O dia em direto nos mercados e na economia – 24 de fevereiro

  • ECO
  • 24 Fevereiro 2025

Ao longo desta segunda-feira, 24 de fevereiro, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

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Von der Leyen e Costa chegam a Kiev para assinalar 3º aniversário da invasão. “A Ucrânia é a Europa”

  • ECO e Lusa
  • 24 Fevereiro 2025

"Nesta luta pela sobrevivência, não é apenas o destino da Ucrânia que está em causa. É o destino da Europa", afirma a líder da Comissão Europeia, que vai acelerar entrega imediata de armas e munições.

Os líderes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu já chegaram a Kiev, onde irão manifestar apoio à Ucrânia e ao Presidente Volodymyr Zelensky, por ocasião do terceiro aniversário da invasão russa.

“Estamos hoje em Kiev porque a Ucrânia é a Europa. Nesta luta pela sobrevivência, não é apenas o destino da Ucrânia que está em causa. É o destino da Europa”, afirmou a presidente da Comissão Europeia.

Ursula von der Leyen falava numa mensagem publicada nas redes sociais, acompanhada de um vídeo da chegada de comboio a Kiev ao lado do presidente do Conselho Europeu, o português António Costa.

A presidente da Comissão Europeia chegou acompanhada também por 24 dos seus 27 comissários e foi recebida na estação pelo chefe do gabinete presidencial ucraniano, Andriy Yermak, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Andriy Sibiga.

No comboio, a caminho de Kiev, von der Leyen defendeu que a União Europeia deverá acelerar a entrega imediata de ajuda militar à Ucrânia nas próximas semanas.

A chefe da Comissão Europeia prometeu ainda apresentar “muito em breve” um plano abrangente sobre como aumentar a produção de armas e as capacidades de defesa da UE, do qual a Ucrânia também beneficiaria.

Entretanto, também o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, recorreu à redes sociais para elogiar a resistência da Ucrânia, no terceiro aniversário da invasão russa, num dia em que vários líderes estrangeiros chegaram a Kiev para reafirmar o apoio ao país.

“Três anos de resistência. Três anos de gratidão. Três anos de absoluto heroísmo dos ucranianos”, escreveu Zelensky, agradecendo “a todos aqueles que defendem e apoiam” a Ucrânia.

A visita de von der Leyen e Costa surge numa altura em que Zelensky, que tem sido alvo de críticas por parte do homólogo dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump.

Na semana passada, o Presidente dos EUA considerou que Volodymyr Zelensky era “um ditador” sem legitimidade democrática e acusou-o de começar a guerra e de fomentá-la, coincidindo com a narrativa utilizada pelo Kremlin (presidência russa) para justificar a invasão e destoando da postura da Casa Branca durante o Governo do democrata Joe Biden (2021-2025).

A administração dos EUA também considerou que “são irrealistas” os desígnios de Kiev de aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e de recuperar o território ocupado pela Rússia desde 24 de fevereiro de 2022, nomeadamente a partes das províncias de Donetsk e de Lugansk e a península da Crimeia (ocupada desde 2014).

Em simultâneo, Washington e Moscovo avançaram com reuniões preliminares para esboçar um cessar-fogo e um acordo de paz, que foi amplamente criticado pela União Europeia (UE) e pela Ucrânia, por excluir o país invadido e os países daquele continente, que sentiram os efeitos imediatos do conflito, nomeadamente, o êxodo de cidadãos ucranianos e as consequências socioeconómicas.

Apesar de não estar disponível o roteiro que Ursula von der Leyen e António Costa farão em Kiev, é expectável que ocorra um encontro com o Presidente ucraniano e uma cerimónia para homenagear os militares e a população civil que morreram nos últimos três anos.

António Costa esteve na Ucrânia no dia 01 de dezembro de 2024, coincidindo com o início do seu mandato na liderança do Conselho Europeu.

Entrega imediata de mais armas e munições a Kiev

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou esta madrugada que a União Europeia deverá acelerar a entrega imediata de ajuda militar à Ucrânia nas próximas semanas. “Devemos acelerar a entrega imediata de armas e munições [à Ucrânia]. E esse será o foco do nosso trabalho nas próximas semanas”, disse von der Leyen a um grupo de jornalistas, a caminho de Kiev.

A chefe da Comissão Europeia prometeu ainda apresentar “muito em breve” um plano abrangente sobre como aumentar a produção de armas e as capacidades de defesa da UE, do qual a Ucrânia também beneficiaria.

A Ucrânia tem uma indústria de defesa “altamente inovadora e próspera”, o que deverá reforçar a resiliência da União Europeia, à medida que os 27 membros assumem “mais responsabilidade pela sua própria segurança”, acrescentou a antiga ministra da Defesa alemã.

Von der Leyen enfatizou ainda que a UE preparou um pacote energético ambicioso, que aumentará a segurança energética tanto para a Ucrânia como para a União Europeia. O objetivo, disse, é integrar totalmente os mercados de electricidade da Ucrânia e da Moldávia com o mercado de electricidade da UE até ao final de 2026.

A presidente da Comissão Europeia sustentou que “uma Ucrânia livre e soberana é do interesse de todo o mundo” e alertou que a UE aumentará “as sanções punitivas” contra a Rússia, a menos que Moscovo demonstre “uma vontade real de alcançar um acordo de paz duradouro”.

Nos últimos dias, líderes europeus esforçaram-se por estruturar uma resposta às mudanças políticas do novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, face à guerra na Ucrânia e criar um mecanismo para continuar a apoiar Kiev se a ajuda de Washington falhar.

O envolvimento de Trump com autoridades russas e o seu acordo para retomar laços diplomáticos e a cooperação económica com Moscovo, demonstrados nas últimas semanas, marcaram uma reviravolta dramática na política dos EUA que abalou os líderes na Ucrânia e toda a Europa.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, admitiu no domingo que pode ser forçado a assinar um acordo económico com Washington, que garantiria a continuidade da ajuda à Ucrânia em troca de os Estados Unidos explorarem minerais raros no país. “Se as condições são: ‘não lhe daremos ajuda se não assinar um acordo’, então fica claro”, disse Zelensky durante uma cerimónia a assinalar três anos da invasão russa.

Rangel adverte EUA que UE tem “palavra a dizer” nas negociações

Entretanto, também o ministro dos Negócios Estrangeiros português defendeu que a União Europeia (UE) “tem uma palavra a dizer” em quaisquer negociações para um cessar-fogo e um acordo na Ucrânia, admitindo que só assim pode ser uma “paz justa”.

“A UE e outros países europeus têm uma palavra a dizer no plano negocial”, disse Paulo Rangel, à entrada para uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do bloco comunitário, em Bruxelas, capital da Bélgica e onde estão localizadas as principais instituições da União Europeia.

O governante português acrescentou que no plano que seja esboçado para um cessar-fogo e um eventual acordo de paz, estão incluídas as “garantias de segurança dos países europeus” e também um “esforço financeiro enorme” na reconstrução do país invadido pela Ucrânia há precisamente três anos. “Isso não é possível, nem faz sentido, sem envolver a UE”, sustentou Paulo Rangel.

Os ministros com a pasta da diplomacia da UE reúnem-se em Bruxelas para discutir, entre outros temas, o conflito na Ucrânia, três anos depois de a Rússia iniciar uma invasão que culminou na ocupação de porções significativas das regiões do Donetsk e de Lugansk (a península da Crimeia foi invadida em 2014). Em causa, na reunião de hoje, estão também as negociações preliminares com a Rússia feitas pelos Estados Unidos da América (EUA), que excluíram a Ucrânia e a União Europeia.

Numa mensagem publicada no portal da Presidência da República na Internet, quando se assinala o terceiro aniversário da invasão da Ucrânia, Marcelo Rebelo de Sousa lembra que na madrugada de 24 de fevereiro de 2022 a Ucrânia “foi surpreendida pelo início da violenta invasão da Federação Russa”.

Marcelo: “Paz só poderá ser alcançada com a plena participação da Ucrânia”

Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, salienta que Portugal vai continuar a apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário e que uma paz justa e duradoura só pode ser alcançada com a plena participação dos ucranianos.

“O Presidente da República, hoje, como há três anos, condena inequivocamente a guerra injusta e ilegal da Rússia, perpetrada em violação flagrante da integridade territorial e soberania da Ucrânia, do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas. Portugal reitera o seu apoio à Ucrânia, pelo tempo que for necessário, e continua ao seu lado no caminho para a adesão à União Europeia e nas aspirações de pertença à NATO”, lê-se nesta mensagem.

Em relação à situação atual nos campos militar e diplomático, o chefe de Estado “presta homenagem à resistência e resiliência do corajoso povo ucraniano, apoiando os seus legítimos anseios por uma paz justa e duradoura”. “Paz que só poderá ser alcançada com a plena participação da Ucrânia”, acentua o Presidente da República.

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60% dos jovens avaliam positivamente o EFP

  • Servimedia
  • 24 Fevereiro 2025

Durante anos, o ensino e a formação profissionais (EFP) foram vistos como uma opção educativa menos prestigiada do que a universidade. No entanto, esta visão mudou radicalmente nos últimos anos.

De acordo com o “Relatório sobre as percepções da formação profissional em Espanha”, 60% dos jovens espanhóis consideram que a formação profissional é uma alternativa de qualidade e fundamental para encontrar um emprego.

Esta mudança cultural responde à evolução do EFP, que deixou de ser uma alternativa secundária para se tornar uma via para empregos altamente especializados. O relatório revela que cada vez mais jovens escolhem o EFP devido à sua abordagem prática e à sua ligação direta ao mercado de trabalho, o que reforça o seu papel como pilar essencial do sistema educativo.

Neste contexto, The Core, a escola de formação audiovisual, que pertence à rede de ensino Planeta Formación y Universidades, indicou que está empenhada numa oferta de Formação Profissional inovadora, com ciclos de Estudos Superiores em áreas como o desenvolvimento digital, o marketing e a produção audiovisual. Estas licenciaturas permitem aos estudantes formarem-se num ambiente alinhado com a realidade do setor, com uma abordagem eminentemente prática e em contacto com a indústria.

“O EFP já não é apenas uma alternativa, mas uma escolha de qualidade para milhares de jovens que procuram uma formação especializada orientada para o mundo do trabalho. No The Core, estamos empenhados nesta mudança de paradigma, oferecendo programas adaptados às necessidades da indústria e formando profissionais altamente preparados para enfrentar os desafios do futuro”, afirmou Serafín Barros, diretor do Centro de Formação Profissional do The Core.

Ele salientou que o crescente reconhecimento do EFP como uma opção de qualidade reflecte a importância de continuar a promover programas alinhados com a indústria, como os oferecidos pelo The Core. Com uma oferta formativa alinhada com as novas tendências e um modelo de aprendizagem baseado na experiência, o EFP consolidou-se como uma opção estratégica para o desenvolvimento profissional dos jovens, reafirmando o seu papel no novo paradigma educativo”.

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Costa quer trabalhar com novo chanceler alemão Merz por “Europa mais autónoma”

  • Lusa
  • 24 Fevereiro 2025

Presidente do Conselho Europeu felicita Friedrich Merz pela vitória nas eleições legislativas alemãs, prometendo colaborar com novo chanceler para "tornar a Europa mais forte, próspera e autónoma".

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, felicitou esta segunda-feira o vencedor das eleições alemãs e disse querer trabalhar “em estreita colaboração” com Friedrich Merz para uma Europa “mais forte, mais próspera e mais autónoma”.

“Transmiti a Friedrich Merz os meus parabéns pela sua vitória nas eleições alemãs. Estou ansioso por trabalhar de perto com ele para tornar a Europa mais forte, mais próspera e mais autónoma“, disse Costa.

Numa mensagem nas redes sociais após chegar a Kiev para assinalar o terceiro aniversário da invasão da Ucrânia pela Rússia, o antigo primeiro-ministro português admitiu que “estes podem ser tempos difíceis”.

Mas Costa disse estar convicto de que “tal como no passado, a União Europeia cumprirá a sua promessa e sairá mais forte dela”.

O bloco conservador liderado por Friedrich Merz venceu as eleições legislativas alemãs com 28,6% dos votos, de acordo com dados oficiais, e a Alternativa para a Alemanha (AfD) consagrou-se a segunda força com 20,8%.

O Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler cessante Olaf Scholz, obteve cerca de 16,4% nas eleições de domingo, enquanto os Verdes, parceiro de coligação, tiveram cerca de 11,6% dos votos. A Esquerda (Die Linke) alcançou cerca de 8,8%, acima dos 4,9% de 2012.

O líder conservador, Friedrich Merz, precisará de parceiros para formar governo. O candidato dos Verdes a chanceler, Robert Habeck, afirmou no domingo que está disposto a continuar a assumir responsabilidades no governo, caso Merz coloque essa hipótese.

O partido liberal FDP, que Merz esperava ter do seu lado, não conseguiu atingir o limite mínimo de 5% necessário para entrar no Bundestag, o parlamento da Alemanha.

Alice Weidel, líder da AfD, insistiu no domingo à noite que está disponível para negociações, mas Merz reiterou que rejeita coligações com a extrema-direita, mantendo o ‘cordão sanitário’ contra a extrema-direita.

“Temos opiniões diferentes sobre a política externa, a política de segurança e a NATO. Podem estender-nos a mão o quanto quiserem, mas não vamos cair numa política errada, querem o posto do que nós”, disse o futuro chanceler alemão, num curto debate televisivo com os candidatos dos outros partidos, reforçando que não vai “pôr em causa o legado de 75 anos da União Democrata-Cristã (CDU) só por causa de uma autointitulada Alternativa para a Alemanha”.

Entre as matérias que opõem CDU e AfD conta-se a questão da segurança e defesa, tendo Merz afirmado que, face à pressão da Rússia, mas também da nova administração norte-americana liderada por Donald Trump, que “é largamente indiferente ao destino da Europa”, a grande prioridade deve ser “tornar a Europa progressivamente independente relativamente aos Estados Unidos”.

“Vou formar um governo que represente toda a população e vou esforçar-me por formar um governo que resolva os problemas deste país”, acrescentou Merz.

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Ex-Governador do Banco de Espanha Hernández de Cos, distinguido com um doutoramento honoris causa pela Universidade de Nebrija

  • Servimedia
  • 24 Fevereiro 2025

A Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais reconheceu a sua longa carreira profissional e a sua “valiosa” contribuição para o setor económico e financeiro.

Pablo Hernández de Cos, antigo governador do Banco de Espanha e próximo diretor do Banco de Pagamentos Internacionais, foi agraciado com o título de doutor honoris causa pela Universidade de Nebrija, numa cerimónia realizada no campus Politécnico e de Ciências Sociais de Madrid-Princesa.

No seu discurso de agradecimento. Hernández de Cos analisou o panorama mundial, em que a Europa “está atrasada em termos de dinamismo económico em relação ao resto das grandes economias mundiais” e em que a Espanha “não consegue manter uma trajetória de convergência sustentada do rendimento per capita com o resto dos nossos parceiros europeus há mais de uma década”.

O ambiente de fragmentação e incerteza geopolítica, o envelhecimento da população, a aceleração do desenvolvimento tecnológico e a luta contra as alterações climáticas, entre outros fatores, introduzem, segundo o economista madrileno, novos desafios “aos quais a Europa e a Espanha devem responder com ambição”.

Neste sentido, para além de alcançar “grandes” acordos políticos, as estratégias “mais adequadas” para enfrentar estes desafios resumem-se a “um impulso adicional e definitivo ao projeto de integração europeia, combinado com reformas estruturais profundas à escala nacional e a manutenção de um ambiente de estabilidade macroeconómica – de estabilidade de preços e de estabilidade orçamental”.

Sem descurar questões como a independência, a transparência e a responsabilidade do Banco de Espanha e das instituições “para aumentar a confiança do público nas mesmas”, Hernández de Cos sublinhou a necessidade de trabalhar para uma Europa “mais próspera e unida”. Confessou que tem dedicado o seu trabalho a esta tarefa no Banco de Espanha, no Banco Central Europeu e como membro de vários grupos de trabalho e comités no seio da União Europeia.

Perante a comunidade académica de Nebrija, demonstrou com dados que a Europa tem vindo a perder peso na economia mundial, dado o seu menor crescimento relativo em relação a outras potências. Entre 2002 e 2023, a UE cresceu em média 1,5% ao ano, contra 2,2% dos Estados Unidos e 8,3% da China. E, em termos per capita, o rendimento disponível das famílias europeias cresceu quase metade do dos Estados Unidos desde 2000.

“Por detrás deste abrandamento do crescimento está, sobretudo, um fraco crescimento da produtividade, que conduziu a uma quebra da competitividade europeia. E a raiz da baixa produtividade da Europa está no défice de investimento, apesar de a taxa de poupança das famílias europeias ser elevada, em comparação com a dos EUA, e apesar de manter um excedente da balança corrente”, explicou.

DÉFICE TECNOLÓGICO

O setor tecnológico e o “baixo” dinamismo empresarial estão no centro destas diferenças. Pablo Hernández de Cos sublinhou que apenas quatro das cinquenta maiores empresas tecnológicas do mundo são europeias e que as despesas em I&D das empresas da UE são “significativamente inferiores” às dos seus principais concorrentes, tendo esta diferença aumentado após a crise financeira.

O envelhecimento da população “que irá pressionar em alta as despesas públicas com pensões, cuidados de saúde e cuidados aos idosos” é outro dos elementos preocupantes apontados pelo antigo governador do Banco de Espanha.

Hernández de Cos alertou que, num cenário “extremo” de fragmentação da economia mundial, “por exemplo, dois blocos, Leste-Oeste, em que as tarifas estivessem a níveis semelhantes aos que vigoraram durante a Guerra Fria, poderia haver uma redução dos fluxos comerciais entre os dois blocos entre 20% e 30%, o que teria consequências muito negativas em termos de crescimento económico, particularmente na Europa”.

A “elevada” concentração das importações europeias num pequeno número de fornecedores externos, nomeadamente a China, e a “elevada” dependência energética externa são outras “fontes de vulnerabilidade” para a Europa, que, na sua opinião, deve também responder à “necessidade” de avançar para uma autonomia estratégica no domínio da defesa – “o que exigiria um aumento significativo do atual nível de despesas neste domínio” – e de manter a luta contra as alterações climáticas.

A política de concorrência, na sua opinião, tem sido um fator “fundamental” para o dinamismo da atividade na economia europeia; no entanto, o desenvolvimento de gigantes tecnológicos nos Estados Unidos e a escala de produção na China “põem em causa” a eficácia destas políticas na Europa.

Por outro lado, Pablo Hernández de Cos destacou propostas “relevantes” de redefinição de mercados em alguns setores para favorecer a presença de empresas de maior dimensão e com maior capacidade de investimento e de concorrência internacional, como é o caso das telecomunicações. Esta circunstância e outras associadas à inovação e autonomia na defesa, “estão a gerar uma atitude muito mais aberta em relação à política industrial e aos auxílios estatais”.

IMPOSTOS

O sistema público de proteção social, que “gera efeitos muito positivos na igualdade de oportunidades e na equidade”, mas que também “obriga a níveis de tributação mais elevados que geram encargos mais elevados para as empresas europeias que prejudicam a sua competitividade face aos seus concorrentes internacionais”, foi outro dos temas do seu discurso. Assim, em 2022, a UE tinha um rácio de receitas fiscais em relação ao PIB de 40,2%, em comparação com 27,7% nos EUA e 20,1% na China.

Numa resposta que passa por “mais integração europeia e mais reformas estruturais nacionais, num contexto de estabilidade macroeconómica”, a União Europeia, na sua opinião, à perda de relevância económica europeia e a estes desafios estruturais “deve continuar a promover uma ordem internacional baseada em regras, e o desenvolvimento e projeção dos valores fundadores do projeto europeu de liberdade e solidariedade”.

Hernández de Cos considerou que a redução das barreiras internas “ajudaria as empresas europeias a atingir uma escala ótima para poderem competir melhor à escala global”. De acordo com um relatório recente do FMI, as barreiras internas na Europa são equivalentes a tarifas na ordem dos 44% na indústria transformadora e 110% nos serviços e a sua existência reduz o crescimento potencial em cerca de 10%.

De acordo com os relatórios Letta e Dragui, o aprofundamento do mercado único “implica dar um papel predominante às políticas europeias em detrimento das iniciativas nacionais”.

Na cerimónia realizada no Campus Politécnico e de Ciências Sociais da Universidade de Nebrija, em Madrid-Princesa, Pablo Hernández de Cos defendeu os investimentos em grandes projetos, a evolução para uma União Fiscal e a garantia de estabilidade orçamental. A estratégia de financiamento comum “permitiria ultrapassar uma das suas deficiências históricas: a falta de uma capacidade orçamental centralizada de dimensão suficiente”. A existência de mecanismos de política cíclica na zona euro para garantir que a orientação da política orçamental agregada seja “a correta no momento certo” foi outra das suas reflexões.

Nas fases iniciais das novas regras, “seria aconselhável reforçar o papel das autoridades independentes de responsabilidade orçamental a nível nacional e europeu para permitir um funcionamento mais automático das regras que as tornaria mais credíveis e previsíveis”.

Outras mensagens transmitidas pelo antigo Governador do Banco de Espanha incluem que o financiamento privado “deve desempenhar um papel fundamental”, a conclusão da União Bancária e a criação de uma União dos Mercados de Capitais. “A existência de um ativo seguro pan-europeu com uma profundidade de mercado suficiente pode contribuir para a integração dos mercados de capitais privados, na medida em que facilitaria que os preços dos ativos financeiros de rendimento fixo ou das ações refletissem melhor os seus riscos fundamentais”, acrescentou.

No domínio da União Bancária, Hernández de Cos reconheceu progressos “significativos” com a criação do Mecanismo Único de Supervisão, do Mecanismo Único de Resolução e de um quadro regulamentar único, mas “a tarefa também não está concluída”. A criação de um Fundo Europeu de Garantia de Depósitos “totalmente mutualizado” ainda está pendente.

Proporcionar um quadro regulamentar e um ambiente institucional estáveis e aumentar a eficácia e a eficiência das administrações públicas, alargando uma cultura de “avaliação permanente” das políticas públicas, constituíram outros pedidos de melhoria, entre os quais incluiu os relativos ao mercado de trabalho. Neste último aspeto, “embora nos últimos anos se tenha verificado um aumento significativo da taxa de emprego e uma redução do trabalho temporário, o grau de estabilidade do emprego continua a ser significativamente superior ao observado na União Económica e Monetária e a taxa de desemprego é ainda quase o dobro”.

O desemprego juvenil, a incidência do desemprego de longa duração e a situação laboral dos trabalhadores próximos da idade da reforma, bem como a escassez de mão de obra em determinados setores, exigem, na sua opinião, uma revisão das políticas atuais para reduzir a taxa de desemprego estrutural da economia espanhola.

Na cerimónia de investidura, José Luis García Delgado, professor de Economia Aplicada na Universidade de Nebrija e diretor do Observatório de Língua Espanhola de Nebrija, foi o padrinho académico. Delgado destacou a atitude “pró-ativa e esperançosa” de Hernández de Cos e a sua “formidável” carreira profissional e académica, “uma das carreiras mais brilhantes de que há registo na banca central”, segundo o seu mentor, o Professor González-Páramo.

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Espanha reforça a sua oferta hoteleira como destino de golfe

  • Servimedia
  • 24 Fevereiro 2025

O complexo Fairmont La Hacienda foi a primeira grande inauguração hoteleira do ano, acrescentando um novo resort de golfe ultra-luxo à lista de estabelecimentos de renome deste tipo em Espanha.

A chegada deste hotel ultra-luxuoso confirma o bom pulso da atividade hoteleira e turística especializada no golfe no país, tal como assinala o último estudo da Universidade IE, realizado em colaboração com a Associação Espanhola de Campos de Golfe e a Real Federação Espanhola de Golfe, que afirma que Espanha recebeu cerca de 1,4 milhões de turistas de golfe em 2023, que geraram uma despesa turística de 6.344 milhões de euros. Estes números colocam a Espanha como líder no turismo de golfe, atraindo 42% dos turistas de golfe estrangeiros dos mais importantes países europeus de origem, à frente de outros destinos populares como a Irlanda, França, Portugal e Reino Unido, que recebem cerca de 25% destes turistas.

O novo hotel Fairmont La Hacienda, o único hotel de luxo em Espanha (propriedade do grupo francês Accor), cujo proprietário é o socimi Millenium, pretende tornar-se uma das referências de ultra-luxo do país. Inspirado no património cultural da Andaluzia, dispõe de 213 quartos e residências de marca com vistas panorâmicas sobre o Mediterrâneo, bem como de dois campos de golfe de prestígio, entre os quais o La Hacienda Links Golf, que há três anos faz parte da rede de campos de golfe mais exclusiva do mundo, compilada pela European Tour Destinations.

Também na Andaluzia, La Finca Cortesin em Málaga, já em funcionamento há alguns anos, está a preparar uma expansão de todo o seu complexo com a intenção de construir um macro-projeto que aumentará a capacidade do resort com cerca de 800 casas. Prevê-se que tenha início em 2026, com um investimento de cerca de 600 milhões de euros. Entretanto, o hotel localizado no resort foi reconhecido como o segundo melhor hotel de Espanha na lista 10Best dos Beyond Luxury Awards 2024; e o seu campo de golfe recebeu o título de “melhor campo de golfe de Espanha” nos World Golf Awards 2024 no final do ano.

Além destes, existem outros resorts de golfe que se mantêm na elite em Espanha, como o Abama Resort em Tenerife, com as suas 151 residências de luxo premiadas nos World Travel Awards pelas suas vistas para o oceano e para a ilha de La Gomera; ou o Grand Hyatt La Manga Club Golf em Múrcia, o primeiro da marca em Espanha (existe um segundo em Barcelona, mas é um hotel urbano) com mais de 200 quartos e suites, com influências mouriscas na sua decoração e vistas para o Mar Mediterrâneo e para o parque natural de Calblanque. Também alberga três dos melhores campos de golfe de 18 buracos da Europa.

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5 coisas que vão marcar o dia

  • ECO
  • 24 Fevereiro 2025

UE debate a agricultura e a FESAP e Governo analisam possível criação de novas autoridades no âmbito da administração pública. Já o Eurostat revela como a inflação evoluiu em janeiro na Zona Euro.

No início de uma semana em que a gasolina fica mais barata, os ministros dos Estados-membros da União Europeia (UE) responsáveis pela Agricultura e pelas Pescas debatem questões relacionadas com o setor, enquanto Pedro Cabeços assume funções como presidente do conselho de administração da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP). Já a FESAP e o Governo reúnem-se para analisar a criação de novas autoridades no âmbito da administração pública e o Eurostat dá conta de como a inflação evoluiu em janeiro na Zona Euro.

Virão aí novas autoridades no âmbito da administração pública?

A Federação de Sindicatos da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (FESAP) reúne-se com Joaquim Miranda Sarmento (ministro de Estado e das Finanças), António Leitão Amaro (ministro da Presidência) e Marisa Garrido (secretária de Estado da Administração Pública) para negociar questões relacionadas com a criação de novas autoridades no âmbito dos setores das Finanças, do Orçamento e da Administração Pública, bem como matérias relativas às carreiras dos trabalhadores envolvidos neste processo.

UE debate agricultura

Acontece esta segunda-feira uma reunião entre os ministros dos Estados-membros da União Europeia (UE) responsáveis pela Agricultura e pelas Pescas, estando Portugal representado pelo ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes. Os ministros vão debater a melhor forma de integrar o desenvolvimento rural nas estratégias e fundos da UE e ter em conta as necessidades e os desafios das zonas rurais. Os responsáveis vão ainda debater a situação dos mercados agrícolas e dos produtos de base.

Novo presidente do IGCP assume funções

Pedro Cabeços, o novo presidente do conselho de administração da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) – tal como foi revelado pelo ECO em primeira mão – assume esta segunda-feira as funções que irá desempenhar durante os próximos três anos. Pedro Cabeços, um gestor de mercados que trabalhou em bancos internacionais como o Morgan Stanley e, nos últimos sete anos e até ao final de 2023, no Royal Bank of Scotland, integra o IGCP para substituir Miguel Martin, que terminou o seu mandato no final do ano passado e que não foi reconduzido na função pelo Governo.

Como evoluiu a inflação na Europa?

Esta segunda-feira é dia de o Eurostat dar conta de como a inflação evoluiu em janeiro na Zona Euro. Uma estimativa rápida já divulgada pelo Gabinete de Estatísticas da União Europeia indicou que a inflação na zona euro deve ter voltado no primeiro mês do ano para 2,5%. O indicador tinha terminado o ano passado a acelerar 2,4%.

Preço da gasolina alivia esta semana. Diesel não mexe

O preço da gasolina vai ficar mais barato esta semana, devendo descer 1,5 cêntimos. Já o preço do gasóleo, o combustível mais usado em Portugal, não deverá sofrer alterações. Quando for abastecer, continuará a pagar 1,659 euros por litro de gasóleo simples e passará a pagar 1,758 euros por litro de gasolina simples 95, tendo em conta os valores médios praticados nas bombas à segunda-feira.

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A crescer em conjunto com o departamento de marketing do Grupo Montalva, Marco Andrade, na primeira pessoa

Diretor de marketing do Grupo Montalva, Marco Andrade entende que as suas marcas "convivem bem". Gosta de surf, viagens e desporto e, se não fosse o marketing, seria treinador.

A liderar o marketing do Grupo Montalva há mais de sete anos, Marco Andrade encontrou no grupo dono das marcas Izidoro e Damatta muita aprendizagem e muitos desafios, bem como muitas conquistas, quer do ponto de vista pessoal quer profissional.

O diretor de marketing considera assim que tem crescido em conjunto com a empresa. “Quando entrei, as marcas comunicavam essencialmente em ponto de venda. Mas a gestão das marcas, sendo portuguesas, estava aqui. O departamento começou depois a ter cada vez mais autonomia e importância internamente. Foi um crescimento em conjunto com o departamento, muito interessante, e que continua”, refere.

Isto, “com os desafios de ser uma empresa portuguesa e de ter, portanto, algumas limitações ao nível de orçamento“, o que não significa que “uma boa estratégia montada para um orçamento mais curto não dê resultados e muito pano para mangas“, diz em conversa com o +M.

Em termos de comunicação, o Grupo Montalva “comunica muito pouco como grupo, até porque que a maior parte dos consumidores não o conhece. Conhecem é as marcas”, diz Marco Andrade, sendo que as duas marcas do grupo “convivem bem”, uma vez que “comunicam de forma muito diferente”.

“Basta dizer que a marca Izidoro trata os consumidores por ‘tu’ enquanto a marca Damatta trata os consumidores na terceira pessoa”, refere o responsável. Por outro lado, enquanto a Izidoro comunica para o dia-a-dia do consumidor, querendo estar presente e facilitar as suas rotinas, a Damatta é “mais de experiência gastronómica, para determinados momentos de consumo e que promove a relação entre pessoas”.

A marca Izidoro aposta também numa comunicação “always on” com forte presença omnicanal, enquanto a Damatta foca a sua comunicação em determinados momentos, principalmente no Natal, mas também na Páscoa ou na altura das vindimas.

Além disso, a Damatta assenta muito a sua comunicação no “saber fazer e no sabor dos produtos”, enquanto a marca Izidoro aposta na “confiança e relação que tem com os consumidores no dia-a-dia”. “É muito diferente e perfeitamente compatível“, remata Marco Andrade.

No caso da Izidoro, a marca apostou em outubro passado no lançamento de uma campanha sob o mote “Sem tabus na saúde mental”, com o objetivo desmistificar o tema da saúde mental. “Fazer terapia é um orgulho”, “A doença mental não te define como pessoa” ou “Chorar faz bem” eram algumas das frases que podiam ser encontradas numa edição especial de frascos exclusivos de salsichas.

A nossa estratégia basicamente é preocuparmo-nos com matérias de sustentabilidade social. Preocupamo-nos com o que preocupa os consumidores. E temos feito algumas coisas em termos de sustentabilidade social. Já fizemos campanhas com o Banco Alimentar e com a Terra dos Sonhos, sempre no sentido de promover a comunicação dessas associações junto do consumidor final, e no ano passado decidimos focar num tema que não só preocupasse as pessoas mais necessitadas mas sim toda a gente”, explica o diretor de marketing de 47 anos.

Esta opção deve-se também ao facto de a marca Izidoro ser “completamente transversal a toda a sociedade, quer em idades quer em classes sociais“. “Achámos que tínhamos de falar de um tema que preocupa todos os consumidores e que ao fim ao cabo também só uma marca disruptiva e challenger como a Izidoro é que, se calhar, conseguia fazer”, acrescenta, avançando que este é um tema que a marca não vai deixar cair e à volta do qual vai voltar a “fazer algo” este ano, “provavelmente só nas redes sociais”.

Marco Andrade conta com a colaboração de mais duas pessoas no seu departamento e das agências WisePirates (em digital), Brandkey (em trade marketing), BA&N (em comunicação) e O Escritório (em campanhas).

Depois de fazer a sua formação em business management com especialização em marketing no ISCTE, o profissional iniciou a sua carreira nos CTT, em trade marketing B2B (business-to-business). Após quatro anos, integrou a Sumol, tendo acompanhado o período de aquisição da Compal, que deu origem à Sumol+Compal, onde ficou responsável pelo trade marketing de todas as marcas do grupo, em todos os canais.

A aquisição da Compal por parte da Sumol foi, na verdade, uma das “fases mais desafiadoras” no seu percurso. “Na altura foi feito um pitch e as pessoas que estavam na mesma função foram analisadas. Eu acabei por ficar responsável por um departamento que tinha várias pessoas da Compal e onde pelo menos uma das pessoas poderia estar no mesmo lugar que eu, porque era a responsável por trade marketing da Compal enquanto eu era da Sumol”, refere.

“Essa pessoa acabou por ficar a reportar-me a mim — porque me tinha corrido melhor esse processo de análise — pelo que eu tinha esse desafio de gerir uma pessoa de uma empresa se calhar mais conceituada em termos de marca do que a Sumol. Acho que foi a história mais desafiante que tive, mas correu muito bem e orgulho-me de ainda agora ter uma relação com a pessoa. Foi uma fase difícil para as duas empresas, que tinham culturas muito diferentes, e acho que foi um desafio muito giro em termos profissionais, e que acabou por correr bem, que é o que interessa“, acrescenta.

Marco Andrade passou ainda pela Novadis, uma empresa criada pela Central de Cervejas, onde esteve durante dois anos “basicamente como gestor de negócio”, até ter entrado no Grupo Montalva.

A viver em Lisboa com a mulher e os dois filhos — um de 14 e outro de 10 anos — considera que é “ótimo” viver no Parque das Nações, uma vez que a viagem para o local de trabalho, no Montijo, é feita no sentido contrário ao trânsito, além de que beneficia de uma “vista espetacular” ao passar a ponte.

O diretor de marketing considera ainda que houve duas coisas que, desde a infância, acabaram por marcar a sua vida. Uma delas foi o desporto, uma vez que praticou diversas modalidades de forma federada, desde futebol até voleibol, natação ou polo aquático. A outra foi o facto de ter crescido na Portela (de Sacavém), onde havia muita gente da sua idade, pelo que os anos mais recuados da sua vida foram passados “muito na brincadeira com um grande grupo de amigos”, muitos dos quais preserva até agora.

“Diria que isso foram duas coisas que me marcaram. E esta vontade de estar com amigos que vem desde pequeno, porque brincávamos todos nos prédios da zona, foi muito marcante para mim, para sempre”, acrescenta.

Ao “desporto em geral”, Marco Andrade acrescenta outras duas paixões na sua vida que passam pelo surf mais em concreto — assim como “tudo o que envolve o mar” — e pelas viagens. Isto “para além da família, claro”. “Mas a família diria que é um sonho já cumprido. Agora tenho o sonho de ver pelo menos um dos meus filhos casar“, revela.

Em termos de viagens — e embora também tenha gostado de ir às Filipinas e Patagónia — elege a viagem à Austrália e Nova Zelândia, que fez com mais dois casais amigos, como a mais marcante até agora. “Foi marcante pelas belezas das paisagens da Nova Zelândia, pelos comportamentos das pessoas australianas e pela sua forma de encarar a vida, pelas atividades que fizemos, como saltar de uma ponte… diria que a diversidade de experiências que tive nesta viagem foi de facto muito marcante”, refere.

Um facto relacionado com as viagens que considera engraçado prende-se com, muitas vezes, as fazer em conjunto com outros casais, que já conhece há muitos anos. Quando visitou as Filipinas, por exemplo, fê-lo em conjunto com outros oito casais. “Às vezes perguntam como é que ninguém se chateia. E acho que ninguém se chateia porque nos damos há muitos anos. Mesmo sendo diferentes, como já nos conhecemos, aquilo já é o esperado daquela pessoa, é assim que nós a conhecemos“, observa.

Já a próxima viagem que gostaria de fazer num futuro próximo, em conjunto com “os miúdos”, é ao Japão, também pela sua diversidade cultural.

Se não fosse o marketing, talvez Marco Andrade tivesse apostado numa carreira como treinador “de qualquer desporto”. Isto porque, além de adorar desporto, também gosta muito de pessoas, de gerir perfomance e de fazer análises, algo que faz até um pouco com os filhos — um joga futebol e o outro rugby — no regresso a casa, após os jogos, onde analisam a partida, o que fizeram bem e o que talvez poderiam ter feito melhor.

É uma vertente que eu gosto, gerir pessoas, ligada a uma outra coisa que gosto, que é o desporto. E acho que há muito esta questão de relação entre a parte emocional e a parte de performance que é muito importante e que acho que encontro um pouco também no marketing. Era uma coisa que me via facilmente a fazer“, acrescenta.

Com o grande desafio de fazer a sua família feliz, Marco Andrade considera-se uma pessoa “altruísta, preocupada com os outros, pragmática mas também com uma veia criativa, emocional — embora não o transmita muito — e perseverante”.

Marco Andrade em discurso direto

1 – Que campanhas gostava de ter feito/aprovado? Porquê?

A campanha “Põe Tudo em Copos Limpos”, da Super Bock, é um excelente exemplo de brand purpose bem alinhado com os valores da marca e contada num momento de consumo do produto. Parte de um insight social forte, relevante no dia a dia das pessoas, para falar de relações entre pessoas com sinceridade e transparência e consegue associar ao momento de consumo da cerveja, reforçando a vertente humana da marca. Tem um tom genuíno e emocional, o que aumenta a identificação dos consumidores. Para além disso, levou ainda o conceito para a embalagem, prolongando a mensagem no tempo e reforçando a presença no momento de conversão.

Já a nível internacional, destaco a campanha “Real Beauty”, da Dove. Tornou-se um movimento de marca que mudou a forma como a sociedade encara a beleza, gerou impacto social, mudou comportamentos e transmite a personalidade da marca, autêntica, irreverente, verdadeira. É o exemplo perfeito de como um brand purpose pode gerar impacto real e resultados de negócio ao mesmo tempo.

2 – Qual é a decisão mais difícil para um marketeer?

Decidir entre gerar resultados imediatos ou construir uma marca cada vez mais forte. O equilíbrio entre fazer diferente ou manter o status quo.

3 – No (seu) top of mind está sempre?

A proposta de valor da marca para clientes e consumidores, os consumidores no contexto omnicanal e os resultados – tanto de marketing como de negócio.

4 – O briefing ideal deve…

Identificar bem o desafio, definir objetivos claros e inspirar. Deve ser suficientemente estruturado para orientar, mas aberto para permitir criatividade e inovação.

5 – E a agência ideal é aquela que…

É parceira estratégica da marca. Pensa primeiro no consumidor, desafia, inova e utiliza criatividade como meio para gerar resultados.

6 – Em publicidade é mais importante jogar pelo seguro ou arriscar?

Arriscar de forma inteligente. A criatividade precisa de ousadia, mas baseada em dados e insights reais. As campanhas que marcam são originais, relevantes e autênticas para o consumidor.

7 – O que faria se tivesse um orçamento ilimitado?

Mais do que o orçamento, o que é mais relevante é a estratégia. Claro que um orçamento ilimitado permite impactar mais consumidores mais vezes e ao longo de todas as fazes da jornada de compra, mas isso não quer dizer obrigatoriamente que os resultados sejam melhores. Particularmente, gostaria de ter impactado mais pessoas com a campanha da Izidoro “Sem tabus na Saúde Mental” e com isso conseguir um mudança positiva com grande impacto social.

8 – A publicidade em Portugal, numa frase?

É o reflexo da cultura do país: criativa, com talento, mas frequentemente limitada por briefings conservadores e estratégias de curto prazo. Marcas e agências precisam de estar mais focadas no consumidor e numa visão de médio prazo.

9 – Construção de marca é?

Como construir amizades. Criar conexões emocionais duradouras com os consumidores. Não se trata apenas de notoriedade ou vendas, mas sim de criar um propósito de marca forte, relevante e genuíno, capaz de gerar lealdade e recomendação.

10 – Que profissão teria, se não trabalhasse em marketing?

Treinador de uma equipa de qualquer desporto. Estratégia, performance e motivação são essenciais tanto no marketing como no desporto.

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“Maior feira de emprego organizada por estudantes” faz ponte entre talento e 76 empresas

Quase 80 empresas e quatro mil alunos prometem marcar presença naquela que será a 25.ª edição do "maior evento de recrutamento organizado por estudantes".

A Faculdade de Economia da Universidade do Porto servirá de palco nos próximos dias à 25.ª edição do “maior evento de recrutamento organizado por estudantes”. Em declarações ao ECO, o project manager da FJC Porto de Emprego, António Costa, adianta que 76 empresas marcarão presença — entre stands, workshops e speed recruitment –, sendo esperados quatro mil alunos.

“Este ano, vamos poder contar com a presença de mais de 70 empresas. Almejamos alcançar mais de 4000 alunos, sendo este um evento aberto a toda a comunidade académica, não restrito a alunos da Faculdade de Economia do Porto“, sublinha o responsável.

Quanto às atividades que estarão incluídas nesta feira, além do “convencional espaço empresa” e das apresentações institucionais das mesmas, será criado um espaço startup, em parceria com a Startup Portugal, serão dinamizados workshops e haverá oportunidades de speed recruitment, isto é, entrevistas de emprego com duração máxima de cinco minutos entre 20 candidatos e 20 empresas.

“Terá lugar no dia 25 de fevereiro, às 14h00, marcando a tarde destes candidatos com a oportunidade de terem entrevistas de recrutamento com 20 empresas de renome, fora dos seus processos de recrutamento convencionais. Estes 20 candidatos, que estão no final dos seus ciclos de estudo — licenciatura ou mestrado — são previamente selecionados por alumni que estão no mercado de trabalho há mais de cinco anos e com experiência na área de recursos humanos“, detalha António Costa.

Ao ECO, o project manager avança ainda que, entre os 20 empregadores envolvidos nesta iniciativa, estão a Sonae, a Deloitte, o Santander, a EY, a Nos, o BCP e a BCG.

Criar pontes para facilitar o recrutamento

Numa altura em que, apesar de o desemprego global estar próximos de mínimos históricoS, o desemprego jovem está em “níveis inadmissíveis”, eventos como este são importantes para facilitar a entrada no mercado de trabalho dos alunos que vão terminando os seus estudos, argumenta António Costa. Isto uma vez que proporcionam a criação de relações com empresas, que permitem perceber o perfil de cada empregador e as suas expectativas.

“Além das oportunidades de estágio e emprego que surgem na nossa feira, é essencial também todo o contacto que este formato possibilita. Permite um contacto direto com recrutadores de topo que, no mínimo, terão sempre insights valiosos sobre o mercado de trabalho e de como nos devemos lançar no mesmo”, salienta o responsável.

Além disso, o facto de esta feira ser organizada por estudantes também é uma mais-valia, defende o mesmo. “Sendo organizado por estudantes, conseguimos transmitir às empresas o nosso insight profundo daquelas que são as necessidades e preferências atuais dos estudantes“, realça António Costa.

Facilitamos o processo de atração de talento e conseguimos tornar a nossa faculdade no maior palco de partilha entre o talento e oportunidades.

António Costa

Project manager da FJC Porto Emprego

Apesar de o desemprego jovem estar em níveis elevados, as empresas portuguesas continuam a reportar dificuldades sérias no recrutamento de talento. Ora, na visão do referido responsável, estas feiras são também vantajosas, nesse sentido, para os próprios empregadores.

“Permitimos que as empresas tenham a oportunidade de contactar com os recém-licenciados, mestrados e doutorados das várias áreas académicas. Facilitamos o processo de atração de talento e conseguimos tornar a nossa faculdade no maior palco de partilha entre o talento e oportunidades. Permitimos às empresas o acesso privilegiado àquele que é o topo do tecido académico”, enfatiza António Costa.

Bodas de prata

António Costa é project manager da FJC Porto Emprego.

Esta edição da feira organizada pela FEP Junior Consulting (em parceria com o serviço de desenvolvimento e carreira da referida faculdade) não é uma qualquer. Celebra 25 anos de história. Neste quarto de século, o evento mudou muito, admite António Costa. Do nome ao formato.

“Neste momento, além das oportunidades de emprego, oferecemos aos estudantes apresentações, workshops e o speed recruitment, que auxilia os estudantes a evoluírem-se com o nosso evento. Neste momento, tornamo-nos uma feira internacional, alcançando já empresas multinacionais presentes na nossa feira“, conta o project manager.

Outra das mudanças foi o número de empresas presentes e de estudantes envolvidos. Face à primeira edição, a FJC Porto de Emprego tem hoje dez vezes mais empresas, o que reflete, observa o referido responsável, o “grande trabalho desenvolvido, a inovação e a evolução contínua ao longo destes anos”.

Quanto ao futuro, António Costa expressa os seus desejos: alcançar cada vez mais empresas internacionais e tornar esta feira reconhecida além-fronteiras. “O futuro é promissor e o talento de cada membro acompanha-o”, remata.

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Manobras dilatórias dos advogados com multas até 10 mil euros. O que diz o setor?

Grupo de trabalho “Megaprocessos e processo penal" defende que as manobras dilatórias dos advogados podem resultar em multas até 10 mil euros e infrações disciplinares. Advogados discordam.

O Conselho Superior da Magistratura apresentou há uma semana propostas para acelerar os megaprocessos, depois do trabalho de ano e meio de um grupo de juízes e um magistrado do Ministério Público. Redução da instrução ao debate instrutório onde só haverá lugar às diligências que o Juiz decidir, redução dos prazos processuais, limitação na arguição de nulidades e irregularidades nos processos bem como dos incidentes de recusa e limitação dos recursos, só permitido recurso para o STJ em caso da condenação em pena superior a 12 anos de prisão foram algumas das propostas. Bem como permitir o recurso a inteligência artificial para elaborar acórdãos, criação do assessor virtual para juízes ou assessores técnicos privativos para juízes, taxas de justiça mais altas para os megaprocessos, criação de equipas especiais de funcionários judiciais, peças processuais distribuídas por módulos e salas de audiência com computadores, monitores e sistemas de som adequados.

O grupo de trabalho “Megaprocessos e processo penal: carta para a celeridade e melhor justiça” remeteu estas e outras conclusões à ministra da Justiça, aproveitando o facto de o Governo estar a preparar alterações de fundo ao processo penal.

O grupo inclui seis juízes e Rui Cardoso, procurador-geral adjunto e atualmente diretor do DCIAP e é coordenado por Helena Susano, atualmente a magistrada responsável pelo julgamento do caso BES/GES, que julga Ricardo Salgado, ex-homem forte do BES. E sem nenhum advogado. E foi precisamente a proposta de aplicação de multas para os expedientes dilatórios dos advogados dos arguidos – que poderão chegar a um montante superior a 10 mil euros e com participações disciplinares contra os advogados – que levou, desde logo reações negativas de vários advogados e da bastonária da Ordem dos Advogados (OA), Fernanda de Almeida Pinheiro, a criticar este relatório. A líder do órgão considera que as medidas propostas são “inaceitáveis” e uma “tentativa intolerável de condicionar o trabalho do advogado”.

O que dizem os advogados?

“Isto configura uma tentativa intolerável de condicionar o trabalho do advogado, que assim vê a sua independência e autonomia profissionais coartadas pelo receio de poder estar a praticar um ato que possa ser sancionado, o que representa uma clara violação do direito a uma tutela jurisdicional efetiva, previsto no artigo 20.º da Constituição da República Portuguesa”, refere em comunicado a bastonária. Outros dos pontos que a OA considera inadmissível é a possibilidade de uma restrição da instrução ao debate instrutório. “A instrução deve ser uma fase efetiva de verificação da acusação, permitindo a produção de prova, sob pena de violação dos princípios do contraditório e do direito de defesa e de igualdade de armas no processo-crime”, sublinha. A OA lamentou ainda que o Grupo de Trabalho tenha contado com a presença de juízes e de um magistrado do Ministério Público, mas que não tenha sido integrado por qualquer advogado, que teria contribuído para trazer um “maior equilíbrio às propostas apresentadas”.

No programa ‘Justiça Cega’, da rádio Observador, o advogado e presidente do Conselho Superior da Ordem dos Advogados, Paulo de Sá e Cunha defendeu que estas medidas “não surpreendem porque não são inovadoras”. Mas “há um pano de fundo que não é bom. Gostava de ter visto neste grupo de trabalho um advogado. Porque não? Os advogados também fazem parte do sistema. Não só não está como a ideia que se transmite aqui de forma subliminar é o de que a grande preocupação é combater as manobras dilatórias. Há muitos processos onde não as há e eles são na mesma lentos. Estas são o fruto de casos muito mediáticos com protagonistas que chama muito as atenções. Mas não podemos confundir uma parte restrita com o todo. É sempre mau quando se fazem mudanças legislativas restritas e exceções a alguns casos. Maior parte dos advogados não pratica expedientes dilatórios por dá cá aquela palha. Essa ideia é uma ideia que distorce a perspetiva da questão que se levanta”, concluiu o advogado.

Estas medidas levaram também o advogado António Garcia Pereira, a enviar uma carta aberta à OA – antes de Fernanda de Almeida Pinheiro tomar uma posição pública sobre a matéria – defendendo que as propostas “põem em causa os mais basilares e constitucionalmente consagrados princípios do processo justo e equitativo e das garantias de defesa, enquanto e muito significativamente não é apresentada pelo CSM uma única proposta de obrigação ou, sequer, de um mínimo de comprometimento dos Juízes (desde logo, quanto ao cumprimento de prazos ou quanto à sua efetiva responsabilização em caso de decisões grosseiramente ilegais), na pior e mais bafienta lógica de que se Justiça não temos, tal apenas se deve aos próprios cidadãos e aos Advogados que os representam”, diz o advogado, exortando a bastonária a mobilizar a classe “para este basilar combate democrático por uma Justiça verdadeiramente justa”. Dizendo que “o primeiro e principal dever estatuário da Ordem dos Advogados Portugueses foi assim definitivamente esquecido e enterrado por esta? Por mim, e creio que muitos Colegas e muitos cidadãos me acompanharão, não deixarei nunca de defender e de proclamar, parafraseando José Carlos Ary dos Santos: Advogado castrado, não!”, concluiu.

As propostas “põem em causa os mais basilares e constitucionalmente consagrados princípios do processo justo e equitativo e das garantias de defesa, enquanto e muito significativamente não é apresentada pelo CSM uma única proposta de obrigação ou, sequer, de um mínimo de comprometimento dos Juízes (desde logo, quanto ao cumprimento de prazos ou quanto à sua efetiva responsabilização em caso de decisões grosseiramente ilegais), na pior e mais bafienta lógica de que se Justiça não temos, tal apenas se deve aos próprios cidadãos e aos Advogados que os representam.

António Garcia Pereira

O advogado José Costa Pinto – candidato a bastonário – questiona: “é possível discutir uma justiça mais célere e melhor sem a participação dos advogados? Analisando as propostas, a resposta é evidente: não”, escreveu, num artigo de opinião publicado no Jornal Económico. “No entanto, o que emerge deste documento é uma insistente preocupação em punir alegadas manobras dilatórias – um rótulo muitas vezes atribuído ao legítimo exercício do direito de defesa. Entre as medidas sugeridas, destacam-se multas por atos considerados manifestamente infundados e até a possibilidade de processos disciplinares contra advogados, a serem instaurados pela própria Ordem. A mensagem subliminar é clara: os advogados passaram a ser vistos como um entrave à celeridade da justiça. Como se não bastasse a crescente inversão do processo penal, onde se perseguem advogados para investigar os seus clientes, colocando em causa pilares essenciais da profissão – como o sigilo profissional e a independência –, agora propõe-se que sejamos penalizados simplesmente por defender quem tem direito a ser defendido”, concluiu.

O atual presidente do Conselho Regional de Lisboa – e também candidato a bastonário, João Massano, defende que “é bem patente que as medidas anunciadas pretendem fazer imputar aos advogados tudo aquilo que corre mal na Justiça — os únicos que, impreterivelmente, cumprem os prazos fixados por lei —, sem que uma única palavra seja proferida quanto aos atropelos da lei. Atropelos estes, cometidos, diariamente, por parte dos Senhores Magistrados, nomeadamente, quando somos confrontados com os atrasos escandalosos por não cumprirem os prazos legalmente estabelecidos. Em suma, tais propostas mais não são do que uma anunciada tentativa de aniquilar a Justiça que se pretende que exista num Estado de Direito Democrático”.

O advogado António Jaime Martins, candidato ao Conselho Superior da OA, defendeu igualmente, num artigo de opinião publicado no Diário de Notícias que “é certo que a morosidade judicial continua a constituir um problema, por vezes mais empolado do que real. Mas se existem pendências acumuladas, falta de meios materiais e humanos e sucessivas reformas falhadas que tardam em oferecer resultados concretos, o caminho não pode, nem deve ser o de restringir direitos fundamentais dos cidadãos, sejam os da tutela jurisdicional efetiva, seja o próprio direito de defesa dos arguidos. Aceitar como normal num Estado de Direito anquilosar e constranger o exercício do mandato forense pelos advogados com sanções patrimoniais e/ou queixas disciplinares por, alegadamente, usarem expedientes “dilatórios” é inexoravelmente grave e deve obrigar-nos, enquanto comunidade, a refletir de forma muito séria como, vividos 50 anos em democracia, estamos dispostos a aceitar tão rude golpe na democracia”, sublinha.

Telmo Semião, candidato do Conselho Regional de Lisboa da OA, sublinhou que “não vale condenar os advogados em multas até 10 mil euros e em participação disciplinar quando atuam no exercício do mandato forense. Não vale limitar os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, pondo em causa o princípio constitucional do direito à tutela jurisdicional efetiva, previsto no art. 20° da CRP. Não vale responsabilizar exclusivamente os arguidos e os seus mandatários pela lentidão na tramitação dos processos judiciais”. Outro candidato ao mesmo órgão, Vasco Pais Brandão, também sublinha “as recentes notícias sobre as propostas do CSM de multar os advogados por litigância de má-fé, restringir recursos para o Supremo ou para o TC, constitui mais um (grave) atentado ao Estado de Direito e à nossa profissão, apenas permitido por efeito do infeliz estado de permeabilidade e fragilidade que decorre da falta de relevância das OA, da sua ausência nas matérias mais importantes, do que se tornou um pequeno peão no tabuleiro de xadrez da Justiça”.

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Sem deixar cair EUA, calçado ‘aperta cordões’ a novos mercados

Depois de dois anos de quebra de encomendas, o setor do calçado ainda antecipa um 2025 difícil, mas de transição. Indústria aposta em novos produtos e novas geografias, nomeadamente na Ásia.

 

“O momento é difícil para lançar uma marca, mas nunca há momentos fáceis”, reconhece Paulo Monteiro, diretor comercial da Kyaia, referindo-se à nova aposta do grupo de calçado de Guimarães, a Fred & Frederico, que está a apresentar em Milão, na Micam, a maior montra de calçado do mundo. A nova marca, que nasce sob a forma de homenagem de Fortunato Frederico à família — Fred é o nome do filho e Frederico da família –, chega num momento em que o grupo, que detém as marcas Fly London, As Portuguesas e Softinos, está a fechar as contas de um “ano difícil”, olhando para 2025 com expectativa que seja “um ano de inversão”, com a indústria a apertar os cordões a novos mercados para dar um pontapé na crise.

Depois de dois anos de contração de encomendas no setor, o diretor comercial da Kyaia está confiante que 2025 seja um “ano melhor na Europa”, mantendo a aposta nos EUA, um dos principais mercados do grupo, apesar de toda “esta indecisão” a que se assiste em torno das taxas aduaneiras. Ainda sem querer adiantar números de faturação relativos a 2024, mas que baixaram face a 2023, Paulo Monteiro, refere que, para este ano, “estamos dependentes desta coleção que estamos a apresentar”, adianta o responsável, antecipando uma recuperação na época de inverno. Para 2025, além do lançamento da nova marca do grupo, está previsto o regresso à Ásia e à Escandinávia, para conquistar novos clientes.

Quanto aos EUA, que pesam 18% das vendas da Kyaia e é atualmente o segundo maior mercado do grupo, atrás do Reino Unido, onde vende entre 27 e 28%, o diretor comercial diz que “as vendas continuam estáveis”, mas não deixa de demonstrar preocupação em relação à incerteza que persiste em torno da imposição de novas taxas aduaneiras. Para a marca As Portuguesas, os EUA pesam ainda mais: representam cerca de 30% das suas exportações. “Nos Estados Unidos estamos representados nos 50 Estados Unidos desde 2018”, explica o fundador e CEO da marca, Pedro Abrantes. Ao contrário da Europa, onde se tem sentido uma quebra de encomendas, 2024 ainda foi um ano de crescimento para a marca portuguesa nos EUA.

“Temos que olhar para outro tipo de mercados, não nos mantermos e habituarmos às quedas na Europa e ir buscar outros mercados e acrescentar esse valor”, explica Pedro Abrantes, adiantando que “em 2024 fizemos uma ação que achamos muito importante para o futuro, que foi iniciarmos a presença em algumas feiras na Ásia“. Em relação a mercados concretos, o fundador da marca detida pelo grupo vimaranense destaca a Coreia do Sul — “para nós é um mercado que é muito bom e muito importante; é onde se calhar temos mais clientes na Ásia ” — e o Japão, onde neste momento tem cerca de 18 pessoas a trabalhar para a marca.

Com os EUA a liderarem as exportações, seguidos da Alemanha, Itália e Portugal, a marca tem a ambição de continuar a crescer na Ásia. O objetivo era em 2026 “ter uma expressão parecida com os EUA”, traduzida num peso de cerca de 20% nas exportações.

Apesar de estar atenta a novas geografias, a marca portuguesa não desiste do mercado do outro lado do Atlântico. “Não vamos parar de vender ou parar de exportar para os EUA“. “Vamos arranjar soluções”, aponta o responsável, uma posição que está em linha com a defendida pelo setor. “Não vamos desistir do mercado dos EUA, pelo contrário, estamos a reforçar a nossa presença no mercado norte-americano, na última década as nossas exportações praticamente duplicaram para os Estados Unidos”, reforça Paulo Gonçalves. Para o porta-voz da associação industrial do calçado APICCAPS, os “Estados Unidos são um mercado absolutamente estratégico para a indústria portuguesa de calçado“.

Sobre o potencial impacto de novas taxas aduaneiras, Paulo Gonçalves realça que “se as tarifas forem iguais para todos, no limite, quem vai ser penalizado vai ser o consumidor norte-americano”, destacando que “há vários cenários em equação, nesta fase temos que esperar para ver. Esperar para ver nunca é um bom presságio nos negócios. Nós gostaríamos, naturalmente, que este processo negocial, se é que de um processo negocial estamos a falar, seja resolvido tão cedo quanto possível”, lamenta.

Os EUA, onde as vendas cresceram 25% nos últimos três anos para dois milhões de pares, ou 97 milhões de euros, são atualmente o sexto maior mercado da indústria portuguesa de calçado, que no ano passado exportou 1.724 milhões de euros para 174 países nos cinco continentes.

Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

A indústria portuguesa apresenta, este ano, uma comitiva reforçada em Milão, com 75 empresas. Destas, 43 empresas — mais 10% que no ano passado e o maior número dos últimos quatro anos — participa na MICAM e no MIPEL e outras 32 vão representar Portugal na Lineapelle, o que representa um crescimento da delegação nacional de 6,7%.

Com o seu stand à frente das marcas do grupo Kyaia, a Lemon Jelly, uma das 43 empresas portuguesas que marcam presença na Micam, também tem nos EUA um “mercado importante”, assume José Pinto, CEO da gigante Procalçado. Naturalmente, não estamos ainda a sentir o efeito deste novo governo, mas como também temos ligação com o Canadá, vamos ver nos próximos tempos o que é que as taxas podem trazer”, aponta. “Acreditamos que, apesar de tudo, ainda temos produto competitivo para continuar a trabalhar no mercado“, explica o líder da empresa de Carvalhos, Vila Nova de Gaia, que emprega cerca de 400 pessoas e que prevê ter faturado mais de 30 milhões em 2024, com as exportações a crescerem 10%.

Apesar de não desistir dos EUA, José Pinto está mais preocupado com a Europa. “A Alemanha e França são os nossos principais mercados”, assume.

Preocupa-nos mais nesta fase o mercado europeu do que o mercado americano. Os Estados Unidos são um mercado absolutamente estratégico para a indústria portuguesa de calçado.

Paulo Gonçalves

Porta-voz da associação industrial do calçado APICCAPS

Também Paulo Gonçalves, da APICCAPS, nota que o setor está mais atento ao que se passa no continente europeu, onde a indústria tem os seus maiores mercados, com a Alemanha à cabeça. O mercado alemão absorveu 391 milhões de euros em exportações, em 2024, seguido pela França e pelos Países Baixos, com 348 e 197 milhões, respetivamente. Já o Reino Unido foi o destino de três milhões de pares de sapatos portugueses, no valor de 113 milhões.

Novos mercados compensam quebra na Europa

“Preocupa-nos mais nesta fase o mercado europeu do que o mercado americano”, assume o porta-voz, a falar com jornalistas na Micam, em Milão, que este ano começou com uma homenagem ao vice-presidente da APICCAPS e CEO da Celita, que detém a marca Ambitious, e que faleceu subitamente na passada quarta-feira, dia 19 de fevereiro. O porta-voz da associação do setor adianta que a indústria está a investir noutros mercados e noutros produtos. “Estamos à procura de novas janelas de oportunidades“.

A Procalçado é uma das empresas que está a prosseguir esta estratégia. “Estamos a diversificar a produção. A área de sustentabilidade está a crescer muito“, realça, adiantando que se está a apostar numa “produção cada vez mais amiga do ambiente”. E é precisamente o resultado dessa aposta na sustentabilidade que está no centro dos olhares no stand da Lemon Jelly, em Milão. Trata-se de uma mala 100% compostável, feita com biomateriais, sem qualquer costura ou fecho.

Em termos de geografias, o industrial destaca que “existem mercados e marcas que estão a crescer”. À semelhança de outros industriais do calçado, José Pinto está a olhar para os países nórdicos e está “a reforçar a parte comercial na Coreia e a abrir a Leste“, conta o CEO da Procalçado.

Os desafios vão ser muitos e o protecionismo traz a vantagem para quem produz localmente. A indústria na Europa vai ser cada vez mais importante. Consideramos que neste momento, a não ser que a Europa se fragmente, nós acreditamos que a Europa é um mercado interno nosso, um mercado interno natural.

José Pinto

CEO da Procalçado

Nunca preparamos só um ano, nós preparamos, diria, quase 5 anos à frente, por isso nós estamos em grandes investimentos, nomeadamente na área do PRR, a parte ambiental, novas tecnologias para dentro da empresa, para trazer novos produtos, novas soluções”, realça. “Estamos a começar a pensar é o que é que vai ser de 26 a 30, é isso que nós estamos a focar-nos”. “Os tempos que vêm são mais difíceis”, reconhece.

O industrial assume que “os desafios vão ser muitos e o protecionismo traz vantagem para quem produz localmente” e “a indústria na Europa vai ser cada vez mais importante. Consideramos que neste momento, a não ser que a Europa se fragmente, nós acreditamos que a Europa é um mercado interno nosso, um mercado interno natural”, sustenta.

O objetivo da feira é tentar recuperar alguns clientes que já tivemos na Ásia e, nomeadamente, no Japão e Coreia do Sul e agora estamos a deslocar-nos para os EUA. Vamos fazer uma deslocação comercial em março, no sentido de abordar alguns clientes ou potenciais clientes, no sentido de alargar as geografias das nossas vendas e não ficarmos reduzidos à Europa.

Paulo Ferreira

CEO da Paradigma

Paulo Ferreira, CEO da Paradigma, reconhece que atualmente a marca trabalha “basicamente com mercado europeu, com França e Inglaterra. Mas, o industrial de Guimarães, que este ano regressou à feira após três anos sem participar no evento, refere que “o objetivo da feira é tentar recuperar alguns clientes que já tivemos na Ásia e, nomeadamente, no Japão e Coreia do Sul e agora estamos a deslocar-nos para os EUA”. “Vamos fazer uma deslocação comercial em março, no sentido de abordar alguns clientes ou potenciais clientes, no sentido de alargar as geografias das nossas vendas e não ficarmos reduzidos à Europa”, atira.

Sobre as mudanças introduzidas pela nova administração republicana, o líder da empresa, que conta atualmente com cerca de uma centena de trabalhadores e fatura sete milhões e meio, diz que “a questão das tarifas penso que hoje são impostas, amanhã são retiradas. Mais cedo ou mais tarde, Trump vai perceber que só vai levar a inflação interna”.

Com uma fábrica também localizada em Guimarães, a Penha refere que está a “ter bons resultados com coisas que começam a desenvolver nos EUA”, conta Armindo Novais. Com uma capacidade de produção diária de 550 pares de sapatos, a empresa criada em 1967 também está a colocar parte das suas fichas na Ásia, nomeadamente no Japão, e no Norte da Europa. “Essas coisinhas todas juntas vêm colmatar a baixa de outros mercados. Com a entrada de mercados novos conseguimos equilibrar em termos produtivos e de faturação o ano”, explica Armindo Novais. “O que os mercados europeus perderam, essa diferença conquistamos noutros mercados”, reconhece o dono da empresa.

Reinaldo Teixeira, diretor da Carité Calçados, fechou 2024 com uma subida da faturação.

Focado na Europa continua Reinaldo Teixeira, dono da Carité Calçados. O histórico empresário de Felgueiras, que emprega mais de 650 pessoas, prepara-se para fechar as contas de 2024 com uma faturação de 43 milhões de euros, um crescimento de 14% face aos 37,7 milhões registados em 2023. Um resultado que atribui às encomendas “mais estáveis”. “Estamos organizados, temos menos perdas [na produção]”, justificou. Em relação à presença na maior montra do calçado do mundo, Reinaldo Teixeira não vê este evento como uma necessidade para angariar novos clientes. “Não vemos necessidade extrema de arranjar negócio”, aponta.

Com um cliente no mercado alemão a representar 80% da sua produção e os Países Baixos a pesarem 18% das vendas, a Carité continua a olhar para o mercado americano, onde quer entrar com as duas marcas próprias: J. Reinaldo (segmento moda) e Tentoes (técnico e profissional). “Queria ver se metia lá sapatos profissionais”, diz, adiantando que não acredita que os EUA aumentem tarifas sobre as importações de calçado nacional. “Eu não estou a ver os Estados Unidos a aumentar-nos a nossa taxa, que são 10%. Portugal não conta para eles“.

Quanto a resultados, em equipa que ganha não se mexe: “Nós temos um ano já projetado, pelo menos até agosto já está resolvido”, esclarece. Depois de um ano “excelente”, “se conseguir andar ali a rondar o 2024, já fico felicíssimo”, diz o CEO da Carité.

(A jornalista viajou para Itália a convite da APICCAPS)

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O que é que o BCP tem? Governo já recrutou seis diretores do banco para cargos públicos

Banco liderado por Miguel Maya tornou-se numa importante base de recrutamento dos ministérios da Economia e das Finanças. Mas o que tem o BCP?

O BCP tornou-se numa importante base de recrutamento para o Governo de Luís Montenegro. Pelo menos seis diretores de topo do banco foram nomeados no último ano para cargos de relevo e decisão tanto no seio do Executivo como em empresas públicas. Uma situação algo inusitada que Ministério das Finanças e Ministério da Economia, os dois ministérios responsáveis por estas escolhas, desvalorizam.

O próprio ministro da Economia, Pedro Reis, foi quadro do BCP durante vários anos na última década: começou em 2014 por ser assessor sénior da comissão executiva liderada por Nuno Amado, tendo saído do banco em 2021 quando tinha a Direção de Banca Institucional sob a sua alçada, de acordo com as informações que partilha na sua conta na rede social LinkedIn.

Embora não tenha passado diretamente do banco para o Governo, a passagem de Pedro Reis pelo BCP poderá ajudar a explicar algumas das nomeações que tiveram o seu dedo, seja pelo conhecimento acerca das competências e qualificações das pessoas em causa, como pela confiança e o alinhamento que está normalmente associado a cargos públicos de nomeação política.

Foi do ministro da Economia que partiu a escolha de José Pulido Valente, ex-diretor e coordenador da Direção de Crédito Especializado e Imobiliário do BCP, para liderar o IAPMEI.

Pedro Reis justificou mais tarde esta escolha com a necessidade de renovar a liderança daquela entidade e de trazer uma “nova ambição” para diplomacia económica e atração de investimento.

O ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e o ministro da Economia, Pedro Reis.MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Escolhas com base “no mérito”, diz Governo

Além do ministro Pedro Reis, há outro nome ao nível dos membros que compõem o atual elenco governativo chefiado por Luís Montenegro que não soa nada estranho no seio do BCP: José Maria Brandão de Brito.

Antigo economista-chefe e diretor de Sustentabilidade e Criptoativos do banco, José Brandão de Brito aceitou há um ano o convite de Joaquim Miranda Sarmento para ser secretário de Estado do Orçamento, tendo a seu cargo uma das maiores responsabilidades governativas: a elaboração do Orçamento do Estado (OE). Já foi responsável pelo OE deste ano e vai agora preparar o OE para 2026, mas cuja aprovação está rodeada de muita incerteza política.

Mais recentemente o Ministério das Finanças foi recrutar outra ex-economista-chefe do BCP. Márcia Rodrigues, até há pouco tempo diretora do Departamento de Estados Económicos do banco, está a caminho da administração da agência que gere a dívida pública (IGCP), como o ECO avançou em primeira mão.

Sobre a saída de altos quadros para o setor público, o BCP não quis fazer qualquer comentário.

Já os ministérios da Economia e das Finanças sublinham que as escolhas “foram feitas unicamente considerando o mérito, as competências e os percursos profissionais de cada uma das personalidades”, lembrando que todos os nomes foram considerados adequados pela Cresap e passaram no ‘fit and proper’ pelo Banco de Portugal.

Dois desvincularam-se do BCP, restantes podem regressar

O ECO sabe que José Brandão de Brito, Márcia Rodrigues e de José Pulido Valente foram requisitados junto do BCP e estão atualmente em regime de comissão de serviço, pelo que podem regressar ao banco quando terminarem funções e se assim entenderem.

Gonçalo Regalado, Pedro Reis, Carlos Leiria Pinto, Banco Português de Fomento

Mas isso não se aplica a Gonçalo Regalado e Tiago Mateus, que os ministérios de Pedro Reis e Miranda Sarmento designaram recentemente para CEO e administrador do Banco Português de Fomento (BPF) — que já tinha apontado outro ex-diretor do BCP, Rui Fernando Teixeira, para a Sociedade de Garantia Mútua.

Quanto a Gonçalo Regelado e Tiago Mateus, que têm a missão de dar uma segunda vida ao BPF, terminaram a sua relação contratual com o BCP, seguindo uma recomendação do Banco de Portugal.

Quando saírem do BPF, já não regressarão aos cargos de Chief of Marketing Officer PME e de diretor de CRM e Customer Intelligence que tinham na origem, respetivamente.

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