afirmou Pedro Nuno Santos diante do congresso do partido em janeiro do ano passado.

“Em Portugal, a incapacidade de se dizer ‘não’ levou o Estado a apoiar, de forma indiscriminada, empresas, setores e tecnologias, independentemente do seu potencial de arrastamento da economia. A incapacidade de fazer escolhas levou a que sucessivos programas de incentivos se pulverizassem em apoios para todas as gavetas de forma a assegurar que ninguém se queixava. O problema da pulverização dos apoios é que, depois, não há poder de fogo, não há capacidade do Estado de acompanhar, não há recursos suficientes para transformar o que quer que seja”, alertou na mesma ocasião.

O país é que escolhe as áreas em que é competitivo e depois o Estado está cá para ajudar. É a economia ela própria que gera a sua capacidade e gera com base nos seus intervenientes, na sua mão-de-obra, nos seus recursos humanos, na ciência, no conhecimento, na capacidade de inovação e investigação. A economia gera-se por si própria.

Luís Montenegro

Primeiro-ministro

Numa resposta à proposta de Pedro Nuno Santos, o primeiro-ministro Luís Montenegro disse que, “nesta altura em que alguns ostentam a ideia que o Estado deve definir as áreas económicas nas quais o país deve alocar os seus recursos, temos uma filosofia diferente. O país é que escolhe as áreas em que é competitivo e depois o Estado está cá para ajudar“.

“É a economia ela própria que gera a sua capacidade e gera com base nos seus intervenientes, na sua mão-de-obra, nos seus recursos humanos, na ciência, no conhecimento, na capacidade de inovação e investigação. A economia gera-se por si própria. O Estado não deve atrapalhar, mas estimular”, reforçou o chefe do Governo numa cerimónia na Ogma, afastando a ideia de repetir-se o estudo promovido pelo governo cavaquista nos anos 90.

Em 1994, o Governo de Cavaco Silva encomendou a Michael Porter um relatório sobre a competitividade da economia portuguesa. O documento entregue defendia uma aposta nos setores tradicionais e foi um momento importante para a indústria portuguesa, uma vez que permitiu ao país focar-se nestes setores.

A aplicação do projeto Porter permitiu melhorias evidentes nos setores tradicionais como o calçado, têxtil, vestuário e confeções, nos vinhos e no mobiliário. Teve um impacto médio nas condições de procura, ou seja, a sofisticação da procura doméstica não aumentou muito. E teve um efeito baixo em todos os elementos de cooperação entre as empresas”, comentou Mira Amaral, por altura da comemoração dos 25 anos do projeto, em 2019. O responsável lamentava, na época, a falta de aposta em verdadeiros clusters tecnológicos, criticava a excessiva atomização do tecido empresarial português e defendia que é necessário ganhar escala e que os incentivos públicos devem servir para isso mesmo.

Ainda que não defenda a elaboração de um novo relatório Porter, o Executivo tem vindo a destacar alguns setores da economia onde identifica mais oportunidades, ou onde o país é mais competitivo. Ainda esta segunda-feira, o ministro da Economia, Pedro Reis, destacou, na cerimónia de apresentação dos resultados intermédios do projeto Lusitano, uma agenda do PRR com um investimento de 111,5 milhões de euros da fileira do têxtil e do vestuário, que este setor “é um dos que nos deve orgulhar e nos prestigia”.

O ministro que detém a pasta da Economia destacou ainda que a economia da defesa “é uma oportunidade enorme para este setor”, destacando que o Governo está empenhado em trazer para Portugal investimento neste setor, assim como “mobilizar empresas portuguesas, para captar o potencial gigante de encomendas europeias e mundiais“.

O governante tem ainda apontado outros exemplos onde acredita que Portugal pode diferenciar-se, nomeadamente no setor da inovação e tecnologias, da sustentabilidade, economia do mar, automóvel e no setor aeroespacial.

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Casas a custos acessíveis, alojamento estudantil e parte de agendas mobilizadoras podem cair do PRR

“Se houver necessidade de fazer escolhas entre um investimento ou outro, daremos prioridade aos investimentos financiados através de subvenções a fundo perdido”, diz Castro Almeida ao ECO.

O Governo garante que o objetivo é continuar a executar todos os investimentos da bazuca europeia, sejam financiados por subvenções ou por empréstimos. No entanto, os “níveis de prioridade são diferentes”, diz ao ECO o ministro da Coesão, Manuel Castro Almeida. E “se houver necessidade de fazer escolhas”, a construção de casas a custos acessíveis, de alojamento estudantil e algumas agendas mobilizadoras poderão cair do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), tal como já aconteceu com a linha violeta do Metro de Lisboa ou a barragem do Pisão.

“O objetivo do Governo continua a ser executar todos os investimentos do PRR, quer sejam financiados através de subvenções a fundo perdido, quer sejam financiados através de empréstimos”, disse Castro Almeida questionado pelo ECO sobre os investimentos que poderão não ser executados com empréstimos do PRR, depois das declarações do ministro Adjunto e da Coesão ao Público esta terça-feira.

“São níveis de prioridade diferentes”, explicou Castro Almeida. “Se houver necessidade de fazer escolhas entre um investimento ou outro, daremos prioridade aos investimentos financiados através de subvenções a fundo perdido”, precisou.

Se houver necessidade de fazer escolhas entre um investimento ou outro, daremos prioridade aos investimentos financiados através de subvenções a fundo perdido.

Manuel Castro Almeida

Ministro Adjunto e da Coesão Territorial

E o que pode estar em risco caso seja necessário fazer escolhas? O ministro não esclareceu. Mas de acordo com a Decisão de Execução do Conselho de 2023, associados aos quatro últimos pedidos de pagamento, na vertente dos empréstimos estão os investimentos relativos ao parque habitacional público a custos acessíveis, ao alojamento estudantil a custos acessíveis e a conclusão de 446 produtos, processos ou serviços, ou seja, uma das metas das agendas mobilizadoras. Investimentos que, ao que o ECO apurou, apresentam maiores riscos de execução.

Recorde-se que na reprogramação do PRR que o Governo entregou à Comissão Europeia, no início de fevereiro, são retiradas do financiamento do PRR 3.300 casas do parque habitacional público a custos acessíveis. Ainda assim a meta subsiste: construir, incluindo a compra, de novos edifícios e reabilitar habitações públicas de modo a disponibilizar 3.500 alojamentos e subsequentemente arrendá-los a preços acessíveis a grupos-alvo identificados. Mas muitos destes investimentos ainda não estão contratados pelas autarquias e há o risco de não estarem concluídas até 30 de junho de 2026. O próprio Executivo reconhece que “a implementação deste investimento tem enfrentado algumas dificuldades, com pouca procura por parte dos Municípios, essencialmente por se tratar de empréstimos”.

No mesmo exercício, no alojamento estudantil a custos acessíveis que previa disponibilizar 18 mil camas, “novas e renovadas, através da construção de novos edifícios, da reabilitação de edifícios existentes e da modernização e expansão das residências para estudantes existentes, dando prioridade à utilização por estudantes”, a meta das 18 mil camas foi mantida, mas eliminaram-se as metas intermédias. Mas a execução da medida está atrasada.

Por outro lado, ao nível das agendas mobilizadoras, as relacionadas com a energia têm apresentado “dificuldades adicionais” porque o “mercado não está maduro” e porque as “agendas de descarbonização tinham a expectativa de que o hidrogénio verde ia ser fornecido”, como alertou no Parlamento, em outubro, o presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR. Já depois da reprogramação entregue em Bruxelas, Pedro Dominguinhos disse no ECO dos Fundos que há “a expectativa” de “uma redução da ambição” em algumas agendas, nomeadamente na área da energia, “naquilo que é investimento produtivo ou na utilização de algumas verbas para transformação ou introdução de novas tecnologias”.

Há cerca de cinco a seis agendas que poderão não precisar de todo o apoio inicialmente previsto, até porque a construção de fábricas acabará por não acontecer no prazo previsto e a opção do IAPMEI poderá passar por unidades piloto, uma versão mais minimalista, apenas para testar o conceito, apurou o ECO.

Há outros investimentos assegurados pela componente empréstimos como a construção ou melhoramento de 30 quilómetros de estradas para assegurar ligações transfronteiriças e de mais 42 para garantir o acesso às zonas de acolhimento das empresas, mas apesar de algum atrasos de dois a três meses, ao que o ECO apurou, tudo leva a crer que a IP conseguirá concluir os projetos. O mesmo se passa com a receção e aceitação da “Plataforma Naval de Natureza Multifuncional” e do “Centro de Operações” que está a ser construída e, para evitar atrasos, a Marinha tem destacado equipas para a Roménia por 15 dias a cada mês.

Na reprogramação do PRR entregue em fevereiro, que Bruxelas está a analisar – sendo que “o trabalho de revisão está a decorrer a todo o vapor”, como disse ao ECO um porta-voz da Comissão Europeiao Executivo optou por retirar da bazuca tudo o que estava em risco de não ser concluído até junho de 2026. As saídas mais avultadas são 3.300 casas do parque habitacional público a custos acessíveis; os investimentos na Linha Violeta (Odivelas-Loures) e parte da expansão da Linha Vermelha (São Sebastião-Alcântara) do Metro de Lisboa; a dessalinizadora do Algarve; a Barragem do Pisão e Tomada de Água do Pomarão. Todos estes investimentos terão de encontrar uma alternativa de financiamento no Portugal 2030, junto do Banco Europeu de Investimento ou do Orçamento do Estado.

Muitos deles eram assegurados por empréstimos do PRR. Isto porque o Governo anterior já tinha optado, à cautela, por passá-los das subvenções para os empréstimos. O Executivo de António Costa pretendia garantir que não se perdiam subvenções a fundo perdido e os investimentos com risco de atraso eram financiados por empréstimos que, caso não viessem a ser usados acabariam por não pesar nas contas públicas.

A estratégia usada na reprogramação aceite em Bruxelas em 2023 é a mesma seguida pelo Governo de Luís Montenegro. De sublinhar que na proposta que a Comissão está a analisar, Portugal sugere alterar o tipo de financiamento de algumas medidas como por exemplo as áreas de acolhimento de empresas que saem das subvenções e passam para os empréstimos – um sinal de que o investimento está em risco. Em causa estava o melhoramento de dez áreas até ao quarto trimestre deste ano.

O documento da reprogramação não identifica outros exemplos.

Portugal começou com 2,7 mil milhões de euros de empréstimos na bazuca, mas dada a ambição das agendas mobilizadoras e a opção de chutar para os empréstimos os projetos com maior risco de execução, na reprogramação de 2023, os empréstimos engordaram para 5,9 mil milhões. Portugal poderia ter pedido mais 8,3 mil milhões, até 31 de agosto de 2023 – uma ideia sempre defendida pelo ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, para financiar os projetos de água –, mas a opção não foi essa para não pesar nas contas públicas nacionais.

Desde que entrou em funções a 2 de abril, o PRR passou de uma execução financeira de 4.129 milhões de euros (19%) para 6.863 milhões (31%) a 12 de março. Castro Almeida diz que “os resultados obtidos até ao momento refletem o absoluto compromisso do Governo com a execução do PRR, um compromisso que foi fundamental para a recuperação dos atrasos iniciais e que será mantido ao longo do processo”.

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Portugal escapa (para já) a pessimismo que encolhe crescimento da Zona Euro

Desde o início do ano, três das principais instituições económicas internacionais cortaram as perspetivas de crescimento dos países do euro para 2025. Desempenho do último trimestre ajuda Portugal.

A incerteza internacional, sobretudo relacionada com a Administração Trump, está a fazer-se sentir na Zona Euro, região para a qual já se espera menos crescimento. A performance dos países da moeda única é também, e principalmente, penalizada pelo desempenho da economia alemã. Mas, para já, Portugal parece escapar à onda de pessimismo, ajudado por um último trimestre acima do esperado.

Após uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) da Zona Euro de 0,7% em 2024, o cenário agora esperado é de uma ligeira aceleração do crescimento. Contudo, desde o início do ano, três das principais instituições económicas internacionais já cortaram as projeções para este ano.

Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

Na segunda-feira, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apontou para um crescimento de 1% em 2025 e de 1,2% em 2026, menos 0,3 pontos percentuais (pp.) em ambos do que previa em dezembro. O tom ligeiramente mais pessimista seguiu o manifestado pelo Banco Central Europeu (BCE) na reunião do Conselho de Governadores há duas semanas.

Os técnicos da instituição liderada por Christine Lagarde reviram em baixa de 0,2 pp. a previsão para 2025 e 2026 face a dezembro, para 0,9% e 1,2%, respetivamente, refletindo um desempenho mais fraco do investimento e das exportações no quarto trimestre de 2024, que consideram não deverá ser recuperado em 2025.

“Além disso, as taxas de crescimento trimestrais foram revistas em baixo em 2025 e 2026 devido à incerteza política persistente e dos desafios de competitividade”, assinalou o BCE na análise divulgada na altura.

Um pessimismo que já tinha tido o rosto do Fundo Monetário Internacional (FMI), quando em janeiro cortou as projeções de crescimento dos países da moeda única. A instituição de Bretton Woods apontou para um crescimento de 1% este ano e de 1,4% em 2026, menos 0,2 pp. e menos 0,1 pp., respetivamente, do que nas projeções de outubro.

“Na Zona Euro, espera-se que o crescimento recupere, mas a um ritmo mais gradual do que o previsto em outubro, com as tensões geopolíticas continuando a pesar sobre o sentimento“, destacou.

Apesar das nuvens negras, Portugal e Espanha parecem escapar para já às repercussões mais negativas. “Apesar da conjuntura mais adversa da Zona Euro, acredito que Portugal poderá manter um crescimento acima da média da União Europeia, porque é isso que tem acontecido. O país tem conseguido destacar-se pela positiva”, considera Ricardo Ferraz, professor no ISEG e na Universidade Lusófona, em declarações ao ECO.

Apesar da conjuntura mais adversa da Zona Euro, acredito que Portugal poderá manter um crescimento acima da média da União Europeia, porque é isso que tem acontecido. O país tem conseguido destacar-se pela positiva.

Ricardo Ferraz

Professor no ISEG e na Universidade Lusófona

O economista assinala que na contribuição para o crescimento do PIB se tem destacado o consumo das famílias e o turismo, não esperando “grandes alterações” nestas dinâmicas, “apesar das guerras e das tarifas” e da conjuntura de incerteza. Segundo Ricardo Ferraz, “eventualmente pode vir a ter algum impacto, mas não é para já”.

Uma confiança com a qual o Governo também se mostra em campo. Um dia após a queda do Executivo devido ao chumbo da moção de confiança no Parlamento, o ministro das Finanças afastou a possibilidade de as eleições terem um impacto negativo na economia e reafirmou a expectativa de o país superar o crescimento de 2,1% previsto no Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) e, na ausência de choques imprevistos, chegar a uma taxa de 2,5% este ano.

“A economia portuguesa teve um crescimento de 1,9%, superior à estimativa das instituições. O quarto trimestre foi francamente positivo. Tivemos o maior crescimento em cadeia da união europeia com 1,5%, o terceiro maior crescimento em variação homóloga com 2,9% e isso significa o efeito carry over para 2025 de 1,4%”, referiu o governante.

O efeito de arrastamento da reta final do ano passado é também destacado pelo diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira. “O último trimestre do ano foi muito melhor do que se estava a espera, só por isso as estimativas deveriam ter sido automaticamente revistas em alta em função desse número do final do ano“, referiu ao ECO.

O último trimestre do ano foi muito melhor do que se estava a espera, só por isso as estimativas deveriam ter sido automaticamente revistas em alta em função desse número do final do ano.

Pedro Braz Teixeira

Diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade

Um desempenho também assinalado recentemente pela presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP), Nazaré da Costa Cabral, em entrevista ao ECO.Não obstante estarmos num período bastante crítico e que nos suscita uma série de riscos para o futuro, a dimensão externa também foi favorável. A economia portuguesa apresentou um excedente externo em 2024 de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Estamos a revelar alguma resiliência, por exemplo, no sentido de obtenção de alguns ganhos de quota de mercado”, destacou.

No entanto, ninguém deixa de reconhecer os riscos associados à incerteza externa. Pedro Braz Teixeira assinala que “atualmente está a valorizar-se os riscos de más notícias, que vêm sobretudo da América”.

O Presidente dos EUA, Donald TrumpEPA/CHRIS KLEPONIS / POOL

“Há a incerteza sobre as políticas norte-americanas, nomeadamente sobre tarifas, com este avança e recua que não há meio de estabilizar. E depois, os primeiros sinais do primeiro trimestre da economia dos EUA são bastante negativos. Ou seja, ainda antes das políticas de Donald Trump estarem no terreno já estão a ter um efeito bastante negativo”, aponta.

O economista destaca que, por outro lado, o protecionismo de Trump “está a levar a União Europeia a acordar de alguma maneira e a tomar um conjunto de medidas que poderá estimular a economia”.

Ainda assim, admite que “todas estas más notícias, a determinada altura, se vão repercutir para Portugal, a que acresce a incerteza política”, considera. Isto porque, argumenta, se temos uma continuação do primeiro-ministro é capaz de não haver grandes alterações e impacto na economia, mas se vamos ter dificuldade em formar um Governo isso vai trazer mais incerteza à economia”.

Por seu lado, Ricardo Ferraz, acredita que as legislativas antecipadas “não terão propriamente impacto a nível macro, uma vez que até lá o Governo vai continuar a fazer o que está a fazer e as eleições são daqui a dois meses”.

Embora as instituições internacionais não tenham para já atualizados as projeções para a economia portuguesa — na quinta-feira será a vez de o Banco de Portugal (BdP) fazê-lo –, divulgaram-nas para Espanha, economia cujo desempenho recente Ricardo Ferraz assinala ser semelhante ao português. Tanto a OCDE como o FMI reviram em ligeira alta, esperando agora uma expansão do PIB de 2,6% e de 2,3%, respetivamente, este ano.

Alemanha escapa à recessão, mas não às revisões em baixa

As instituições económicas internacionais preveem que a economia alemã saia da recessão este ano, após uma contração de 0,2% em 2024, embora também tenham cortado as perspetivas face aos últimos relatórios.

A OCDE reviu em baixa de 0,3 pp. o crescimento da Alemanha deste ano face a dezembro, para 0,4%. Um pessimismo ao qual o FMI já se tinha adiantado quando, em dezembro, cortou a expansão do PIB em 0,5 pp., para 0,3%.

Na segunda-feira, o instituto alemão Ifo apontou para um crescimento de 0,2% em 2025, menos 0,2 pp. do que esperava anteriormente. “A economia alemã está a estagnar. Apesar da recuperação do poder de compra, a confiança dos consumidores continua baixa e as empresas também estão relutantes em investir”, salientou Timo Wollmershäuser, responsável pelas previsões económicas do Ifo, citado em comunicado.

Porém, não é apenas a Alemanha que é alvo de cortes nas perspetivas. A OCDE também está ligeiramente mais pessimista sobre a economia francesa e italiana, esperando agora um crescimento de 0,8% e de 0,7% em 2025, menos 0,1 pp. e menos 0,2 pp. do que anteriormente.

Já o FMI cortou o crescimento da economia francesa, para 0,8% (menos 0,3 pontos do que anteriormente), e da economia italiana este ano para 0,7% este ano (menos 0,1 pontos).

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Paulo Almeida: “Nem eleições, nem comissões”

  • BRANDS' ADVOCATUS
  • 19 Março 2025

Paulo Almeida, advogado na Rödl & Partner, partilha a sua opinião sobre o mais recente caso do primeiro-ministro Luís Montenegro e a consequente crise política.

Sabendo que os titulares de cargos políticos e de altos cargos públicos exercem as suas funções em regime de exclusividade, bem andou Luís Montenegro ao renunciar à gerência da firma SPINUMVIVA, LDA. Fê-lo atempadamente, em Junho de 2022, quase 2 anos antes de tomar posse como primeiro-ministro. Todavia, o primeiro-ministro também não pode deter mais de 10% do capital social de sociedades que participem em procedimentos de contratação pública, ou que nesses procedimentos intervenham como consultores, especialistas, técnicos ou mediadores. Não obstante não se conhecer a prática de qualquer um destes atos impeditivos, o primeiro-ministro Luís Montenegro transmitiu a quota que detinha na dita sociedade. Não só não precisava de o fazer, bem como não parece ter confundido a sociedade com a empresa, pois que uma cessão de quotas não é o mesmo que comprar e vender uma empresa.

Por outro lado, a desformalização e simplificação do registo comercial (Programa Simplex, de 2006) assenta na responsabilização da entidade sujeita a registo comercial, bem como na regra geral de que é esta quem tem interesse em registar os factos que lhe respeitam. Mesmo quando se prescinde do consentimento da sociedade, a cessão de quotas só se torna eficaz quando lhe for comunicada por escrito ou, de alguma forma, por ela reconhecida. Até este momento, não se vislumbra quem é que possa ter sido prejudicado (ou beneficiado) com o registo por depósito da cessão de quotas.

Paulo Almeida, advogado na Rödl & Partner

Neste ponto é de salientar que todas as proposições são verdadeiras ou falsas, conforme sejam demonstráveis ou não. É falso o argumento de que se não fosse esta simplificação, o resultado seria diferente. Dito de outro modo, e para quem clama que a intervenção de um(a) notário(a) ou conservador(a) impede a (i)legalidade, convém lembrar que o que não falta nos tribunais são escrituras públicas declaradas nulas, nestas se incluindo as de justificação notarial (usucapião) que permitem estabelecer novos tratos sucessivos de prédios descritos.

Concluindo, pedir explicações sobre a atividade de uma empresa a quem, em 2022, voluntariamente dela se afastou e da qual já não faz parte, pode até ser bizarro, mas não deveria ser motivo para eleições, nem para comissões.

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UE tem de lidar com mudança de foco dos EUA para Pacífico, diz António Costa

  • Lusa
  • 18 Março 2025

Costa lembra que é da competência dos países e não do Conselho Europeu decidir que armamento comprar. E acredita que a viragem geopolítica nos EUA não começou com Trump e talvez não termine com Trump.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa assumiu esta terça-feira que prioridade geoestratégica dos Estados Unidos mudou da Europa para o Pacífico, considerando “do interesse comum” que os europeus “assumam mais responsabilidade pela sua própria defesa”.

Em entrevista à agência AFP antes da cimeira europeia de quinta-feira em Bruxelas, focada na defesa, o ex-primeiro-ministro português excluiu que os países europeus estejam “necessariamente em competição” com a administração norte-americana de Donald Trump. “Para os Estados Unidos, a sua prioridade geoestratégica já não é a Europa, mas o Pacífico. Estão a pedir aos europeus que assumam mais responsabilidade pela sua própria defesa”, afirmou Costa.

“Isto significa que os americanos estão plenamente conscientes de que temos de ter a nossa própria capacidade de defesa. É do nosso interesse comum”, adiantou.

À frente do Conselho, Costa tem a tarefa de conciliar as posições dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE) sobre o rearmamento e as relações com os Estados Unidos, que têm sido abaladas por posições de Trump em relação à guerra da Ucrânia, no sentido de uma aproximação à Rússia, mas também por ameaças de uma guerra comercial ou de Washington rejeitar defender aliados que não cumprem as metas de investimento em Defesa.

Sobre a fiabilidade dos Estados Unidos, sob liderança de Trump, enquanto aliado, Costa apontou que as relações transatlânticas são “muito antigas” e que “não é a situação de liderança deste ou do outro lado do Atlântico que vai mudar isso de forma duradoura”.

A viragem geopolítica nos Estados Unidos não começou com Trump e talvez não termine com Trump. A Europa tem de fazer o que tem de fazer, independentemente da posição dos Estados Unidos e de Donald Trump”, afirmou. Questionado sobre a razoabilidade de, no âmbito do esforço de rearmamento em curso, os países europeus comprarem aviões de combate F-35 aos Estados Unidos, Costa sublinhou que é da competência dos países, não do Conselho decidir que armamento adquirir.

“Se comprarmos mas não tivermos controlo sobre a utilização [das armas], isso é um problema”, respondeu a propósito de notícias sobre a capacidade de os EUA inutilizarem remotamente armamento de alta tecnologia como os F-35, que diversos países europeus têm vindo a adquirir.

Questionado sobre se os europeus devem agora comprar equipamento europeu, Costa sublinhou que a disponibilidade e o horizonte temporal são condicionadores das decisões dos países, o que também reforça a importância do aumento da capacidade de produção própria.

“A preferência europeia é a preferência natural, mas quando falamos com os Estados-Membros, o que todos nos dizem é que, para certas capacidades, a grande dificuldade é encontrar onde comprar porque não há produção suficiente. (…) O equipamento de que necessitamos atualmente deve ser adquirido onde estiver disponível, na Europa, na Coreia do Sul, no Japão, nos Estados Unidos ou na Turquia”, afirmou Costa.

“Quando olhamos para o longo prazo, é claro que o importante não é apenas comprar, mas também produzir. E, para isso, precisamos de reforçar a nossa base industrial e tecnológica. Estamos a fazer isso”, adiantou.

O presidente do Conselho Europeu sublinhou ainda que “seria um grande erro” uma guerra comercial entre Bruxelas e Washington, caso prossiga a escalada de aumentos de tarifas aduaneiras aplicadas ou ameaçadas nas últimas semanas. “Se queremos investir mais, não podemos criar problemas económicos. É uma situação em que todos perdem”, afirmou Costa.

Sobre a guerra na Ucrânia, que estará novamente no centro das discussões dos líderes europeus na cimeira de Bruxelas, Costa sublinhou que a Europa está “pronta a participar” na solução. “Sob a liderança da França e do Reino Unido, estamos a preparar-nos para participar em todas as eventuais medidas de segurança para garantir a paz, se e quando ela chegar”, afirmou.

Costa considerou “positivo” que Washington e Moscovo estejam em discussões, mas reiterou a posição de Bruxelas de “não pode haver negociações sobre a Ucrânia sem a Ucrânia, enquanto Estado soberano”, e só esta “pode decidir quando, como e até onde ir nestas negociações”.

“Mas penso que toda a gente já compreendeu, em primeiro lugar os Estados Unidos, que a questão não é apenas a Ucrânia, mas a segurança da Europa”, adiantou. “A ameaça que enfrentamos diz respeito a todos nós(…) É também por isso que estamos todos unidos no nosso apoio à Ucrânia. Porque defender a Ucrânia é o primeiro nível da nossa própria defesa”, sublinhou.

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Benfica quer aumentar receitas para 500 milhões de euros em cinco anos

O Benfica apresentou um ambicioso plano estratégico para crescer até 500 milhões de receita consolidada no próximo quinquénio, reforçando receitas comerciais e controlando os custos operacionais.

Pela primeira vez na sua história, o Benfica apresentou esta terça-feira as contas intercalares relativas ao primeiro semestre, que mostraram um crescimento de 128% do resultado líquido para 34,6 milhões de euros.

Mas a grande novidade veio da voz de Nuno Catarino, CFO da Benfica SAD, que em entrevista ao ECO (que vai ser publicada na íntegra amanhã) anunciou um ambicioso plano estratégico para os próximos cinco anos: aumentar as receitas consolidadas do universo Benfica dos cerca de 300 milhões de euros anuais para 500 milhões nos próximos cinco anos.

“A nossa ambição é chegarmos aos 500 milhões de euros de receita consolidada entre clube e SAD nos próximos cinco anos”, afirmou o responsável financeiro da SAD benfiquista. Sublinhando tratar-se de um “desafio muito ambicioso”, Nuno Catarino explicou que o crescimento previsto será transversal às várias linhas de negócio do grupo, com aumentos médios na ordem dos 30%, dependendo das áreas específicas.

Este objetivo representa um crescimento superior a 60% face aos valores atuais e surge numa altura em que o clube e a SAD apresentam resultados financeiros mais sólidos do que até há muito pouco tempo. Recorde-se que, recentemente, a Benfica SAD divulgou um lucro semestral de 40 milhões de euros, o dobro do registado no período homólogo anterior, impulsionado sobretudo pelas receitas da participação na Liga dos Campeões e pelas vendas de jogadores.

Crescer em todas as linhas de negócio

Um dos objetivos centrais deste plano de crescimento, que Nuno Catarino explica em mais detalhe numa entrevista ao ECO que será publicada esta quarta-feira, passa por reduzir significativamente a dependência das mais-valias obtidas com transferências de jogadores.

“Queremos ficar menos dependentes das vendas dos jogadores como linha principal de receita”, frisou Nuno Catarino. Em alternativa, o Benfica pretende apostar numa estratégia clara de diversificação das fontes de receita correntes, nomeadamente através do reforço das receitas comerciais, merchandising, bilhética e patrocínios.

Uma das componentes essenciais deste crescimento prende-se com a renegociação dos direitos televisivos para os próximos dois anos até à centralização dos direitos televisivos, atualmente um tema quente na agenda do clube da Luz. Em declarações ao ECO, Nuno Catarino foi direto: “Não vamos vender nada barato, não precisamos disso. Queremos o melhor parceiro possível e um contrato justo que valorize devidamente a marca Benfica”.

Esta posição foi ainda reforçada, com Nuno Catarino a revelar que as negociações ainda estão em curso e acrescentou que o Benfica tem uma posição negocial forte devido à sua dimensão nacional e internacional. O responsável garantiu ainda que qualquer acordo futuro terá necessariamente de refletir o valor real da marca Benfica no mercado global dos direitos desportivos.

Outro ponto destacado por Nuno Catarino prende-se com a gestão rigorosa dos custos operacionais. Na entrevista ao ECO, o administrador financeiro da SAD encarnada reconhece que os custos com Fornecimentos e Serviços Externos (FSE) cresceram nos últimos anos, mas sublinha que “o montante de FSE está bastante estável. Não temos dúvidas sobre isso.”

Quanto à evolução da dívida líquida, Nuno Catarino esclarece que se encontra controlada e em trajetória descendente no universo da SAD. “Não vejo a dívida como uma ameaça”, afirmou o CFO, sublinhando ainda que o clube — ao contrário da SAD — não tem dívida financeira líquida relevante, reforçando assim uma posição financeira sólida para suportar investimentos futuros.

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André Ventura diz que “é provável” não avançar para as presidenciais

"Não está decidido ainda, mas é provável que isso não aconteça [ser candidato nas presidenciais] visto que este calendário não era o expectável", garantiu André Ventura.

O líder do partido Chega revelou esta terça-feira que ainda não está decidido se avança para as eleições presidenciais, agendadas para o início de 2026, mas o mais provável é não avançar. À RTP3, garante que o foco são as legislativas.

Não está decidido ainda, mas é provável que isso não aconteça [ser candidato nas presidenciais] visto que este calendário não era o expectável. O que era expectável é que o Governo durasse o seu tempo de mandato”, disse em entrevista.

Ventura sublinhou ainda que o seu foco e “obrigação” como líder do Chega é ter a maioria que permita governar Portugal e por isso, neste momento, está “completamente focado” nas legislativas”.

Ainda assim, garante: “O Chega terá voz nessas eleições [presidenciais], sendo eu o não candidato”. André Ventura acrescenta que o partido tem muito clara a mudança que pretende fazer no país.

“99,9% dos portugueses que conheçam o André Ventura dirão que o André Ventura fará sentido como presidente do Chega candidato a primeiro-ministro”, reforçou.

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Falta de sessão solene do 25 de Abril “não choca” o PCP

  • Lusa
  • 18 Março 2025

"Já houve situações em que, com a Assembleia dissolvida, não houve a sessão solene, não nos choca isso", disse o secretário-geral do PCP.

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, considerou esta terça-feira que se não se realizar este ano a sessão solene comemorativa do 25 de Abril não será um problema, lembrando que já em outras ocasiões isso aconteceu.

Já houve situações em que, com a Assembleia dissolvida, não houve a sessão solene, não nos choca isso”, referiu Paulo Raimundo, acrescentando que aguardará pela decisão da conferência de líderes e que não fará “disso um problema”. A conferência de líderes de quarta-feira irá decidir se a Assembleia da República realiza ou não este ano a tradicional sessão solene comemorativa do 25 de Abril de 1974, no atual contexto de crise política e em que o parlamento estará dissolvido a partir de quinta-feira.

“Há uma história para trás, há uma experiência anterior e, portanto, acho que isto deve ser um ponto de partida para essa reflexão”, declarou o dirigente comunista, em declarações aos jornalistas, no Funchal, onde participou numa iniciativa com dirigentes sindicais, no âmbito da campanha eleitoral para as regionais de domingo.

Apesar de reconhecer que a sessão solene “não é um aspeto indiferente”, o secretário-geral do PCP salientou que “aquilo que determinará as comemorações do 25 de Abril é a forma como cada um e as pessoas se mobilizarem para as várias comemorações populares em Lisboa, no Porto, em Setúbal, na Madeira, em todo o lado”.

A sessão que assinala a Revolução dos Cravos no parlamento não se realizou em apenas quatro dos 49 anos da Assembleia da República nascida das eleições de 25 de abril de 1976, data da entrada em vigor da Constituição democrática. Em 1983, em 1993 e em 2011 não houve sessão evocativa no parlamento e em 1992, por proposta do então Presidente Mário Soares, a celebração transferiu-se para a zona de Belém, numa tentativa de a tornar mais apelativa e sensibilizar os mais jovens para as conquistas democráticas.

Em 1983, a sessão no parlamento não se realizou por haver eleições legislativas no próprio dia 25 de abril; em 2011, por a Assembleia se encontrar dissolvida; e em 1993, quando os órgãos de comunicação social decidiram em bloco boicotar todos os trabalhos parlamentares em protesto contra a limitação da circulação dos jornalistas no edifício de S. Bento, em Lisboa. Como não haveria cobertura, decidiu-se cancelar a sessão no parlamento.

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