Quem são os novos contabilistas e auditores? As mulheres dominam e a tecnologia ajuda

As profissões de contabilista e de auditor atraem hoje milhares de candidatos, ajudando a renovar o perfil dos profissionais nestas áreas dominadas no passado por homens.

Mulheres, com mais literacia digital e formações diversas. Este é o perfil dos novos contabilistas e auditores que estão a entrar no mercado, muito diferente da imagem de antigamente que refletia uma carreira sobretudo de homens e dominada por tarefas repetitivas e pouco apelativas. O digital veio para ficar e ajudar a dar um novo impulso a estas profissões que estão a tornar-se novamente atrativas e a ganhar espaço entre os mais jovens.

“A Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) como entidade reguladora tem perfeita noção de que a atração da profissão principalmente junto dos mais jovens não era a melhor, todavia foi feito nos últimos anos um trabalho muito sistemático para inverter a tendência, principalmente junto das escolas, tanto secundárias como do ensino superior”, refere Hélio Silva, consultor da OCC, ao EContas.

“Atualmente esse trabalho já começou a dar frutos, pois o nível de empregabilidade na profissão é extremamente elevado e com melhores remunerações. Começam também a existir novas categorias profissionais dentro da área de contabilidade e fiscalidade que anteriormente não existiam, principalmente ligadas ao IT e ao marketing”, acrescenta.

O fator tecnológico tem ajudado precisamente a dar este salto. “A profissão continua a ser atrativa, mas de forma diferente do que era no passado. A profissão evoluiu — e muito. Tornou-se altamente tecnológica. A IA, as plataformas digitais de reporte e as ferramentas de automação vão acelerar esse verdadeiro processo de transformação, que esperemos resulte numa maior atratividade da nossa profissão”, nota Virgílio Macedo, bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC).

A profissão continua a ser atrativa, mas de forma diferente do que era no passado. A profissão evoluiu — e muito. Tornou-se altamente tecnológica.

Virgílio Macedo

Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas

A par da profissão, o “perfil dos candidatos também está a evoluir”. De acordo com o bastonário, “temos jovens com formações mais diversificadas, com maior literacia digital e uma apetência natural para trabalhar com tecnologia. Muitos trazem também um olhar mais crítico, mais sensível a temas como a ética, a sustentabilidade e o impacto social”.

Por outro lado, “temos também assistido a um aumento da presença feminina na profissão. Há cada vez mais mulheres a entrar e a destacar-se, eu diria que é uma evolução natural. É um desafio transversal à sociedade e ao setor, e na OROC temos sido ativos na promoção de políticas inclusivas e de valorização do mérito”.

Novas regras de acesso atraem mais candidatos

O mesmo acontece entre os contabilistas. “A diversidade de formação académica é notória, com muitos novos contabilistas provenientes de áreas como gestão, economia e tecnologias da informação, além da tradicional contabilidade”, nota Hélio Silva. Já do ponto de vista do género, “em 2024 possuíam inscrição ativa na OCC 38.342 mulheres contra 30.996 homens, pelo que é fácil constatar que as mulheres têm desempenhado um papel cada vez mais proeminente, tanto na prática profissional quanto em cargos de liderança dentro da OCC”.

Paula Franco, bastonária da OCC, revelou, em entrevista ao EContas, que “tivemos 5.000 candidatos no ano passado, quando antes eram 800”, sendo que a “grande maioria são jovens e mulheres”. Um salto que se deveu muito à mudança das regras de acesso.

Em 2024, possuíam inscrição ativa na OCC 38.342 mulheres contra 30.996 homens, pelo que é fácil constatar que as mulheres têm desempenhado um papel cada vez mais proeminente, tanto na prática profissional quanto em cargos de liderança dentro da OCC.

Hélio Silva

Consultor da Ordem dos Contabilistas Certificados

“O trabalho [de atrair mais pessoas] já foi feito e começou com a alteração da lei-quadro das ordens profissionais e consequente alteração do estatuto da ordem dos contabilistas certificados através do DL68/2023 de 7 de dezembro, o novo estatuto veio reformular e simplificar as regras de acesso à profissão”, explica Hélio Silva, consultor da OCC.

Ajustar a formação à nova realidade

Por outro lado, “temos de mudar a forma como falamos sobre a profissão. Mostrar que um Revisor Oficial de Contas hoje não é apenas alguém que valida números, mas sim um analista, um conselheiro estratégico, alguém com um papel relevante na solidez do sistema económico, que acrescenta valor acrescentado aos seus clientes”, frisa Virgílio Macedo, bastonário da OROC. É também preciso adaptar a formação a esta nova realidade.

“A formação tem de acompanhar a evolução da realidade. Hoje já não é possível preparar um Revisor apenas com essa estrutura clássica. É essencial introduzir matérias como ciência de dados, análise preditiva, cibersegurança, IA, comunicação e gestão de risco”, aponta. Um trabalho que tem sido feito na Ordem, reforçando o “diálogo com instituições de ensino superior para alinhar currículos com as competências realmente exigidas pelo mercado”.

Também a OCC “trabalha em estreita colaboração com a academia, tanto do ponto de vista conceptual, através da unidade curricular do projeto de simulação empresarial que dá acesso à profissão de forma mais simplificada, como também na colaboração em diversos, congressos, conferências, seminários e workshops sobre as temáticas que envolvem a profissão”, diz Hélio Silva.

Isto além de disponibilizar “de forma gratuita o Toconline Ensino a todas as instituições protocoladas, de forma a assegurar que para além do conhecimento conceptual os candidatos a profissionais disponham de uma réplica em contexto formativo daquilo que os espera do ponto de vista prático no mercado de trabalho, como forma de promover uma maior rapidez e adaptabilidade do conhecimento teórico às práticas existentes nas empresas”.

É também preciso ajustar a remuneração para tornar a profissão mais atrativa. Como o EContas escreveu, um inquérito realizado pela OCC mostra que “91% [dos inquiridos] considera que não recebe uma remuneração justa face à importância dos serviços prestados e às competências e habilitações necessárias ao exercício da profissão”.

As baixas avenças, aliás, fazem parte da lista de principais barreiras ao crescimento da atividade apontadas pelos profissionais. Isto além da deslealdade entre pares, a inteligência artificial, burocracia, formação e excesso de legislação.

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Rival europeia da Starlink com operação na Madeira procura financiamento para se manter à tona

A Eutelsat precisa de levantar capital para manter a constelação de satélites que adquiriu em 2023. A empresa opera o teleporto do Caniçal e diz-se um dos maiores exportadores de serviços do país.

A Eutelsat, rival europeia da Starlink, que opera um teleporto na Madeira e “faz parte da lista dos maiores exportadores de serviços de Portugal”, está à procura de um financiamento “significativo” para se manter à tona, perante a concorrência feroz da empresa norte-americana fundada por Elon Musk.

Em 2023, a empresa com sede nos arredores de Paris adquiriu a constelação de satélites de baixa órbita OneWeb, num negócio de cerca de três mil milhões de euros. A empresa anunciou então, num comunicado, que a fusão posicionava o grupo para “ser um líder global nas comunicações espaciais”, contando atualmente com 36 satélites geoestacionários e cerca de 600 satélites de baixa órbita — designados por Low Earth Orbit, ou LEO na sigla original em inglês. Estes últimos são vistos como a tendência mais recente no setor, em detrimento dos geoestacionários (também conhecidos por GEO).

Porém, a concorrência da Starlink, que tem mais de 7.000 satélites LEO e está a crescer a grande velocidade, alcançando já seis milhões de clientes em 140 países, tem levantado fortes desafios à Eutelsat, noticiou recentemente a Bloomberg. Não menos importante é o facto de a Starlink ser detida pela empresa de foguetões de Musk, a SpaceX, beneficiando de importantes sinergias, especialmente no lançamento.

Especificamente na Península Ibérica, o crescimento da Starlink terá acelerado depois do ‘apagão’ de 28 de abril, incluindo em Portugal, principalmente graças ao desconto de quase 50% feito pela empresa de Elon Musk no preço do equipamento necessário para se aceder à rede. Em alguns estabelecimentos de retalho nacionais, as antenas da Starlink Mini com router integrado voaram das prateleiras, como constatou o ECO no Auchan do Fórum Almada em meados do mês de maio.

À luz deste cenário, a Eutelsat tem vindo a trabalhar num plano de financiamento: Claramente, teremos agora de ir para um financiamento significativo”, admitiu em maio o CFO da Eutelsat, Christophe Caudrelier, durante uma chamada com analistas. “Temos discussões em andamento, diria, com potenciais fornecedores de capital, e estamos a avaliar várias soluções”, acrescentou, reconhecendo, novamente, que as necessidades de capital do grupo representam um “montante significativo”, sem adiantar um valor.

Questionada pelo ECO sobre as atuais necessidades de financiamento, a empresa não quis comentar. No entanto, fonte oficial recusou a ideia de que o grupo enfrenta concorrência da empresa de Elon Musk, sublinhando que “a Eutelsat não é um player B2C como a Starlink”, focando-se “apenas nos segmentos B2B e B2G” — dito de outra forma, que os clientes do grupo são “apenas” empresariais e governamentais, e não consumidores.

Todavia, em abril, Joanna Arlington, chefe do departamento de Comunicação e Relações de Investimento da Eutelsat, reconheceu numa entrevista à Renascença que existe um “interesse efetivo em saber se a Eutelsat poderia ser um substituto da Starlink”.

A Eutelsat opera o teleporto do Caniçal, na MadeiraD.R.

Segundo a Bloomberg, os problemas da Eutelsat poderão contagiar vários governos europeus, visto que a empresa é tida como estratégica perante o domínio tecnológico dos EUA. Aliás, aos analistas, o CFO admitiu que a empresa tem tido “muitas discussões com diferentes governos”, incluindo países europeus e “não só”, que procuram serviços de conectividade por satélite de origem “alternativa” aos EUA e à China. E em abril, num claro exemplo do valor estratégico desta empresa europeia, a Reuters noticiou que a Alemanha estava a pagar pelo serviço da Eutelsat para fornecer internet por satélite à Ucrânia.

O Governo francês, que se diz particularmente atento à situação, poderá ser chamado a fazer parte da solução para a Eutelsat, na medida em que França detém 13,59% da empresa. O processo até já estará em curso, com a Bloomberg a avançar que o Governo de França tem vindo a negociar com duas empresas francesas e com o governo britânico uma injeção de 1,5 mil milhões de euros na Eutelsat. Instada a confirmar esta informação, a empresa não comentou. O Reino Unido detém 10,89% da Eutelsat, enquanto o grupo indiano Bharti Global — maior acionista da British Telecom –, é dono da maior fatia do capital, 24,09%.

De resto, a Eutelsat também tem enfrentado alguma instabilidade interna. Recentemente, a anterior CEO, Eva Berneke, terá sido afastada, em simultâneo com a saída de quatro outros executivos, dando lugar a Jean-François Fallacher, anterior CEO da Orange, que assumiu a liderança da empresa de satélites este mês. De saída do grupo esteve também Dominique D’Hinnin, então chairman.

Já esta semana, o novo CEO encarou as informações de que a empresa esteja numa parca situação financeira. “Deixe-me corrigir um mal-entendido: a Eutelsat não está com dificuldades financeiras. Não. A Eutelsat tem uma necessidade de financiamento. Há uma diferença. Precisamos de financiamento para desenvolver a constelação [OneWeb] e continuar o nosso crescimento, que já começou e tem sido significativo, e para preservar esta capacidade estratégica única”, terá afirmado o gestor no Paris Air Show, citado pelo site Advanced Television.

Da Madeira para o espaço

Em Portugal, a Eutelsat detém a subsidiária WorldVu Unipessoal Lda. — de momento sem atividade — e apresenta-se como Eutelsat Madeira, empresa registada na Zona Franca da Madeira, com apenas um acionista, a Eutelsat SA. Em junho de 2022, a operadora espanhola de internet por satélite Eurona adquiriu à Eutelsat um portefólio de cerca de 1.000 clientes de internet por satélite, incluindo em Portugal, o que permitiu à Eurona anunciar a entrada no mercado português três meses depois. “A Eutelsat terminou todas as suas operações de distribuição de retalho em 2022”, confirmou ao ECO fonte oficial da empresa.

Nesse mesmo ano, num parecer enviado à Anacom ao abrigo de uma consulta pública sobre alocação de espetro para o 5G, a Eutelsat informou que “opera atualmente um teleporto localizado no Caniçal, Madeira, com mais de dez estações terrestres, ligadas à monitorização e controlo da frota do grupo e ao projeto Konnect, também do grupo, e com desenvolvimentos em curso no seu roteiro”.

A empresa afirmou-se ainda como “um dos maiores exportadores regionais”, fazendo “parte da lista dos maiores exportadores de serviços em Portugal, contribuindo ativamente para o PIB regional e nacional”, sublinhou.

Portugal foi um dos 17 membros fundadores da Eutelsat em 1977, enquanto entidade intergovernamental designada por Organização Europeia de Telecomunicações por Satélite, com o objetivo de fornecer “o segmento espacial necessário para a prestação de serviços de telecomunicações internacionais da Europa, incluindo serviços de radiodifusão”, recorda a Anacom. Décadas mais tarde, em 2001, os ativos da Eutelsat acabariam por ser transferidos para uma empresa privada, por ocasião da liberalização do setor das telecomunicações na Europa.

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Eduardo Pastor obtém 87,82% de apoio na Assembleia Geral de Cofares

  • Servimedia
  • 20 Junho 2025

A reunião contou com a presença de um grande número de membros das diferentes comunidades autónomas e aprovou a Política Geral, o Relatório do Presidente e as Contas para o exercício de 2024.

O presidente da Cofares, Eduardo Pastor, obteve 87,82% dos votos na Assembleia Geral da cooperativa, realizada na quinta-feira em Madrid.

Para além desta Assembleia, Eduardo Pastor realizou um total de treze Reuniões Preparatórias, nas quais se reuniu com farmacêuticos de toda a Espanha.

“Gostaria de agradecer a todos os membros pelo seu amplo apoio nesta Assembleia. A cooperativa é o património de todos nós que a constituímos. É por isso que presidi-la é uma grande responsabilidade que me orgulho de ter”, disse o Presidente da Cofares após o evento.

Em 2024, Cofares bateu um recorde com vendas de 4.263 milhões de euros, representando um crescimento de cerca de 5%. Como resultado, a cooperativa cumpriu todos os seus objetivos financeiros, com uma quota de mercado de 29,67% e um resultado bruto de exploração (ebitda) de 45,2 milhões de euros.

Com 436,6 milhões de unidades de medicamentos e produtos de saúde geridos em 2024, a Cofares “consolidou mais uma vez a sua posição como líder no setor da distribuição farmacêutica de gama completa e um ator estratégico na cadeia de valor do medicamento, com 2.250 rotas”.

“Para além do exercício de 2024, a trajetória de crescimento da Cofares remonta aos últimos seis anos. Tanto assim é que desde o final de 2018 – ano em que Eduardo Pastor assumiu a presidência – a cooperativa aumentou o seu volume de negócios em 900 milhões de euros”, explicou Cofares. “Como Presidente, o meu objetivo é assegurar o crescimento do património dos membros e entregar às gerações futuras uma cooperativa mais próspera. Isto foi possível graças a uma gestão eficiente baseada na aplicação de estratégias centradas na eficiência dos processos, na racionalização das despesas e num compromisso com a excelência e a inovação”, explicou Pastor.

Estes números, disse ele, “são o resultado do trabalho e do esforço dos membros do Conselho Diretivo, bem como de toda a equipa da cooperativa, a quem gostaria de agradecer a sua dedicação e profissionalismo, e sem os quais não teria sido possível alcançar estes magníficos resultados”.

CRESCIMENTO, LIDERANÇA E FUTURO

Durante a Assembleia, Eduardo Pastor expôs as chaves do novo Plano Estratégico que marcará o futuro da cooperativa a médio e longo prazo. “Este roteiro guiará as nossas decisões com o objetivo de garantir um maior crescimento, reforçar a nossa liderança na vanguarda do setor e acompanhar os nossos membros de forma leal e próxima no seu dia a dia”.

Um futuro em que os valores da Cofares continuam bem presentes, pois “evoluir a nossa cooperativa não significa esquecer quem somos e os nossos pilares fundadores, que assentam nos valores da farmácia que representamos, que nos identificam e distinguem”.

Na sua intervenção, Eduardo Pastor sublinhou ainda que “a equidade é outro dos princípios fundadores da nossa cooperativa e, a partir dessa premissa, continuaremos a defender o valor do medicamento como aquilo que ele é: um bem essencial para a saúde pública, que não deve ser utilizado ou desvalorizado como um mero instrumento comercial”.

Durante este exercício, a cooperativa efetuou investimentos no valor total de 35,3 milhões de euros, dos quais mais de 15 milhões de euros se destinam à expansão, melhoria e modernização da sua extensa rede de armazéns.

Concretamente, em 2024, foram inaugurados dois novos centros em Onda (Castellón) e Tarragona, e foram renovadas as instalações de Móstoles (Madrid), Valladolid, Sevilha, Alicante, Múrcia e Betanzos (La Coruña), tornando-se assim a maior rede de distribuição farmacêutica em Espanha, com um total de 48 centros e plataformas estrategicamente localizados em todo o país.

Farline e Aposán, as marcas de Saúde do Consumidor da Cooperativa vendidas exclusivamente no canal farmácia, cresceram 9% este ano, o que se traduz em vendas recorde de 54,9 milhões de euros e uma quota de mercado de 58,7%.

Por seu lado, a área de Diversificação de Cofares contribui atualmente com 12% do lucro global. A Farmavenix, o operador global de soluções logísticas da cooperativa, registou um crescimento de 28,25%, aumentando o volume de unidades processadas este ano para mais de 274,7 milhões.

Da mesma forma, os serviços prestados às farmácias continuaram a aumentar em 2024. Entre eles, destaca-se o Nexo – uma ferramenta de gestão que melhora a rentabilidade das farmácias – com um volume de negócios de 161 milhões de euros, um aumento de 9,1%.

A Cofares integra a sustentabilidade e o respeito pelas pessoas e pelo planeta no seu trabalho quotidiano. Assim, reduziu as suas emissões em quase 14%, reduzindo o consumo de gás natural em 19% e o consumo de eletricidade em 9%.

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Juventude de Braga junta-se à indústria para transformar lençóis e toalhas em novas peças de roupa

Coleção que transforma têxteis em fim de vida surge da parceria entre o Centro de Juventude de Braga, a re.store e a Escola Profissional do Minho.

As toalhas e os lençóis em fim de vida do Centro de Juventude de Braga (CJB) deram origem a uma coleção de moda sustentável com cerca de 35 peças, que foi apresentada esta quarta-feira no auditório do CJB.

“No ano passado percebemos que tínhamos lençóis e toalhas danificados, que estavam inclusive guardados, mas não queríamos que fossem parar ao lixo e sempre tentamos perceber de que forma podíamos dar-lhe uma segunda vida”, explica ao ECO a diretora no Centro de Juventude de Braga, Ana Rita Ribeiro.

Com esta ideia em mente, Ana Rita Ribeiro reuniu-se com a fundadora da re.store, Sílvia Correia, e decidiram juntar outro parceiro, a Escola Profissional do Minho (EsproMinho). Os alunos do curso de design de moda foram desafiados a criar um projeto com o intuito de dar uma segunda vida aos lençóis e às toalhas.

Durante seis meses foi feita a estruturação do projeto em conjunto com os parceiros. Os alunos receberam formação de empresas externas nas áreas de marketing, comercial, logística, compras, design de produto, recursos humanos, no sentido de lançar as bases para um projeto.

“A ideia sempre foi transformar peças que possam vir a ser vendidas e usadas, e não só um processo criativo”, refere a diretora no Centro de Juventude de Braga, destacando ainda os planos para criar uma loja online para vender estes produtos e continuar o processo. “Isto é, no fundo, um pontapé de saída”, diz Ana Rita Ribeiro.

“Todos este processo é feito pelos alunos, apesar de a re.store estar envolvida e coordenar”, destaca a diretora do centro, realçando que a loja online e o modelo de negócios ficarão a cargo destes jovens. “O objetivo é estimular o empreendedorismo e capacitar os jovens“, resume a diretora do Centro de Juventude de Braga.

“Estamos muito orgulhosos do empenho e da maturidade demonstrada pelos nossos alunos. Este é o tipo de aprendizagem transformadora que queremos continuar a promover”, diz António Teixeira, diretor pedagógico da Esprominho, citado em comunicado.

A gestora revela que, para futuro, o desafio passa por dar oportunidade aos alunos de criar produtos a partir da reciclagem dos tecidos do Centro de Juventude de Braga para serem usados pelos hóspedes, como por exemplo chinelos e toucas.

Além do desfile e de uma breve contextualização sobre o processo criativo, o evento contou também com a iniciativa Swappers, uma troca de roupa e de livros aberta à comunidade.

Desde que foi criada há cinco anos, a empresa bracarense, que só utiliza desperdícios da indústria têxtil, já reutilizou 9,1 toneladas de materiais têxteis e acessórios e remunerou os parceiros sociais em mais de 67 mil euros.

Em 2023, a fundadora da re.store, que conta com mais de duas décadas de experiência no cluster, explicou ao ECO que de “pegam no lixo do têxtil e transformam em produtos funcionais“. “Para além de reduzir a pegada ecológica da têxtil, aliamos a questão social — todos os nossos produtos sem exceção são confecionados por IPSS, associações que ajudam a integrar refugiados, entre muito outros”, disse Sílvia Correia.

Localizado no centro de Braga, o Centro de Juventude é uma unidade de negócio criada no seio da InvestBraga e conta com 26 quartos.

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Governo vai transpôr diretivas europeias em atraso “com urgência” para evitar processo em tribunal

  • Lusa
  • 19 Junho 2025

O Governo disse que vai transpor, com a "máxima urgência", as diretivas da União Europeia (UE) que têm de ser adotadas na lei nacional, após a Comissão Europeia ter anunciado um processo em tribunal.

O Governo assumiu que vai transpor, com a “máxima urgência”, as diretivas da União Europeia (UE) que têm de ser adotadas na lei nacional, após a Comissão Europeia ter anunciado um processo em tribunal devido a tal falha.

A Comissão Europeia anunciou na quarta-feira que vai processar Portugal no Tribunal de Justiça da União Europeia por não ter transposto para o direito nacional regras para impostos especiais sobre o consumo e harmonização dos relativos a álcool e bebidas alcoólicas. Portugal é o único Estado-membro que não transpôs integralmente as disposições destas diretivas para o direito nacional.

Questionado esta quinta-feira, à margem da reunião do Eurogrupo no Luxemburgo, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, garantiu: “Vamos retomar este dossier com a máxima urgência”.

“Quando nós chegámos [ao executivo], há um ano – e posso apenas falar pelo Ministério das Finanças -, nós tínhamos cerca de uma dúzia de diretivas e regulamentos por transpor. Alguns já tinham passado o prazo, outros os prazos estavam prestes a terminar e nós tínhamos a diretiva praticamente pronta quando o parlamento chumbou a moção de confiança”, altura em que “o Governo passou a estar em gestão” e “não poderia” fazer a transposição, justificou. “Nós transpusemos grande parte delas [diretivas pendentes], mas há outras que foram ao parlamento e o parlamento acabou por não as conseguir aprovar, dado a dissolução do parlamento”, adiantou o governante.

Em causa, segundo um comunicado do executivo comunitário, está a falta de notificação, por Lisboa, da transposição de duas leis europeias sobre impostos especiais sobre o consumo – Diretiva (UE) 2020/262 e a Diretiva (UE) 2020/1151, que deveriam estar plenamente adotadas até 31 de dezembro de 2021.

Todos os Estados-membros da UE estavam obrigados a colocar em vigor a legislação necessária para transpor e a comunicar imediatamente o texto dessas medidas à Comissão Europeia.

De acordo com a informação divulgada, em 28 de janeiro de 2022, foram enviadas duas cartas de notificação para cumprir, seguidas de pareceres fundamentados — a segunda etapa do processo de infração, em 15 de julho de 2022.

Segundo o executivo comunitário, apesar de Portugal ter comunicado várias medidas nacionais, ainda estão em falta algumas disposições para transpor estas diretivas na íntegra.

A Comissão Europeia considera que os esforços envidados pelas autoridades competentes até à data são insuficientes, pelo que decidiu instaurar uma ação contra Portugal no Tribunal de Justiça da União Europeia solicitando a aplicação de sanções financeiras.

Estão em causa diretivas referentes ao regime geral dos impostos especiais de consumo com regras comuns em matéria de produção, armazenamento e circulação dos produtos sujeitos abrangidos e à certificação à escala do bloco para os pequenos produtores de álcool, que lhes permite beneficiar mais facilmente de taxas reduzidas do imposto especial de consumo em toda a UE.

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Portugal convergiu com a UE à custa do abrandamento dos outros países

Novas prioridades da Comissão Europeia arriscam fragmentar e dispersar as verbas da Política de Coesão, alerta o Tribunal de Contas Europeu. Foco deve ser reduzir as desigualdades entre as regiões.

A convergência de Portugal com a União Europeia foi feita à custa do abrandamento das regiões com melhor desempenho, diz o relatório do Tribunal de Contas europeu divulgado esta quinta-feira.

“Em Portugal, a convergência regional resultou do crescimento mais lento nas regiões com desempenho anteriormente elevado. Já em França, o aumento das disparidades entre regiões esteve associado a um crescimento mais lento naquelas com PIB mais baixo”, lê-se no relatório da instituição liderada por Tony Murphy, publicado num momento em que está em preparação o próximo quadro comunitário de apoio, o pós-2027.

Considerando que “os padrões de convergência económica refletem dinâmicas nacionais diversas”, o Tribunal de Contas Europeus dá ainda o exemplo, do “crescimento mais forte nas regiões capitais dos Estados-membros do Leste europeu que, frequentemente, aumenta as disparidades nestes países”. Não esquecendo a armadilha do desenvolvimento, o tribunal recorda que nem os países mais desenvolvidos estão a salvo do risco de entrar em longos períodos de estagnação económica.

A Política de Coesão da UE disponibilizou cerca de um bilião de euros entre 1989 e 2023 e as previsões são de mais 400 mil milhões até 2027, o que “a torna a maior política de desenvolvimento regional do seu género no mundo”. Todos os anos, um terço do orçamento comunitário vai para a Política de Coesão.

A Comissão espera que a Política de Coesão continue a ter um efeito económico positivo duradouro em geral. Os cálculos de Bruxelas apontam para que o PIB da UE possa ser “potencialmente 0,9% superior até 2030 e mais 0,6% superior até 2043, devido aos investimentos em coesão realizados entre 2014-2020 e 2021-2027”. “Prevê-se que este impacto positivo no PIB seja particularmente benéfico para os países que recebem montantes mais elevados de financiamento da coesão, mas também para os países mais desenvolvidos, através do aumento da atividade económica devido ao aumento das exportações”, lê-se no relatório.

Dada a sua importância, o TCE considera que é necessário retirar lições do passado para construir uma melhor política de coesão, já que “não é executada da melhor maneira”. Alejandro Blanco Fernández, o membro do TCE responsável pelo documento, elenca as várias condições que influenciam o impacto da política de coesão como a qualidade das instituições nacionais e regionais, o capital humano disponível em cada região e outros recursos territoriais. “Estes fatores podem influenciar a eficácia do financiamento da coesão e podem ajudar a explicar a variação dos resultados desta política entre as diferentes regiões e Estados-membros”, diz.

O TCE sublinha que, ao longo do tempo, a Política de Coesão teve de abranger um conjunto cada vez maior de prioridades e objetivos da UE. E “porque tem à sua disposição bastantes recursos, muitas vezes também tem sido usada para responder a situações imprevistas”, a pandemia, o fluxo de refugiados da Ucrânia em 2022, são apenas dois exemplos.

Embora reconheça que é importante haver flexibilidade na utilização do dinheiro, o TCE alerta que isto dispersa as verbas da Política de Coesão e poder desviá-las do seu fim principal: reduzir as desigualdades entre as regiões. “É fundamental que os objetivos da futura política continuem ligados às necessidades de desenvolvimento de cada região e centrados no aumento da convergência económica e social”, defende a instituição.

É fundamental que os objetivos da futura política continuem ligados às necessidades de desenvolvimento de cada região e centrados no aumento da convergência económica e social.

Tribunal de Contas Europeu

Recordando que o documento publicado esta quinta-feira não é um tradicional relatório de auditoria, mas antes uma avaliação com base em trabalhos anteriores, o tribunal quer contribuir para a discussão que se iniciará dentro de semanas do pós-2027.

“O quadro da política de coesão foi concebido para proporcionar aos Estados-membros e às suas regiões uma orientação estratégica a longo prazo e previsibilidade. Ao mesmo tempo, as regras da Política de Coesão limitam a flexibilidade dos Estados-membros para reatribuírem fundos durante o período do programa, a fim de responderem às suas necessidades em evolução”, sublinha o tribunal. “A reprogramação dos fundos da política de coesão é o principal mecanismo disponível para as autoridades de gestão”, acrescenta, revelando que verificaram que “os objetivos dos programas nem sempre refletem necessidades específicas”

Portugal está precisamente a levar a cabo a reprogramação do Portugal 2030, sendo esta uma semana importante de reuniões e negociações, tal como o ECO noticiou.

O Tribunal de Contas Europeus considera que as propostas da Comissão no âmbito da revisão intercalar de 2025, correm “o risco de aumentar a fragmentação e a complexidade de implementação dos programas da política de coesão e de divergir da missão central da política de coesão de reduzir as disparidades regionais”.

Estas propostas incluem incentivos para dar prioridade à competitividade, habitação a preços acessíveis, resiliência hídrica, capacidade de produção de defesa e mobilidade militar.

Outra questão levantada pelos auditores da UE é que o dinheiro da coesão seja utilizado atempadamente, por isso sublinham a importância de as regras aplicáveis serem adotadas cedo, para a programação ser mais rápida e haver um bom nível de financiamento antecipado para a execução poder começar a tempo. Coordenar esforços com outros instrumentos de Bruxelas é fundamental. De sete em anos, os novos quadros comunitários de apoio cada vez entram em vigor mais tarde.

Em especial, deve-se garantir que os dinheiros futuros da coesão sejam geridos com suficiente transparência e de forma a poder-se pedir contas aos seus gestores e que haja formas eficazes de recuperar as verbas usadas indevidamente.

Tribunal de Contas Europeu

E quando se discute a possibilidade de aplicar ao pós-2027 a mesma lógica de atribuição de fundos semelhante à do Plano de Recuperação e Resiliência, na qual Bruxelas tem um maior controlo, o TCE alerta que, primeiro “é preciso fazer um balanço das falhas detetadas” no PRR. “Em especial, deve-se garantir que os dinheiros futuros da coesão sejam geridos com suficiente transparência e de forma a poder-se pedir contas aos seus gestores e que haja formas eficazes de recuperar as verbas usadas indevidamente”, lê-se.

O TCE defende uma maior simplificação nos fundos europeus, apelando mesmo à maior utilização da metodologia dos custos simplificados, mas alerta que esta “simplificação não pode ser feita à custa da responsabilização e do desempenho”.

O tribunal concluiu que “as condicionalidades proporcionam fracos incentivos para que as despesas de coesão sejam eficazes”. “Em determinadas áreas, a política de coesão pode já fornecer apoio financeiro para a implementação de reformas, tendo a Comissão proposto recentemente alargar ainda mais este apoio. Embora o Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR)” – que se traduz os PRR nacionais – “tenha sido concebido para apoiar as reformas nos Estados-membros, os resultados em termos de resposta aos desafios estruturais e de contributo para os objetivos da UE têm sido, até à data, limitados”, critica a instituição.

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Portugal é o país onde investimento público está mais dependente dos fundos europeus

Com 90% do investimento público assegurado pelos fundos de coesão entre 2014 e 2020. Portugal lidera este ranking europeu. A média comunitária é de 14%.

Portugal é o país europeu onde investimento público está mais dependente dos fundos europeus, revela o relatório do Tribunal de Contas Europeu divulgado esta quinta-feira.

Com 90% do investimento público assegurado pelos fundos de coesão entre 2014 e 2020, Portugal lidera este ranking europeu com total desfasamento da média comunitária de 14%. Em causa está o período correspondente ao Portugal 2020, executado pelos governos de António Costa e quando a comissária europeia responsável pelos fundos de Coesão era Elisa Ferreira. Em segundo lugar surge a Croácia com 21 pontos percentuais de diferença (69%), seguida da Lituânia (60%).

Só sete países têm um peso dos fundos no investimento público superior a 50% e todos pertencem à Europa de Leste, logo integram as últimas vagas de adesão à União Europeia. Portugal é a única exceção. Por comparação, Espanha usa apenas 25% dos fundos de coesão para fazer investimento público.

Ainda assim, ao longo da última década, Portugal figura constantemente no topo da tabela dos países europeus com o menor nível de investimento público no quadro europeu.

A utilização dos fundos para financiar as políticas públicas é um tema que tem gerado muita controvérsia em Portugal.

Há uma tendência eterna dos fundos estruturais servirem, sobretudo, para aliviar as contas públicas, para substituir despesa pública. É um erro”, já disse o atual ministro da Economia e da Coesão. Manuel Castro Almeida critica o facto de os fundos europeus serem, sistematicamente, utilizados para pagar despesas correntes do Estado e por isso a verba reservada para apoiar as empresas “é demasiado curta”, disse em declarações ao ECO, em 2022.

Também o antigo ministro da Economia, António Costa Silva, considera que Portugal “tem cometido um erro, ao longo do tempo”, ao cingir “o investimento público às contrapartidas aos fundos europeus”. Os fundos de coesão encerram uma armadilha, considera o também antigo CEO da Partex, já que apenas apoiam PME e Portugal precisa de grandes empresas. “A nível do país, temos de desenvolver instrumentos específicos se queremos apoiar as nossas próprias prioridades”, disse Costa Silva no ECO dos Fundos, o podcast quinzenal do ECO.

No entanto, o governador do Banco de Portugal defende que o investimento público “deve ser exclusivamente, ou perto disso, financiado por fundos europeus”: “O investimento público em Portugal nos últimos anos tem sido financiado essencialmente pelo Orçamento do Estado. Nos anos do PRR esta situação deve mudar. Só assim conseguiremos implementar esses fundos, reduzir a pressão no nosso endividamento e ganhar margem orçamental”, avisou Mário Centeno, numa conferência em 2022.

De acordo com o relatório do Conselho das Finanças Públicas, o PRR está a ter um papel preponderante no desempenho do investimento público. “Sem o efeito do PRR, a desaceleração do crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) teria sido maior, de 18,3% em 2023 para 6,5% em 2024. Em percentagem do PIB, a FBCF aumentou 0,1 p.p. em 2024, atingindo 2,7% do PIB, mas sem o efeito do PRR estabilizaria nos 2,4% do PIB”, lê-se no documento publicado terça-feira. E o papel dos fundos de coesão não é referido porque o arranque da execução do Portugal 2030 está atrasado (no final de 2024 tinha uma execução de 5,4%) devido à sobreposição com o PRR e o encerramento do Portugal 2020.

Aliás, o Tribunal de Contas Europeu refere que, “em muitas circunstâncias, os Estados-membros podem optar por financiar investimentos utilizando o Fundo de Recuperação e Resiliência (RRF) ou os fundos da política de coesão, ou através de uma combinação de ambos.” “As prioridades de despesa do RRF e dos fundos da política de coesão são semelhantes, embora descritas de forma diferente. O facto de ambos os instrumentos financiarem o mesmo tipo de investimentos torna inevitável a comparação entre eles”, critica a instituição liderada por Tony Murphy.

Por exemplo, o presidente da CCDR do Algarve considera que a “concorrência do PRR prejudica a Política de Coesão”. José Apolinário defende a necessidade “de haver, verdadeiramente, articulação e coordenação na aplicação das diferentes fontes de financiamento público”. Uma coordenação que tem existido apenas “pontualmente”, disse no ECO dos Fundos.

O Tribunal de Contas Europeu reconhece que “a coesão é a política de investimento mais importante da UE, sendo muitas vezes vista como um pilar da integração europeia. Mas não é executada da melhor maneira”, diz Alejandro Blanco Fernández, o membro do tribunal responsável pelo documento, citado em comunicado. O responsável critica ainda o facto de que, “nos últimos períodos, a execução da política deu mais importância ao desempenho, sem muito sucesso visível”. O tribunal há muito que defende que “seria mais fácil criar políticas baseadas em dados concretos se se controlasse e avaliasse melhor o desempenho”.

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O que significa para os mercados a entrada dos Estados Unidos na guerra?

Com Donald Trump a ameaçar uma decisão relativa ao conflito entre Isarel e o Irão, que pode estar por horas, os mercados prepararam-se para o impacto.

“Posso vir a fazê-lo. Posso não vir a fazê-lo. Quer dizer, ninguém sabe o que eu posso vir a fazer”. Esta frase ilustra a indecisão de Donald Trump sobre o envolvimento dos Estados Unidos da América na guerra entre Israel e o Irão e deixa os mercados a tentar adivinhar os próximos passos do volátil líder do país mais poderoso do mundo.

O conflito continua a escalar no Médio Oriente. Se, por um lado, os ataques do Irão parecem estar a perder algum vigor, Israel tem aumentado a pressão, com investidas aéreas sobre Teerão e com um ataque a pelo menos uma instalação nuclear. Depois das declarações de Benjamin Netanyahu e do próprio Donald Trump, com este a aconselhar o Irão a render-se sem condições, o líder iraniano fez uma intervenção pública pela primeira vez desde o início do conflito, e o tom foi tudo menos conciliatório.

Ali Khamenei começou por afirmar que Israel tinha cometido “um erro enorme” ao lançar a guerra e deixou uma declaração de intenções, através de uma transmissão na televisão iraniana: “Pessoas inteligentes que conheçam o Irão, a nação iraniana e a sua história nunca falarão com este país usando linguagem ameaçadora, porque a nação iraniana nunca se vai render“. E acrescentou que “os americanos deviam saber que qualquer intervenção militar norte-americana será sem dúvida acompanhada por danos irreparáveis”.

Há muita poeira no ar, até porque enquanto os agentes se ameaçam publicamente há também relatos de possíveis negociações que possam conduzir a um cessar-fogo. Mas há informações, avançadas pela Bloomberg, de que as altas patentes do exército americano já discutiram com Trump um plano para uma intervenção direta na guerra.

Enquanto, no Médio Oriente, as bombas voam de um lado para o outro e, em Washington, Trump vai hesitando entre duas fações dos seus apoiantes, os mercados estão expectantes e a preparar-se para os vários cenários. Sendo a visão mais consensual a de que, caso os Estados Unidos entrem na guerra, haverá um impacto imediato negativo nos mercados acionistas. Quão sério dependerá do teatro de guerra e da duração do conflito.

Segundo analistas ouvidos pela Reuters, a entrada americana no conflito, de forma direta, será negativa para as ações, ainda que essa reação se possa inverter caso essa intervenção seja rápida e incisiva, ajudando a acabar com a guerra de forma mais rápida. Se isso é o cenário mais provável, ainda ninguém sabe.

No que toca ao mercado acionista, depois de meses muito duros durante o início do mandato de Donald Trump, o segmento tem vindo a recuperar e não está longe dos máximos históricos, nos Estados Unidos. O que significa que muitos investidores não hesitariam em vender, encaixando as mais-valias, caso esse passo seja dado, gerando pressão vendedora e a desvalorização dos títulos.

Chuck Carlson, CEO da Horizon Investment Services, defende em declarações à Reuters que “consigo antecipar que a primeira reação instintiva seja de ‘isto é mau’. Mas acho que isso até pode levar ao fim do conflito mais cedo”.

É claro que os diferentes setores se comportarão de forma diferente. As ações de energia, nomeadamente petróleo, poderão beneficiar de preços mais elevados, enquanto a área da defesa também poderá ser suportada.

Nos últimos dias de expectativa, o que temos visto é uma maior volatilidade nos preços do petróleo. O Barclays avisa que o barril pode subir para 85 dólares caso as exportações iranianas caiam para metade, e poderiam chegar aos 100 dólares “no pior cenário” de um confronto alargado. Isto face aos cerca de 75 dólares atuais.

Já os economistas do Citigroup avisam que preços do petróleo significativamente mais altos “seriam um choque negativo para toda a economia, baixando o crescimento e aumentando a inflação, criando novos desafios para os bancos centrais que já estão a tentar navegar por entre os riscos da guerra comercial”.

Para já, tem havido alguma procura por ativos de refúgio como o ouro, o franco suíço e até a dívida norte-americana. Também o dólar pode sair fortalecido com um aumento do conflito, envolvendo os Estados Unidos.

“Pessoalmente, não acho que iremos entrar na guerra. Trump vai fazer tudo o que puder para o evitar. Mas se não puder ser evitado, então isso vai ser inicialmente negativo para os mercados”, defende Peter Cardillo, Chief Market Economist na Spartan Capital Securities em Nova Iorque.

“O ouro ia disparar, as yields provavelmente desceriam mais e o dólar provavelmente ia subir de forma forte”, acrescentou.

No meio da incerteza, os investidores estão preparados para os vários cenários e, se Trump decidir avançar, isso não será uma total surpresa, pelo que parte do efeito estará descontado no preço dos ativos.

Os investidores querem poder olhar para além disto, e enquanto não virmos razões para acreditar que isto vai ser um conflito regional muito maior com os Estados Unidos, com esse envolvimento e uma probabilidade elevada de escalar, vamos ver o mercado empenhado em tentar ignorar o tema o mais que puder”, defendeu numa conferência com investidores Osman Ali, global co-head da Quantitative Investment Strategies, igualmente citado pela Reuters.

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Governo avalia decisão de inconstitucionalidade de norma do imposto adicional sobre banca

  • Lusa
  • 19 Junho 2025

O imposto adicional sobre o setor bancário foi criado em 2020, aquando da crise da covid-19, para financiar a Segurança Social e desde então tem sido muito contestado pelo setor.

O Governo disse estar a analisar a decisão do Tribunal de Constitucional (TC), de considerar inconstitucional a norma do imposto adicional sobre banca, para aferir o impacto na devolução do que tenha sido pago pelos bancos.

“O Governo, como qualquer Governo, cumpre e cumprirá aquilo que são as ordens, as decisões dos tribunais, neste caso concreto, o Tribunal Constitucional sobre o chamado adicional de solidariedade da banca. Nós ainda estamos a analisar o acórdão, as suas implicações, qual é o impacto que terá na devolução de imposto que tenha sido pago pelos bancos”, disse o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento.

Falando aos jornalistas à margem da reunião do Eurogrupo, no Luxemburgo, o responsável apontou que “uma parte deste imposto foi efetivamente pago”, mas admitiu que “outra parte, tendo havido recursos e contencioso, esteja apenas na forma de garantia”.

“Temos que fazer toda essa análise, mas não deixaremos de cumprir a decisão do Tribunal Constitucional”, garantiu.

Miranda Sarmento assinalou que, “infelizmente, quando o adicional de solidariedade foi criado, em 2020, foi criado de uma forma que acaba por resultar numa inconstitucionalidade e que, obviamente, prejudica os contribuintes portugueses porque este imposto acaba por não ter o efeito desejado”.

“Nós vamos analisar a situação, vamos ver que impacto é que o acórdão tem porque ainda não tivemos a oportunidade de analisar de forma profunda o acórdão e aquilo que são os valores que existem envolvidos”, adiantou.

Questionado sobre os 40 milhões de encaixe previstos para este ano, o ministro das Finanças comparou: “Quando qualquer contribuinte vai para contencioso com a administração tributária pode pagar e depois, obviamente, é-lhe devolvido o dinheiro se for dada a razão […] e vamos olhar para a tributação desse setor e procurar a melhor solução para os contribuintes portugueses”.

No início deste mês, o Tribunal Constitucional declarou, em plenário, inconstitucional a norma do adicional de solidariedade sobre o setor bancário que incide no cálculo do imposto no primeiro semestre de 2020, quando começou a ser aplicado.

No ano passado, houve três decisões de inconstitucionalidade do Tribunal Constitucional sobre esta norma, mas relativas a processos judiciais concretos, pelo que não tinham força obrigatória legal.

Contudo, com três decisões de inconstitucionalidade sobre a mesma norma, o Ministério Público junto do Tribunal Constitucional passou a poder requerer a inconstitucionalidade da norma, o que aconteceu.

Assim, o plenário decidiu que essa norma é inconstitucional por implicar retroatividade do imposto.

O imposto adicional sobre o setor bancário foi criado em 2020, aquando da crise da covid-19, para financiar a Segurança Social e desde então tem sido muito contestado pelo setor.

Até este ano a taxa manteve-se. No Orçamento do Estado deste ano, o Governo prevê que o imposto adicional de solidariedade sobre a banca renda 40,8 milhões de euros para os cofres públicos.

A Lusa contactou a Associação Portuguesa de Bancos para saber se o Estado terá de devolver esse dinheiro que os bancos pagaram relativo a esse período e qual o valor pago e, em resposta, indicou que caberá a cada banco decidir o que fazer no seguimento da decisão do TC.

Quanto ao valor, a associação disse que o adicional pago em 2020 foi de 28,75 milhões de euros no total do ano e que não tem informação sobre que parte se refere ao primeiro semestre.

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Segurança Rodoviária esclarece que seguro obrigatório não se aplica às trotinetas

  • Lusa
  • 19 Junho 2025

A Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) esclareceu que não se aplica aos utilizadores de trotinetas a obrigatoriedade do seguro de responsabilidade civil.

A Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) esclareceu que não se aplica aos utilizadores de trotinetas e de velocípedes a obrigatoriedade do seguro de responsabilidade civil. As trotinetes e ‘scooters’ elétricas, ‘segways’ e ‘hoverboards’ “não estão sujeitos à obrigação de ser efetuado seguro de responsabilidade civil automóvel como condição de admissão à circulação na via pública”, refere a ANSR, numa nota enviada à Lusa.

O esclarecimento da ANSR surge após a PSP ter avançado que, a partir de sexta-feira, passaria a fiscalizar o seguro de responsabilidade civil nas trotinetes elétricas, ‘scooters’ elétricas, ‘segways’ e ‘hoverboard’, uma obrigatoriedade prevista no decreto-lei que transpõe a diretiva comunitária relativa ao seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel.

Segundo a ANSR, este decreto-lei, que entra em vigor na sexta-feira, “é aplicável à circulação de qualquer veículo a motor destinado a circular sobre o solo, que não se desloque sobre carris, acionável por uma força mecânica, assim como os seus reboques, ainda que não atrelados”, que tenha uma velocidade máxima de projeto superior a 25 quilómetros por hora ou um peso líquido máximo superior a 25 kg e uma velocidade máxima de projeto superior a 14 quilómetros por hora”, não sendo o diploma aplicável “às cadeiras de rodas destinadas exclusivamente a pessoas com incapacidade física”.

Questionado pela Lusa sobre que tipos de veículos estão em causa, a ANSR não especificou quais são.

A Segurança Rodoviária sublinha que estão excluídos deste decreto-lei todos os veículos que são, “para efeitos de circulação rodoviária, equiparados a velocípedes, o que significa que a sua admissão à circulação na via pública não depende da realização de seguro de responsabilidade civil nem exige que o seu condutor seja detentor de título de condução”.

A ANSR salienta ainda que as trotinetas ou dispositivo de circulação com motor elétrico “com potência máxima contínua superior a 0,25 kW ou que atinja uma velocidade máxima em patamar superior a 25 quilómetros por hora, não estão autorizados a circular na via pública, dado que ainda não foi definido quer o seu regime de circulação quer as suas características técnicas, que têm, ainda, de ser objeto de decreto regulamentar”.

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Redução do IRS deverá ser aplicada em setembro

Quem está entre o 7.º e o 8.º escalões, entre os 3.500 e os 7.000 euros brutos por mês, vai ser beneficiado a dobrar. A intenção do Governo é aprovar a medida em Conselho de Ministros daqui a 15 dias.

A nova redução do IRS deverá ser aplicada aos salários de setembro, como aconteceu em 2024. A intenção do Governo é reduzir as taxas do IRS até ao 8º escalão, refletir essa redução nas taxas de retenção na fonte e aplicar a medida com efeitos retroativos a janeiro deste ano, avança o Correio da Manhã.

Nessa altura, foi travada pelo PS e pelo Chega, que discordaram da descida do imposto para os salários mais altos e só deixaram passar uma descida no imposto até ao sexto escalão, deixando de fora quem ganha mais. Agora, o Governo espera que a proposta seja aprovada. Assim, quem está entre o 7.º e o 8.º escalões, entre os 3.500 e os 7.000 euros brutos por mês, vai ser beneficiado a dobrar: pela descida nos respetivos escalões e, como o IRS é um imposto progressivo, também vão beneficiar da descida nos escalões mais baixos.

“Aquilo que nós fizemos no ano passado e que tentaremos fazer este ano é muito simples: nós vamos aprovar uma descida de IRS de cerca de 500 milhões de euros, abrangendo até o oitavo escalão inclusive, portanto, apenas o nono escalão fica de fora diretamente, [mas] indiretamente essas pessoas também são beneficiadas uma vez que o imposto é progressivo”, disse Joaquim Miranda Sarmento.

Falando aos jornalistas portugueses à margem da reunião do Eurogrupo, no Luxemburgo, o ministro da tutela apontou que, “uma vez aprovada – assumindo que o parlamento aprovará -, a proposta de lei de redução do IRS, estes 500 milhões, será totalmente repercutida numa redução extraordinária da retenção na fonte”.

“No ano passado foi em setembro e outubro. Este ano, se conseguirmos que a lei seja aprovada nesse prazo também tentaremos fazer nessa altura, [mas] se a lei for aprovada mais tarde, teremos que o fazer mais tarde”, indicou.

Miranda Sarmento apontou que “o tempo de decisão do parlamento é algo que obviamente já não é da responsabilidade do Governo”. A expectativa do executivo é então que a nova redução do IRS seja aplicada aos salários de setembro, como aconteceu em 2024.

A intenção do Governo é aprovar a medida em Conselho de Ministros nas próximas duas semanas e levá-la ao Parlamento em julho, para garantir que tenha efeitos nas retenções na fonte nos salários do mês de setembro, com retroativos a janeiro, como aconteceu no ano passado. A medida vai custar 500 milhões de euros, se for aprovada no Parlamento.

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VW Tayron: O aliado das famílias que levam a casa às costas

Para quem já desistiu de tentar enfiar tudo num carro comum, o mais recente membro da família Volkwagen é capaz de carregar birras, tralhas e piqueniques... e ainda sobra espaço.

Há momentos em que a vida familiar exige mais espaço. Muito mais espaço. Foi precisamente com este pensamento e para dar resposta a famílias numerosas (ou que carregam uma parafernália de coisas sempre que saem de casa) que a Volkswagen decidiu criar o Tayron, o substituto direto do Tiguan Allspace e um concorrente de peso para o Skoda Kodiaq.

O Tayron (pronuncia-se “Tai-ron”, não “Teiron”) não é propriamente uma novidade absoluta no universo Volkswagen. A primeira geração nasceu em 2018 como um modelo exclusivo para o mercado chinês, mas a partir do ano passado a marca alemã decidiu globalizar o nome para substituir o Tiguan Allspace.

Desenvolvido e fabricado em Wolfsburg, este SUV posiciona-se estrategicamente entre o Tiguan e o Touareg, preenchendo uma lacuna importante na gama da marca alemã. É por isso um veículo que cresceu em todas as dimensões face ao Tiguan convencional: é mais comprido, mais largo e mais alto. Mas não é apenas uma questão de tamanho que o torna distintivo. É também uma questão de propósito. E o propósito do Tayron é transportar famílias com conforto, versatilidade e, no caso da versão 1.5 TSI 272cv PHEV DSG R-LINE (híbrida plug-in) testada pelo ECO, com uma consciência ambiental ao mesmo tempo que se mostra bastante eficaz no seu propósito.

Uma das novidades que salta à vista é o facto de o Tayron ser o primeiro Volkswagen com motor térmico a exibir o logótipo iluminado tanto na dianteira como na traseira. Até agora, esta assinatura luminosa estava reservada aos modelos 100% elétricos da marca, como o ID.7 Tourer, mas o Tayron inaugura esta tendência nos modelos híbridos e a combustão, conferindo-lhe uma presença noturna distinta e moderna. Na versão R-LINE, o visual é ainda mais apurado graças às jantes de 20 polegadas, aos detalhes em preto brilhante e a uma postura mais desportiva, que consegue disfarçar as dimensões generosas do SUV.

A versão PHEV que o ECO testou vem apenas com cinco lugares (ao contrário das versões a gasolina e diesel que podem ter sete), mas compensa com uma bagageira verdadeiramente cavernosa de 705 litros. Esta é, talvez, a única desvantagem significativa da versão híbrida plug-in: a impossibilidade de ter sete lugares, já que o espaço onde normalmente se instalaria a terceira fila é ocupado pelas baterias. Uma escolha que a Volkswagen teve de fazer e que pode ser decisiva para famílias numerosas. Nestes casos, as versões com motor 1.5 eTSI mild hybrid ou 2.0 TDI diesel, ambas disponíveis com sete lugares, fazem mais sentido.

Ao volante e à pendura

Numa viagem de Lisboa em direção a Santa Cruz, o Tayron foi capaz de puxar dos galões e demonstrar as suas qualidades dinâmicas e de conforto. O sistema híbrido plug-in combina um motor 1.5 TSI a gasolina com um motor elétrico para uma potência combinada de 272 cavalos e um binário de 400 Nm. Números que se traduzem numa aceleração dos 0 aos 100 km/h em 7,3 segundos.

Mas o mais surpreendente é a autonomia elétrica. Com a bateria de 19,7 kWh totalmente carregada, o Tayron promete até 120 quilómetros em modo totalmente elétrico. Na prática, conseguimos cerca de 100 quilómetros, o que é notável para um SUV deste porte e permite que a maioria das deslocações diárias seja feita sem consumir uma gota de combustível.

Quando o motor a gasolina entra em ação, a transição é quase impercetível. A suspensão adaptativa DCC, de série nesta versão PHEV, absorve as imperfeições do asfalto com uma competência notável, criando uma sensação de isolamento do mundo exterior que normalmente só encontramos em veículos de segmentos superiores.

A altura ao solo generosa e os modos de condução específicos permitem enfrentar com confiança estradas de terra e trilhos moderadamente difíceis. Não é um todo-o-terreno hardcore, mas para o uso que a maioria das famílias dará, é mais do que suficiente.

Chegados a Santa Cruz, colocamo-nos em caminhos menos batidos. Embora a versão PHEV venha apenas com tração dianteira (as versões 4MOTION com tração integral estão reservadas para os motores 2.0 TSI e TDI mais potentes), o Tayron mostrou-se capaz em terrenos mais acidentados. A altura ao solo generosa e os modos de condução específicos permitem enfrentar com confiança estradas de terra e trilhos moderadamente difíceis. Não é um todo-o-terreno hardcore, mas para o uso que a maioria das famílias dará, é mais do que suficiente.

No interior, o Tayron é dominado por um ecrã de infoentretenimento de 12,9 polegadas (opcionalmente disponível com 15 polegadas) e um painel de instrumentos digital de 10,3 polegadas. A qualidade dos materiais é boa, com plásticos macios nas zonas de contacto frequente e detalhes em madeira ou alumínio, dependendo da versão.

Um ponto menos positivo é o sistema de climatização controlado por botões táteis integrados no ecrã, que exige que o condutor desvie o olhar da estrada para ajustar a temperatura. São cada vez mais os novos modelos que saem para o mercado que levam o uso da tecnologia ao limite em virtude da praticabilidade, optando por eliminar botões a torto e direito sem considerarem a utilidade (pelo menos para muitos consumidores) e a segurança que os antigos botões oferecem na condução.

Com um preço a partir de 46 mil euros para a versão Urban e 55 mil euros para a R-Line, o Tayron não é propriamente barato. No entanto, a versão PHEV beneficia de incentivos fiscais que podem torná-la mais atrativa, especialmente para empresas. Comparado com o seu concorrente Skoda Kodiaq, o Tayron é ligeiramente mais caro, mas oferece um interior mais refinado e tecnologias mais avançadas. A questão é: vale a pena o investimento adicional? Para famílias que valorizam espaço, conforto e a possibilidade de fazer a maioria das deslocações em modo elétrico, a resposta é afirmativa. A economia de combustível a longo prazo e o conforto superior podem bem justificar o investimento inicial mais elevado.

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