Presidente da ERC diz que informação “não pode ser roubada por empresas de IA”
Helena Sousa defende que é essencial que a utilização da IA seja feita em benefício dos cidadãos e das empresas. "Hoje é cada vez mais difícil distinguir a realidade do que não é", alertou.
Os perigos e a regulação da inteligência artificial (IA) estiveram em debate esta sexta-feira na conferência anual da Anacom, assim como o futuro da comunicação social em Portugal e os impactos já visíveis da IA na área da saúde.
Num painel inserido na conferência, a presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), Helena Sousa, sublinhou que a IA impacta transversalmente todo o setor dos media, desde o jornalismo ao campo comercial. “Segundo dados europeus, cerca de 20% dos operadores já recorrem a ferramentas de IA. Na ERC procuramos acompanhar estas transformações. Temos uma equipa a estudar o tema há bastante tempo”, afirmou, anunciando ainda que na próxima segunda-feira será lançada uma consulta pública dirigida a operadores e órgãos de comunicação social sobre o impacto da IA.
Para Helena Sousa, é essencial garantir que a utilização da tecnologia seja feita em benefício dos cidadãos e das empresas, sem descurar os riscos. “Hoje é cada vez mais difícil distinguir a realidade do que não é. Se os jornalistas produzem informação, essa informação não pode ser roubada por empresas de IA”, frisou, sublinhando que este é um tema de “maior importância” para o futuro da comunicação social.
Para a responsável, sem órgãos de comunicação social sustentáveis não é possível garantir jornalismo credível. Helena Sousa explicou que a ERC tem de assegurar que, independentemente do recurso a IA, a informação cumpra todas as exigências de rigor, mas reconheceu que o regulador não dispõe de meios para garantir a viabilidade financeira das empresas do setor. “O que temos visto nos últimos anos é uma fragilização da comunicação social. Se a sociedade entende que o jornalismo é fundamental, então cabe aos poderes públicos agir, pois a ERC não tem condições para assumir esse papel”, reforçou.
Se a sociedade entende que o jornalismo é fundamental, então cabe aos poderes públicos agir, pois a ERC não tem condições para assumir esse papel.
“O doente, quando vem ao médico, já traz um diagnóstico, porque já perguntou ao Google e ao ChatGPT”
Também o presidente da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), António Pimenta Marinho, destacou a presença crescente da IA no setor da saúde, quer no acompanhamento dos utentes quer na gestão interna. “O doente quando vem ao médico já traz um diagnóstico, porque já perguntou ao Google e ao ChatGPT. Não tenho dúvidas de que a IA terá cada vez mais custos e impacto na saúde das pessoas”, afirmou.
A ERS realizou um inquérito junto das instituições de saúde reguladas, do qual resultou que 40% já utilizam IA, sendo o setor privado aquele que revela maior adesão. A maioria das unidades recorre à tecnologia como apoio à prática clínica, mas 59% não informa os utentes sobre essa utilização. “Temos que regular a IA, são desafios importantes para os nossos cidadãos”, concluiu o responsável.
Por outro lado, João Osório, consultor da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), alertou para os perigos da ausência de supervisão humana. Recordou um episódio ligado a um clube de futebol profissional, em que um sistema de análise de imagem poderia ter levado à detenção injusta de um adepto. “Imaginem eu ir ao futebol com os meus filhos e ser detido porque o algoritmo disse que eu era outra pessoa. Tenho que ter um sistema que previna o erro. A supervisão humana é fulcral. Tem sempre que haver um plano B, para quando a IA falha”, defendeu.
Helena Sousa sublinhou ainda que “é preciso que seja feita uma distinção clara entre o Governo e o papel do regulador”. As opções políticas, defendeu, são legítimas e bem enquadradas, mas o papel da ERC deve manter-se independente, embora articulado com as restantes entidades. “A nossa relação com a Anacom e várias entidades reguladoras já é bastante boa e considero absolutamente fundamental que continue a melhorar. Independentemente de quem coordena esses trabalhos, não se pode desperdiçar o know-how setorial”, acrescentou.
Nesta conferência, esta sexta-feira de manhã, ficou a saber-se que será precisamente a Anacom a entidade responsável por liderar a regulação da IA em Portugal, conforme anunciou o secretário de Estado para a Digitalização, Bernardo Correia. Caberá à Anacom assumir o papel de autoridade nacional de supervisão do Regulamento Europeu da Inteligência Artificial (AI Act), garantindo a aplicação do quadro legal europeu no contexto português.
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