Diretora admite que situação financeira da SATA “não está totalmente estável”
"É necessário cash fresco, permitam-se a expressão. Para nós, a venda da SATA Internacional, é uma das únicas fontes de financiamento puro que pode haver no grupo de forma direta”, avisou Carla Neto.
A diretora financeira da companhia aérea SATA, Carla Neto, admitiu esta segunda-feira algumas “dificuldades” de tesouraria na empresa, reconhecendo que a situação financeira da transportadora aérea açoriana “não está totalmente estável” e que é necessário “cash fresco”.
“O grupo financeiramente não está totalmente estável, vai haver sempre momentos de maior aflição ou de menor aflição, digamos assim, mediante aquilo que são, efetivamente, as entradas de cash, aliado àquilo que são as saídas de cash significativas”, explicou Carla Neto, durante uma audição na comissão de Economia da Assembleia Regional dos Açores, reunida em Ponta Delgada.
A audição parlamentar ocorreu por proposta dos deputados do PS, para obter esclarecimentos sobre a situação financeira da companhia aérea açoriana e sobre as dificuldades operacionais registadas no início de junho, altura em que cerca de 70% da frota da SATA Air Açores (responsável pelos voos interilhas) esteve temporariamente parada.
Na audição, o deputado socialista Carlos Silva recordou que a comissão de Trabalhadores da SATA alertou que “a situação financeira do Grupo é grave e que terá dificuldades em pagar salários aos trabalhadores e de pagar também a fornecedores”. Contudo, Carla Neto garantiu que não antevê, nos próximos tempos, dificuldades de tesouraria que possam dificultar o pagamento de salários ou de impostos. “Relativamente aquilo que são as obrigações para com os trabalhadores, e obrigações fiscais, a SATA tem cumprido com as suas obrigações”, disse.
A diretora financeira da companhia aérea reconheceu, porém, que houve um “aumento substancial de custos, tanto na Azores Airlines (companhia aérea responsável pelas ligações entre os Açores e o exterior), como na SATA Air Açores”, nos últimos tempos, mas lembrou que “houve também um aumento de receitas”, apesar de ser necessário injetar capital na transportadora.
“É necessário cash fresco, permitam-se a expressão. Para nós, a venda da SATA Internacional, é uma das únicas fontes de financiamento puro que pode haver no grupo de forma direta”, insistiu Carla Neto, referindo-se ao processo de privatização de 51% da Azores Airlines, que acabou por não se concretizar.
Segundo as explicações da responsável financeira do grupo SATA, um dos principais défices da companhia, que ascende a 100 milhões de euros, resulta da operação das denominadas “rotas deficitárias” entre Lisboa e os Açores (Lisboa/Horta, Lisboa/Pico e Lisboa/Santa Maria), que são realizadas ao obrigo de obrigações de serviço público (OSP’s), mas que não são financiadas pelo Estado desde 2015.
“Quando falamos de 100 milhões, estamos a falar de défice acumulado e o défice está, naturalmente, muito indexado aquilo que são os custos de estrutura”, justificou Carla Neto, adiantando que, sendo estas rotas deficitárias, acabam por ter anualmente um impacto financeiro negativo nas contas da empresa.
Apesar das justificações, os deputados do PS na comissão de Economia consideraram que os custos com as OSP’s estão longe dos 100 milhões de euros agora invocados pela administração da SATA.
A diretora financeira do grupo SATA foi ouvida pelos deputados, juntamente com José Roque, vogal do conselho de administração da transportadora regional, apenas três dias depois de o Governo Regional ter indigitado para futuro presidente do conselho de administração da companhia Rui Coutinho, que já desempenhou as funções de diretor regional da Mobilidade e irá substituir Teresa Gonçalves, que se demitiu em abril, alegando “motivos pessoais”.
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