Trump impediu Lagarde de fazer uma pausa. Vem aí novo corte das taxas de juro na Zona Euro
Escalar da guerra comercial enfraqueceu as perspetivas económicas, mas também pressionou a inflação com subida do euro e descida do crude, deixando o BCE sem opção: mais um corte de 25 pontos.
Christine Lagarde bem avisou logo após a reunião do Conselho do Banco Central Europeu (BCE) a 6 de março: há riscos em todo o lado. Passado menos de um mês, a 2 de abril, um deles materializou-se, com Donald Trump a anunciar nos jardins da Casa Branca tarifas recíprocas de 20% sobre as importações da União Europeia. Se o racional da incerteza em março indicava que o Conselho do BCE poderia fazer uma pausa em abril após cinco cortes seguidos nas taxas de juro, os impactos múltiplos da intervenção do presidente americano vão obrigar ao oposto, continuar a ação com um novo corte de 25 pontos base na reunião desta quinta-feira.
“Após a reunião de março, o BCE parecia decidido a fazer uma pausa na reunião seguinte” recordou Carsten Brzeski, global head of macro no banco de investimento ING. “Com as taxas de juro no limite superior do intervalo das estimativas das taxas de juro neutras, parecia adequado fazer uma pausa, sobretudo porque a euforia após a reviravolta orçamental alemã e as fortes intenções europeias de gastar mais em segurança e defesa tinham claramente melhorado as perspetivas de crescimento da Zona Euro.”
No entanto, desde o chamado ‘Dia da Libertação’, uma pausa deixou de ser uma opção, sublinhou. Numa sondagem da Reuters, 61 dos 71 economistas consultados disseram que esperam que o BCE corte a taxa de juro da facilidade permanente de depósito para 2,25%. O inquérito foi realizado ainda antes de Trump suspender as tarifas recíprocas por 90 dias, mas esse adiamento não retira a incerteza sobre a guerra comercial nem a necessidade de um novo corte no custo do euro.
Seis cortes em sete reuniões
Fonte: BCE
“Os primeiros indícios de uma recuperação económica foram suprimidos, pelo menos por agora, à medida que a região se prepara para enfrentar um iminente choque comercial”, referiu Michael Krautzberger, diretor de investimento global em obrigações na Allianz Global Investors.
Explicou ainda que os riscos de crescimento ressurgiram após os anúncios de tarifas e o consequente endurecimento das condições financeiras por via da queda dos preços das ações e de um euro mais forte. “Com os riscos do crescimento global no sentido de uma queda, aumentaram as expectativas de uma flexibilização na política monetária a nível global”, vincou.
De agnósticos a ‘pombas’
A par do enfraquecimento do outlook económico, os analistas apontam também para os impactos deflacionários que a guerra comercial estar a ter na Zona Euro como mais uma razão para o novo corte das taxas de juro. O Eurostat confirmou esta quarta-feira que a taxa de inflação no bloco da moeda única desacelerou em março para 2,2%, tal como tinha avançado na estimativa rápida, no início de abril. É um abrandamento de uma décima face ao mês anterior e de duas décimas em termos homólogos.
Até recentemente, o BCE tinha-se mostrado “agnóstico” quanto à possibilidade de o choque tarifário ser inflacionário ou desinflacionário, afirmando que há fatores em ambas as direções, sublinharam os analistas do banco neerlandês ABN-Amro. “No entanto, parece ter havido alguma mudança no pensamento recentemente, com um tom geralmente mais moderado e os decisores a demonstrarem maior preocupação com o crescimento económico“, escreveram. “Isso faz todo o sentido, visto que os desenvolvimentos têm sido quase exclusivamente desinflacionários.”
“Em segundo lugar, o euro apreciou-se substancialmente e, de modo geral, as condições financeiras tornaram-se mais restritivas“, referiram, destacando ainda que os preços do petróleo e das commodities caíram acentuadamente.
Carsten Brzeski, do ING, salientou que, tal como em outubro de 2024, “uma descida das taxas esta semana pode facilmente ser classificada como uma descida de seguro, uma descida que não pode fazer mal nenhum, enquanto que a manutenção da taxa de juro não só lançaria dúvidas sobre a vontade do BCE de apoiar o crescimento, como também poderia levar a um novo e injustificado reforço do euro”.
“Caso não tenha reparado, a taxa de câmbio do euro ponderada pelo comércio está atualmente ao nível mais elevado desde o início da União Monetária”, sublinhou.
Se, por um lado, há consenso entre os economistas e os investidores sobre a probabilidade quase certa de um corte nas taxas de juros esta quinta-feira, por outro lado há divergência sobre o caminho para o resto do ano. Na sondagem da Reuters, mais de 70% dos economistas apontavam para apenas um corte, também de 25 pontos, em junho. Nos mercados, no entanto, os futuros indicam três cortes até final de 2025.
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